Malu Gaspar
O presidente Jair Bolsonaro foi aconselhado por líderes do Centrão e ministros do Palácio do Planalto a não ir ao ato marcado pelos bolsonaristas para este domingo, 1º de maio, em várias cidades brasileiras.
No Rio de Janeiro, as manifestações contra o STF, que o bolsonarismo dizem ser pela "liberdade de expressão", acontecerão em Copacabana. O deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) deve estar no palanque. Segundo interlocutores do presidente no Centrão, Bolsonaro já estava inclinado a não ir. Para eles, não é necessário o presidente "provocar mais" o Supremo do que já o fez, com o decreto perdoando Silveira e, depois, com o ato no Palácio do Planalto.
No ato, diante de dezenas de deputados de sua base política, Bolsonaro atacou o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso e colocou em dúvida a segurança do sistema eleitoral. Também elogiou Silveira.
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Desde ontem, porém, o presidente moderou o tom do discurso. Em entrevista a uma rádio de Cuiabá, ele disse que que não quis "peitar o Supremo" ao dar o indulto a Silveira.
[Comentando: Bolsonaro agirá de forma correta não comparecendo aos atos em seu apoio e contra o STF. Não há razões para sua presença - o que importa é o povo que estará expressando seu apoio ao presidente da República. Não hã necessidade da presença do apoiado para apoiar os apoiadores. Entendemos que a situação está cômoda e favorável para o capitão:
- dentro do tão decantado 'estado democrático de direito' e das 'quatro linhas da Constituição' não há espaço para o STF anular o decreto de graça que perdoou o deputado Daniel Silveira - além do mais, posições anteriores dos ministros Moraes e Barroso, este no tocante ao terrorista italiano multi homicida Cesare Battisti, reforçam a motivação do acerto do ato de clemência do presidente Bolsonaro;
- o prazo elástico dado pela ministra Rosa Weber ao presidente da República para responder uma pergunta óbvia sobre a fundamentação do decreto de graça favorável ao deputado fluminense - dez dias, saindo do padrão dois ou cinco dias - foi uma forma de acomodar a situação, até mesmo os ministros do STF e a esquerda se acostumarem com os novos fatos;
- uma eventual resistência buscando tornar Daniel Silveira inelegível, terá que enfrentar a oposição da Câmara dos Deputados e quanto ao não uso da tornozeleira eletrônica, se ele foi perdoado de todas as condenações e o processo sepultado, tudo que se refira a restrições a liberdade do parlamentar foi extinto.
Fechando: presidente Bolsonaro NÃO VÁ AOS ATOS, em respeito à liturgia do cargo que o senhor ocupa = o mais alto da Nação = e tenha em conta que na pendenga com o STF o placar lhe é favorável.
Seus apoiadores que forem aos atos estarão apoiando suas decisões e não o eventual brilho advindo de sua presença.]
O deputado foi condenado pela Corte à prisão por oito anos e nove meses e à perda de mandato por ameaçar ministros a fazer ataques ao tribunal.
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Bolsonaro disse ontem que, com seu perdão, ele quis apenas desfazer uma "injustiça" e reparar um "excesso" cometido pelo Supremo. Nos bastidores, porém, o presidente reconhece que não é hora de ele mesmo cometer novos excessos. Por isso, não pretende ir aos atos de domingo.
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Para ter certeza se ele realmente vai manter essa disposição, porém, é preciso esperar pra ver. Porque é como diz um dos membros do Centrão: "A gente nunca sabe quanto de excesso seria o verdadeiro excesso para Bolsonaro".Malu Gaspar, colunista - O Globo
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