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terça-feira, 14 de março de 2023

Silêncio: a mídia tucana está descobrindo o abuso supremo e o PT - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Por pragmatismo, será que a direita deveria fingir que os tucanos não fizeram o L sabendo muito bem quem estavam ajudando a recolocar no poder, só para somar no esforço antipetista agora?  

Eu não consigo agir assim. Acredito que, no longo prazo, faz-se necessário o lado pedagógico da coisa, para lembrar que tucanos são oportunistas dispostos a tudo para tirar a direita do poder.
Penso nisso quando vejo a quantidade de tucanos "arrependidos" ou "assustados" com o novo governo. 
É como se Lula tivesse surgido em cena agora, e seu PT fosse o Novo, não o velho esquema de corrupção e socialismo que todos já conhecemos. É muito cinismo, e isso não pode ser tolerado ou esquecido.
 
Vejam, por exemplo, essa chamada do Estadão: "Denúncias de 8/1 ignoram condutas individuais, têm textos idênticos e põem garantias em risco". Correto. Mas cabe perguntar: 
- por onde o jornal andou nos últimos meses? 
Não percebeu o arbítrio supremo em curso no país?
Não achou importante denunciar os métodos, só porque o alvo era Bolsonaro?

João Luiz Mauad comentou: "Sabe o que mais incomoda nessas matérias tardias da mídia militante? É que elas tratam o leitor como um idiota, incapaz de ver que tudo isso só aconteceu devido à complacência e o incentivo do próprio jornalismo, cujo único propósito era enterrar o bolsonarismo, não importa como".  
Direto ao ponto! É esperar muito pouco do público, achar que ele não vai perceber o truque.

Diz essa outra chamada do mesmo Estadão: "Lula abre ‘porteira’ de cargos a União Brasil e MDB para ganhar aliados e barrar CPI". No subtítulo consta: "Presidente deu sinal verde para nomeações após ser alertado por Arthur Lira de que o não atendimento aos aliados pode levar a derrotas significativas no Legislativo". Pergunta: isso não era o alarmado "orçamento secreto" tratado como escandaloso durante a campanha, para prejudicar Bolsonaro?

Tudo, absolutamente tudo que a mídia tucana condenava como absurdo durante o governo Bolsonaro piorou e muito, em grau e forma. Isso sem falar do resto todo, que era bom no governo anterior, e também virou desgraça no atual. Mas a velha imprensa fez vista grossa por "ojeriza" a Bolsonaro, e ajudou a colocar no poder essa turma. Agora parece que estão descobrindo quem é Lula, pela primeira vez...

Isso é ridículo demais, um circo tupiniquim. E olha que o Estadão tucano ao menos tem dado esta guinada na esperança de que ninguém vá notar. Pois outros veículos de comunicação nem isso fizeram ainda, com seus malabarismos incríveis para defender o indefensável desgoverno.   
Não será catastrófico assim, alegam, mas também não será bom! Risos? Ou choro, muito choro?

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A falsa direita dos fundões e dos fundilhos - Percival Puggina


         A falsa direita “pegou os bobos na casca do ovo”. Essa expressão é antiga, hoje substituída por trollar ou sacanear, mas serve bem ao caso porque enganar alguém na casca do ovo significa vender-lhe por ovo apenas a casca esvaziada de seu conteúdo.

A exemplo de muitos, também comprei casca por ovo. Acreditei que a “direita” obteve uma vitória considerável na eleição para a Câmara dos Deputados e que essa bancada iria conter a volta ao passado mais do que imperfeito para onde apontavam as manifestas intenções do novo governo Lula.

Porém, ah, porém”, digo com Paulinho da Viola (aproveitando que escrevo num domingo de carnaval), persiste e se revigora a tradicional venalidade das convicções na sua troca por cargos. O União Brasil, partido contado como “de direita”, nascido da união entre o PSL (partido de Bolsonaro no pleito de 2018) com o Democratas (antigo DEM, anteriormente PFL) já tem três ministérios no governo Lula e quer mais posições no segundo escalão. Não bastasse isso, se consolida uma federação unindo UB e PP.    

