Folha de S. Paulo
Janot, Dodge,
Deltan, entre outros, mostram que órgão precisa de reflexão profunda
O desatino de Rodrigo Janot em declarar que por pouco não apertou o
gatilho para matar Gilmar Mendes nas dependências do STF jogou ainda
mais luz sobre o Ministério Público Federal, instituição que precisa de
uma reflexão profunda. Muita gente em Brasília não acredita na história de faroeste contada por
Janot. Mas nada muda se o fato ocorreu ou se o ex-PGR está blefando
para promover seu livro (recheado de incoerências, segundo reportagem
publicada pela Folha).
Até que se prove o contrário, vale a versão confessada por um ex-chefe
da Procuradoria de que levou uma pistola ao STF para matar Gilmar, mas
(ainda bem) fraquejou na hora. Janot deixou a PGR em setembro de 2017 com um gol contra no final: a
delação desastrada da JBS, em que ele atropelou a liturgia das
investigações para tentar derrubar um presidente da República (Michel
Temer). Há quem diga que, por trás dessa confusão da JBS, estava a intenção do
grupo de Janot em impedir a nomeação de Raquel Dodge para sucedê-lo no
comando da Procuradoria.
Temer escolheu Dodge. Em dois anos, ela teve o mérito de estancar o
modus operandi policialesco instalado por Janot na PGR. No entanto,
falhou na missão de aproveitar essa oportunidade para imprimir um ritmo
intenso e sério na área criminal. Dodge politizou o andamento de casos relevantes, como os que envolviam
Temer, Léo Pinheiro e figuras importantes do Congresso. Na reta final de
sua gestão, ela rezou a cartilha de Jair Bolsonaro. Um gesto em vão. O
desejo de ser reconduzida foi desprezado pelo presidente.
O procurador Deltan Dallagnol está nas cordas em Curitiba após a
divulgação das mensagens que revelaram um comportamento egoísta,
inadequado e personalista por parte dele na coordenação da Lava Jato. Escolhido por Bolsonaro, o novo chefe da PGR, Augusto Aras, disse ao
repórter Reynaldo Turollo Jr, da Folha, que o desafio dele é “restaurar a
unidade institucional” do órgão. Mais que a unidade, ele deveria
restaurar a sua respeitabilidade.
Leandro Colon - Folha de S. Paulo
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