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domingo, 30 de julho de 2023

Pochmann, o inimigo dos números, é o pior chefe que o IBGE poderia ter - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo 

Novo estatístico-mor do Brasil acha, desde sempre, que a aritmética não pode atrapalhar seus desejos políticos

O presidente Lula fez das nomeações para o seu ministério e para o “primeiro escalão” uma calamidade nacional – um concentrado inédito de incompetentes incuráveis, transmissores de ideias cretinas, gente enrolada com a Justiça penal e daí para baixo. 
Como alguém consegue juntar tanta gente ruim num mesmo governo? Não se sabe, mas isso já foi. A questão, agora, é saber se o nível pode cair ainda mais. É difícil – mas não é impossível.  
Como nos casos de “superação”, Lula consegue ir além dos seus próprios recordes: confirmou a nomeação, para presidir o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de um dos piores chefes para este tipo de serviço que se poderia encontrar em qualquer lugar do mundo.  
É simples: o novo estatístico-mor do Brasil é um inimigo dos números. Acha, desde sempre, que a aritmética não pode atrapalhar seus desejos políticos.
Como ex-presidente do IBGE, estou ofendido”, diz o economista Edmar Bacha, um dos participantes da equipe que montou o Plano Real.É um dia de luto para a estatística brasileira”, diz a economista Elena Landau. Marcio Pochmann, o nome imposto por Lula (a ministra do Planejamento, a quem cabe a escolha, foi a última a saber) é um militante da “ala esquerda” do PT; não tem nada a ver com as exigências técnicas do cargo. “Ele é um ideólogo e não terá problema nenhum de colocar o IBGE a serviço dessa ideologia”, diz Bacha. “É uma pessoa que não entende de estatística e não tem preparo para presidir o IBGE”, diz Elena. O que se sabe de Pochmann não é edificante
Passou a vida no serviço público, do qual se aposentou aos 58 anos de idade nunca contribuiu para a produção de um único pedaço de rapadura neste país. Sua passagem por uma repartição federal de pesquisa econômica foi “desastrosa”, segundo Elena Landau – demitiu técnicos competentes e interferiu nos trabalhos por razões ideológicas. Fora isso, disputou três eleições, para prefeito de Campinas e deputado; conseguiu perder as três.
A ideologia de Pochmann não tem ideiasé apenas uma declaração de guerra a tudo o que o cidadão brasileiro acha bom. 
O homem é contra o PIX, que acaba de bater seu recorde: 135 milhões de transações num único dia. Afirma que a possibilidade de converter reais em dólares transformou o Brasil num “protetorado dos Estados Unidos”. Defende que o Imposto de Renda possa chegar a 60%. 
Diz que o Brasil deveria explorar “o espaço sideral” para a “geração de riqueza” – e por aí vamos. Mas e daí?  
Lula quer no IBGE um subalterno que dê um jeito nas suas estatísticas, fazendo sumir os números ruins e fabricando números bons. O consumo da picanha vai bombar.


J. R.Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Os transformistas do Plano Real - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

Como alguém que instituiu a responsabilidade fiscal no país pode apoiar um candidato que promete o fim do teto de gastos? 
 
Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock  

— Estou te reconhecendo. Você não é um dos autores do Plano Real?
— Sim, sou.
— Que emoção! Sempre quis te conhecer. Te considero um herói.
— Obrigado.
— Pode tirar uma foto comigo?
— Claro.
— Poxa, nem sei o que dizer. Vamos lá. Se importa se eu te abraçar?
— Fica à vontade.
— Legal. Se puder sorrir um pouquinho te agradeço ahaha.
— Tranquilo.

— O que é isso que você tá fazendo com a mão?
— O “L”.
— O “L”? L de que? De Liberalismo?
— Não. L de Lula.
— De Lula??!! Mas…
— Vai tirar a foto ou vamos ficar conversando?
— Vou tirar, claro. É que eu pensava que você…
— Cuidado pra não fazer nenhum julgamento preconceituoso. Pensa bem antes de falar.
— Longe de mim. Não sou preconceituoso. Mas você não tinha dito que o Lula e o PT eram…
— Eram! Do verbo não são mais.

