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domingo, 9 de abril de 2023

Quem tem medo da Unasul? - O Globo

Na noite em que Jair Bolsonaro foi eleito, Paulo Guedes deu uma amostra do que os novos ocupantes do poder pensavam sobre a América do Sul. Ele festejava a vitória num hotel da Barra da Tijuca, a poucos metros da casa do presidente eleito.Ao ouvir uma pergunta sobre o Mercosul, o futuro ministro acusou o bloco de ser dominado por “inclinações bolivarianas”. Em seguida, engrossou com uma repórter do jornal argentino Clarín. “O Mercosul não será prioridade. Era isso que você queria ouvir?”.

Por birra ideológica, o bolsonarismo torpedeou décadas de esforços pela integração regional. Hostilizou países vizinhos, esvaziou a cooperação econômica e ressuscitou a velha política de alinhamento automático aos Estados Unidos. Em abril de 2019, o capitão anunciou pelo Twitter que o Brasil sairia da União de Nações Sul-Americanas, a Unasul. [decisão acertadíssima.] Depois de quatro anos, o presidente Lula acaba de formalizar o retorno à entidade. [EXCELENTE!!! cada vez que o apedeuta presidente destrói alguma realização do presidente Bolsonaro, está também destruindo uma ponte que poderia levar o atual DESgoverno a um final menos infeliz; 
-  cada vez que o boquirroto presidente fala alguma coisa, destrói alguma realização do governo do capitão, e planeja construir algo (só planeja, realizar que é bom, nada) é mais um ponto para a oposição. Aliás, hoje recomendamos aos que querem ler algo criticando, com fundamentação, o DESgoverno atual,  de um texto do  jornal o Globo - parece até escrito pela oposição ao ex-presidiário.]

Apesar de terem muito em comum, os países da região levaram quase dois séculos para dividirem a mesma mesa. A primeira reunião dos 12 presidentes sul-americanos só aconteceu em 2000, por iniciativa de Fernando Henrique Cardoso.Oito anos depois, Lula assinaria o tratado de criação da Unasul. O subcontinente vivia uma maré de governos de centro-esquerda, mas a entidade estava longe de ser monolítica. Entre seus fundadores, figuravam o colombiano Alvaro Uribe e o paraguaio Nicanor Duarte.

Apesar da presença de conservadores, a direita brasileira estrilou. Olavo de Carvalho escreveu que a Unasul teria “poderes para impor o socialismo a todo o continente”. Nesta sexta, o deputado Kim Kataguiri definiu a Unasul como uma “associação de países de regime socialistas (sic), todos extremamente autoritários”. “Não se sabe se o órgão agirá como uma união soviética latina ou um fórum de ditadores do narcotráfico”, [pretendem ser uma URSS latina, uma associação de ditadores narcotraficantes e tudo o mais que não prestar] emendou o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança.

Na última edição dos “Cadernos de Política Exterior”, a embaixadora Eugênia Barthelmess lançou a pergunta: “Quem tem medo da integração da América do Sul?”. A diplomata anotou que os 12 países da região têm PIB conjunto de US$ 3,6 trilhões. [incluindo o PIB do Brasil (PIB em 2022 do Brasil: US$ 1,92 trilhão)  sem o Brasil, o PIB da Unasul cai a menos da metade;
 e, se prosperar a ideia do Brasil se associar a Unasul, tal 'casamento' só dura até o final do governo Lula, evento que se aproxima a cada vez que o 'estadista de fundo de quintal' abre a boca.] representariam a quinta economia do mundo, atrás da Alemanha e à frente da Índia.

O potencial da cooperação não se limita à esfera comercial. Ao somar forças, os sul-americanos podem ampliar sua voz em negociações de temas como defesa, desenvolvimento, saúde e combate às mudanças climáticas. O Brasil é quem tem mais a ganhar com a atuação conjunta. O país concentra quase a metade do território, da população e da economia do subcontinente. A Unasul tem defeitos a serem corrigidos, mas abandoná-la foi uma atitude contrária ao interesse nacional. Para a embaixadora Barthelmess, a medida significou uma “abdicação de liderança brasileira”. “Em nome de rancores cultivados na esfera da política doméstica, sacrificaram-se princípios tradicionais de política exterior do país”, resumiu. [liderar não é, necessariamente, demonstração da importância do líder; muitas vezes, especialmente no caso da Unasul, os liderados são tão sem importância, que liderá-los compromete a imagem do líder.]

