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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Deficiência na Educação barra o desenvolvimento

Não há país desenvolvido que não tenha passado por uma fase em que um grande contingente de jovens bens instruídos começou a entrar no mercado de trabalho. A partir desse momento, a produtividade da economia passou a crescer numa velocidade maior, subiu a renda da sociedade, ampliou-se o consumo, atraindo mais investimentos e, assim, instalou-se um círculo virtuoso alterando de forma estrutural o padrão de desenvolvimento do país.

O Brasil, por óbvio, não escapa à regra. A notícia ruim é que o país, outrora mais jovem que hoje e menos a cada dia que passa, tem sido inepto em educar a população e, assim, perde este chamado “bônus demográfico” de que várias sociedades se aproveitaram de forma competente.

O contingente da população entre 20 e 30 anos chegou a seu ponto máximo em 2010. E passou a decair inexoravelmente — tendência que está por trás da urgência da reforma na Previdência, retardada em excesso por leniência dos políticos. Afinal, haverá mais beneficiários do INSS do que contribuintes do sistema. Esta é a trajetória da insolvência. Outro indicador do envelhecimento médio da população é a proporção da faixa de 65 ou mais anos de idade em relação à população de até 14 anos: era 18,6% em 2000, estima-se que atingiu 36% este ano e chegará a 2030 em 76,3%.



Este fenômeno demográfico universal reduz os horizontes para o Brasil chegar ao estágio de país desenvolvido, porque o sistema educacional — inclusive o privado — não tem conseguido instruir jovens de forma que atendam às exigências do mercado de trabalho, em crescente sofisticação ditada pela revolução tecnológica.

O mais recente teste internacional Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), sigla em inglês, confirmou a má situação brasileira. Aplicado periodicamente entre alunos de 15 anos, de 70 países, o Brasil continua a ratear nas últimas colocações. Desta vez, somou 401 pontos, mais apenas que a República Dominicana, Argélia, Kosovo, Tunísia, Líbano e Peru.

Em relação ao Pisa anterior, os estudantes brasileiros caíram em Leitura e Matemática — na primeira disciplina, ficaram em 59ª colocação e, na segunda, 65ª. Em Ciência, o Brasil ficou estagnado em pouco mais que 400 pontos.  A comparação entre os rendimentos de escolas públicas e privadas mostra discrepâncias conhecidas: as particulares são melhores, mas não em relação às públicas federais. Porém, mesmo assim, o ensino privado sinaliza dificuldades. Seus estudantes obtiveram 477 pontos, tanto quanto os húngaros, situados no meio do ranking, 70ª posição.

O aspecto muito negativo destes resultados é que eles refletem a crise aguda do ensino médio brasileiro, a porta de saída do ensino básico para um curso superior, profissionalizante e/ou o mercado de trabalho. E a má preparação deste aluno não é novidade. Estabeleceram-se metas para as fases do ensino básico, num projeto que objetiva colocar a média do rendimento dos alunos brasileiros, em 2020, no nível em que os países desenvolvidos congregados na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estão hoje. As metas têm sido atingidas na fase preliminar do básico. Mas esses avanços são perdidos no ensino médio.


O resultado dramático de tudo isso está refletido em gráficos acima: a elevada evasão no ensino médio tem retrocedido, mas os 12% da população entre 15 e 17 anos ainda fora da escola são um índice elevado. E infelizmente ainda há grande contingente de “nem-nem” (nem trabalham, nem estudam), entre jovens na faixa de 18 a 24 anos. A força de trabalho do país, portanto, não está sendo reposta como deveria. O quadro tem melhorado, porém não o suficiente para dar tranquilidade quanto ao futuro.

Justifica-se, então, a linha da reforma do ensino médio enviada ao Congresso por medida provisória, para se ganhar tempo. O Legislativo tem feito mudanças, e o projeto precisa tramitar, independentemente de incompreensões de fundo ideológico.   O desafio é que haveria ainda duas décadas para fechar-se de vez a janela do bônus demográfico — quando a proporção de idosos ultrapassará a de jovens. Dá a medida do tempo que falta para o país alcançar o desenvolvimento — condição hoje circunscrita a bolsões regionais e até mesmo urbanos. A corrida é para que não ocorra o pior: um país velho, sem ter ficado rico.

