Para preservar capital político na prisão, ex-presidente mistura defesa e palanque
Lula disse que sua prisão é uma “farsa montada” por Sergio Moro e por
Deltan Dallagnol. O discurso não é novo e o caso já foi julgado por
outros tribunais, mas o ex-presidente afirmou à Folha e ao jornal El
País que sua obsessão é “desmascarar” o ex-juiz e o procurador. Apesar de repisar essa cruzada, o petista substitui a disputa jurídica
por um esforço estritamente político. Lula faz acenos ao STF em busca da
revisão de sua sentença, mas se mostra mais interessado em um embate
com o governo Jair Bolsonaro.
[enquanto tenta, desesperadamente, preservar o que já não possui, ver sua liderança minguar dia a dia, percebe que suas chances de voltar à liberdade, diminuem na proporção inversa do crescimento das condenações, o presidiário petista vai perdendo a noção das coisas, do tempo, sendo dominado por uma desesperança crescente e contagiosa aos seus devotos.
Quanto mais entrevistas Lula conceder, melhor para os seus adversários e pior para os 'devotos' que ainda lhe restam.
Fala em trabalhar por alguém mais novo, tentou isso com o Haddad e o único ganho que o 'poste' conseguiu foi o apelido de 'marmita de presidiário'.]
Na entrevista, a jornalista Mônica Bergamo destacou que houve corrupção
comprovada envolvendo o PT e perguntou se o ex-presidente errou ao usar o
sítio de Atibaia, reformado por empreiteiras. Lula se disse disposto a
discutir “a questão ética” em torno do assunto, mas logo migrou para sua
zona de conforto. “Qual é o meu incômodo? Se eu estivesse aqui preso e o salário mínimo
tivesse dobrado, [pensariam:] ‘o Lula realmente é um desgraçado, prendeu
e melhorou’. Mas não. Acabaram agora com o aumento real do salário
mínimo”, declarou.
Com foco na economia, Lula ataca Paulo Guedes e incentiva manifestações
contra a reforma da Previdência. As críticas ao governo fazem parte da
estratégia que mistura defesa e palanque. “Estou aqui para provar minha
inocência, mas estou muito mais preocupado com o que está acontecendo
com o povo”, disse. Enquanto se desvia do desgaste sofrido pelo PT com a corrupção, o
ex-presidente luta para preservar capital político dentro da cela.
Reclama da “falta de sensibilidade dos setores da esquerda de não se
unir”, mas faz gestos pouco convidativos. Diz que Ciro Gomes “precisa
aprender a suportar os contrários” e que “a Marina [Silva] acabou, né,
coitada”.
No fim da entrevista, Lula afirmou que pretende trabalhar por “alguém
mais novo”, mas também admitiu que sente uma “coceira”. Depois, reeditou
o famoso jingle de Getúlio Vargas: “Como é que diz a música do
velhinho? ‘Bota o velhinho na parede, o velhinho tá de volta’. Quem
sabe?”.
Bruno Borghossian - Folha de S. Paulo
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