Bernardo M. Franco, jornalista - O Globo

 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Quem apoia a ditadura - J. R. Guzzo

Revista Oeste

A realidade é que Alexandre de Moraes e seus colegas não tiveram, em nenhum momento, a menor objeção dos militares para tomar qualquer medida que tomaram

Ditaduras, uma vez que são impostas a algum país, não costumam ser biodegradáveis, nem passíveis de reciclagem
Não se tornam mais suaves, racionais ou justas com o passar do tempo, nem se transformam em outro material. 
Nunca recuam, nem cedem um milímetro do poder que tomaram, nem ficam mais inofensivas. Jamais abrem mão da sua violência — ao contrário, a repressão, as punições e a eliminação dos direitos individuais e das liberdades públicas só se tornam piores. 
É inútil ser tolerante, ou compreensivo, ou “pragmático” com elas, na esperança de satisfazer os ditadores; eles não se satisfazem nunca. 
São ditaduras, unicamente isso, e a cada dia de vida que ganham ficam com mais cara, corpo e alma de ditadura. É o caso do Brasil de hoje, obviamente.

Alexandre de Moraes e as Forças Armadas | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/José Cruz/Agência Brasil

Alexandre de Moraes e as Forças Armadas - Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/José Cruz/Agência Brasil 

Deixaram, cerca de quatro anos atrás, que o Supremo Tribunal Federal começasse a violar abertamente a Constituição e o restante da legislação em vigor no Brasil, num projeto para entregar o controle do país aos ministros e às forças que os apoiam. Hoje a ditadura está operando com todas as turbinas ligadas, e raramente passa um período de 24 horas sem que seus operadores deixem de aprofundar o estado de exceção que criaram. É um golpe de estado em câmara lenta, sem tanques na rua e com golpistas que usam toga de juiz em vez de farda de general — mas é golpe do mesmo jeito. O fato é que a ditadura ganhou, e amanhã vai estar mais destrutiva do que é hoje.

A última prova material, objetiva e indiscutível de que o Brasil vive numa ditadura do Poder Judiciário é a cassação, por parte do ministro Alexandre de Moraes, do direito de palavra da deputada federal Bia Kicis nas redes sociais; também foi punido o seu colega Júnio Amaral, e ambos se juntam à deputada Carla Zambelli, que está silenciada desde o dia 1º de novembro
É, como tantas outras, uma decisão absolutamente ilegal. 
O STF simplesmente não pode proibir um deputado federal de manifestar a sua opinião; nem o STF e nem ninguém. 
A Constituição diz, em português claríssimo e compreensível até para um analfabeto, que os parlamentares brasileiros têm o direito de levar ao público quaisquer opiniões — e esse quaisquer quer dizer todas, sem exceção de nenhuma, para que jamais haja nenhuma dúvida a respeito, nem justificativas para a violação do que foi escrito. 
 
Não se trata de um acaso. Essa palavra foi colocada de propósito no texto da Constituição, justamente para impedir que alguém pudesse fazer o que o ministro Moraes está fazendo: alegar algum motivo de “interesse superior” para confiscar de um deputado federal brasileiro o direito de exercer plenamente o mandato que lhe foi conferido pelos eleitores — mais de 200.000 cidadãos de Brasília, no caso específico de Bia Kicis. Não interessa o que a deputada disse, e menos ainda se o que disse está certo ou errado. A única coisa que deveria valer é a regra escrita na Constituição: ela não pode ser impedida de falar o que quiser. Essa regra não vale mais nada no Brasil de hoje.
Deputada Bia Kicis
Deputada Bia Kicis | Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados
Já não existe há bom tempo, por parte de Alexandre de Moraes e de qualquer dos seus colegas, nem mesmo alguma tentativa remota de disfarçar a ilegalidade dos atos que praticam. Disfarce para quê?  
Uma ditadura, depois que se estabelece, não precisa disfarçar mais nada; faz, no caso brasileiro, uma encenação de que age em defesa da “democracia”, mas na prática toma as decisões que quer e não dá satisfação a ninguém. No episódio com Bia Kicis, não foi dado nem mesmo um motivo para a punição — a deputada foi expulsa das redes, e ponto final. No caso de Carla Zambelli, o ministro decidiu que ela tinha “o nítido propósito” de romper “com o Estado Democrático de Direito”. Que disparate é esse?  
Como uma autoridade pode determinar qual é o “propósito” de alguém ao dizer isso ou aquilo? 
 