Os pontos-chave
1
Países precisam instruir a população jovem,
para atingir o nível pleno de desenvolvimento
2
E como as pessoas envelhecem, um fato
inexorável, não se tem todo o tempo para isso

3

A vantagem de se contar com muitos jovens, o “bônus demográfico”, acaba cedo ou tarde

4
Por esta razão, preocupa que o ensino médio continue com um rendimento muito baixo

Fonte: Editorial - O Globo



terça-feira, 19 de julho de 2016

O terror é apenas o horror



Alá deve estar mais envergonhado da ação assassina de seus soldados da jihad do que toda a cristandade

Em 1890, o marinheiro polonês naturalizado britânico Jósef Konrad subiu o Rio Congo e testemunhou uma carnificina na qual metade da população local sucumbiu. Tornado o escritor que sempre justifica uma releitura prazerosa por outro gênio, Jorge Luís Borges, Joseph Conrad registrou seu testemunho no romance No Coração das Trevas. E deu voz ao ódio ao colonialismo. Do livro o gênio do cinema Francis Ford Coppola extraiu o enredo de Apocalypse Now, expressando o ódio ao imperialismo invasor. Antes disso, finda a Segunda Guerra Mundial, em Paris, dois gênios da literatura francesa, ambos ganhadores do Prêmio Nobel da Literatura, injustamente nunca concedido ao autor de Lord Jim, transformaram numa rixa uma boa amizade mantida nas mesas do café Deux Magots, em Saint Germain-des-Près.

O  caolho Sartre defendia o terrorismo como arma na luta da Argélia contra o colonialismo francês. O argelino Camus cunhou a máxima de que ele não perdoaria o terrorista cuja bomba matasse aleatoriamente sua mãe numa estação de metrô em Oran, onde ele nasceu. E assim o terrorismo – amor ou ódio? – , dilema crucial do século 20, invadiu e dilacera o século 21.

Sartre, o pai do existencialismo, tornou-se um dos maiores ídolos do social-comunismo da História. Mas em seu enterro gigantesco também foi enterrada a reputação de um intelectual brilhante que tinha tudo para imortalizar-se como o filósofo de O Ser e o Nada. E terminou permanecendo vivo como o escritor de As Palavras. Edição recente de textos esparsos de galã Camus mostra como o amigo que virou rival dele não é mais apenas o genial romancista de O Estrangeiro, como era conhecido antes, pois ele, não Sartre, é que tinha razão nesta questão capital: não há razão nenhuma para a execução aleatória de cidadãos inocentes e alheios às questões que acionam os explosivos de um terrorista suicida.

O atentado contra a redação do Charlie Hebdo, a sequência de chacinas de 13 de novembro em casas noturnas da capital francesa e o caminhão-bomba que atropelou e matou 84 na comemoração do aniversário da queda da Bastilha, em 14 de julho de 2016, expõem mais do que nunca a completa razão lógica de Camus. O colonialismo não foi derrotado nas execuções aleatórias da Casbah, em Argel. O imperialismo não sucumbiu à explosão das Torres Gêmeas em Nova York. O terrorismo não tem causa, contém apenas ódio, preconceito, irracionalidade e uma brutalidade do qual o único animal capaz é o soi-disant racional. Um leão na floresta não promove chacinas como a do aeroporto de Istambul.

“O inferno são os outros”, definiu subliminarmente Sartre na peça Huis Clos (Entre Quatro Paredes), na boca do protagonista Garcin a essência do terror como arma. É uma ironia que Sartre não tenha entendido o próprio conceito e que Camus não tenha conseguido como ele resumir tudo o que pensava sobre o assunto numa síntese absoluta como esta.  O atentado de 14 de julho em Nice, à margem do “mare nostrum”, o Mediterrâneo, em cujo azul deslumbrante circularam as antigas civilizações grega e romana, ilustra à perfeição essa síntese. Não representa a vingança dos sarracenos contra os cruzados e os israelitas na luta milenar pela Terra Sagrada de Jerusalém. Alá deve estar mais envergonhado da ação assassina de seus soldados da jihad do que toda a cristandade. Maomé pode até ter tornado mais difíceis de aturar seus períodos de jejum, pois não entende como em seu ainda nome se derrama tanto sangue inocente. Marx, o jornalista que bradava contra a censura na Gazeta Renana, também não concebeu nem conceberia tanta crueldade. Não há fé nem ideal que justifiquem o ataque à liberdade dos outros de pensarem como quiserem e de rezarem para em que acreditem. Não há motivo, razão nem lógica.

