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domingo, 21 de março de 2021

Boa ideia - Elio Gaspari

 Folha de S. Paulo - O Globo

Corre no Conselho da Justiça Federal do STJ uma ideia que parece boa, simples e barata. É a criação de Varas de Inquérito.

Sem precisar criar um só cargo, separam-se nas ações penais os juízes que cuidam de inquéritos e aqueles que prolatam sentenças. Na prática, se o Sergio Moro estivesse numa vara de inquérito, poderia fazer tudo o que fez, mas quando chegasse a hora da ação penal, o caso iria para outro juiz.

Essa mudança pode ser feita sem grandes sobressaltos e sem novas despesas. Tem a vantagem de impedir o surgimento de novas repúblicas de Curitiba ou, pelo menos, tornar mais difícil o seu aparecimento.

Santos Cruz
Para quem sonha com a possibilidade de trazer o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz para uma disputa eleitoral, vale a pena lembrar que lhe foi oferecida a candidatura a prefeito do Rio, e ele recusou. General em armação política é coisa que não acaba bem. O vice-presidente Hamilton Mourão não é metade do que lhe disseram que seria. [as atribuições, e/ou poderes, inerentes ao cargo de vice-presidente da República, constam da Constituição - eventuais penduricalhos dependem de conveniências políticas, que são imprevisíveis.

O general  Euler Bentes, pretendeu montar um governo de oposição,em 1978, se pendurando na sua condição de general. Tinha tudo para perder, o que aconteceu.] 

Há cerca de meio século, um pedaço da oposição transformou o general Euler Bentes Monteiro em candidato na eleição (indireta) de 1978. Euler era um oficial de vitrine, rigoroso, cordial e bom administrador. Perdeu, foi para seu sítio e morreu em 2002. A oposição que havia cortejado estava no poder e mal se lembrou dele. Seu obituário foi noticiado abaixo do registro da morte da inesquecível porta-bandeira Mocinha, da Mangueira.

Bolsonaro x Lula
Quando Jair Bolsonaro disse, com toda naturalidade, que Lula ficará inelegível, mostrou que acredita num salto triplo carpado, partindo das virtudes contorcionistas do ministro Nunes Marques.[para manter Lula elegível, o STF terá que rasgar a Constituição Federal.]

Se ele pular logo, ficará feio. Se demorar, poderá ser tarde.

MATÉRIA COMPLETA - Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, jornalista 

 


segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A derradeira estação - Nas Entrelinhas

“A corrupção endêmica no Rio de Janeiro tem uma dimensão cultural que precisa ser levada em conta, por causa da glamurização da ética da malandragem


Escrevo a coluna com o som na caixa. Chico Buarque canta Estação Derradeira, na qual glamuriza com afeto e poesia as mazelas do Rio de Janeiro: “Rio de ladeiras/ Civilização encruzilhada/ Cada ribanceira é uma nação”. A imagem de São Sebastião, o santo padroeiro da cidade, é invocada para sintetizar o sofrimento e a esperança, como nas paliçadas ao pé do Morro Cara de Cão, na Urca, na qual Estácio de Sá e os paulistas, com apoio do cacique Araribóia, em 1º de março de 1565, fundaram a cidade para expulsar os calvinistas franceses e seus aliados tamoios. Sobe o som: “São Sebastião crivado/ Nublai minha visão/ Na noite da grande/ Fogueira desvairada/ Quero ver a Mangueira/ Derradeira estação.”

A música não me saía da cabeça desde a notícia do afastamento do governador Wilson Witzel e a prisão de seus aliados por corrupção, entre eles o Pastor Everaldo, presidente do PSC. Não vou repetir o que já se sabe: mais um governo atolado no mangue da corrupção. Entretanto, para quem quiser saber como tudo isso começou, recomendo o romance de Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, que retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século XIX, com a chegada de D. João VI e sua Corte. A história foi publicada anonimamente, em folhetim, ou seja, em capítulos semanais, no Correio Mercantil, entre junho de 1852 e julho de 1853. O nome do autor foi revelado apenas na terceira edição em livro, póstuma, em 1863.

