O Globo
Lulopetismo versus lavajatismo
Era
previsível e aí está: o drama da progressão de regime de Lula. Oh! Mais uma
etapa de um processo judicial que foi de todo politizado por gestão do
ex-presidente, e com notável colaboração de policiais, procuradores e juízes. Ora, o
sujeito cumpriu um sexto da pena e, diz-se, com bom comportamento. Tem direito
a regime semiaberto, goste-se ou não dele. Não se trata de impunidade. É o que
determina a lei. Não um privilégio. Serve a qualquer um. Não foi um ajuste
legal para beneficiá-lo. Mas então temos os procuradores da Lava-Jato em
Curitiba, em massa, assinando pedido pela progressão; isso repercutindo –
graças à forma artística como plantam notícias com viés – como se fosse um ato
surpreendente e generoso da parte deles, e não um movimento político calculado.
É ridículo.
O
Ministério Público é obrigado a zelar pelo direito do condenado. Não faz mais
que a obrigação. Ponto final. A execução da progressão de regime, porém, não
depende de gesto do MP. É ato judicial exclusivo e independente. O juiz pode
determinar a progressão de regime, aliás, mesmo que a defesa do preso não
queira, por exemplo. A de Lula parece não querer. É a velha estratégia
lulopetista desenhada pelo ex-presidente desde o momento em que teve a prisão
decretada: a de esticar a corda ao máximo e fixar o sistema judicial como
adversário no tabuleiro eleitoral. Tudo também previsível. A mesma tática,
registre-se, que colocou Haddad no segundo turno em 2018.
Lula tem
sua existência pública hoje associada – falando para fatia restrita da
sociedade – à condição de preso político. A limitação é evidente, a mesma que
mantém o PT preso a um preso. Mas é como ele, Lula, cultiva sua terra na
polarização brasileira; propriedade contra a qual – segundo avalia – a
progressão de regime avançaria. Lula quer Moro – a decisão do então juiz Moro –
sob suspeição, e que a condenação contra si seja anulada. Considera que a
progressão de regime enfraqueceria seu pleito. É o jogo que joga, e, sob sua
lógica, faz sentido.
Os
procuradores da Lava-Jato concordam (talvez porque joguem o mesmo jogo), daí
por que peçam, quase como um partido, a progressão de regime do ex-presidente.
Querem enfraquecer o movimento pela suspeição de Moro e limitar os riscos de
condenações anuladas no corpo da operação Lava-Jato, e pensam que um Lula em
casa seria um Lula menos vítima e, portanto, menos “preso político”. Também faz
sentido. Aqui,
afinal, todo mundo – de novo – politiza, para fins partidários, o que é questão
meramente formal; inclusive o Ministério Público. Não tem como dar certo.
Carlos Andreazza, jornalista - Blog em O Globo
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