A polícia francesa procura por algo inútil para dizer ao bobalhão do Hollande se o atentado foi planejado ou sequer autorizado pelo Estado Islâmico. Esta é uma manifestação da tonteira generalizada compartilhada pelos turcos que gastam bilhões para garantir a segurança em seu território e não conseguem evitar atentados em seu aeroporto que homenageia o grande estadista Ataturk. Ou da completa burrice dos responsáveis pela segurança do Rio de Janeiro durante a Olimpíada para a qual virão os principais alvos do “ódio do novo califado”, todos representados pela elite de seus ídolos esportivos: EUA, Reino Unido, Alemanha, França, etc.

Se o 14 de julho do sanguinário Robespierre e do corrupto Danton foi violado por um caminhoneiro lunático, não importa o mínimo se este foi treinado pelo Estado Islâmico ou se apenas inspirou-se no ódio que move hoje todos os psicopatas que se recusam a conviver com os diferentes e, por isso, os liquidam. O Brasil não é inimigo do Islã. E nossa presidente afastada, no auge de escassez de sua parca inteligente, chegou a propor na Nova York das Torres Gêmeas negociações com o califado da intolerância.

O que importa é que os imbecis continuam acreditando nas mesmas sandices escritas, não por Maomé, mas por Sartre. Os franceses desconfiam que um terrorista brasileiro pretende atacar a delegação francesa. Ninguém deu bola. Todo mundo acredita que a irrelevância de nosso país na geopolítica global nos torna imunes à fúria terrorista. Falta-nos a consciência que Camus tinha de que a desumanidade do extermínio do outro, seja quem for, desde que não seja o próprio combatente, nunca tem justificativa e logo não pode ser perdoada.

A única lógica do atentado de Nice é disseminar o medo. Não adiantam as lamúrias de Hollande, a tristeza de Merkel, o estupor de miss May, a diplomática solidariedade de Obama nem a patética ignorância de madama Rousseff. O medo está disseminado. Que o medo seja, então, a nossa arma. A única capaz de mostrar que ninguém é invulnerável, nem os esquimós no Alaska nem os visitantes da bela El Calafate, na Patagônia argentina. Os peles-vermelhas das reservas americanas, os caçadores mongóis e os monges do Tibete são todos alvos eventuais do terror desumano. Enquanto todos estes, inclusive nós, não tivermos essa consciência, continuaremos sem ter nenhuma chance de defesa contra o homofóbico de Orlando, os irmãos que infernizaram a maratona de Boston para ganhar a pior das notoriedades ou os separatistas de origem russa da Ucrânia que se dão ao luxo de abater aviões comerciais em pleno voo. Ninguém é seguro em lugar nenhum deste planeta. 

E o inimigo não é só o terrorista em potencial, mas todo babaca que ainda prega a tolerância com o terror por motivos ideológicos, políticos ou religiosos. Não pense a vítima que eles são inocentes porque não têm armas. Eles têm algo pior do que a bomba de Hidrogênio: eles têm a crença de que só eles salvarão a Terra

O terror é apenas e tão somente, aprendamos todos, por favor, o que exprime a fala de Mc Duff na cena 3 do segundo ato de Macbeth, de Shakespeare, usada por Conrad como epígrafe em No Coração das Trevas: o horror, horror, horror


Publicado no Blog do Nêumanne



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A Ação Grande ou o Roubo do Cofre do Ademar

1. A FORMAÇÃO DA VAR-PALMARES
Em meados de 1969, duas organizações de linha foquista, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e o Comando de Libertação Nacional (COLINA) debatiam-se sufocadas pelo cerco dos órgãos de segurança. Espremidas entre os sucessos dos atos terroristas e dos assaltos a bancos e as amarguras da prisão de dezenas de seus militantes, ambas buscaram, na fusão, um modo de rearticularem-se, formando uma única organização, mais poderosa e de âmbito quase nacional.

 
Assim é que, em junho e em julho, em duas casas do litoral paulista, respectivamente, em Peruíbe e em Mongaguá, os dois comandos nacionais realizaram a denominada Conferência de Fusão, em cujo Informe, datado de 07 de julho, já aparecia o nome da nova organização, a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-P), que iria, também, ganhar a adesão de militantes da Dissidência do Partido Comunista Brasileiro de São Paulo (DI/SP).