Personagens populares são os grandes protagonistas do romance, movidos por duas forças de tensão, a ordem e a desordem, características profundas da sociedade colonial da época, que se mantêm até hoje. O major Vidigal e sua comadre, dona Maria, pertencem ao lado da ordem, porém, nada têm de retidão, apenas estão em uma situação social mais estável. A desordem é representada pelo malandro Teotônio, o sacristão da Sé e Vidinha. Entretanto, todos transitam de um pólo para o outro, em momentos de acomodação. Mas voltemos à crise do Rio de Janeiro, que muitos atribuem à transferência da capital para Brasília e/ou à fusão da antiga Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro. Essa é uma visão nostálgica, embora tenha a ver com a crise estrutural do estado. De fato, a transferência da capital esvaziou política e economicamente a antiga Guanabara. 

Entretanto, a fusão dos dois estados foi feita exatamente para compensar essas perdas, pois o projeto do presidente Ernesto Geisel, no regime militar, era fazer do Rio de Janeiro a capital do setor produtivo estatal, que rivalizaria com São Paulo, pois concentrava as sedes da maioria das empresas estatais. O colapso do modelo de capitalismo de Estado dos militares, porém, pôs o Rio a perder. Era um erro de conceito, abatido pela crise do petróleo e pela falta de capacidade de financiamento do Estado brasileiro.

Ética da malandragem
Para complicar, a Constituinte da Fusão, em 1975, que acompanhei como repórter do antigo Diário de Notícias, encarregou-se de inchar a máquina do novo estado, que já nasceu envelhecida, efetivando os comissionados e celetistas dos antigos governos dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, e mais os que foram incorporados à intervenção pelo almirante Faria Lima. Sem muita racionalidade na distribuição de responsabilidades entre a administração estadual e a nova prefeitura da capital, o resultado foram mais gastos públicos e ineficiências, além de um passivo previdenciário exponencial e impagável. Essa situação agravou-se após a Constituição de 1988, com a efetivação de mais comissionados na aprovação da nova Constituição estadual.

A última grande frustração do estado foi o governo de Sérgio Cabral, que, inicialmente, parecia a redenção do Rio de Janeiro, por causa da exploração de petróleo e das Olimpíadas, mas se atolou no mar de lama da corrupção. A euforia do pré-sal logo se esvaziou, com a mudança do regime de concessões para partilha, que desorganizou o “cluster” de empresas do setor, devido à suspensão dos leilões de poços de petróleo por sete anos, e o escândalo de corrupção da Petrobras, que colapsou ainda mais a economia fluminense, em meio à recessão do governo Dilma Rousseff.

A corrupção endêmica nos governos do Rio de Janeiro, porém, tem uma dimensão cultural que precisa ser levada em conta, por causa da glamurização da ética da malandragem e da tolerância da elite fluminense com a secular e sistemática captura das políticas públicas por grandes interesses privados, que levam à formação de máfias de empresários e políticos, que drenam os recursos do estado para a constituição de patrimônio, além do compadrio, do fisiologismo e do clientelismo. O consequente apagão administrativo favorece, também, a ocupação de territórios cada vez maiores pelo tráfico de drogas e pelas milícias, protegidos pela banda podre do sistema de segurança pública. [além da falha do sistema de segurança pública, atribuída a banda podre daquele sistema, há decisão do STF que dificulta a ação policial em certas áreas da capital fluminense.]