— Acho que faltei essa aula de gramática. Preferia quando você dava aula de matemática.
— Você é pedagogo?
— Não.
— Então me libera das suas reflexões sobre português e matemática.
— Ok. Tá liberado da foto também.
— Desistiu de tirar?
— Não. Acabou a bateria do meu telefone.
Ué, estou vendo seu telefone ligado.
— Então vou te fazer só mais uma pergunta: como alguém que instituiu a responsabilidade fiscal no país pode apoiar um candidato que promete o fim do teto de gastos?
— Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

— Ah, tá. Então eu também posso dizer que o meu telefone está ligado mas a bateria acabou. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Você está me irritando.
— Você também.
— Ótimo. Se estamos ambos irritados, vou embora para nos salvar dessa conversa irritante.
— Manda um beijo pro Lula. Diz pra ele que valeu a pena aqueles dez anos de bombardeio.
— Que bombardeio?
— Contra o Plano Real. Ele não conseguiu afundar o país naquele momento, mas agora tem o inimigo aos pés dele. Quem espera sempre alcança.
— Para de falar merda.
— Agora já estou te achando mais parecido com o Lula. Só falta dizer que pedalada fiscal é normal e a Dilma sofreu um gópi.

— Cala a boca.
— Você não sabe nada.
— Não mesmo. Também não sei se você agora é um sem-teto ou um sem-vergonha.

Edmar Bacha, Pedro Malan, Arminio Fraga e Pérsio Arida, alguns dos 
economistas que participaram da criação do Plano Real - 
Foto: Reprodução redes sociais

Leia também “A tesoura amiga do TSE”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste 

 

terça-feira, 16 de março de 2021

Abertura já! - Valor Econômico

Edmar Bacha

O país tem uma conta de capital aberta, mas uma conta de comércio fechada. É uma receita pronta para o crescimento empobrecedor

É significativa a alta dos preços das mercadorias desde o início da pandemia. A causa principal é a forte desvalorização do real. Os preços dos serviços, que embutem basicamente o custo da mão de obra, nem de perto sobem na mesma proporção. A razão é o enorme desemprego provocado pela pandemia. Não obstante o alto desemprego, são frequentes as demandas para que o Banco Central comece a “normalizar”, ou seja, a aumentar a taxa de juros para combater a alta de preços. Será que devia mesmo?

O que se observa é um aumento dos preços das mercadorias em relação aos dos serviços. Essa mudança de preços relativos pode gerar um surto de inflação ou não, ainda não sabemos. A indexação impulsiona, mas o desemprego segura. Por isso, não é claro que essa mudança deva ser combatida com um aumento preventivo da taxa de juros, que não diferencia mercadorias de serviços. Juros mais altos reduzem igualmente a demanda por mercadorias e por serviços, agravando o desemprego.

Há outros instrumentos à mão. O mais interessante seria uma redução de impostos sobre as mercadorias importadas e de outras barreiras (antidumping e sanitárias, por exemplo) que impedem que as importações possam fazer baixar os preços no mercado interno. Deixem entrar o aço da Argentina, as bananas do Equador, a carne do Paraguai, o café robusta da África. Essa redução das barreiras à importação uniria o útil ao agradável. Pois contribuiria para o tão necessário aumento da produtividade, além de reduzir as pressões inflacionárias.

Aumentos da produtividade dependem de empresas que usem tecnologia de última geração com insumos modernos, que explorem economias de escala, que se especializem em linhas de produção para as quais são mais qualificadas, e que atuem num ambiente de concorrência. Essas características somente se obtêm com participação nas cadeias internacionais de valor. Uma vez perguntaram a Carlos Ghosn porque os Renault produzidos no Brasil não eram tão bons quanto os da França. Resposta dele: deixem-me importar partes e peças da Europa que eu faço Renault tão bons quanto os de lá.

Desde a Segunda Grande Guerra, doze países conseguiram sair da renda média para se tornarem países ricos. Coreia do Sul, Hong Kong, Israel, Cingapura e Taiwan chegaram lá com exportações industriais. Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal, com exportações de serviços. Austrália, Nova Zelândia e Noruega, com exportações de recursos naturais. As características dos produtos variam de acordo com as respectivas vantagens comparativas, o fator comum é a integração à economia mundial. O Brasil é grande e diversificado o suficiente para não ter que escolher entre setores de atividade, como foi o caso desses países. À semelhança dos EUA, pode tê-los todos - agricultura, mineração, indústria e serviços -, desde que integrados ao comércio internacional.