Foi eleito o seguinte Comando Nacional (CN), três oriundos de cada organização: Carlos Lamarca, Antônio Roberto Espinosa e Cláudio de Souza Ribeiro, da VPR, e Juarez Guimarães de Brito, sua esposa Maria do Carmo Brito e Carlos Franklin Paixão Araújo, do COLINA. Apesar da fusão ter sido concretizada, as discussões da conferência não foram tranquilas, transcorrendo num clima tenso e, por vezes, tumultuado. Os "massistas" oriundos do COLINA, melhor preparados politicamente, criticavam os "militaristas" da VPR, pelo "imediatismo revolucionário" que defendiam. Ao mesmo tempo, entrando com 55 milhões de cruzeiros e um grande arsenal de armas, munições e explosivos, os oriundos da VPR sentiam-se moralmente fortalecidos, em face do nenhum dinheiro e das duas metralhadoras Thompson e quatro pistolas trazidas pelo COLINA.

 
Entretanto, tudo foi esquecido quando Juarez Guimarães de Brito apresentou o seu trunfo, o planejamento da "ação grande", que poderia dar, à nova VAR-P, sua independência financeira.

2. A "AÇÃO GRANDE"

 
Gustavo Buarque Schiller, o "Bicho", era um secundarista da então Guanabara que havia participado das agitações estudantis de 1968 e, através de militantes do diminuto Núcleo Marxista Leninista (NML), havia se ligado ao COLINA. De família rica, morava no bairro de Santa Tereza, próximo à casa de seu tio, o médico Aarão Benchimol, que a havia cedido para ser a residência de sua irmã - tia do "Bicho", Anna Gimel Benchimol Capriglione, tida como sendo a "amante do Adhemar", ex-Governador de São Paulo. Ao ouvir que no cofre do casarão de sua tia, que morava na Rua Bernardino dos Santos, havia milhões de dólares, levou esse dado à organização.


No início de maio de 1969, "Bicho" recebeu de Juarez Guimarães de Brito a incumbência de realizar levantamentos mais acurados, com croquis e tudo, para um futuro assalto.  Descobriu, então, que não havia só um, mas dois cofres, o segundo num escritório em Copacabana. Descobriu, também, que neles deveria haver de 2 a 4 milhões de dólares, além de documentos que poderiam incriminar, por corrupção, o ex-Governador Adhemar de Barros.
Juarez vislumbrou a "ação grande": num assalto simultâneo, arrecadaria recursos financeiros nunca antes conseguidos por uma organização e, com os documentos, poderia desmoralizar um dos articuladores da Revolução de 1964.  


 Necessitando de mais dinheiro para o roubo dos cofres, Juarez decidiu executar o que denominou de "ação retificadora", chefiando, em 11 de julho, o assalto à agência Muda do Banco Aliança, com os seguintes sete militantes da VAR-P: Darcy Rodrigues, Chael Charles Schreier, Adilson Ferreira da Silva, Fernando Borges de Paula Ferreira, Flavio Roberto de Souza, Reinaldo José de Melo e Sonia Eliane Lafoz. O assalto não proporcionou o resultado esperado: além de só terem conseguido 17 milhões de cruzeiros, foram perseguidos pela polícia, quando Darcy Rodrigues assassinou o motorista de táxi Cidelino Palmeira do Nascimento, causando "reflexos políticos negativos" para a nascente organização.

Por outro lado, o assalto ao cofre de Copacabana necessitava um tempo maior de planejamento, o que a "revolução" não poderia conceder. Decidiu, então, roubar o de Santa Tereza.


Na tarde de 18 de julho de 1969, os seguintes treze militantes da VAR-P, comandados por Juarez Guimarães de Brito ("Juvenal", "Júlio"), invadiram o casarão de Anna Capriglione, disfarçados de policiais à cata de "documentos subversivos": Wellington Moreira Diniz ("Lira", "Justino", "Mario", "Lampião", "Virgulino"), José Araújo de Nóbrega ("Alberto", "Monteiro", "Zé", "Pepino"), Jesus Paredes Sotto ("Mário", "Reis", "Lu", "Roque", "Tião", "Elmo"), João Marques de Aguiar ("Braga", "Jeremias", "Topo Gigio"), João Domingos da Silva ("Elias", "Ernesto"), Flávio Roberto de Souza ("Marques", "Mário","Juarez", "Ernesto", "Gustavo"), Carlos Minc Baumfeld ("Orlando", "José", "Jair"), Darcy Rodrigues ("Sílvio", "Léo", "Batista", "Souza"), Sônia Eliane Lafoz ("Bonnie", "Mariana", "Clarice", "Paula", "Rita", "Olga"), Reinaldo José de Melo ("Rafael", "Maurício", "Otávio", "Douglas"), Paulo Cesar de Azevedo Ribeiro ("Ronaldo", "Hilton", "Comprido", "Glauco", "Ivo", "José", "Luiz", "Osvaldo", "Pedro", "Rui") e Tânia Manganelli ("Simone", "Glória", "Marcia", "Patrícia", "Sandra", "Vera").