Que lei o autoriza a fazer esse tipo de adivinhação — que ainda por cima, como no caso de Bia Kicis, anula um mandamento constitucional?  
Moraes fala, também, numa “Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação”. Que diabo vem a ser isso?  
O órgão, com um desses nomes que encantam ditadores de Cuba à Coreia do Norte, não tem existência legal; foi inventado por Moraes e não poderia, assim, ser acionado para nada. 
Mas é usado como mais uma polícia do STF, para caçar mensagens “suspeitas” nas redes e aplicar multas de R$ 150.000 por hora. 
 
Naturalmente, como Moraes vem fazendo desde que a ditadura começou a ser implantada no Brasil, nenhuma das punições obedeceu a processo legal uma aberração que só existe em países onde o sistema judicial funciona no estilo do falecido ditador Idi Amin, ou de alguma outra republiqueta africana controlada por gângsters. 
Assassinos, traficantes de droga e estupradores têm direito a todas as regras estabelecidas em lei quando são acusados de algum crime; os deputados perseguidos pelo STF não têm. São punidos por decisão pessoal de Moraes, sem processo nenhum, sem advogados, sem direito sequer de ser informados do que fizeram. Se isso não é uma ditadura, então o que é?
 
A discussão a esse respeito, em todo o caso, já ficou para trás — o que importa é a realidade que existe hoje, e essa realidade mostra que a ditadura do judiciário não apenas está aí, mas conta com imensos apoios nas forças que têm influência prática no Brasil. 
Não poderia ter aparecido, na verdade, se não tivesse tido esse apoio desde os seus primeiros passos; não faz sentido acreditar que seja uma iniciativa individual, isolada e exclusiva de Moraes e do STF. O regime de exceção que manda hoje no Brasil só existe, objetivamente, porque há muita gente querendo que ele exista. 
 
A principal fonte de sua força na vida real, até agora, vem da aprovação silenciosa que recebe das Forças Armadas — a única instituição que tem meios materiais efetivos para deter a ação dos ministros. Os comandantes militares não fizeram, e nem era preciso que fizessem, um manifesto a favor do golpe em fatias que levou o país à situação em que se encontra neste momento. Obviamente, não assinaram um documento dizendo: “Nós, comandantes das três armas, fechamos um acordo com os ministros do STF para impor ao Brasil uma ditadura do Poder Judiciário”. Para que isso? 
Bastou que ficassem olhando sem fazer nada enquanto o regime de leis e a Constituição eram destruídos dia após dia pelas decisões do STF. 
A realidade, comprovada pelos fatos e acima de qualquer dúvida permitida pela lógica comum, é que Alexandre de Moraes e seus colegas não tiveram, em nenhum momento, a menor objeção dos militares para tomar qualquer medida que tomaram.
 
Os ministros do STF agiram, desde a sua primeira agressão ao sistema legal a proibição para o presidente da República nomear o diretor de sua escolha para a Polícia Federal , com a certeza de que ninguém iria se opor a nada do que fizessem
De lá para cá não pararam mais. Eliminaram a lei, aprovada legitimamente pelo Congresso Nacional, que estabelecia o cumprimento de pena de prisão para os réus criminais condenados em segunda instância o que, simplesmente, tirou o ex-presidente Lula da cadeia. 
Anularam as ações penais existentes contra ele, incluindo sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — o que o livrou da ficha suja e permitiu a sua candidatura à Presidência nas últimas eleições. Acabaram com praticamente todas as condenações da Operação Lava Jato — o único momento, em todos os 500 anos de história do Brasil, em que a justiça mandou para a cadeia condenados por corrupção de primeira grandeza. Montaram, em seguida, a eleição mais viciada que o país já teve num dos seus melhores momentos, proibiram o presidente de exibir em sua campanha eleitoral as manifestações públicas e legais do último Sete de Setembro. Em outra ocasião extrema, o ministro Luís Roberto Barroso, o jurista do “Perdeu, mané”, disse que “eleição não se ganha, se toma”; acharam que estava sendo um homem espirituoso.
Os membros da corte suprema punem cidadãos, e parlamentares, por crimes que não existem no Código Penal e em nenhuma lei brasileira. Bloquearam, sem qualquer vestígio de procedimento legal, as pessoas de se manifestarem nas redes sociais. “Desmonetizaram” quem entrou em sua lista negra. Censuraram a imprensa. Acabaram com o direito ao sigilo. Não permitem até hoje que os advogados tenham acesso aos autos nos processos de que seus clientes são vítimas. 
Cassaram o direito de palavra das deputadas. Acabam de prender um empresário por exercer o direito de convocar uma manifestação pública — no caso, de caçadores e de colecionadores de armas, atividades perfeitamente legítimas neste país. Em nenhum momento, nem no passado e nem agora, as Forças Armadas disseram uma sílaba a respeito de qualquer dessas violações da lei.

