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sábado, 9 de maio de 2020

Apoiadores de Bolsonaro fazem manifestação na Esplanada dos Ministérios - Correio Braziliense


Manifestantes criticam a imprensa, o STF e agentes de saúde em ato que, segundo os organizadores, reuniu 10 mil carros


Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se manifestam na Esplanada dos Ministérios na manhã deste sábado (9/5). O tom do protesto é crítico a governantes, à imprensa e ao Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente.  Os manifestantes iniciaram uma carreata na altura do Museu Nacional, puxada por um caminhão militar e um trio elétrico. Por volta das 10h30, os veículos iam até a Biblioteca Nacional. Organizadores falam em mais de 10 mil carros.
 
Na calçada do Museu Nacional, um grupo de cerca de 100 pessoas se aglomera fora dos carros. Manifestantes sem máscaras são maioria, mas também são vistas proteções faciais com a bandeira do Brasil e com estampas militares.   No trio elétrico, organizadores e participantes gritam palavras de ordem. Os protestos mesclam apoio ao presidente e indignação contra parlamentares, ministros, jornalistas e especialistas em saúde pública. 

A última manifestação semelhante foi marcada por críticas aos poderes democráticos, tema que começou a ser ponderado neste sábado. "Que fique claro para a imprensa porca, não queremos derrubar o STF, queremos derrubar os 11 ministros", disse um homem que não se identificou.  "Estamos cansados da ditadura do STF. Alexandre de Moraes é advogado de uma empresa ligada a facções como o PCC", afirmou uma manifestante. 

Sérgio Moro, comunismo, Cuba, PSol, PT e isolamento social também foram pautas de gritos de protesto, entre desabafos e informações inverificadas. Protestantes também afirmam que moradores de diversos estados participam do ato em Brasília.

Política - Correio Braziliense



domingo, 12 de maio de 2019

"A filosofia da fraude (sem cortes)"

"O fascismo contra a educação. Perfeito. Para os heróis da narrativa, esse foi o melhor bordão depois do rosa para meninas e azul para meninos. Não pense que é fácil viver como catador de lixo ideológico. É preciso ser sagaz, esperto como uma águia para ver a oportunidade – aquela xepa de panfleto dando sopa na sua frente. Aí você tem que agarrar a chance como quem agarra um cargo numa universidade pública oferecido por um padrinho do PSOL.

Contingenciamento de verbas públicas para todas as áreas (inclusive educação) cansaram de acontecer em todos os governos – especialmente em inícios de mandato. Mesmo Lula, o ídolo dos acadêmicos, e Dilma, a musa dos intelectuais, congelaram e eventualmente meteram a tesoura em corte raso nas áreas sociais – até porque roubaram tanto que precisavam compensar de alguma forma. E a resistência democrática e cultural sempre achou tudo lindo, para não estragar a narrativa que sustenta suas panelas – sempre cheias e imunes à crise.

Depois do impeachment já houve um primeiro ensaio desse teatro revolucionário. No que os parasitas do PT foram enxotados da máquina pública, começou o esforço para tapar o rombo deixado pela quadrilha do bem – e uma das medidas fiscais mais importantes foi acabar com a contabilidade criativa (que derrubou Dilma) e restabelecer um teto de gastos. A emenda que cessava a orgia foi batizada de PEC do Fim do Mundo por esses progressistas de butique – já ali anunciando um ataque malévolo (e falso) à educação. Até a ONU ajudou a espalhar essa fake news – embora isso não tenha muita importância, porque a ONU tem se prestado a papéis bem piores.

Entre os que integravam aquela claque apocalíptica estavam, curiosamente, personagens importantes para a instituição da responsabilidade fiscal no Brasil, como Fernando Henrique Cardoso. Como se sabe, o mais alto mandamento para certos homens públicos no Brasil é ficar bem na foto – e naquele momento transcorria a famosa conspiração Janoesley (criatura surgida da fusão entre um procurador-geral e um açougueiro biônico). Parte da grande imprensa infelizmente aderiu à armação e levou junto todos esses papagaios de pirata da sagrada luz midiática.