 
Hoje, Carlos Minc Baumfeld, assaltante e ex-banido do território nacional, cuja liberdade foi trocada pela vida de um embaixador seqüestrado,  posa como administrador,  com um cargo no Estado do Rio de Janeiro... Após confinarem os presentes a uma dependência do térreo da casa, um grupo subiu ao 2º andar e levou, através de cordas lançadas pela janela, o cofre de 200 Kg, colocado numa Rural Willys. Em menos de 30 minutos, consumava-se o maior assalto da subversão no Brasil.


Levado para um "aparelho" localizado próximo ao Largo da Taquara, em Jacarepaguá, o cofre foi arrombado com maçarico e com o cuidado de, antes, ser cheio de água através da fechadura, para evitar que o dinheiro se queimasse. Aberto, "os militantes puderam ver, maravilhados, milhares de cédulas verdes boiando". Penduraram as notas em fios de nylon estendidos por toda a casa e secaram-nas com ventiladores. Ao final, 2.800.064,00 dólares atestavam o sucesso da "ação grande". Entretanto, entre os documentos encontrados só havia cartas e papéis pessoais, nada que pudesse incriminar Adhemar de Barros, além das inevitáveis especulações sobre as origens da fabulosa quantidade de dólares.

3. O DESTINO DO BUTIM

O destino dado ao dinheiro nunca foi devidamente esclarecido, perdido nos obscuros meandros da cobiça humana sobrepondo-se à ideologia.

          Juarez e Wellington Moreira Diniz deixaram todo o dinheiro no "aparelho" da Rua Oricá, 768, em Braz de Pina, sob a guarda de Luiz Carlos Rezende Rodrigues ("Chico", "Negão") e Edson Lourival Reis Menezes ("Miranda", "Sérgio", "Wander", "Emílio", "Gilson"). Dias depois, Juarez foi buscar o dinheiro e determinou que essas duas "testemunhas" viajassem para a Argélia: Luiz Carlos embarcou em 12 de agosto, a fim de comprar armas, e Edson, via Argélia, foi fazer um curso de guerrilha em Cuba. Cinco meses depois, já no início de 1970, de volta ao Brasil, Luiz Carlos pediu para o militante Jorge Frederico Stein levar a quantia de 220 milhões de cruzeiros do Rio Grande do Sul para a Guanabara, em duas viagens. 

 
Cerca de 300 mil dólares foram colocados em circulação e sabe-se que muitos militantes receberam, cada um, 800 dólares para emergências e que os dirigentes passaram a viver sem dificuldades financeiras. Inês Etienne Romeu ("Alda", "Isabel","Leda", "Nadia", "Olga", "Tania") recebeu 300 mil. Cerca de 1,2 milhão foi distribuído pelas regionais, para a aquisição de armas, "aparelhos" e carros, além da implementação das possíveis áreas de treinamento de guerrilhas. No final de setembro, Maria do Carmo Brito ("Lia", "Madalena", "Madá", "Sara") entregou ao Embaixador da Argélia no Brasil, Hafif Keramane, a quantia de 1 milhão de dólares. Em contas secretas da Suíça - depois transferidas para a França, foram depositados 250 mil dólares, dos quais 120 mil foram divididos, em 1974, pelos grupos remanescentes da VAR-P e 130 mil foram abocanhados por Lalemant, um francês intelectual de esquerda, editor e dono da livraria Marterout, em Paris.

