Os treze anos do PT no
poder terminam assim, com essa espetacular queda de Rousseff (e, portanto, de
seu mentor Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva) e em uma perda enorme de adeptos.
O que se joga hoje no Brasil é de importância capital para a democracia
representativa não só do Brasil, senão do continente americano e do mundo.
Dilma Rousseff não suporta a realidade de seu
processo de destituição. Não admite que tenha sido suspensa de funções
legitimamente pelo poder legislativo de seu país. Não concebe que esse poder lhe reprove haver cometido graves delitos.
Não aceita outra condição diferente à de
vítima inocente. Não aguenta que lhe provem que foi
posta fora do jogo por falsificar as contas do Estado, em uma tentativa
para fazer os brasileiros acreditarem que sua gestão econômica era impecável. Não tolera que lhe cobrem ter encoberto
os déficits orçamentários de seu país e
ter dissimulado a crise criada por seu falso “Estado de bem-estar” levando às arcas públicas,
sem permissão do Congresso, dinheiros emprestados pelos bancos estatais.
Dilma Rousseff, de 68 anos, não admite que foi
defenestrada (embora seja
provisoriamente e por até 180 dias, enquanto é julgada definitivamente pela
Câmara Alta), e que perdeu a
confiança dos brasileiros, por ter também jogado provavelmente um papel central
no tremendo caso da Petrobras, que a imprensa internacional descreve como “o
maior escândalo de corrupção político-econômico da história da América Latina”.
Trata-se, com efeito, de um affaire descoberto há dois anos. Seu montante poderia ser de mais de 2.000
milhões de dólares. Este processo dará muito o que falar pois, além disso, o Supremo Tribunal Federal acusa a
presidente suspensa de obstrução da justiça por sua atitude ante o assunto. O
índice atual de favorabilidade de Rousseff, segundo as pesquisas, é de apenas 10%.
Para esquivar a humilhação de se ver destituída por
essas razões, por ter
faltado com seu dever de chefe de Estado, Dilma
Rousseff monta um show patético. Ameaça o país com
seis meses de tumultos e violências de rua: “A população saberá dizer
não ao golpe”. Ela acusa os outros,
seus ex-aliados, e cospe sobre seu juiz natural, o poder legislativo. Diz que eles, o Senado e a Câmara dos Deputados, orquestraram
“um golpe” [de Estado] contra ela, um “golpe
moderno” e “inconstitucional” destinado, diz, a satisfazer os mais
baixos instintos “da direita” e do “fascismo”, pois querem tirar
ela e o Partido dos Trabalhadores do poder para matar o povo de fome: “O que
está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos, os ganhos das pessoas mais
pobres e da classe média”.
A
responsável pela atual recessão econômica diz que os delinquentes são os
outros. Ela é inocente e as maiorias que
a destituíram são vis “inimigos do
povo”. E reitera: “O que está em jogo é o respeito às urnas, à
vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição”.
Dilma não quer aceitar que a esquerda que
ela representa no continente pode cair na lama da grande desonestidade, que pode ser corrompida e corruptora e que pode ser ladra. Essa
esquerda é, segundo ela, sempre límpida, honesta, pacífica e desinteressada. É
o que quer que acreditemos. Na realidade, o que os congressistas brasileiros
estão provando é que, pelo contrário, essa esquerda é lamentável, e pior, é
depravada, sem coragem e sem valores. A
credibilidade da esquerda latino-americana cai de novo pelo caso de Rousseff.
O
processo de impeachment em curso prova que ter levado a presidência de um
grande país uma ex-guerrilheira que
nunca se arrependeu de seus crimes, não é
jamais um ato banal, que pode
acabar de forma satisfatória para as maiorias, para a economia e para as
instituições democráticas. Essa é uma lição importante que deve ser aprendida
sobretudo pelos colombianos, no momento em que desde a cúpula do governo se
quer impor ao país, arbitrariamente, a
impunidade e a liderança política de criminosos endurecidos, os chefes das
FARC.
Certos analistas pró-PT sugerem que o processo de
impeachment foi uma conspiração de uns poucos. Na verdade, foi o resultado de
mobilizações populares de grande amplitude contra o governo. As maiorias
respaldam de fato esse processo. 61% dos brasileiros é a favor do impeachment de Rousseff.
Sem esse apoio massivo tal evolução não teria sido possível.
Os treze anos do PT no poder terminam
assim, com essa espetacular queda de Rousseff (e, portanto,
de seu mentor Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva) e em uma
perda enorme de adeptos. Salvo um
espetacular retorno à situação anterior, esse experimento termina com o
fracasso do capítulo melhor obtido até agora na longa aventura da esquerda
continental. O do PT foi muito mais importante do que a
catástrofe violenta e depredadora do castrismo em Cuba, mais que o convulsivo governo de Salvador Allende,
mais do que a dramática destruição da
Venezuela, vítima de
um Chávez que acabou com as liberdades e saqueou os recursos de seu próprio
país para sustentar, por razões
ideológicas, a ditadura agônica de Cuba.
Os governos de Lula e de Rousseff foram o máximo
êxito da esquerda do hemisfério. Nunca antes essa corrente havia chegado tão longe.
O de Cuba é apenas um avatar, sangrento
e expansionista, mas de pouco valor estratégico por aparecer como um regime
detestável e não viável. A chegada ao poder
do lulo-petismo no Brasil, e sua permanência no Palácio do Planalto durante
13 anos, foi o autêntico triunfo, se
tem-se em conta o grande peso demográfico, econômico e geopolítico do
Brasil.
A
plataforma assim montada nesse país reforçou todos os grupos e projetos
anti-liberais das diferentes frações de esquerdas do hemisfério, desde
as mais moderadas até as mais violentas, como a das FARC na Colômbia. Não é por
casualidade que a seita internacional subversiva mais perigosa do continente,
o Foro de São Paulo, tenha sido fundada
no Brasil por Lula e Fidel Castro.
Esses bandos, grupos e partidos foram
nutridos pelas estruturas de corrupção do PT, onde se
cruzam dinheiros opacos dos governos chavistas, junto com dinheiros mal havidos
do PT. Tudo isso, no episódio da Lava Jato está sendo investigado. Para
tratar de frear tal dinâmica, o PT acode aos organismos “amigos”,
inventados pelo chavismo como UNASUL, MERCOSUL, PARLASUL e TELESUL. Todos estão iracundos e no plano de luta para salvar
o que resta.
O que se joga hoje no Brasil é de importância
capital para a democracia representativa não só do Brasil, senão do continente
americano e do mundo. Em seis
meses saberemos se o horrível pesadelo criado pelo castro-comunismo no
continente perde realmente terreno em benefício da economia de mercado e das
idéias democráticas tão atacadas hoje.
Tradução: Graça Salgueiro
- MSM