E aí está de novo a mesma claque, incluindo o mesmo FHC
(que pena, presidente), gritando que o obscurantismo chegou para acabar com a filosofia e a sociologia. É o tipo de fake news que os caçadores de fake news mais gostam de perpetrar, porque cola. E como você sabe, hoje em dia boa parte desse jornalismo de campanha que lamentavelmente se espalhou por aí não precisa nem de pretexto para fazer proselitismo.

Nos
Estados Unidos, por exemplo, segundo a cobertura de parte significativa da imprensa, o Obama que travou a economia com sua demagogia tributária e foi pego em grave espionagem política é o bonzinho; e o Trump que ia provocar a Terceira Guerra Mundial e está melhorando todos os indicadores sociais é o nazista. Fim de papo, não adianta discutir. Cartilha é cartilha, dogma é dogma.

A impostura se torna um pouco mais patética quando você lembra que a filosofia e a sociologia no Brasil – que segundo os arautos do apocalipse estão sob ataque letal – hoje abrigam, miseravelmente, uma fraude acadêmica. Parte considerável das verbas públicas destinadas a essas disciplinas viraram subsídio para contrabando político-partidário. A tragédia das ciências humanas no país já se deu com o sequestro do conhecimento pela panfletagem – e a transformação criminosa de salas de aula em assembleia do PSOL e do PT. Obscurantismo é isso – e o longo silêncio de vocês, bravos democratas de festim, diante desse massacre cultural é obsceno.

Assinaram embaixo dessa fraude acadêmica, e não mostraram a valentia de agora nem quando os cafetões partidários da UFRJ carbonizaram o Museu Nacional com sua incúria. Quando querem, vocês são os reis da tolerância. Não deram nem um gemido quando foi revelado que o Colégio Pedro II – que vocês agora fingem defender em nome da educação – tinha virado uma espécie de sucursal do PSOL, com comitê local e tudo. Sob o pretexto da resistência ao obscurantismo, vocês estão escrevendo a mais vergonhosa página de picaretagem intelectual da história."


Guilherme Fiuza - Gazeta do Povo

 

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Bolsonaro, o amigo do amigo da imprensa

O presidente expressa sem censura suas verdades mais íntimas

“Quero ser amigo da imprensa, mas fica difícil. Todo dia são três ou quatro fake news em cima da gente”. O presidente reclamou de uma revista, em transmissão ao vivo em rede social: “Mentira”. Os ataques de Bolsonaro a jornalistas costumam ser seriais e pessoais, contra repórteres com nome e sobrenome. Mas tudo mudou. Mesmo? O socialista de direita Bolsonaro decidiu aparecer em sua melhor luz. Estava contente porque o Supremo Tribunal Federal resolveu superá-lo em trapalhadas, na pele do ministro Alexandre de Moraes. O juiz se expôs ao ridículo ao censurar uma revista e intimidar jornalistas e internautas que incomodaram o amigo do amigo Dias Toffoli, presidente do STF. “Minha posição”, disse Bolsonaro, “sempre será favorável à liberdade de expressão, direito legítimo e inviolável”. “Nós precisamos de vocês(jornalistas) para que a chama da democracia não se apague.” Era uma festa pelos 371 anos do Exército.

Liberdade de opinião na família deixa o presidente em apuros. O filho e senador Flavio Bolsonaro apagou mensagem dirigida ao grupo islâmico Hamas: “Quero que vocês se EXPLODAM!!!” Outro filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, disse em vídeo de outubro do ano passado que, para fechar o STF, bastariam um soldado e um cabo. “O pessoal até brinca lá. Se você quiser fechar o STF, não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é desmerecendo o soldado e o cabo, não. O que é o STF, cara? Tipo, tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua? Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor dos ministros?”, provocou Eduardo Bolsonaro. É importante lembrar.

O STF não mandou apreender os computadores do deputado nem entrou na casa dele. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber, reagiu com serenidade: “Soube da manifestação do filho do Bolsonaro e ele já foi desautorizado (pelo pai, então candidato) . De qualquer forma, nós juízes não nos deixamos abalar por manifestações inadequadas.” A dupla de toga Morais-Toffoli se deixou abalar. Jogou holofote sobre a revista "Crusoé", que nem ofendera ninguém. Criou um supremo mal-estar com a opinião pública, a Procuradoria-Geral e os colegas no STF. Agentes da Polícia Federal acordaram um aposentado que produz roupas para cachorros em São Paulo e protesta nas redes contra “a ditadura judicial”. Levaram o computador dele.