          Quanto ao Gustavo Buarque Schiller, o "Bicho", seu destino foi mais claro, se não trágico, do que o dos dólares que ajudou a roubar. Logo após o assalto, passou para a clandestinidade, escondendo-se com Herbert Eustáquio de Carvalho, o "Daniel". Depois, fugiu para o Rio Grande do Sul, onde usou os codinomes de "Luiz" e "Flávio". Preso no final de março de 1970, foi banido para o Chile em 13 de janeiro de 1971, em troca da vida do embaixador suíço. Depois de passar longos anos de dificuldades financeiras na França, retornou ao Brasil com a anistia, em novembro de 1979. Movido por "conflitos existenciais", suicidou-se em 22 de setembro de 1985, atirando-se de um edifício em Copacabana.

          Com dólares, armas e militantes preparados, a VAR-P nascia grande e prometia tornar-se a maior das organizações subversivas brasileiras. Os conflitos ideológicos entre seus integrantes, originados de uma fusão que nunca desceu da cúpula dirigente às bases, acabariam por dividi-la e enfraquecê-la, facilitando a sua posterior destruição.

           Dilma Vana Rousseff (Estela, Wanda, Luiza ou Patrícia) nessa época foi militante do COLINA, da VPR e da Var-Palmares. Era, então, casada com Claudio Galeno de Magalhães Linhares, também militante do COLINA, que participou do seqüestro de um avião comercial, em 01 de janeiro de 1970, de Montevideu para Cuba.

           A kamarada Dilma teve uma pequena participação no roubo do Cofre do Ademar, cumprindo a tarefa de efetuar uma troca de dólares numa Casa de Câmbio que funciona até hoje no térreo do Hotel Copacabana Palace.



Por: Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Terrorismo motiva a Xenofobia e a conta ficará mais alta para os imigrantes

Eles vão pagar a conta

ISTOÉ esteve no prédio, em Saint-Denis, onde o suspeito de comandar os ataques na França foi morto. Saiba como a rotina dos moradores de bairros da periferia de Paris já mudou e vai ficar ainda pior, devido ao aumento da xenofobia 

Os habitantes de Saint-Denis, subúrbio ao norte de Paris, acordaram em choque na fria madrugada de quarta-feira 18. Os ventos – uivantes de tão fortes – não foram capazes de abafar os sons de rajadas de tiros e explosões. Refeitos do susto inicial, em questão de segundos os moradores puderam identificar a natureza dos estrépitos. Do lado de fora, ocorria uma pesada operação antiterrorista. Enquanto algumas pessoas espiavam a ação da polícia parisiense por entre as frestas das janelas, outras, investidas de medo e temendo pelo pior, preferiam se aninhar no colo dos familiares no interior de suas residências. A tensão tardou para se dissipar. Durou sete horas. Ao fim de toda a operação, a polícia havia utilizado cinco mil balas. O cerco foi bem sucedido: o belga Abdelhamid Abaaoud, suspeito de ser mentor dos ataques terroristas em Paris, acabou morto. ISTOÉ esteve no local onde Abaaoud exalou seu último suspiro: um prédio insalubre, com ratos, ocupado de maneira ilegal por vários habitantes, muitos sem documentos oficiais, o que facilitou sua utilização como esconderijo.

Menos de uma hora depois do último disparo, uma moradora desceu para conceder entrevista. Vários canais de TV franceses, ávidos por qualquer declaração, a aguardavam. Ela usava um traje que é proibido na França desde 2010: um niqab, véu islâmico que cobre todo o rosto e só deixa os olhos à mostra. Talvez ela quisesse simplesmente evitar ser identificada. Mas a vestimenta toda preta sugeria que a mulher cultivava o hábito de sair à rua com esse tipo de roupa. Se for o caso, seu estilo não chama a atenção em Saint-Denis. O bairro do subúrbio parisiense possui uma população majoritariamente imigrante, de origem árabe.


Saint-Denis fica situado a apenas cinco quilômetros da capital francesa. É possível chegar lá de metrô. Apesar da pouca distância, logo na saída da estação vê-se rapidamente a diferença em relação a bairros centrais de Paris: prédios comuns, sem charme arquitetônico, e algumas lanchonetes, cafés e lojas populares. A exceção é a famosa basílica de estilo gótico, do século XII, onde estão enterrados os reis da França, que atrai turistas do mundo inteiro. Em Saint-Denis também há o célebre Stade de France, onde o Brasil perdeu a final da Copa em 1994. Na França, no entanto, o bairro ao norte da capital é encarado sobretudo como uma área pobre onde reinam violência e problemas sociais.