Esses doze países têm mercados internos menores do que o do Brasil. Mas países maiores que o Brasil são também grandes exportadores: Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, França e Reino Unido. Já o Brasil, que em 2018 tinha a oitava maior economia do mundo, era apenas o 25º maior exportador. O PIB do Brasil representava 3% do PIB mundial, mas suas exportações apenas 1,1% das exportações mundiais. Um gigantinho em termos de PIB, o Brasil é um anão em termos de exportações.

O que se constata nas exportações se repete nas importações. Em 2018, a parcela das importações no PIB brasileiro foi de apenas 11,6%, o menor valor entre os 164 países considerados pelo Banco Mundial. Trata-se de uma situação paradoxal, porque em 2018 o Brasil foi também o sexto destino mais preferido para o investimento direto estrangeiro no mundo. O país tem uma conta de capital aberta, mas uma conta de comércio fechada. É uma receita pronta para o crescimento empobrecedor. As multinacionais e seus empregados prosperam ao explorar o mercado interno protegido, mas o resto do país empobrece ao ter seus recursos aplicados na substituição ineficiente de importações em lugar de se dedicarem à expansão das exportações.

O momento para a abertura é este. A balança comercial é positiva. Jamais tivemos uma taxa de câmbio tão desvalorizada. A indústria tem dificuldade de aumentar a produção não por falta de demanda, mas pela dificuldade de conseguir peças e componentes. O Ministro da Economia parece ter sucumbido aos lobbies empresariais, declarando que só pensará na abertura comercial depois da reforma tributária. O argumento é falacioso, pois impostos altos e distorcidos aplicam-se igualmente aos produtos nacionais e aos importados.

Senti isso pessoalmente no mês passado. Face ao agravamento da pandemia, resolvi comprar máscaras com maior nível de proteção. Li no New York Times que a KN95 era equivalente à N95. Não a encontrando para venda em lojas brasileiras, encomendei cem unidades a varejista americano. Face à pressa, fiz porte aéreo, o que aliás me poupou de pagar o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante.

Entre o preço da mercadoria e o frete aéreo, as cem máscaras custaram R$ 1.064, 51. Qual não foi minha surpresa quando o entregador me disse que ainda devia R$ 1.205,62 de impostos. 
Como assim, um produto essencial sem similar nacional, devia haver isenção. 
Qual nada, apesar de estar prevista, como a importação foi via aérea a alfândega carioca simplesmente ignorou a isenção e lascou 60% de imposto de importação
Se eu quisesse reclamar, teria que devolver o produto. 
Em cima dos 60%, mais ICMS e Fundo de Combate à Pobreza. Havia também o desembaraço aduaneiro, isto é, o custo de verificar meu CPF, de calcular os impostos e mais a tarifa aeroportuária de armazenagem. Tudo junto, 113% sobre o preço do produto mais frete.

Moral da história: por uma máscara que me custaria 79 centavos de dólar em Nova York tive que pagar o equivalente a 4 dólares e 20 centavos no Rio de Janeiro - 5,3 vezes o preço americano. Agruras brasileiras. Mas também uma singela indicação do enorme impacto que um alívio dos encargos sobre as importações poderia ter para reduzir a inflação. A esperança está no presidente do Banco Central. Por que não levanta ele a bandeira da abertura da economia dentro do governo? Teria assim um poderoso instrumento adicional à Selic para combater a inflação. Seria uma bela adição à Agenda BC#!

EdmarBacha, economista - Valor Econômico

 

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O vírus e a economia - Edmar Bacha

O Globo

A crise pode levar ao aumento da dívida pública. Não há soluções fáceis. Mas o importante é preservar vidas

Socorro: Senado negocia MP a estados e municípios em substituição a texto da Câmara

A eficácia do distanciamento social requer que se fechem as atividades não essenciais. Algumas pessoas conseguem trabalhar à distância, mas a maior parte não. Forçosamente desempregadas, elas deixam de produzir bens e serviços para o resto da população e renda para si mesmas. Sem renda, diminuem sua demanda por bens e serviços, ampliando o desemprego.