Em nenhum momento, nem no passado e nem agora, as Forças Armadas disseram uma sílaba a respeito de qualquer dessas violações da lei

Exército, Marinha e Aeronáutica se comportam hoje, para todos os efeitos práticos, como uma repartição pública sem maior significado. Estão basicamente preocupados com os seus soldos, aposentadorias, benefícios — incluindo os R$ 500 milhões pagos por ano a familiares, a título de pensão. Não ajudam em nada, com os seus tanques de guerra, mísseis de longo alcance ou caças a jato, a segurança do cidadão brasileiro — cada vez mais destruída pelo crime e pelos criminosos. 
Não defendem o território nacional de nenhuma invasão estrangeira, pois até uma criança com 10 anos de idade sabe perfeitamente bem que nenhum país vai invadir o Brasil.[aqui cabe lembrar que o presidente francês e o norte-americano, manifestaram interesse em internacionalizar a nossa AMAZÔNIA = o que na prática, equivale a transformar aquela parte do território soberano do Brasil em "terra de ninguém".]  
Não conseguem, nem mesmo, a autorização para comprar um lote de 100 novos tanques — o PT não deixa. [a intenção evidente do perda total =pt, é transformar nossas FF AA em milícia,  para ser usada na plenitude na transformação do Brasil em um 'venezuelão'.] 
Também não estão exercendo, com atos concretos, a sua obrigação legal de fazer cumprir a Constituição — ou então acham que nenhum dos fatos expostos acima pode ser descrito como violação constitucional, da ordem e do Estado de Direito. 
Não têm lideranças. Não parecem interessados em assumir responsabilidades maiores ou diferentes das que já têm;
-  talvez nem consigam fazer isso no mundo de hoje, mesmo que quisessem. 
A verdade, de qualquer forma, é que os militares não manifestaram nenhuma oposição às ações do STF — e os ministros vêm se sentindo livres, há quatro anos, para fazer tudo o que têm feito.
O outro grande braço que dá força ao STF, e que tem sido essencial para sustentar a sua ditadura, é a classe política brasileira — não toda, é claro, mas a maioria necessária para manter o Congresso Nacional numa postura de submissão absoluta ao Supremo. 
Um Congresso que se coloca de quatro diante deles — o que mais os ministros poderiam querer? 
A maior parte dos senadores e deputados apoia histericamente o STF; pedem a punição de colegas com mandato, canonizaram o ministro Moraes como o “salvador” da democracia no Brasil e querem, pela proposta de um dos mais notórios chefes da facção do Senado que reúne refugiados do Código Penal, dar mais poderes ao tribunal e legalizar suas agressões à Constituição. 
Os dois presidentes são o pior de tudo. O do Senado é um militante aberto do golperecusa-se, sem nenhum apoio legal, a permitir que os senadores discutam a conduta do Supremo, e com isso tira de funcionamento o único mecanismo constitucional que poderia controlar a sua conduta. 
O presidente da Câmara entrará na história pela realização de algo provavelmente jamais ocorrido em qualquer parlamento do mundo — aceitou sem dar um pio a prisão por nove meses de um deputado federal em pleno exercício do seu mandato. 
 
O deputado não tinha cometido nenhum crime inafiançável e nem foi preso em flagrante, as únicas hipóteses que permitem a prisão de um parlamentar o que Alexandre de Moraes e o STF fizeram com ele foi possivelmente a sua ilegalidade mais indiscutível e escandalosa. 
E daí? A maioria do Congresso ficou a favor da punição ao colega; é a favor de qualquer coisa que o STF decide. 
Se o ministro Moraes, um dia desses, mandar fuzilar o deputado, ou qualquer outra pessoa, a ordem vai ser cumprida. 
Ele não terá a menor dificuldade de achar na Polícia Federal, ou no Exército, ou em alguma das 27 PMs, o pelotão de fuzilamento; o deputado Arthur Lira e o senador Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, mais os componentes da mesa, iriam comparecer à execução e bater palmas no final. 
É uma sorte para todos, realmente, que o ministro Moraes não esteja querendo fuzilar ninguém, ao menos tanto quanto se saiba, porque não precisa fazer isso. A ditadura do judiciário já ganhou. Tem todo o apoio necessário para ficar de pé e para continuar prosperando.