Bolsonaro expressa sem censura suas verdades mais íntimas. “Nazismo é de esquerda.” “Pode-se perdoar o Holocausto.” “O coronel Brilhante Ustra (torturador) é um herói.” “ (O ditador paraguaio) Stroessner foi um homem de visão, um estadista.” “Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê? (sobre o Museu Nacional incendiado). ” “A sociedade brasileira não gosta de homossexual.”  [Bolsonaro pode até ser criticado a pretexto de expressar sem censura suas verdades mais íntimas; 
talvez classificar de mais íntimas as verdades expressas pelo presidente seja um exagero, mas, fato é que são verdades expressas com sinceridade - e ao que consta, ser sincero ainda é uma qualidade.]

O presidente cita trecho bíblico: “Conheceis a verdade. E a verdade vos libertará”. A última “verdade” de Bolsonaro insulta a sociedade. “O Exército não matou ninguém”, disse sobre os 82 tiros disparados por soldados contra um carro de passeio. Matou sim. Fuzilou. E agora, são dois na conta do Exército e da Justiça Militar. O catador de papel Luciano Macedo, que correu para ajudar a família do músico Evaldo, não resistiu aos ferimentos e morreu. Deixa uma mulher grávida. Qual é a verdade que nos libertará?
 
Ruth de Aquino - O Globo
 
 

sábado, 9 de fevereiro de 2019

"A tragédia Brasil"



Os antigos diziam que quando Deus criou o mundo juntou num pedaço da América do Sul um país com uma costa gigantesca e belas praias, ouro nas montanhas e sol nos dias de verão. Sem terremotos, vulcões, tsunamis nem outros acidentes naturais. Então, o anjo Gabriel chamou Sua atenção para a injustiça de tal privilégio. Consta que o Criador explicou: “vais ver o povinho que porei lá”. É uma piada preconceituosa e inominável diante de tudo o que tem acontecido ultimamente nestes tristes trópicos, neste país do carnaval e do futebol, a superar em tragédia o teatro grego antigo, culminando com a coincidência de mesclar paixão coletiva e dor pessoal.


A esperança de um futuro melhor para as promessas no sub 17 do Flamengo e uma vida melhor para seus entes queridos é substituída pela dor e pelo luto. Foto: Fábio Motta/Estadão
O incêndio do Centro de Treinamento (CT) do Flamengo com 10 mortos e 3 salvados do fogo parece mais um castigo divino, mas não é. É conjunção de canalhice com descaso, desídia e desumanidade, que já se haviam manifestado no incêndio do Museu Nacional e no estado lastimável que impede visitas ao Museu da Independência, no Ipiranga.

Essa mistura transforma nosso passado num monturo onde enterramos nossas oportunidades de aprender com erros e acertos que já cometemos. Os rejeitos minerais da Vale em Mariana, que mataram o Rio Doce, num descomunal assassinato ambiental, não serviram de alerta e três anos depois a lama seca de Brumadinho apodrece o Paraopeba e se prepara, de forma lenta, mas incansável, para emporcalhar Três Marias e trucidar o Rio São Francisco, o Velho Chico, “rio da unidade nacional”.

O Estado brasileiro, controlado por burocratas e políticos corruptos, se acumplicia a empresários gananciosos que exploram nossas riquezas e massacram nossos pobres à jusante de represas, expondo-os por cupidez às ondas de dejetos que sufocam humanos, bovinos e peixes. O Criador poupou-nos de vagalhões e lavas, mas os beneficiários do uso e furto dos bens públicos os substituem pela mortandade por susto, bala ou vício. Essa Medusa, que nunca encontra Ulisses de volta a Ítaca, reproduz em sua saga milhões de cabeças vorazes que despedaçam a ventura dos humildes.

