Vamos falar francamente: não há democracia quando há corrupção. Já tivemos por aqui o conhecido “rouba mas faz” – que resultou em muito roubo e pouca estrada. Agora, parece estar surgindo o “rouba mas é democrata”. Não faz sentido.
A corrupção está longe de ser um problema moral. Se fosse “apenas” uma questão ética, já estaria errado. Teríamos corrompidos os costumes sociais e políticos. Na verdade, temos muito disso por aqui.
No caso do social, muita gente acha que não tem nada demais dar uma caixinha para o policial do trânsito ou para o burocrata que emperra uma demanda qualquer, como o registro de uma pequena empresa. Resultado: mais burocracia, menos eficiência e impessoalidade do serviço público.
Nos costumes políticos, são abundantes os exemplos de tráfico de
influência – caso dos pastores que iam rezar nas reuniões do MEC com
prefeitos e aproveitavam para negociar verbas e “contrapartidas”. Eleito
com a bandeira da moralidade, o presidente Bolsonaro, aliado ao Centrão
fisiológico, não apenas enfraqueceu as instituições de combate à
corrupção como abriu as diversas instâncias de seu governo a balcões de
negócios.[o golpe que mais enfraqueceu, praticamente desmontou toda a estrutura de combate à corrupção, foi a "descondenação" do Luladrão, que não teve nenhuma participação do presidente Bolsonaro e cuja reversão não está ao seu alcance.]
(...)
Lula pretende ser o polo democrático sem acertar as contas com a grossa corrupção dos governos petistas, do mensalão ao petrolão.
Uma ampla aliança da esquerda à direita – na verdade, uma associação dos apanhados na roubalheira – colocou em curso o desmonte do combate à corrupção. Está todo mundo sendo liberado. Mais que isso. Estão simplesmente numa negação da realidade.
Ficamos mal nessa polatização: um nega a ditadura que quer implantar; outro lado nega a corrupção entretanto evidente em vários processos locais e internacionais.
Há episódios deprimentes. No último dia 30, o MDB selou aliança com o PT na Bahia. Quem apareceu por lá, articulando? Sim, Geddel Vieira Lima, aquele que tinha R$ 51 milhões em dinheiro vivo escondidos num apartamento em Salvador. Foi preso, cumpriu pena, mas na onda do liberou geral ganhou liberdade condicional.
Geddel foi ministro de Lula e vice da CEF no governo Dilma.
Lula já reclamou, no passado, que a imprensa dava mais atenção ao triplex do Guarujá do que ao apartamento de Geddel.
E agora, tudo bem?
Não, né!?
Lula não pode negar a corrupção e seus efeitos danosos , quase quebraram a Petrobras, e, ao mesmo tempo, proclamar-se democrata da gema.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Clique para MATÉRIA COMPLETA
Coluna publicada em O Globo - Economia 9 de abril de 2022
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