Blog do Noblat - Veja
“A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”
Corações e cérebros
escamoteiam a verdade, arrumam desculpas para explicar a mudança de
posição em importantes decisões. As circunstâncias determinam o ir e
vir. Firmeza de propósitos? Quimera. Nessa paisagem de folhas
secas, grupos se digladiam em redes sociais com xingamentos e acusações,
multiplicando fake news em um cabo de guerra imaginário. Debater em um
fórum de ideias? Não. O ódio racha a sociedade, a bílis escorre. É um
jogo de soma zero.
Frios, apáticos, cegos,
milhões não enxergam os horizontes do amanhã de prosperidade, caso
substituíssem a mentira pela verdade, o deboche pelo respeito, o
oportunismo pela oportunidade de ajudar os carentes, a indignidade pelo
zelo, a torpeza pela civilidade. O que se vê são impostores e
hipócritas.
A injustiça impera,
apesar do Judiciário, do Ministério Público e dos sistemas de controle. O
espetáculo motiva operadores do Direito, interessados apenas na
visibilidade. A hipocrisia dá o tom. A maldade se bifurca na
encruzilhada dos malfeitores. O primeiro germe da perfeição moral se
manifesta quando alguém pratica o bem, ensina coisas certas, admira as
virtudes. Mas esse germe é escasso, convenhamos.
O país se locupleta de
pessoas refratárias a gestos dignos. Que navegam no pântano. Caçadores
de fama, aproveitam o niilismo para surfar nas ondas do favorecimento.
Resta pinçar o timoneiro Simon Bolívar, que há 170 anos perorava: “Não
há boa fé na América, nem entre os homens nem entre as nações; os
tratados são papéis, as constituições não passam de livros, as eleições
são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida, um tormento. A única
coisa que se pode fazer em nossa América é emigrar”.
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Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político
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