Participação das Forças Armadas no combate ao crime é importante, mas tem de seguir protocolos
[comentário: todo o respeito e pesar pelo infortúnio que vitimou o músico e pai de família Evaldo Santa Rosa.
Mas, não podemos demonizar o Exército brasileiro - e, por óbvio, os militares envolvidos - por um fato que fora de dúvidas ocorreu em função de um grande engano, em parte motivado pelo roubo de um carro idêntico ao que conduzia a vítima fatal.
É necessário também ter em conta que os bandidos, os traficantes, a bandidagem em geral, não segue protocolos.
Se as forças da lei seguirem com extrema literalidade os protocolos, mais uma vez os bandidos triunfarão.
Qual o motivo de em 2017 terem tombado quase 150 policiais militares, abatidos por bandidos, quase sempre de forma covarde e no ano de 2018 este número ter se reduzido em mais de 50%?
E neste ano, ao se anualizar sequer alcançar os 50.
Tudo indica que em 2017 as autoridades de segurança seguiram em demais protocolos e estes quase sempre favorecem os bandidos.]
Há muito a se esclarecer sobre o fuzilamento que resultou na morte do
músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, e em ferimentos em outras
duas pessoas — o seu sogro e um pedestre —, na tarde de domingo, em
Guadalupe, Zona Norte do Rio. Por enquanto, sabe-se que soldados do
Exército que faziam o patrulhamento nas imediações de instalações
militares dispararam mais de 80 tiros de fuzil contra o carro em que
estavam Evaldo, o sogro, a mulher, o filho de 7 anos e a afilhada de 13.
Ainda no domingo, o Exército emitiu nota informando que os militares
revidaram a uma “injusta agressão” depois que bandidos abriram fogo
contra a patrulha. Testemunhas, porém, deram outra versão, segundo a
qual os soldados teriam confundido o carro de Evaldo com o de
criminosos. De qualquer forma, a família não estava armada. Ontem, no entanto, o Comando Militar do Leste mandou prender em
flagrante dez dos 12 militares envolvidos no episódio, devido a
“inconsistências identificadas entre os fatos inicialmente reportados”,
informações que chegaram posteriormente ao CML e os depoimentos dos
próprios agentes. Eles ficarão à disposição da Justiça Militar.
É fundamental saber exatamente o que aconteceu em Guadalupe e por que
aconteceu. Como podem agentes treinados para situações extremas de
violência cometer esse tipo de erro? As Forças Armadas, tanto quanto a polícia, não podem entrar nesse
terreno perigoso de atirar primeiro, sumariamente, como defendem alguns
político se o próprio governador Wilson Witzel, ignorando o que determina
a lei. Mesmo em se tratando de bandidos, existem protocolos de
abordagem. E nem era esse o caso.
O Rio registra elevados índices de criminalidade e não pode prescindir
da cooperação das Forças Armadas. Não só na área de inteligência, mas
também no setor operacional. Nunca é demais lembrar que o Comando
Militar do Leste esteve no controle da segurança fluminense entre
fevereiro e dezembro do ano passado, quando a pasta ficou sob
intervenção federal. Quando os militares chegaram, a situação era de
descontrole, com recordes de violência. Quando saíram, os principais
indicadores estavam em queda.
Sabe-se que têm larga experiência no combate à violência no Rio de
Janeiro, até porque já participaram de outras missões, como a histórica
ocupação do Alemão, em 2010. Por tudo isso, o fuzilamento do carro de uma família que ia para um chá
de bebê se torna inexplicável. Precisa ser apurado com rigor, para que
se punam os responsáveis e se criem protocolos capazes de impedir essa
barbárie cometida por agentes do Estado contra cidadãos.
Editorial - O Globo
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