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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Entrevista do comandante do Exército, tutela, e o verdadeiro perigo de que fala general. Ou: não existe risco de um golpe, mas de bagunça

A entrevista concedida pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, à Folha deste domingo gerou barulho no PT. Por quê? Já vamos ver. Noto, de saída, que foi uma boa entrevista, em que ele rechaçou, mais uma vez, a eventual intervenção das Forças Armadas na política, expressando, adicionalmente, preocupação com a eventual politização dos militares em razão da ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência.

Sobre a tal intervenção, foi explícito: “Intervenção militar constitucional, até hoje não descobri como é que faz isso. Até houve discussões de juristas sobre isso, que o Exército teria um mandato para intervir, e isso foi verbalizado pelo general Mourão, gerando uma pequena crise [em 2015]. Em função dessa pressão, elaboramos diretrizes que transmiti internamente e que passaram a preencher espaço externamente. A conduta seria baseada em três pilares. Primeiro, a manutenção da estabilidade. Segundo, a legalidade: o Exército jamais agiria fora de preceitos legais, dentro do artigo 142 da Constituição e leis subordinadas.

Bem, meus caros, o que vai acima não tem nada de ambíguo: o general está dizendo que não cabe uma ação unilateral dos militares. E ponto final. Na conversa, o comandante do Exército chegou a apontar o que considera de aspectos “messiânicos” na forma como Bolsonaro se manifesta e deixou claro que o fato de ele ter sido militar não implica que se vá ter um governo militar. Lembrou, o que é correto, que a pauta do presidente eleito, quando deputado, era mais corporativista do que ligada à defesa do país.

Mas um trecho de sua fala gerou barulho - íntegra da entrevista, aqui. Comentando dois tuites por ele publicados no dia 3 de abril, véspera da votação no STF do habeas corpus que pedia a liberdade de Lula, ele disse: “Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuíte da véspera da votação no Supremo da questão do Lula. Ali, nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse. Porque outras pessoas, militares da reserva e civis identificados conosco, estavam se pronunciando de maneira mais enfática. Me lembro, a gente soltou [o post no Twitter] 20h20, no fim do Jornal Nacional, o William Bonner leu a nossa nota.”

Cumpre aqui lembrar o conteúdo dos dois tuites então publicados pelo general: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”
“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.

O que eu tenho a dizer? Considerei então que havia, sim, ali a sombra de uma tutela. Afinal, se o que o general diz na entrevista de domingo vale, inexiste interferência das Forças Armadas no processo político à revelia da Constituição que não seja golpe. Parece-me que o “limite” a que ele se refere é justamente o limite possível da legalidade: qualquer coisa além daquelas palavras, e se trataria de uma ameaça.

Entendo, por óbvio, os protestos do PT. Mas cumpre lembrar que Villas Bôas não participou daquela sessão do Supremo. Votaram contra o habeas corpus Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Votaram a favor Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello. Convenham: não dá para afirmar que seis ministros ficaram com medo do general e que cinco decidiram enfrentá-lo, certo?

Eu realmente não creio que os tuítes de Villas Bôas tenham tido algum peso na votação. Parece-me que sua fala de agora revela outra coisa: ele se manifestou no que chamou “limite” para evitar eventual indisciplina nos quarteis. E isso, sim, é preocupante. Não que eu ache que um golpe, no velho modelo latino-americano, possa ser desfechado ou, se desfechado, possa prosperar.

Se, no entanto, o comandante do Exército se viu compelido a ir “ao limite” para evitar a bagunça, então convém que se fique atento. Não para evitar o golpe que não haverá, mas para impedir a baderna de setores militares.  Os petistas deveriam considerar, em sua reação, que não é exatamente esperto jogar todas as Forças Armadas no colo de Jair Bolsonaro. Até porque isso é falso. Basta ler direito a entrevista do general Villas Bôas.

Blog do Reinaldo Azevedo

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[Comentário: 
O Brasil, ainda, a república da Banânia, é o único país em que uma Lei Municipal, de autoria de um vereador em um municipio que poucos brasileiros já ouviram falar, é capaz de ter repercussão nacional e servir de supedâneo para que o STF decida tornar a decisão sobre a constitucionalidade (estadual) da mesma, assunto de repercussão geral - o que obriga todos juízes a seguirem, sem delongas,  a suprema decisão.]
 

 

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