De aspirante a assassino a suicida moral
Janot posicionou-se
Entre um copo de
cerveja e outro, flagrado na companhia de amigos em um botequim de
Brasília fazendo o que mais gosta – beber e conversar -, o ex-Procurador
Geral da República Rodrigo Janot limitou-se a dizer a jornalistas
suplicantes por uma palavra sua:
– Ainda estou pensando em como me posicionar.
O interesse dos
jornalistas estava nos desdobramentos de uma única das muitas histórias
que ele conta em seu livro de memórias, em breve nas livrarias: o
assassinato do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal,
seguido do suicídio do próprio Janot.
Órfão há mais de dois
anos dos holofotes que para o bem ou para o mal iluminaram sua
trajetória à frente da Procuradoria, Janot imaginou que voltaria a
atrai-los se contasse algo capaz de galvanizar a atenção do país. E foi o
que fez.
No livro, não deu
detalhes do que diz que tramou um dia, nem mesmo citou o alvo de sua
fúria abortada pela “mão de Deus”. Em entrevista à VEJA, deu detalhes e o
nome de Gilmar. Estava certo que escalaria mais um degrau do panteão
dos heróis brasileiros.
Aconteceu o contrário:
foi ao chão. Teve seu apartamento revistado pela polícia que ali
apreendeu documentos e a pistola escolhida para consumar o crime. Está
proibido de entrar no prédio do tribunal e deve manter-se a uma
distância de 200 metros dos ministros.
Haverá uma reentrada em
cena mais desastrada do que a de Janot? Gilmar não acreditou que ele
quisesse matá-lo quando ficou sabendo de tudo, este ano, pelo
ex-ministro Raul Jungmann, da Justiça e da Segurança Pública. Foi o que
Jungmann ouvira do próprio Janot. O novo Procurador-Geral
da República, Augusto Aras, aumentou seu capital político com a
revelação do patético episódio do assassino e suicida que foi sem nunca
ter sido. Janot enterrou de vez o costume da lista tríplice para
indicação do futuro ocupante do cargo. [ao desprezar a lista tríplice - uma aberração usada pela corja lulopetista - mais uma vez o Presidente Jair Bolsonaro, mostra o quanto é forte a sua capacidade de intuição e que sempre saberá tomar a decisão certa no local e momento certo.]
Semana que passou foi marcada por uma intensa movimentação dos poderes da República
Nenhuma surpresa. Bolsonaro, mais uma vez, apresentou-se sem máscaras. E não falou apenas para o seu público. Fez ecoar sua crença ideológica para dentro e para fora do Brasil: nomeou inimigos reais ou imaginários e contra eles pregou o confronto; enfatizou a soberania lastreada no nacionalismo em contraponto à abstração globalista que, segundo ele, disfarça o neocolonialismo eurocêntrico. Foi incisivo ao afirmar que a Amazônia não é um patrimônio da humanidade e que o Brasil sabe cuidar das minorias a despeito da falsificação midiática e da venalidade das ONGs. Reafirmou o pilar da religiosidade e dos valores ultraconservadores nos costumes.
Enfim, o Presidente apresentou-se exatamente como ele é. Resta saber até que ponto o pragmatismo das relações comerciais e uma economia liberal e aberta, como prometidas, são capazes de superar o alinhamento político com o populismo autocrata que come pelas beiradas a democracia política. Enquanto isso, o Congresso Nacional derrubou 18 vetos presidenciais à Lei de Abuso de Autoridade; o grupo de trabalho do pacote anticrime eliminou o regramento que ampliava a hipótese de legítima defesa como excludente de ilicitude para policiais ou civis sob o pretexto de “excusável medo, surpresa ou violenta emoção”, defendida pelo Ministro Sérgio Moro.
Por sua vez, em companhia de 15 senadores, o Presidente do Senado Davi Alcolumbre, em “visita institucional” ao Presidente do STF, Ministro Dias Toffoli, e com o objetivo de “reafirmar” a independência do Poder Legislativo, na verdade, manifestou uma reação da Câmara Alta à liminar de busca e apreensão nos gabinetes do Senador Fernando Bezerra Coelho e do deputado Fernando Bezerra Filho, concedida, monocraticamente, pelo Ministro Luis Barroso.
Entra em cena, então, o pleno do Supremo Tribunal Federal. Por sete votos a três, prevaleceu o entendimento em favor da tese pelo direito dos réus delatados se manifestarem após os delatores nas alegações finais. A decisão não foi concluída. Faltam dois votos e a expectativa de que a decisão seja modulada de forma a não atingir decisões anteriores em que a questão não fora arguida pela defesa.
Toda movimentação dos poderes é passível de um debate público e esclarecedor quanto à normalidade do funcionamento das instituições, não fora o ambiente de radicalização, propício ao cínico e último estratagema, o 38%, sugerido por Schopenhauer no livro Como vencer um debate sem precisar ter razão, que é a grosseria, o insulto e a ofensa pessoal. Tudo se resume a etiquetas ultrajantes como fascista, comunista, homofóbico, lésbica, corrupto, alienado, coxinha, mortadela no lugar da interlocução civilizada.
Antes de finalizar o artigo, porém, veio à tona uma notícia estarrecedora: a nação brasileira, perplexa, tomou conhecimento de que, para além do ultraje, o ódio permeia as relações sociais a partir da confissão, em livro de memórias, que o ex-Procurador Geral da
República, Rodrigo Janot, planejara assassinar o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, no lócus em que o império da lei resguarda os direitos da pessoa humana, entre os quais, o mais fundamental: o direito à vida.
Que exemplo! O Complexo do Alemão não é ali.
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Blog do Noblat - VEJA - Gustavo Krause, ex-ministro da Fazenda
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