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


quinta-feira, 7 de março de 2019

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 2019 - SAMBA CAMPEÃO

Mangueira é campeã do Carnaval do Rio 2019

 

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 2019 - SAMBA CAMPEÃO

 

 



terça-feira, 5 de março de 2019

O desfile histórico da Mangueira

Carnaval


Está para se ver no Rio ou fora dali desfile de uma escola de samba mais politizado, crítico e polêmico do que foi o da Mangueira que terminou nesta terça-feira quando o dia começava a raiar.  Embalado pelo mais feliz samba-enredo deste ano, a escola exaltou personagens com pouco ou nenhum lugar na história do país, e afrontou outros tratados como heróis pela história oficial. Sobrou para Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, chamado de O Pacificador, patrono do Exército. Para a Princesa Isabel, a Redentora, que assinou a lei que acabou com a escravidão.  Sem falar do padre jesuíta espanhol José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil e suposto protetor dos índios, fundador da cidade de São Paulo, feito santo pela Igreja Católica em 2004.
“Brasil, meu nego/ Deixa eu te contar/ A história que a história não conta/ O avesso do mesmo lugar/ Na luta é que a gente se encontra”, cantou Mangueira, e a partir daí reescreveu a história do país.

Duque de Caxias, Anchieta e o marechal Floriano Peixoto foram apresentados dançando sobre corpos de índios e de escravos mortos e ainda ensanguentados.
A escola debochou do marechal Deodoro da Fonseca, o monarquista que derrubou o Império e proclamou a República enquanto o povo, bestificado, a tudo assistiu sem nada entender. Debochou também de Pedro Álvares Cabral, que a história consagrou como o descobridor do Brasil, e de Dom Pedro I, que declarou o Brasil independente de Portugal às margens do rio Ipiranga.

A bandeira brasileira trocou de cores. O verde cedeu lugar à rosa e ocupou
 o lugar do azul.  O dístico Ordem e Progresso foi substituído por Índios, Negros e Pobres.  Um carro alegórico, manchado de sangue e pichado com a palavra “assassinos”, reproduziu o monumento que em São Paulo homenageia os bandeirantes, caçadores de índios e de escravos.
O carro que fechou o desfile trouxe a pichação “Ditadura assassina” e como destaque a jornalista Hildegard Angel, filha da estilista carioca Zuzul Angel, morta pela ditadura militar de 64.
 

A saída da escola da avenida foi marcada pelo acenar de gigantescas bandeiras com o rosto da vereadora Marielle Franco, do PSOL, executada no centro do Rio vai fazer um ano.
Está bom ou quer mais? Se perdeu o desfile, pode vê-lo aqui. 
 

Blog do Noblat - Veja

segunda-feira, 4 de março de 2019

Carnaval 2019 - MANGUEIRA - Letra e Samba

Mangueira 2019 Letra e Samba


G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira

 Carnaval 2019 Desfile do Grupo Especial Enredo: "História pra ninar gente grande" 

Autores do Samba: Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino Intérprete: Marquinho Art Samba A Mangueira vai contar a história de personagens pouco conhecidos da História do Brasil.

terça-feira, 15 de maio de 2018

A tragédia por trás dos casarões do tráfico



As condições encontradas nesses imóveis não são muito diferentes das que levaram ao incêndio e à queda do Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo

Sabe-se que o Rio, assim como todo o país, tem um déficit habitacional crônico — somente na Região Metropolitana, a demanda é de pelo menos 340 mil moradias, segundo dados da Pnad/IBGE compilados pela Fundação João Pinheiro. Da mesma forma, é de conhecimento público o estrago causado pelo tráfico de drogas no cotidiano da população fluminense. Por isso, não é difícil imaginar o tamanho da dor de cabeça quando esses dois problemas se juntam. É o que está acontecendo no coração da cidade, à vista de todos. Como mostrou reportagem do GLOBO, publicada no último domingo, quadrilhas de traficantes já controlam casarões ocupados por famílias de sem-teto no Centro. Essas construções passaram a funcionar como bocas de fumo, numa espécie de posto avançado dos negócios do tráfico, o chamado “estica”.