Os meninos do Flamengo são talentosos e quase todos pobres, mais do que arrimos, o que resta de fé para seus parentes e amigos. Quando sucumbem à indiferença de dirigentes de má-fé, que usam a paixão do povo como combustível para sua fortuna, fundida num bezerro de ouro insaciável, levam para a morada final as esperanças de seus entes queridos. O pior de tudo é que os dirigentes de Vale, Museu Nacional, Museu da Independência e Flamengo, e prefeitos que escorcham os munícipes com vultosos impostos (casos do Rio inundado e desprovido de programas públicos eficientes contra inundações e desta Piratininga de viadutos rachados caindo aos pedaços), são beneficiários da pior de todas as ofensas, a impunidade. Os mandachuvas do popular rubro-negro da Gávea, os mesquinhos da mineração que não gastam com segurança nem pagam multas e os gestores públicos e privados que se escondem das penas que deviam pagar em capas de pleonasmos nunca purgarão os seus crimes com vil metal ou perda de liberdade.

A tragédia Brasil tem a agravante de não contar com o deus ex-machina do teatro grego, aquela solução final implausível em que os justos são recompensados e os culpados, punidos. E às vítimas só resta reclamar, em vez de apoiar, aplaudir, glorificar, eleger e até endeusar os vilões que as massacram.



José Nêumanne, Jornalista, poeta e escritor - O Estado de São Paulo




sábado, 2 de fevereiro de 2019

O respeito chafurdou na lama

O lodaçal de lixo, areia e rejeitos tóxicos que varreu Brumadinho esparramou consigo as podres práticas de imprudência, descaso e impunidade que parecem expor um País em ruínas. Obras públicas caindo aos pedaços, pontes e viadutos interditados e catástrofes de grandes dimensões como o incêndio do Museu Nacional, no Rio, e da Boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, demonstram cabalmente a fissura tremenda no quesito da fiscalização por órgãos públicos, como a relembrar ao povo que vivemos por aqui condenados a uma rotineira incúria administrativa. O Brasil parece incapaz de coibir e punir eficazmente os responsáveis por tragédias como essa, numa chaga lancinante sem fim. Nas estruturas federais e estaduais, nas agências reguladoras, no Congresso, em todas as autarquias e mesmo na Justiça prevalece a lei do mais forte, do jeitinho, do acordo com protelações infindáveis, com multas não pagas, reparações não executadas e, acima de tudo, um forte lobby das bancadas de mineradoras, construtoras, gestoras e o escambau a quatro na busca por favorecimentos acertados a peso de ouro. Corporações se movem com eficiência nos bastidores do poder para acobertar falhas. Ignoram alertas. Escamoteiam riscos. 

 Gastam fortunas com advogados para lesar milhares por meio do engavetamento das indenizações. Atolam o respeito e a dignidade humana na lama de seus dejetos. E depois oferecem alguns trocados a título de reparação. De certa forma, a delinquência empresarial atingiu status de prática vantajosa devido aos espúrios conchavos políticos. Um relatório da Agência Nacional de Águas apontou que menos de 3% das quase 25 mil barragens existentes no País foram fiscalizadas de 2017 para cá. A maioria delas segue sendo construída com tecnologia de resistência abaixo do ideal por custarem, naturalmente, mais barato. Os envolvidos na escolha demonstram desprezo pela coletividade e banalizam as consequências do perigo. Nos tornamos célebres pela ausência de responsabilidade. 

Nem mesmo compaixão pelo sofrimento implacável das vítimas que tudo perdem é levado em consideração nessas horas. Em Brumadinho, contam-se às centenas os mortos e desaparecidos. Milhares de impactados pela dimensão da calamidade. O repisar da agonia de famílias que ficam sem os entes queridos, os bens, a vida já difícil que tinham, é insuportável. O crime existe. Não pode ser classificado de outra forma. Não há atenuantes. Suposições alternativas. Atribuir a causas naturais ou a alguma fatalidade – como tentou abjetamente fazer a ex-presidente Dilma, que assinou até decreto nesse sentido – é de uma desfaçatez abominável. Brumadinho carrega consigo alguns aspectos absolutamente irrevogáveis que agravam a dor fruto da catástrofe. O mais relevante deles soa como premonição para outros futuros eventos do tipo: a falta de punições exemplares levou e, invariavelmente, continuará a levar o País a uma sucessão inconcebível de episódios trágicos dessa magnitude. Aconteceu diversas vezes e deve acontecer de novo nessa toada. Pode anotar. Tome-se o próprio exemplo de Mariana, ocorrido há três anos, e sobre o qual ainda arrastam-se ações não concluídas, determinações não cumpridas, realocações de desabrigados e reconstruções que não foram realizadas. 