Ao cerrarem suas portas, as empresas reduzem não só os empregos que oferecem mas também aqueles das empresas que fornecem bens e serviços para elas. Também assim se amplia o desemprego.  A queda da produção é grande. Quando os números estiverem disponíveis, possivelmente revelarão uma queda do PIB como nunca antes na história moderna, no Brasil e no resto do mundo.

A queda do PIB é fruto do distanciamento social, necessário para salvar vidas. Por penosa que seja a atual fase, lembremos:
a crise é passageira e, para a maior parte da população, alguma normalidade deverá estar de volta no segundo semestre.

Há dois desafios econômicos fundamentais para atravessar a atual fase crítica. O primeiro é manter a renda das pessoas. O segundo é não deixar as empresas quebrarem, para que as pessoas tenham para onde voltar quando a crise amenizar.
O Tesouro Nacional e o Banco Central, juntos, dispõem dos instrumentos (ou estão deles sendo dotados pelo Congresso Nacional) para vencer esses desafios.

Não se trata de expandir gastos para aumentar a demanda de bens e serviços, como nas grandes recessões de 1930-33 e de 2008-09. Na origem da atual contração não está a falta de demanda como nesses dois casos, embora a queda da produção possa ser ainda maior.
Não adianta querer aumentar a demanda, se a oferta não pode reagir. É preciso manter pessoas e empresas vivas e saudáveis para voltarem a trabalhar quando o vírus estiver sob controle.

O custo de manter a economia em pé vai ser enorme. O aumento das transferências de recursos para as pessoas e empresas terá que compensar uma queda inaudita de renda nesses meses críticos. A expansão das despesas do governo ocorrerá ao mesmo tempo em que a arrecadação de impostos estará caindo.
Em consequência, a dívida pública os títulos que o governo emite para financiar o excesso de gastos sobre as receitas dará um salto em  relação a seus valores no início do ano.

Assustados com esse salto, alguns têm proposto que, em vez de aumentar a dívida emitindo novos títulos, o governo deve imprimir dinheiro para pagar a conta. Como isso funcionaria? O Tesouro Nacional detém uma conta de depósitos no Banco Central, a qual tem um saldo positivo muito significativo.
Se o Tesouro decidir não aumentar sua dívida pode simplesmente sacar recursos dessa conta para pagar suas despesas. Dessa forma, o governo estará imprimindo dinheiro em vez de emitir dívida. 

Ocorre, entretanto, que, quando o dinheiro adicional passa a circular no mercado financeiro, a taxa de juros dos títulos preexistentes se reduz, pois o excesso de dinheiro em circulação aumenta a demanda por esses títulos. Por exemplo, suponha um título de R$ 100 que promete pagar R$ 4 ao ano de juros. A taxa de juros é 4%. Quando há mais dinheiro querendo comprar o título, o preço dele sobe para, digamos, R$ 110, mas os juros continuam em R$ 4 ao ano, ou seja, a taxa de juros cai para 4/110 = 3,6%.

Ora, na atual política de metas de inflação o Banco Central fixa a taxa de juros que julga adequada para manter a inflação sob controle — a chamada Taxa Selic, atualmente em 3,75% ao ano. Então, ao ver a taxa de juros cair abaixo desse valor, o Banco Central intervém, vendendo novos títulos públicos para o mercado — conhecidos como “compromissadas”.

Dessa forma, absorve de volta o dinheiro extra que o Tesouro colocou em circulação. O Banco Central faz essa venda até que a taxa de juros volte para 3,75% ao ano. Ou seja, até que o aumento da oferta de “compromissadas” corresponda integralmente à emissão de dinheiro anteriormente feita pelo Tesouro.
No final das contas, a dívida do Tesouro em mercado diminui, mas a do Banco Central aumenta. O custo para o governo como um todo é o mesmo, só que o devedor agora é o Banco Central, e não o Tesouro. No atual regime de política monetária, tanto faz que o Tesouro emita títulos ou dinheiro para financiar os gastos adicionais.
Pessoas que entendem essa lógica defendem, entretanto, que o Banco Central deixe a taxa de juros cair, não vendendo as “compromissadas”. Nesse caso, a quantidade de dinheiro de fato aumentaria, assim como cairia a taxa de juros.

Cabe indicar os riscos que essa proposta comporta.
Um deles é que o dinheiro sobrante no mercado financeiro se destine à compra de bens e serviços. Como a disponibilidade desses bens e serviços está restrita pela política de distanciamento social, os preços podem subir, causando inflação. Talvez seja um custo suportável, se não durar muito tempo. Mas esse não é o principal problema.

