”É genocida a ideia de que a epidemia tem baixa letalidade e, por isso, é preferível que tenha um ciclo curto, para que a economia se recupere rápido”
Todo velejador sabe que diante da tempestade é melhor prevenir do que
remediar. Quando não é possível chegar a um porto seguro antes da
borrasca, isso significa rizar bem as velas, ou seja, diminuir a área
vélica proporcionalmente à força do vento, e enfrentar as ondas longe da
costa. Em situações limites, pôr o barco em capa, aquartelando as velas
no sentido contrário ao leme, até o mau tempo passar; ou correr com o
tempo, em árvore seca, isto é, sem as velas, firme no leme para manter o
barco longe dos arrecifes. No desespero, muitas vezes, a saída é
encalhar o barco numa praia.
Em quaisquer circunstâncias, o timoneiro tem que saber posicionar o barco corretamente em meio às ondas, para não naufragar. Em capa, é preciso aguentar o aguaceiro pelas ventas, ou seja, a onda batendo na proa da embarcação, sem deixar o barco virar. Em árvore seca, ou seja, sem as velas, com a onda batendo na popa, o risco de virar também existe, a saída é reduzir a velocidade e não deixar o barco atravessar. Mesmo os grandes navios estão sujeitos a ter que fazer essas manobras nas grandes tempestades.
É válida a analogia das manobras de mau tempo com o combate à epidemia de coronavírus, que parece uma mistura de tsunami com tempestade tropical.
O presidente Jair Bolsonaro não é um velho marujo. Não consegue entender o risco de seu próprio naufrágio.
A pandemia começou como uma pequena ondulação, mas está crescendo como um tsunami que se aproxima da costa; para piorar, vem acompanhada de ventos equivalentes a uma tempestade tropical, a recessão da economia mundial. São dois fenômenos conjugados, sem precedentes desde a gripe espanhola, em 1918, e a Grande Depressão de 1929, sem esse intervalo de tempo.
O que o Ministério da Saúde, os governadores e os prefeitos fizeram até agora foi tentar preparar o Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto o tsunami não chega à praia, o que vai acontecer mais cedo ou mais tarde. A Saúde é um sistema federativo, financiado 40% pelo governo federal, 40% pelos estados e 20% pelos municípios, mas assimétrico no atendimento à população: 15% a cargo da União, 35% dos estados e 50% dos municípios. A União só gasta 5% com hospitais, 50% dos custos são arcados pelos estados e 45%, pelos municípios.
Ultimato
É preciso levar o barco devagar, como lembrou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, citando o samba famoso de Paulinho da Viola. Não há outra maneira de manter esse sistema operacional sem reduzir a circulação de pessoas e garantir os meios para que suas necessidades básicas possam ser atendidas, em termos de recursos financeiros, serviços e abastecimento. Trata-se de evitar o naufrágio dos hospitais no meio da tormenta, mantendo o maior número possível de pessoas longe da costa, para quando a onda chegar à praia os estragos serem menores.
O colapso do sistema de saúde pública somente poderá ser evitado diluindo a demanda de leitos e equipamentos ao longo do tempo. O preço disso é a redução da atividade econômica, com o que o presidente Jair Bolsonaro não concorda, porque deixa grande parte da força de trabalho sem renda. Mas, se isso não for feito, o custo humano e econômico será muito maior, advertem os economistas. A saída é governo garantir uma renda básica para todos e financiar a inatividade das empresas.
É genocida a ideia de que a epidemia tem baixa letalidade e, por isso, é preferível que tenha um ciclo curto, para que a economia se recupere mais rápido, mesmo com a morte de idosos. Sim, a sobrevivência da espécie estará garantida por aqueles que são mais jovens, com maior resistência ao vírus, mas o cálculo econômico desse “darwinismo social” é completamente equivocado: os prejuízos serão muito maiores se os hospitais entrarem em colapso e houver mortes em massa. A perda de recursos humanos também prejudica a economia.
Ontem, Bolsonaro voltou a questionar a política de isolamento social no Twitter e, em entrevista à Jovem Pan, disse que sua relação com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está desgastada. “O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo. Eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Agora, ele em algum momento extrapolou”, declarou. Bolsonaro já demitiu cinco ministros e advertiu que também pode exonerar Mandetta, se o ministro não flexibilizar o isolamento social na próxima semana. [Não defendemos o isolamento - opção preferencial do ministro Mandetta - mas destacamos que a maior parte do isolamento vigente é consequência de atos de alguns governadores - sendo que alguns destes alguns são movidos por interesses não republicanos.