 É inconcebível que uma companhia, em tão estreito hiato de tempo, seja protagonista de dois acidentes dantescos, promovendo uma dívida social imensurável, sem que o Estado demonstre a mínima capacidade de mudar esse quadro de coisas. Estão escancaradas as vísceras de um sistema falido. O modelo de atuação precisa ser repensado urgentemente. E aí reside a outra parte do problema. A complacência do setor público ainda grassa com fervor, mesmo sob a égide do governo que acaba de assumir. Não faz muito tempo, era o próprio presidente Jair Bolsonaro quem prometia o afrouxamento da legislação ambiental. ['afrouxar' legislação ambiental não significa afrouxar a segurança; é necessário ficar atento que a pretexto de aumentar a segurança, apertem tanto a legislação ambiental que desestimule investimentos - óbvio, vão conseguir evitar os acidentes, mas, pelo meio mais radical - destruindo a indústria.

segurança no sentido de preservar o meio ambiente é necessária e pode andar passo a passo com as medidas para preservar a segurança dos que trabalham com o 'meio ambiente'.]

Até a extinção do ministério que cuida do assunto estava no radar do mandatário. Em reunião com produtores rurais chegou a garantir que iria segurar as multas. “Não vai ter um canalha de fiscal metendo a caneta em vocês”, disse. Talvez o bom senso prevaleça e ele agora mude de opinião. Em Davos, há poucos dias, Bolsonaro chegou a afirmar que “somos o País que mais preserva o meio ambiente”. Os fatos logo calaram a bravata. Há uma eterna e deliberada confusão que se faz por aqui entre estoque de florestas e a sua efetiva reservação. Somos privilegiados pela natureza, o que daí vai uma longa distância sobre nossa capacidade de mantê-la adequadamente. A riqueza do meio ambiente, que é de todos, não pode simplesmente chafurdar na pororoca da inconsequência e irresponsabilidade.

 Carlos José Marques,  diretor editorial da Editora Três


domingo, 9 de setembro de 2018

De: A.Carnegie@edu para: Milionários@eco



Daqui onde estou, desde 1919, fiquei chocado com o incêndio do Museu Nacional 


Colegas,
Daqui onde estou, desde 1919, fiquei chocado com o incêndio do Museu Nacional. Chocou-me muito mais a reunião teatral montada em Brasília para pedir dinheiro aos plutocratas nacionais prometendo recuperar a instituição e outros monumentos do patrimônio histórico. Não abram suas bolsas. Digo isso porque eu, Andrew Carnegie, fui o homem mais rico do mundo na entrada do século XX e fui também o magnata que mais dinheiro distribuiu. Coisa como US$ 10 bilhões em dinheiro de hoje.

Conversei ontem com D. Pedro II, que morou toda sua vida no palácio que ardeu. Nós nos conhecemos em 1876, na exposição de Filadélfia. Pedro me contou que o Banco Mundial acenou com uma doação para o museu e as conversas não prosperaram. Graças a ele, conheci uma poderosa senhora, Eufrásia Teixeira Leite. Na casa dela vive um bonitão metido a inglês. Chama-se Joaquim Nabuco.

Eufrásia morreu em 1930 e deixou tudo o que tinha para os pobres de Vassouras (RJ). Era uma fortuna equivalente a duas toneladas de ouro. Numa conta grosseira, ela deu o equivalente à cerca da metade do que eu distribuí. As benfeitorias de Eufrásia viraram uma lembrança municipal, pois entregou o dinheiro a instituições beneméritas, semioficiais. Do meu cofre, quem cuida são os funcionários de fundações que sabem doar e, sobretudo, aplicá-lo.