O risco mais importante é que os detentores do dinheiro excedente queiram tirá-lo do país, em busca de investimentos mais seguros no exterior. Pois os juros agora mais baixos não compensariam deixar o dinheiro no Brasil. Haveria um aumento da demanda por dólares, que teria como consequência uma desvalorização do Real em relação ao dólar.
O Banco Central poderia evitar essa desvalorização, vendendo reservas internacionais que tem em sua carteira. Mas por que gastar reservas para dar saída para os endinheirados que querem deixar o país? Melhor permitir que o Real se desvalorize.

Presidente do Itaú:  'Falta ao  governo um administrador da crise'

É possível que esse movimento não vá longe, pois um Real desvalorizado favorece as exportações e encarece as importações e, portanto, aumenta a quantidade de dólares que entra no país pela via do comércio.
Porém, se for muito pronunciada, a desvalorização do Real pode aumentar os preços internos de forma importante, arriscando gerar uma espiral de preços e salários descontrolada. Já vimos essa história antes de 1994, para que repeti-la?

Por um lado, um aumento da dívida pública pode sufocar as contas do governo. Por outro, a emissão de dinheiro pode fazer o câmbio e a inflação saírem de controle. Não há saídas fáceis. Mas já enfrentamos problemas econômicos graves como este no passado e soubemos lidar com eles. Confiemos que agora também vamos ter essa sapiência. Não saia de casa. É importante preservar vidas.

Edmar Bacha, ex-presidente do Banco Central - O Globo




sábado, 29 de junho de 2019

Real, moeda brasileira mais durável desde o Estado Novo, completa 25 anos em 1º de julho

Pais do Real apontam fragilidade do atual momento da economia brasileira 

Persio Arida: “O real criou a base do país moderno”

Na segunda-feira, dia 1º de julho, a moeda brasileira, o Real, completa 25 anos em circulação. Será o padrão monetário brasileiro mais duradouro desde o Estado Novo. Não é feito pequeno para um país que teve nove moedas no período. 

O economista Persio Arida, ex-presidente do BNDES e do Banco Central, disse que a maior derrota do Plano Real foi perder a batalha da reforma da Previdência. Se aprovada, ela teria mudado drasticamente a história econômica do país. Já como um programa de estabilização inflacionária, avaliou que foi foi extraordinariamente bem-sucedido.
 
“O real criou as bases econômicas do Brasil moderno”, disse Pérsio Arida. O Real trouxe organização econômica para o país. Baixou de fato a inflação, mas a estabilização não foi suficiente para deslanchar o crescimento. 

Os criadores do Real avaliam agora os desafios da economia brasileira. Para Edmar Bacha, o país “ainda precisa fazer o dever de casa do ajuste fiscal”. Pedro Malan concorda e adverte: “Os gastos sobem em velocidade insustentável.” Gustavo Franco analisa: “Temos medo de confrontar interesses”. Armínio Fraga acredita que a reforma da previdência será parcial. “Uma vez aprovada uma reforma da Previdência que vai gerar um resultado que seria a metade do necessário, e o que é necessário já não era suficiente, vamos ver o que vai ser feito daqui para a frente.”


Leia mais em Época:
O ENTERRO DO DRAGÃO
Nos 25 anos do real, o que falta para o país voltar a se desenvolver


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Sarney roga praga contra Temer

História recente

As diversas variantes da história recente da política brasileira encontraram-se na noite de sexta-feira na posse do economista Edmar Bacha na Academia Brasileira de Letras. Recebido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, responsável pelo que Bacha considera o ponto culminante de sua vida pública, a participação no Plano Real, teve a presença de outro ex-presidente, José Sarney, com quem colaborou na elaboração do Plano Cruzado e na presidência do IBGE.

Governo que abandonou quando, para obter uma vitória arrasadora na eleição de governadores em 1986, Sarney recusou-se a fazer ajustes no Cruzado, que acabou fracassando depois de um breve período de sucesso. A tentativa de manipulação dos índices do IBGE foi a gota d’água que fez Bacha sair do governo um mês depois das eleições.