Só para registro informamos que o jornalista Luiz Carlos Azedo, segundo o portal dos jornalistas, nasceu em: Luiz Carlos Azedo, ou simplesmente Azedo, nasceu em São Paulo (SP), em 18 de novembro de 1952.]
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense
nasceu em
Em quaisquer circunstâncias, o timoneiro tem que saber posicionar o barco corretamente em meio às ondas, para não naufragar. Em capa, é preciso aguentar o aguaceiro pelas ventas, ou seja, a onda batendo na proa da embarcação, sem deixar o barco virar. Em árvore seca, ou seja, sem as velas, com a onda batendo na popa, o risco de virar também existe, a saída é reduzir a velocidade e não deixar o barco atravessar. Mesmo os grandes navios estão sujeitos a ter que fazer essas manobras nas grandes tempestades.
É válida a analogia das manobras de mau tempo com o combate à epidemia de coronavírus, que parece uma mistura de tsunami com tempestade tropical.
O presidente Jair Bolsonaro não é um velho marujo. Não consegue entender o risco de seu próprio naufrágio.
A pandemia começou como uma pequena ondulação, mas está crescendo como um tsunami que se aproxima da costa; para piorar, vem acompanhada de ventos equivalentes a uma tempestade tropical, a recessão da economia mundial. São dois fenômenos conjugados, sem precedentes desde a gripe espanhola, em 1918, e a Grande Depressão de 1929, sem esse intervalo de tempo.
O que o Ministério da Saúde, os governadores e os prefeitos fizeram até agora foi tentar preparar o Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto o tsunami não chega à praia, o que vai acontecer mais cedo ou mais tarde. A Saúde é um sistema federativo, financiado 40% pelo governo federal, 40% pelos estados e 20% pelos municípios, mas assimétrico no atendimento à população: 15% a cargo da União, 35% dos estados e 50% dos municípios. A União só gasta 5% com hospitais, 50% dos custos são arcados pelos estados e 45%, pelos municípios.
Ultimato
É preciso levar o barco devagar, como lembrou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, citando o samba famoso de Paulinho da Viola. Não há outra maneira de manter esse sistema operacional sem reduzir a circulação de pessoas e garantir os meios para que suas necessidades básicas possam ser atendidas, em termos de recursos financeiros, serviços e abastecimento. Trata-se de evitar o naufrágio dos hospitais no meio da tormenta, mantendo o maior número possível de pessoas longe da costa, para quando a onda chegar à praia os estragos serem menores.
O colapso do sistema de saúde pública somente poderá ser evitado diluindo a demanda de leitos e equipamentos ao longo do tempo. O preço disso é a redução da atividade econômica, com o que o presidente Jair Bolsonaro não concorda, porque deixa grande parte da força de trabalho sem renda. Mas, se isso não for feito, o custo humano e econômico será muito maior, advertem os economistas. A saída é governo garantir uma renda básica para todos e financiar a inatividade das empresas.
É genocida a ideia de que a epidemia tem baixa letalidade e, por isso, é preferível que tenha um ciclo curto, para que a economia se recupere mais rápido, mesmo com a morte de idosos. Sim, a sobrevivência da espécie estará garantida por aqueles que são mais jovens, com maior resistência ao vírus, mas o cálculo econômico desse “darwinismo social” é completamente equivocado: os prejuízos serão muito maiores se os hospitais entrarem em colapso e houver mortes em massa. A perda de recursos humanos também prejudica a economia.
Ontem, Bolsonaro voltou a questionar a política de isolamento social no Twitter e, em entrevista à Jovem Pan, disse que sua relação com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está desgastada. “O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo. Eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Agora, ele em algum momento extrapolou”, declarou. Bolsonaro já demitiu cinco ministros e advertiu que também pode exonerar Mandetta, se o ministro não flexibilizar o isolamento social na próxima semana. [Não defendemos o isolamento - opção preferencial do ministro Mandetta - mas destacamos que a maior parte do isolamento vigente é consequência de atos de alguns governadores - sendo que alguns destes alguns são movidos por interesses não republicanos.
Só para registro informamos que o jornalista Luiz Carlos Azedo, segundo o portal dos jornalistas, nasceu em: Luiz Carlos Azedo, ou simplesmente Azedo, nasceu em São Paulo (SP), em 18 de novembro de 1952.]
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense
nasceu em
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