Reunido com uma comitiva onde havia cinco banqueiros privados, o presidente Michel Temer falou em criar um fundo privado para financiar a recuperação do patrimônio cultural. Não faz sentido. Quem entende de fundo privado é a banca. O governo, como se viu, entende de ruína. (Se os bancos americanos cobrassem nos Estados Unidos os juros que vocês cobram, eu teria levado minhas siderúrgicas para o México.)
Eufrásia acha que em vez de fazer seu apelo teatral, o presidente deveria ter sentado com os diretores do Instituto Moreira Salles e do Itaú Cultural para saber como funcionam essas instituições à prova de fogo. Podendo aprender, o governo faz o que gosta: pediu.
Eu comecei do nada. Corrompi gente, mandei abrir fogo em grevistas. Na velhice, vivi angustiado porque, sem fazer nada, ganhava mais do que conseguia doar. Eufrásia achou que filantropia é tirar o dinheiro da bolsa e entregá-lo aos outros.
Do vosso humilde e atencioso admirador,
Andrew Carnegie

O risco de se eleger um ‘não’

O atentado contra a vida de Jair Bolsonaro cristaliza o risco de que a eleição de outubro venha a produzir um vencedor sem escolher um presidente. Num eventual segundo turno entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, ambos terão o voto de pessoas que pensam como eles, mas serão reforçados por eleitores que não votam de jeito nenhum num ou noutro. [Um lembrete:
- dificilmente haverá segundo turno - Bolsonaro leva a eleição no primeiro;
- caso haja, Haddad não será um dos dois primeiros - com muita sorte o candidato a poste do Lula (imagine o prestígio que tem o petista, não conseguiu sequer definir se será ele o candidato a poste e ainda ganhou um apelido: 'andrade') está entre os cinco primeiros.]

Nas sete últimas eleições presidenciais já existia o voto antipetista, mas prevalecia, em graus variáveis, uma preferência pelos tucanos. Isso mudou. Muita gente poderá votar em Fernando Haddad só para não ver Bolsonaro no Planalto, ou votar no ex-capitão só para impedir a volta do PT ao poder. No meio, ficará o nada.  Preferência é uma coisa, exclusão é outra. Quando o voto de exclusão supera o de preferência consegue-se barrar aquilo que não se quer, mas não se elege um presidente.

A vítima
Com o atentado de quinta-feira a bem sucedida estratégia de vitimização de Lula virou pó.


(...)

PT congelado
A eficácia da estratégia de vitimização de Lula foi eterna enquanto durou. 

A partir de agora o comissariado tem três dificuldades.
- A primeira é o cansaço que resultou dos recursos sucessivos, porém inúteis junto aos tribunais.

- A segunda é o peso das falas de Fernando Haddad, uma versão petista da monotonia de Geraldo Alckmin.

- A terceira será a entrada de Manuela D’Ávila do PCdoB na vice, estreitando a chapa.

(...)
.
Ótima notícia
As coisas boas também acontecem: está na Amazon a versão eletrônica do livro “Trilhos do desenvolvimento”, do professor americano William Summerhill. É um magistral estudo sobre a política de construção de ferrovias do Império e dos primeiros anos da República. Vira de cabeça para baixo tudo o que se escreveu e se ensina.

As concessões funcionaram e a economia foi impulsionada muito além do simples transporte de café.
A edição foi uma vitória da luz, graças ao empresário Guilherme Quintella, que cacifou a iniciativa. O primeiro artigo de Summerhill foi publicado em 1998 e o livro, com título de “Order without progress” (Ordem sem Progresso), saiu em 2003. Não haviam sido traduzidos.

(...)

Palpite real
A encrenca em que uma parte da Cúria romana meteu o Papa Francisco poderá ter um saudável reflexo na Coroa inglesa.

Aos 92 anos a rainha Elizabeth II pode ter cogitado abdicar em favor de seu filho Charles, de 69. A ideia parecia boa depois que o imperador japonês Akihito anunciou que abdicaria em abril de 2019. A iniciativa foi recebida com naturalidade, e assumirá o príncipe Naruhito.

Do Vaticano saiu o outro lado da moeda. Como Francisco sucedeu ao Papa Bento XVI, que renunciou e vive na Cidade do Vaticano, abriu-se o precedente do pontífice que vai embora antes de morrer.

Resultado: os adversários de Francisco querem que ele também vá para casa.
No caso inglês, uma coisa é certa: Charles seria um rei impopular, com o filho William nos calcanhares.