Sarney é o decano da ABL, confrade de Fernando Henrique, que o chamou de “meu amigo” no discurso de saudação a Bacha. Mas foi em protesto ao governo Sarney que Fernando Henrique e vários outros saíram do PMDB para formar o PSDB, em 1988. Da mesma maneira que hoje o presidente Michel Temer tem que enfrentar uma tentativa de rebelião na sua base de apoio para aprovar a reforma da Previdência, Sarney em seu governo, que assumiu pela morte de Tancredo Neves, de quem era vice, teve que enfrentar a rebelião interna do PMDB e também do PFL, partido que criou ao sair da Arena, e que abandonou para integrar a chapa de Tancredo à presidência da República.

Hoje, mesmo sem mandato, Sarney continua influindo na política nacional, e faz parte atualmente do grupo que se opõe a Temer dentro do PMDB do Senado, juntamente com o senador Renan Calheiros. Se não conseguir aprovar a reforma da Previdência, o que Sarney considera o mais provável, diz-se que governo Michel Temer passará por uma “sarneyzação”, isto é, terá os mesmo problemas que Sarney teve no final de seu governo, depois da Constituinte de 1988, cujo resultado ele denunciou, tornaria o país ingovernável, com mais direitos que deveres.
 

O mandato presidencial de Tancredo Neves que Sarney assumiu, contrariando também os militares a tal ponto de o General Figueiredo ter se recusado a passar-lhe a faixa presidencial, era de seis anos, mas durante a Constituinte houve diversos movimentos para reduzir-lhe para 4 anos implantando o parlamentarismo, como queria a ala dissidente que acabou criando o PSDB.

Diversas vezes Sarney ameaçou renunciar se lhe tirassem dois anos de mandato, e chegou a ir à televisão para aceitar um mandato de cinco anos, dentro do presidencialismo. Um dos líderes do movimento para reduzir o mandato de Sarney foi o então governador do Rio de Janeiro Moreira Franco, hoje um dos principais ministros do governo Temer. Sarney se lembra do período como tendo sido de múltiplas dificuldades, e enumera evidências de que eram “muito mais difíceis” do que hoje. Naquele tempo, lembra, havia o Brizola e o Lula fazendo campanha por eleições diretas antecipadas, o país estava muito radicalizado. 

Sarney entrará para a História como o garantidor do processo democrático brasileiro.
Nada diferente de hoje, quando Lula e o PT acusam o governo de ilegítimo e defendem que somente uma eleição direta pode dar estabilidade política ao país. Sarney continua próximo de Lula e, derrotado o governo na reforma da Previdência, deve estar junto com os que defendem a antecipação da eleição direta para presidente da República, antes de 2018. [defesa de uma pretensão estúpida, antidemocrática golpista e inviável; além do que só interessa à corja petista, que com Lula à frente, torce pelo 'quanto pior, melhor'.]

E do outro lado, Temer e seu secretário-geral Moreira Franco. Desta vez, todos têm um problema comum, a Operação Lava Jato. E mesmo os que, como Fernando Henrique Cardoso, não tem nenhum envolvimento pessoal com as denúncias, têm seu partido, o PSDB, atingido nos seus principais líderes. O que torna as coisas mais difíceis hoje, na avaliação de Sarney, é que não há perspectiva de saída para a crise. Em 1989, a campanha presidencial serviu de válvula de escape à sociedade, que teve a seu dispor grandes nomes da política, como Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves, Lula, Brizola, Mario Covas, e o “fato novo”, o governador de Alagoas Fernando Collor.

Lula já admitiu que não estava preparado naquela ocasião para ser presidente, [e continua sem preparo; Lula está preparado, ou deve cuidar em se preparar e rápido, para terminar seus dias cumprindo longas penas pelos inúmeros crimes que cometeu. Sérgio Mero o espera e é questão apenas de tempo Lula se tornar presidiário.] Brizola morreu certo de que fora roubado na contagem dos votos que levaram Lula ao segundo turno contra Collor por uma margem ínfima de votos, e o vencedor Collor acabou impichado. O que levou ao governo Itamar e ao Plano Real, cuja gênese foi relembrada ontem na posse de Edmar Bacha na Academia Brasileira de Letras, um raro intelectual público que comanda hoje talvez o principal think-tank brasileiro, a Casa das Garças no Rio. 

Fonte: Merval Pereira - O Globo