Diferentemente do que ocorre nas comunidades, onde bandidos se aproveitam da topografia local e do espaço público desordenado para estabelecerem suas trincheiras, essas bocas estão instaladas na cidade formal. Uma das ocupações, por exemplo, está localizada numa vila da Rua do Lavradio, na Lapa, região boêmia da cidade, frequentada por uma multidão todas as noites. Bem ao lado do Tribunal Regional do Trabalho, perto de duas delegacias policiais e de um Ciep. Os “proprietários”, no caso, são traficantes do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, que escolhem quem pode ou não morar nos imóveis invadidos. Policiais da 5ª DP (Mem de Sá) alegam que já prenderam mais de 80 pessoas no local e recorrem à surrada expressão de “enxugar gelo” para traduzir as ações de repressão ao comércio de drogas.

Essas bocas, em que maconha, cocaína e crack são vendidos livremente, às vezes com fila na porta, se estendem ao entorno de cartões-postais do Rio. Um dos casarões do tráfico fica na Rua Joaquim Silva, próximo aos Arcos da Lapa e à escadaria Selarón. Controlada por traficantes do Morro do Fallet, em Santa Teresa, a venda de drogas no local envolve adolescentes e até crianças.  Em geral, as condições encontradas nesses casarões não são muito diferentes daquelas que levaram ao incêndio e à queda do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Centro de São Paulo, na madrugada de 1º de maio. Moradores explorados por ditos movimentos de sem-teto, prédios com fiações expostas, feitas ilegalmente, acúmulo de material inflamável como madeira e papelão, inexistência de sistemas contra incêndio etc. E com um agravante: agora tendo o tráfico como síndico.

Na verdade, essa situação é fruto da desordem, do desleixo com as ocupações, da vista grossa para “movimentos sociais" que exploram a miséria e da ineficácia do poder público na busca de soluções para a falta de moradia. Projetos como a demolição do antigo prédio do IBGE, na Mangueira — que chegou a ser ocupado pelo tráfico — para dar lugar a um conjunto habitacional estão no caminho certo, mas ainda são incipientes. Era preciso transformar a exceção em regra.

Editorial - O Globo

 



segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Mangueira domina a primeira noite do Grupo Especial na Sapucaí

Escola ficou à frente de Império Serrano, São Clemente, Vila Isabel, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Mocidade Independente de Padre Miguel 

Teve China, teve Índia, Chacrinha e carnaval. Teve África, crítica social, política, tecnologia, Paulo Barros – em um momento que não deve entrar para o currículo como um dos mais brilhantes. Teve drama (sem feridos!), teve grana (muita!), surpresas e ideias repetidas e previsíveis. Em suma, teve carnaval, e foi com ele e sobre ele que a Mangueira fez o melhor desfile deste domingo na Sapucaí, à frente de Império Serrano, São Clemente, Unidos de Vila Isabel, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Mocidade Independente de Padre Miguel.


 Mangueira

A parte de baixo da tabela prometia uma briga boa entre Império Serrano de volta ao Grupo Especial após nove anos –, Paraíso do Tuiuti e São Clemente. Finda a noite, a escola de São Cristóvão sai na frente das coirmãs. Com o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?" (o nome vem de um verso do clássico samba-enredo "Sublime pergaminho", entoado pela Unidos de Lucas em 1968), o Tuiuti mostrou riqueza e bom gosto visuais ao questionar a liberdade do povo negro, e caiu nas graças do público. Um dos melhores sambas-enredo do ano, de Moacyr Luz, Cláudio Russo, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal – encomendado a eles pela escola, que não promoveu concurso para este carnaval – comoveu a plateia, mesmo tendo se mostrado pesado e algo cansativo para a avenida. O desfile, que começou com uma comissão de frente dilacerante, de pretos velhos, homens sábios na tradição africana, não se aprofundou na questão da escravidão e sua herança maldita, optando por um caminho tradicional pelo Continente Negro, com animais e trajes típicos. Apenas no fim vieram a favela e as críticas políticas do carnavalesco Jack Vasconcelos. De qualquer forma, o bem-acabado Tuiuti tem boas chances de permanecer no Grupo Especial.