A grande maioria da população desse subúrbio de 110 mil habitantes é de imigrantes ou franceses de origem estrangeira, principalmente de países como Argélia, Marrocos e Tunísia e da África negra. A taxa de desemprego, de 20% a 22%, segundo autoridades locais, é o dobro da média nacional. Moradores ouvidos por ISTOÉ descrevem um bairro dominado pelo pavor com o que pode vir na sequência dos atentados. “A cidade já tinha má-reputação. A descoberta de terroristas aqui vai piorar ainda mais sua imagem e os moradores correm o risco de sofrer mais preconceito”, afirmou Marie-Christine Daillet, francesa de 63 anos, que passou a sair de casa sem bolsa após um assalto em que teve várias fraturas no braço, engessado por quatro meses. Hoje, tem planos de se mudar do local conhecido também pela venda de drogas a céu aberto. A atmosfera de pânico e medo é relatada por outra moradora, que não quis se identificar. “Se quisermos continuar vivos, não vimos nem ouvimos nada e também não sabemos de nada”, afirmou. Nascida na Costa do Marfim, ela reside em Saint-Denis há seis anos.



Segundo o francês de origem argelina Munir Dadi, muçulmano que mora em Saint-Denis há 18 anos, imigrantes clandestinos buscam abrigo no bairro porque há menos controle policial. “A vida na cidade se deteriorou muito nos últimos anos”, lamentou. Como muitas outras pessoas em Saint-Denis, ele também teme ser vitima de racismo após os atentados. “Espero que o presidente François Hollande ouça os gritos dos habitantes que pedem mais policiais na cidade”, afirma o vice-prefeito de Saint-Denis, Bally Bagayoko, francês de origem maliana. “Com dois mil policiais já daria para se equiparar a outras cidades”, acrescenta o político.

O que ocorre em Saint-Denis não é diferente de várias outras cidades do mesmo distrito administrativo, chamado Seine-Saint-Denis, no norte de Paris, mais conhecido na França como “nove três”. A referência ao código postal passou a ser vista, na prática, como algo pejorativo. “Você colocar o endereço 93 em um currículo diminui consideravelmente as chances de encontrar um emprego”, diz o argelino Mouder Sid Ali, motorista de caminhão que mora em Saint-Denis e chegou à França há três anos.


Foi na Seine-Saint-Denis, com mais de 1,5 milhão de habitantes, que começou a onda de violência nas periferias do país, em 2005. Samy Amimour, um dos kamikazes da casa de shows Bataclan, onde morreram 89 pessoas, morava em Drancy, uma cidade do distrito da Seine-Saint-Denis. “Os imigrantes foram amontoados em periferias, sem serviços, e isso acabou criando guetos e gerando exclusão social. Houve erros na política de integração”, afirma o cientista polítco Stéphane Montclaire, da Universidade Sorbonne. Segundo ele, a intolerância em relação aos muçulmanos deve aumentar na França após os recentes atentados. “Uma cabeça de porco colocada em frente a uma mesquita é um ato isolado e que não representa a opinião da população francesa. O problema é que vemos uma adesão progressiva da sociedade a certas ideias da extrema direita, do partido Front National, em relação a essa comunidade”, ressalta. De acordo com Abdelkader Ounissi, imã da mesquita de Bagnolet, na Seine-Saint-Denis, um de seus fieis teve de abrir a bolsa de ginástica na rua a um desconhecido que exigiu ver o conteúdo da sacola. “O clima é pesado. As pessoas estão com medo em relação ao futuro”, diz

No primeiro semestre deste ano, a França, onde vive a maior comunidade muçulmana da Europa, estimada em 6 milhões de pessoas, registrou 274 atos racistas e ameaças contra muçulmanos, segundo o Observatório Nacional contra a Islamofobia (ONCI), ligado ao Conselho Francês do Culto Muçulmano. Isso representa um aumento de 281% em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a organização, a forte progressão está ligada aos atentados de janeiro contra a revista satírica Charlie Hebdo e o supermercado judaico, que mataram 17 pessoas. Em 2014, o número já havia crescido cerca de 10% na comparação com 2013.
Fotos: LIONEL BONAVENTURE/ AFP PHOTO; Philippe Wojazer/ REUTERS
Fontes: Institut National de la Statistique et des Études Économiques (INSEE) e Eurostat