Leia também “A conduta do STF está envenenada pela hipocrisia”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


sábado, 26 de fevereiro de 2022

Passatempo para o fim do mundo - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Segue uma lista de perguntas para você responder enquanto o mundo (não) acabaJoe Biden, João Doria, Vladimir Putin, Bill Gates e Justin Trudeau | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Joe Biden, João Doria, Vladimir Putin, Bill Gates e Justin Trudeau -  Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Já que essa conjunção de nerds bilionários, burocratas sorridentes e ditadores enrustidos resolveu acabar com o mundo, vamos tentar pelo menos trazer um pouco de leveza ao processo. Segue uma lista de perguntas para você responder enquanto o mundo (não) acaba. Bom Carnaval.

 

  1. A guerra do Putin é de direita ou de esquerda?
  2. A direita é a da caneta e a esquerda é a do relógio, ou ninguém mais usa caneta e relógio e estão todos no centrão do iPhone?
  3. Quem usa o termo “geopolítica” para explicar as coisas está georreferenciado em quais georreferências?
  4. A nova pandemia prometida pelo Bill Gates vai esperar a outra acabar, ou os aplicativos modernos já permitem a aplicação concomitante de duas pandemias?
  5. Se as investigações no Senado dos EUA concluírem que os parças do Bill (Dr. Fauci e cia) financiaram manipulação de coronavírus em Wuhan e que a pandemia surgiu mesmo de um vazamento de laboratório naquela cidade chinesa, o processo poderá ser patenteado ou vai continuar tudo no terreno da pirataria?
  6. Já que o Bill Gates tem tanto feeling para pandemias, será que ele podia adiantar algumas características do próximo vírus, de forma que os jornalistas do consórcio já possam saber quais remédios baratos serão censurados, depois do de piolho e do de verme, para não perderem tempo e não deixarem faltar mordaça?
  7. O STF vai investigar se o Bolsonaro mandou o Putin invadir a Ucrânia?
  8. O STF vai investigar se o Bolsonaro mandou o Putin não invadir a Ucrânia e ele invadiu assim mesmo, provando que o Bolsonaro não manda nada?
  9. Se o blindado do Fachin não afasta a preocupação com tiros, não seria o caso de colocar, por segurança, duas máscaras nas urnas eletrônicas?
  10. Não é meio fora de moda falar em tanques na era da guerra biológica?
  11. Não seria o caso de a Rede pedir ao STF que determine a substituição das metáforas bélicas pelas metáforas farmacêuticas?
  12. Por que o Putin não encomendou ao Bill um plano mais moderno e barato para subjugar os ucranianos?
  13. Quem foi o gênio que inventou a tirania de boa aparência?
  14. Com quantos Trudeaus se faz um Xi Jinping?
  15. Quem tem lockdown, passaporte vacinal e imprensa venal precisa de exército?
  16. Se vários países já suspenderam o passaporte vacinal e o Sambódromo do Rio de Janeiro foi fechado para o Carnaval sem a suspensão do passaporte vacinal na cidade, o prefeito Eduardo Paes está:
  17. Em outro planeta;
  18. Em outra pandemia;
  19. Confiante na vacina e mais confiante ainda no vírus;
  20. Convicto de que vacina é uma coisa e imunização é outra;
  21. Perguntando ao seu comitê científico até quando esse papo vai colar.
  22. Se João Doria desistir mesmo de ser candidato a presidente, o que será feito daquele belo jardim montado cuidadosamente para o seu marketing pandêmico?
  23. Se depois que começou a vacinação de covid tantos jovens passaram a sofrer mal súbito devido às mudanças climáticas, não seria o caso de desenvolver uma vacina contra o aquecimento global?
  24. Se a Rússia trouxer o apocalipse nuclear antes da próxima pandemia, isso poderá ser considerado uma traição de Vladimir Putin a Bill Gates?
  25. Se o mundo acabar mesmo, como ficará a geopolítica?