Suas concorrentes largam atrás, mas não sem méritos: o "pobrinho" Império Serrano abriu a noite com uma performance intensa de samba-enredo (puxado por Marquinhos Art'Samba) e bateria (do Mestre Gilmar), acompanhados com garra pelo povo da Serrinha. O carnavalesco Fábio Ricardo caprichou nas (previsíveis, diga-se) alegorias chinesas, com dragões, leques e quimonos, mas "O Império na rota da China", bem-recebido pelo público, ainda corre riscos. A São Clemente foi, de certa forma, o contrário da coirmã de Madureira: bem na parte plástica e fraca em carnaval. Jorge Silveira, estreante no Grupo Especial, mostrou bom gosto e criatividade - numa linha próxima à de Rosa Magalhães, ex-carnavalesca da agremiação de Botafogo - em "Academicamente popular", sobre os 200 anos da Missão Francesa no Brasil, mas samba, bateria e componentes, ou o que o mundo do samba chama de "chão", deixaram muito a desejar.


Entre as disputas por cima e por baixo, há a Grande Rio: a escola de Duque de Caxias, que sempre belisca um Desfile das Campeãs, podia sonhar com seu primeiro título ao apresentar-se pela primeira vez pelas mãos do mestre Renato Lage, mas tudo foi por água abaixo com o carro alegórico cuja "saia" (a lateral, que se aproxima do solo) ficou presa em um meio-fio na concentração, ainda na Avenida Presidente Vargas. O longo atraso deve tirar pontos da tricolor em quesitos diversos, e o Sábado das Campeãs fica praticamente inatingível. Mas, verdade seja dita: não era um trabalho no nível do que o público se acostumou a ver com Lage no Salgueiro (2003-2017) ou na Mocidade (1990-2002). "Vai para o trono ou não vai" homenageava Chacrinha, figura pop que tinha tudo para render um belo desfile. Colorida, grandiosa e bem acabada, a Grande Rio não mergulhou no Tropicalismo nem na história de vida do apresentador pernambucano, ficando sempre na superfície. Émerson Dias provou mais uma vez que é um dos melhores puxadores do grupo, mas milagre com um samba fraco como aquele, fica difícil fazer.

Sobram Vila, Mangueira e Mocidade em busca do alto do pódio. Com Paulo Barros (campeão com a Portela em 2017) à frente, a escola do bairro de Noel Rosa impressionou no visual e no uso de tecnologia: tudo rodava em "Corra que o futuro vem aí", uma boa desculpa para o carnavalesco high-tech (rótulo muito usado para se falar de Renato Lage em seus tempos em Padre Miguel) pirar na batatinha com robôs, engrenagens e telas de LED (inclusive foi criado o apelido maldoso "ViLED Isabel"). No entanto, como já aconteceu em outros de seus trabalhos, faltou carnaval em meio a tanta tecnologia, apesar da boa performance do samba-enredo, um dos melhores do ano.
Já Leandro Vieira, a maior revelação do carnaval desde o título da Mangueira com "A menina dos olhos de Oyá", de 2016, prometeu e cumpriu. "Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco" foi um bloco de luxo, que carregou as arquibancadas consigo. 

Com alegorias de extremo bom gosto, o carnavalesco criticou a implicância do prefeito Marcelo Crivella com o carnaval – o alcaide apareceu de Judas, em um ligeiro excesso verde e rosa – e, principalmente, louvou a folia, desde o esquenta com marchinhas até o bloco de sujo (divinamente trajado) com mil foliões cercados por uma corda que encantou o público.  Fechando a noite, a Mocidade tinha tudo para defender o título, mas o retorno às Campeãs no lugar mais alto do pódio não deve acontecer. Apesar do bom trabalho visual do carnavalesco Alexandre Louzada, samba e bateria tiraram a brejeirice da escola, que passou burocrática em sua homenagem à Índia – num mergulho nada criativo em uma cultura e uma história tão ricas.


O Globo