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sexta-feira, 15 de junho de 2018

O ópio do povo

Apropriando-se de uma máxima do idealizador do comunismo Karl Marx, que dizia que a religião é o ópio do povo, o genial Nelson Rodrigues acusava os esquerdistas modernos de acharem que o futebol, sim, é o ópio do do povo. Bem quisera Vladimir Putin que a frase de Nelson, não a de Marx, fosse verdadeira na Rússia de hoje, quando começa para valer a última etapa do seu projeto de “soft power” em relação à Copa do Mundo de futebol.

Sem grandes expectativas por parte da população, descrente da seleção depois de uma série de derrotas, Putin sabe que o objetivo não pode ser entregar a Taça ao capitão russo Akinfeev, já considerado o pior goleiro da Liga dos Campeões, mas sim entregar ao mundo uma Copa bem organizada e sem problemas de violência, comuns aos torcedores russos, e riscos para a segurança das delegações e de milhares de autoridades e turistas que vão chegando à Rússia.

O fracasso da seleção russa é tamanho que um famoso jornalista de televisão iniciou campanha de autoestima denominada “o bigode da esperança” com base no bigode do técnico Stanislav Cherchesov.  Atribui-se a Putin uma improvável manobra no sorteio das chaves da Copa para que o jogo inicial fosse contra um time inofensivo. Deu Rússia e Arábia Saudita, a única seleção que tem piores resultados que os dos anfitriões. 

Coincidência ou não, esta será apenas uma das três Copas em que o jogo de abertura não tem um país campeão em campo. Em se tratando de FIFA e de Putin, tudo é possível, no entanto. Além da Arábia Saudita, a chave dos anfitriões tem ainda o Egito, dois países de maioria muçulmana que se encontram em posições distintas na guerra da Síria em relação à Rússia, que apóia a Bashar Al Assad: enquanto a Arábia Saudita opõe-se ao líder sírio, o Egito tem posição mais cautelosa. O Egito, no entanto, pode causar danos irreversíveis a Putin na Copa do Mundo. Como uma das duas vagas do grupo deve ficar com o Uruguai, a disputa da segunda ficará provavelmente entre Rússia e Egito, que tem no jogador Salah um diferencial que pode eliminar a seleção anfitriã ainda nas oitavas. [Atualizando: Egito perdeu para o Uruguai, 1 a 0 e a Rússia venceu a Arábia Saudita por 5 a 1.]

Cercado de símbolos capitalistas, o passado comunista da União Soviética que Putin ajudou a enterrar cisma de estar presente, como em frente ao estádio de Lujiniki, onde uma estátua de Lenin tem que conviver com uma grande propaganda da Coca-Cola. Em tudo semelhante ao filme alemão “Adeus Lenin”, que conta as dificuldades de um filho que tenta mudar a realidade para proteger a mãe, uma comunista radical que sai do coma após um ano, e não suportaria visões chocantes para ela, como a queda do Muro de Berlim e um grande cartaz da Coca-Cola em frente a seu prédio.

Na Rússia de hoje, essa convivência não é evitada, ao contrário, tornou-se mais um atrativo turístico. Foi-se a época em que Yeltsin queria retirar da Praça Vermelha o mausoléu de Lenin, para enterrar literalmente esse passado. Putin, ao contrário, mandou restaurar a múmia e a recolocou novamente onde os turistas possam visitá-la. A festa de abertura da Copa terá a presença de Ronaldo Fenômeno, na impossibilidade de Pelé comparecer devido a problemas no quadril. Putin, aliás, apostava muito na presença de Pelé, com quem se abraçou na cerimonia de sorteio das chaves da Copa do Mundo. A abertura será a cerimonia mais breve das últimas Copas no estádio de Lujiniki, reformado ao custo de R$ 1,4 bilhão, com acusações de superfaturamento. O mesmo que aconteceu com o nosso Maracanã.