Leia também “Lula & Alckmin na intimidade”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


domingo, 4 de julho de 2021

Ditadores, saiam do armário - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza

O governador do Rio Grande do Sul foi um dos líderes dos trancamentos por suposta segurança sanitária. Saiu fechando tudo, assim como seu colega e correligionário de São Pauloambos se apresentando como presidenciáveis, ambos dizendo seguir a ciência contra um presidente negacionista, ou seja, ambos fazendo política.  
Se essa política servisse para cacifá-los à Presidência e também para proteger as pessoas da pandemia, ótimo. 
Infelizmente, não serviu para nenhuma das duas coisas. Não serviu para nada. Ou melhor (pior): serviu para piorar a vida das pessoas.

Com quase um ano e meio de pandemia, o governador do Rio Grande do Sul resolve dar uma entrevista confessional. Para falar de tudo. Qualquer um teria o direito de esperar que ele finalmente fosse explicar por que fez os gaúchos passarem a se sentir como se vivessem na Coreia do Norte. Mas ele não falou disso. Depois de quase um ano e meio de tirania, o governador revelou que é gay.

LEIA TAMBÉM: A lição japonesa e as prioridades na educação

Na condição em que está, com a quantidade de explicações que tem a dar, com a quantidade de contas que tem a prestar, o governadorzinho de estilo soviético autoriza você, a partir dessa revelação, a uma série de conjecturas. 
O que esse personagem quis dizer? 
Que a opção sexual dele lhe dá poderes supraconstitucionais
Que ser gay é credencial para subjugar a população por um ato de vontade?

"Não”, responde você. “Ele só quis contar que é homossexual”. Ok. Então vamos responder a ele com a mesa singeleza: companheiro, com quem você dorme é problema seu. Poderia até ser saudável o compartilhamento da sua experiência se você tivesse algum exemplo para dar no terreno da liberdade – mas você não tem nenhum. Você é um ditador que não saiu do armário – e quer posar de humano. Não cola. Saia do armário primeiro. Assuma o seu autoritarismo covarde, fantasiado de empatia. Depois disso pode ser até que valha a pena conversar com você – mas autoritário não é chegado a conversar. É chegado a prender.

Onde estão os laudos comprovando a eficácia das suas medidas extremas que prenderam a população e lhe roubaram direitos básicos de cidadania?  
Onde está a comprovação das suas ações brutais que chegaram ao nível fascista de lacrar gôndolas de supermercado com o pretexto de diminuir o contágio? 
Onde estão os estudos anteriores e posteriores a essa barbaridade atestando seu resultado no controle ou mitigação da pandemia? Companheiro: você tem OBRIGAÇÃO de demonstrar cientificamente isso, porque se a sociedade não desistiu para sempre do estado de direito, você vai ter que responder pelo que fez.
Uma dica sobre algo que você já sabe: você nunca vai demonstrar tecnicamente a eficácia do seu surto trancador. 
Porque não há no Rio Grande do Sul, nem na América do Sul, nem no Hemisfério Sul, nem no Hemisfério Norte, nem no mundo inteiro estudo algum comprovando que bloquear alas de supermercados – enquanto o transporte público, por exemplo, continuou levando as pessoas de lá para cá em ambientes fechados e frequentemente aglomerados tem alguma serventia para bloqueio ou redução de contágio.

Ao contrário. Há estudos e ensaios (ver John Ioannidis, Michael Levitt e outros pesquisadores laureados) mostrando que as áreas com lockdown mais severo não alcançaram vantagem sobre as que não restringiram tanto em termos de enfrentamento à pandemia. Não vale fazer como o seu correligionário de São Paulo, que botou o Instituto Butantã para soltar panfletos com número exato de vidas supostamente salvas por esse trancamento burro e grosseiro. O nome disso é fraude.

Governador, pode falar à vontade sobre a sua vida sexual aos que se interessarem por ela, que isso não o redimirá da sua fraude. Você não tem ciência nenhuma. Você tem um slogan. E ele não salvou ninguém. Mas os prejudicados pelo seu espetáculo prepotente, destrutivo e mórbido são seus credores. Não adianta se esconder em propaganda politicamente correta que não ajuda minoria alguma. A sua única chance é a liberdade, contra a qual você atentou, morrer de vez. Do contrário, você terá de pagar pelo que fez.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES