Miriam Leitão
Bolsonaro quer tirar a independência do STF, cláusula pétrea da Constituição
O presidente Jair Bolsonaro, durante entrevista no Palácio da Alvorada Reprodução/Facebook
O
presidente Bolsonaro avisou que recebeu uma proposta de mudar a composição do
Supremo Tribunal Federal e que vai tratar disso depois das eleições. Então o
que ele está pedindo aos eleitores brasileiros é que votem nele apesar de ele
estar avaliando um projeto que vai ferir de morte a independência dos poderes
da República, e informa que tratará disso depois de eleito. Na entrevista à
“Veja”, ele mostrou claramente que seus propósitos para o segundo mandato são
exatamente os que se temia.[Entendemos que cláusulas pétreas da Constituição podem ser modificadas, sem violar o texto constitucional, desde que através de uma Assembleia Nacional Constituinte; tendo o presidente maioria no Congresso Nacional, pode convocar uma Assembleia, que terá competência para modificar na Constituição o que considerar melhor para o Brasil.]
Do lado de Lula, as propostas também estão vagas sobre como enfrentar a crise fiscal e orçamentária criada por Bolsonaro. Esse assunto tem sido muito discutido na campanha, e várias propostas têm estado na mesa desde o começo. Pode vir a ser a volta da meta de superávit primário, uma meta de gastos de custeios e de investimentos separados, ou um compromisso de redução da dívida líquida.
— Se Lula vencer, seja qual for o instrumento de política fiscal escolhido, será preciso primeiro atravessar 2023. O Orçamento que o governo enviou para o Congresso não fica de pé. Vai ser inevitável flexibilizar a regra de controle de gastos no ano que vem por causa do que está sendo deixado. Mas o importante será ter uma regra que dê previsibilidade, transparência e que haja prestação de contas com idas frequentes do ministro ao Congresso Nacional —explicou um economista petista.
A
economia precisa ter previsibilidade não porque esta seja uma exigência
doutrinária de alguma corrente econômica. É porque será preciso fazer no curto
prazo um aumento de despesas e do endividamento. E isso ocorre enquanto o mundo
está vivendo uma crise sem precedentes e que é até difícil dimensionar, na
opinião do economista José Roberto Mendonça de Barros:—A última
vez que a economia global parou por causa de um vírus foi na gripe espanhola, a
última vez que a Europa teve uma guerra quente foi em 1919 e 1945. A última vez
que o mundo desenvolvido teve inflação de dois dígitos foi no fim dos anos
1970. E estamos tendo tudo ao mesmo tempo. Os bancos centrais farão uma
elevação de juros que em algum momento pode levar à recessão do mundo
desenvolvido. É uma coisa totalmente sem precedentes.[logo surgirão narrativas atribuindo tais desastres ao presidente Bolsonaro. Antes de 'narrar',não esqueçam que os números do Brasil, quando comparados aos das grandes potências econômicas, estão melhores.]
A política fiscal responsável garante a estabilidade da economia, que permite políticas sociais consistentes e governabilidade. Contudo, os economistas do Real fizeram um gesto que foi antes de tudo político. Sabem que o que está em jogo é o futuro da democracia.
Bolsonaro deu razão a eles, e a todos que se preocupam com a questão democrática, quando, em entrevista à “Veja”, avisou que depois das eleições vai estudar o projeto que chegou às suas mãos — não disse quem foi o remetente — para mudar a composição do Supremo. Ele pede votos, sem explicar esse gravíssimo ponto. O presidente está ameaçando cláusula pétrea da Constituição.
Míriam Leitão, jornalista - Com Alvaro Gribel (de São Paulo)- Em O Globo - MATÉRIA COMPLETA