Merval Pereira - O Globo



quarta-feira, 13 de junho de 2018

“A Copa que era nossa” e outras notas de Carlos Brickmann

Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política

Meninos, eu vi: na Copa de 62, quando nem se imaginava a transmissão direta pela TV, a Rádio Bandeirantes montou um imenso painel no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com botões no lugar de jogadores. Pedro Luís e Edson Leite irradiavam e os botões se moviam simulando a partida. Um mar de gente, centenas de milhares de pessoas, acompanhava o painel. O Brasil foi bicampeão; e bicampeões foram os que acompanharam a Copa.

Hoje, diz o Datafolha, a maioria da população, 53%, não tem interesse pela Copa. Já surgiu a tese de que a camisa da Seleção, sendo amarela como o pato da Fiesp usado nos protestos contra Dilma, perdeu prestígio. Besteira: a camisa é canarinho, amarelo-canário, e foi festejada na Copa de 1970, apesar de tentarem (sem êxito) identificá-la com a ditadura militar.

Ao contrário do que acreditam coxinhas e petralhas, o mundo não gira em torno de suas fixações. Nem tudo é política. No caso da Seleção e da Copa, há outro fator: em 58, em 62, em 70, cada torcedor conhecia cada jogador. Os convocados jogavam em seu time, ou contra ele; torcia-se pelo craque do time (e, portanto, pela Seleção). Hoje, poucos craques estão no Brasil, ou aqui se consagraram: saíram meninos e cresceram muito longe da torcida. Normalmente, têm ligação com o Brasil, mas é mais distante.
Gilmar, Nilton Santos, Didi, Vavá, Pelé, esses o torcedor conhecia e sabia onde jogavam. Responda rápido: aqui, onde jogava Roberto Firmino? [ou: quem é Roberto Firmino?]

Sinal de alerta
Seguidores de Jair Bolsonaro voltaram a atacar João Doria. Adversários de Bolsonaro também colocaram Doria na alça de mira. Mau sinal para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin: indica que os concorrentes voltam a considerar provável que, diante da imobilidade de Alckmin nas pesquisas, o partido resolva trocá-lo por Doria. Doria nega que queira ser candidato, mas essas coisas são meio complexas: se o partido lhe fizer um apelo, por que não fazer o sacrifício de atender aos pedidos e disputar a Presidência?

A tática de Alckmin
Alckmin tem dito a amigos que sua tática é ficar tranquilo, sem fazer marola. Acredita que Bolsonaro já esteja batendo no teto, incapaz de chegar mais alto; acredita que o candidato do PT tenha mais chances de alcançar o segundo turno; acredita que os partidos tradicionalmente alinhados ao PSDB, que agora tentam criar um candidato de centro, acabem concluindo que este candidato já existe e é ele, Alckmin. No segundo turno, ganharia os votos de todo o eleitorado antipetista e chegaria à Presidência. Pode ser; mas a manutenção de baixos índices nas pesquisas estimula outros partidos a tentar viabilizar novos candidatos (mesmo que sejam do próprio PSDB, como Doria). E se, de repente, Ciro Gomes atrai alguma legenda de centro? [a presença de Alckmin em todas as eleições presidenciais que disputou, sempre favoreceu aos adversários;
além de ser uma presença nefasta é ruim de voto -ser  candidato a governador é bem diferente  de ser candidato a presidente.]

Rir, rir, rir
Henrique Meirelles conta com três fatores para se transformar em nome forte: apoio da máquina do Governo, bons resultados na economia e cacife para pagar a maior parte da campanha (ou até mesmo a campanha toda). Só que o mundo não é bem assim: Michel Temer, com 3% de aprovação, sob ameaça de novo pedido de processo, não controla mais nem seus aliados próximos ainda soltos, quanto mais a máquina do Governo. 

Os resultados da economia são bons, especialmente considerando-se que foram obtidos em curto prazo e sob permanente crise política, mas uma ampla maioria de eleitores acha que a economia vai mal. Até agora, Meirelles, com apelo popular nulo, não conseguiu passar ao eleitor que sua área vai melhor do que se poderia esperar. E pagar a campanha, OK. Mas fará isso mesmo sem chances de crescer? Agora, o dado humorístico: sugeriram a Meirelles que se posicione mais à esquerda. Será engraçado se ele aceitar.

A vida como ela não é
Sim, os ministros do Supremo Tribunal Federal têm à disposição um servidor que ajeita as cadeiras sempre que algum deles se senta ou levanta (naturalmente, um funcionário por ministro). Não, este detalhe não é o top da mordomia: bom mesmo é desfrutar de uma área exclusiva de embarque no Aeroporto de Brasília, pela qual o Supremo paga R$ 374,6 mil por ano. Questão de segurança: os ministros não precisam se misturar à plebe rude para embarcar. Seu espaço fica a uns 2 km do embarque dos passageiros comuns. No momento do embarque, o ministro é levado de van até o avião e sobe por uma escada exclusiva para uma porta lateral do finger, onde finalmente (que fazer?) se mistura com os cidadãos sem toga.
Mas ainda estão sujeitos a agressões verbais de gente mal-educada, que expressa em voz alta suas restrições ao trabalho de um ou outro ministro.

Bola de cristal
Frase do ex-presidente americano Ronald Reagan: “A política é supostamente a segunda profissão mais antiga. Vim a perceber que tem uma semelhança muito grande com a primeira”.

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann


quarta-feira, 25 de abril de 2018

O carma do futebol-arte: o legado que a seleção de 1970 deixa para o Brasil de Tite

Jogar bonito ou vencer? ÉPOCA compilou como o escrete fez os gols nas últimas Copas para descobrir qual equipe se aproximou mais do jogo idealizado pelo torcedor 

O lateral Roberto Carlos desce do ônibus a balançar um chocalho. Ronaldinho Gaúcho surge em seguida tocando um pandeiro. Os jogadores rumam para o vestiário, onde, enquanto vestem o uniforme amarelo e azul da Seleção Brasileira, tocam samba e fazem embaixadinhas e malabarismos com uma bola. As cenas — que repetem os mais manjados clichês sobre o Brasil, seus jogadores e seu futebol — faziam parte de uma propaganda da Nike, cuja campanha lançada às vésperas da Copa do Mundo de 2006 sintetizava aquilo que o torcedor queria ver do Brasil em campo: drible, jogo ofensivo e futebol esteticamente agradável.


 Tostão, o craque campeão de 1970, simbolizava aplicação tática e qualidade técnica (Foto: POPPERFOTO/GETTY IMAGES)

Era mais uma das encarnações do mito do futebol-arte, que persegue o Brasil há mais de 50 anos e ressuscita a cada quatro anos. É a ideia de que o Brasil deve jogar bonito e vencer por ter um time cheio de talentos, de foras de série, por natureza muito melhores que todos os seus concorrentes.

Tal ideal nasceu no bicampeonato nas Copas de 1958 e 1962 e foi realizado em sua plenitude pela Seleção Brasileira que venceu a Copa de 1970, o time treinado por Mário Jorge Lobo Zagallo, com Pelé, Tostão, Rivellino, Gérson, Carlos Alberto Torres, Jairzinho. Como várias antes, a equipe que desceu do ônibus sambando no comercial de 2006 carregava a esperança de reeditar o tal futebol bonito e eficiente por ter Kaká, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Adriano, alguns dos maiores jogadores naquele momento. 

Mas, como várias outras, ficou no quase — ou melhor, numa derrota para a França. Nas duas Copas seguintes, o triângulo formado pela Seleção, pela torcida e pelo jogo bonito foi substituído pela desconfiança. A dúvida persiste em relação à Seleção que, em dois meses, disputará a Copa de 2018: será esse time capaz de jogar bonito e vencer?
Na tentativa de dar base objetiva para que se avalie a estética da Seleção Brasileira — mesmo que tal quantificação nunca chegue a ser conclusiva —, ÉPOCA compilou as jogadas que originaram os gols feitos pelo Brasil nas Copas de 2002 a 2014. 

As possibilidades são variadas. Há times que avançam da defesa para o ataque com troca de passes, que constroem jogadas. Há equipes que priorizam rápidos contra-ataques, outras que roubam a bola de adversários no ataque para um contragolpe mais rápido. E há a bola parada, seja falta, escanteio ou pênalti. São meios distintos para o mesmo fim: o gol. A análise também leva em conta o resultado obtido, claro. Isso para tentar definir, entre as seleções mais recentes, qual delas ao menos se aproximou do futebol vistoso e vencedor.

>> Kevin De Bruyne: a peça para que a famosa geração belga convença – ou frustre de vez

A resposta é fácil: a de 2002. A Seleção treinada por Luiz Felipe Scolari tinha boa parte do que o torcedor quer ver em campo. As jogadas ofensivas se concentravam na construção, responsável por quase metade dos gols marcados, mas o arsenal contava também com recursos como as bolas paradas de Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho, a roubada de bola no campo adversário e o contra-ataque vindo de trás. Felipão equilibrou a defesa com três zagueiros e o volante Gilberto Silva e liberou os homens do meio para a frente, talentosos, para que atacassem à vontade. 

Cafu pela direita e Roberto Carlos pela esquerda serviam o ataque dos “três erres” — Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. A Seleção construía suas jogadas pelos flancos, e, se a beleza não desse resultado, Felipão tinha armas para o segundo tempo, como Juninho Paulista e Denílson, ambos habilidosos e rápidos para incrementar o gracejo da Seleção. 

O final é conhecido: Cafu, com sua camisa “100% Jardim Irene”, levantou a taça.

A Seleção de 2018 ainda não tem as jogadas de uma Copa para comparação, por isso a base aqui são as últimas partidas das Eliminatórias e seus amistosos mais recentes, com exceção do 4 a 0 na Austrália e do 1 a 0 na Colômbia, nos quais apenas reservas atuaram. O que os números mostram é que o Brasil de Tite é uma equipe que respeita a forma de jogo que o brasileiro aprecia — quase metade dos gols é oriunda da construção. 

Contra o Paraguai, pelas Eliminatórias, Philippe Coutinho pegou a bola pela direita, virou-se para o meio e tabelou com Paulinho; os marcadores foram com Paulinho, o que abriu um espaço na defesa; Paulinho devolveu de calcanhar, e Coutinho chutou da entrada da área para marcar.

Na falta de jogadas assim, o time também tem artifícios para garantir resultados, como bolas paradas. O escanteio curto que termina na cabeça do zagueiro Miranda, no gol contra a Rússia, é um exemplo recorrente. O time de Tite ainda tem o pragmatismo necessário para que contra-ataques vindos desde a defesa funcionem, responsáveis por um quinto dos gols. Até agora, o time mostrou ter capacidade de construir jogadas e de ter uma diversidade de recursos ofensivos. [pedimos desculpas aos nossos leitores pela manutenção das fotos sobre o técnico que foi a vergonha do futebol nacional: Luiz Felipe.]

 

sábado, 27 de janeiro de 2018

Até onde Lula vai?


Condenado pela Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro, ele será candidato à Presidência por si mesmo e pelo PT. Mesmo se for preso, influenciará o resultado da eleição?

O resultado adverso era esperado havia muito, mas os militantes que lotavam o auditório na sede da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, em São Paulo, ainda estavam chorosos. O cansaço do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficava evidente pela voz, que saía ainda mais rouca que de costume. Na sua vez de falar, o ex-ministro Alexandre Padilha, um dos vice-presidentes do PT, apoiou-se na metáfora futebolística, uma marca de Lula em discursos, para dar maior efeito político a sua declaração. “É como campeonato de futebol: se você tem o Pelé, você vai deixar de escalá-lo porque lá na frente ele pode ficar impedido de jogar? Você deixaria de escalar o Pelé?”, disse Padilha. Em outro gesto esperado por todos, Padilha lançava Lula como pré-candidato do PT à Presidência da República em 2018, no dia seguinte à condenação dele a 12 anos de prisão, imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
 
>> Além da apreensão de passaportes, Ministério Público sugeriu a prisão preventiva de Lula

Associar Lula a Pelé é um mantra repetido com frequência. Pega carona numa invenção do dramaturgo Nelson Rodrigues no livro A pátria de chuteiras. “Assim como Michelangelo é o Pelé da pintura, da escultura, Pelé é o Michelangelo da bola.” Lula seria o Pelé da política. Mas Pelé precisa jogar de acordo com as regras. “Vai colocar ele para jogar, mas tem de lembrar que nesse jogo também tem juiz”, afirmou Padilha. Na atual situação, as regras são desfavoráveis a Lula como nunca foram. Lula certamente será impedido pela Lei da Ficha Limpa de concorrer. Lula pode ser preso. A questão é em quanto tempo isso pode acontecer – e o tempo da Justiça corre em velocidade diferente do tempo da política. Nessa seara, persiste a dúvida sobre até quando ele permanecerá na disputa e quanto sua influência resistirá. Pouca gente acredita que Lula acabou.  [não é de espantar; tem idiotas que votaram em Lula e Dilma e muitos ainda são capazes de repetir a estupidez.]  Ninguém sabe quanto fôlego político lhe resta.

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domingo, 3 de dezembro de 2017

Falta um adesivo na paisagem do Rio: 'Eu fui Cabral'

O moço é ladrão e mofará na cadeia, mas uma só pessoa não produz tanta desgraça. Cabral foi reeleito com dois terços dos votos

[a exemplo do Cabral, Lula e Dilma, também não passaram do nada que eram a governantes capazes de produzir tanta desgraça = foram criados pelo povo.

E o povo brasileiro, conforme sábias palavras do Pelé, não sabe votar. ] 

Os pacientes do hospital Rocha Faria ficaram sem comida, culpa do Cabral. Depois de ter se transformado no símbolo de um Rio do futuro, Sérgio Cabral virou o ícone da sua ruína.  O Magnífico Cabral era uma empulhação. Cabral, o Flagelo dos Céus, é outra.  O moço é ladrão e mofará na cadeia, mas uma só pessoa não produz tanta desgraça. Cabral foi reeleito com dois terços dos votos.  Quando ele propôs erguer um muro para segregar uma favela, a única voz que se ergueu contra a maluquice foi a do escritor português José Saramago.

O Magnífico, como os diamantes de sua mulher, tinha muitas facetas. Em alguns casos, refletiam ilusões, em outros, também demofobia e, às vezes, luziam interesses sociais ou mesmo pecuniários.  O Rio de Janeiro é uma cidade onde seis em cada dez imóveis cadastrados não pagavam IPTU. (Nada a ver com favelas.) Isso tem um preço.  Na semana passada, soube-se que os pacientes do Hospital Rocha Faria jejuavam. Trata-se de um dos grandes hospitais públicos da cidade. Para um estado arruinado, seria apenas mais uma desgraça.

Em janeiro de 2016, o Rocha Faria ganhou fama porque descobriu-se que mantinha um ambulatório exclusivo para o atendimento de seus mil servidores estatutários. A choldra e os 1.300 terceirizados não podiam entrar nessa ala vip. O ambulatório tinha 57 funcionários, entre eles 27 médicos, inclusive três obstetras e três cirurgiões. Denunciada a maluquice, o privilégio foi defendido pela Associação dos Funcionários e pelo presidente do Sindicato dos Médicos.

As guildas dos serviços públicos de saúde vestem o manto dos defensores dos fracos e dos oprimidos contra o capitalismo selvagem da medicina privada, mas, no Rocha Faria, seus associados dispunham de um hospital só para eles e nenhum comissário reclamou. Nenhum. O silêncio não foi coisa do Cabral.  À época, anunciou-se que seria aberta uma sindicância. Revelou-se que pelo menos outros dois hospitais tinham mordomias semelhantes. Nada. Agora os pacientes do Rocha Faria estão sem comida.

Numa cidade onde mais da metade dos imóveis não pagam IPTU e servidores de hospitais públicos têm ambulatórios privativos, alguma coisa daria errado. Deu, e essa ruína foi construída com a ajuda de muita gente boa.
Falta um adesivo na paisagem do Rio: “Eu fui Cabral”.

Elio Gaspari, jornalista - UOL