Como entender alguém que fez campanha como antipetista, buscou votos na direita e imediatamente após a eleição vai se aconchegar no colo de Lula? Traição ao eleitor!  
E ela só se explica porque o sistema eleitoral favorece a reeleição de quem está agasalhado e bem comportado no aconchego das tesourarias, dos cargos e favores do governo, das emendas parlamentares, dos fundões e dos fundilhos alheios. 
No último caso, os próprios eleitores do parlamentar.
 Esse pacote dá mais votos do que a fidelidade a princípios e valores.

A propósito, lembre-se de que quando Bolsonaro, durante os dois primeiros anos de seu mandato se recusou a estabelecer esse tipo de negociação, foi flagelado com a rejeição de suas propostas e pelos próprios parlamentares que pediram votos com ele e para ele. Por quê? Porque não é assim que a banda toca.

Por isso, defendo a existência de um partido de direita com programa, princípios e valores, não extremista porque os extremos saem do arco da democracia, nem centrista porque o centro e sua periferia, pela direita e pela esquerda, é o espaço do famigerado centrão. 

E o centrão, lugar dos vendilhões e de sua freguesia, tem que ser reduzido à menor dimensão possível para que a política nacional comece a tomar jeito.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 11 de fevereiro de 2023

O peso da História - Alon Feuerwerker

Análise Política

Um paradoxo assombra a política e a análise política. Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores elegeram-se porque conseguiram atrair por gravidade o apoio de um segmento minoritário da direita não bolsonarista. Um setor que participara ativamente da ofensiva antilulista e antipetista no dito mensalão, na Lava-Jato, no impeachment de Dilma Rousseff e na inelegibilidade e prisão de Lula.

Decorre também desse paradoxo o cenário curioso, mas analiticamente bem decifrável, em que Lula está obrigado a fazer um governo de coalizão com o “centro”, pois não detém maioria parlamentar própria, está longe disso, enquanto busca a todo momento e em todos os terrenos fortalecer seu campo político, programática e organicamente, e enfraquecer esse centro. Tem lógica, mas é uma linha algo diferente da do outro presidente Lula, aquele do passado.

Todo líder e grupo político buscam o poder. Se estão nele, a preocupação central é como mantê-lo. No caso de Lula e do PT, o cálculo delicado parece buscar o ponto ótimo em que a direita centrista estará com o governo para evitar sua queda, mas não ficará forte o suficiente para nutrir realisticamente ambições próprias. Ou, pior, voltar a flertar com o bolsonarismo que apoiou em 2018.

Enquanto oferece recompensas a esse grupo, ou conjunto de grupos, precisa também submetê-lo. É o que no PT se chama de “fazer a disputa”. No momento, Lula e o PT não estão “fazendo a disputa” somente contra Jair Bolsonaro, que afinal continua sendo o dono da esmagadora maioria do voto antipetista, mas também, e talvez principalmente, contra os companheiros ocasionais de viagem.

No passado, houve momentos em que Lula pareceu atraído pela possibilidade de as alianças táticas ganharem caráter estratégico. Entre 1989 e 1994, PT e PSDB foram partidos quase irmãos, ou pelo menos primos, nutridos ambos na luta contra o que se chamava de “corrupção e fisiologismo” da Nova República. O namoro acabou quando Fernando Henrique Cardoso se juntou ao PFL (hoje União Brasil) para derrotar Lula.

Depois, ao longo de seus 14 anos no Planalto, Lula pareceu progressivamente atraído pela possibilidade de uma união estável com o "centro democrático". O momento-chave foi quando buscou uma aliança com o então PMDB de Michel Temer na eleição da presidência da Câmara dos Deputados em 2007, o que abriu caminho para Temer ser o vice de Dilma em 2010. O mesmo Temer que viraria o pivô da deposição dela em 2016.

É verdade que em algum momento parte do PT calculou ser melhor para o futuro do partido a abreviação do governo Dilma. Outra verdade: na véspera do desfecho, Lula buscou os velhos aliados do MDB com um apelo dramático pela permanência de Dilma, mas bateu num muro de gelo. Ali já estava em pleno trabalho de parto o projeto de poder da aliança PMDB-PSDB.  Que depois foi atropelado pela revolução bolsonarista com quem o centro se abraçara em 2015-16.

A eleição de 2022 e os fatos recentes vêm ressuscitando o discurso da “frente ampla em defesa da democracia”, graças também à ajuda de Bolsonaro. Mas essa tentativa de repetição da história traz boa dose de artificialidade, pois, se é verdade que o PT nunca fez a autocrítica que os adversários lhe exigiram, também é fato que, no olhar de Lula e do PT, os hoje aliados são os mesmos que ontem os esfaquearam.

A História pesa. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

sábado, 8 de outubro de 2022

A frente ampla antipetista liderada por Jair Bolsonaro - Gazeta do Povo

VOZES - Guilherme Macalossi

 


  • Zema e Bolsonaro: parceiros agora e, possivelmente, em 2026 -  Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
O final do 1º turno da eleição foi pautado pelo movimento de Lula em nome da criação de uma frente ampla contra Jair Bolsonaro
Estimulada pelos números das pesquisas, a campanha do petista imaginava que poderia vencer já no último dia 2 de outubro. Deu início a uma enorme campanha de voto útil tendo como principais alvos Ciro Gomes e Simone Tebet. Os levantamentos, entretanto, estavam errados e, ainda que Lula tenha tido mais votos, Bolsonaro acabou triunfando por ter um desempenho muito acima do projetado. Ao final, a distância entre ambos foi de apenas 5%, dando fôlego ao atual presidente, que agora lidera sua própria frente: a antipetista.

O lulismo, ainda que permaneça reafirmando confiança, vai trocando o clima de "já ganhou" e sendo empurrado para a dúvida e o receio de uma derrota outrora considerada impensável.

O início do segundo turno da eleição foi marcado pela acomodação de boa parte dos que haviam rompido ou se desvinculado de Bolsonaro. O caso mais notório é de Sergio Moro.  
O ex-juiz já buscava a aproximação desde antes de ser eleito senador pelo Paraná. No dia 4 de outubro escreveu em seu Twitter queLula não é uma opção eleitoral, com seu governo marcado pela corrupção da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro”. A ele se seguiu o agora deputado Deltan Dallagnol, ex-coordenador dos procuradores que atuaram na Lava Jato.

Sob a lógica da rejeição ao PT, há uma inegável confluência de forças políticas no campo da direita. A todos, mesmo aqueles considerados até pouco tempo como traidores do presidente, está sendo oferecido um lugar na mesa. O clima antipetista do 2º turno de 2022 vai se moldando ao que se viu no Brasil no 2º turno de 2018. O importante é mandar a esquerda “para Cuba”.

O antipetismo também dividiu os partidos do centro. Ainda que figuras como Fernando Henrique Cardoso, Simone Tebet e Roberto Freire tenham anunciado apoio a Lula, o fato é que as bases do PSDB, do MDB e do Cidadania não aderiram uniformemente à decisão de seus líderes. No PSDB, o governador de São Paulo Rodrigo Garcia anunciou apoio a Bolsonaro, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, neutralidade. No MDB, há ainda especulação sobre o posicionamento de Michel Temer. Apesar de o ex-presidente ter divulgado nota oficial sem definir apoio, parece inclinado em favor de Bolsonaro. Já o Cidadania viu sua bancada federal se rebelar contra o apoio a Lula e pedir neutralidade para que cada integrante da sigla defina seu futuro.

Há quem, ainda em 2022, negue que o antipetismo seja um fenômeno político suficientemente denso a ponto de tornar secundários os vícios profundos do atual governo. Bolsonaro, entretanto, já fez sua aposta nele e vai colhendo resultados. 
A estratégia é inverter a pauta, afastando os questionamentos sobre seu primeiro mandato e fazer um plebiscito sobre o período de Lula e Dilma, fortalecendo o sentimento antipetista. Inclusive avançando em temas morais, que são caros a uma parte expressiva do eleitorado brasileiro.

Vitaminado pelo seu próprio desempenho e de seus aliados, Bolsonaro costura palanques em estados importantes como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. 

Com isso, sua militância antipetista vai criando um clima de virada que já começa a se materializar como possível até mesmo nas contestadas pesquisas eleitorais. 
Do outro lado, o lulismo, ainda que permaneça reafirmando confiança, vai trocando o clima de "já ganhou" e sendo empurrado para a dúvida e o receio de uma derrota outrora considerada impensável.

sábado, 23 de julho de 2022

Símbolos - E se proibissem a bandeira gay como propaganda eleitoral? - VOZES

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Sábado, 23 de Julho de 2022.

Gazeta do Povo - Bruna Frascolla


Semana passada, o Brasil assistiu a uma juíza eleitoral do Rio Grande do Sul dizer que, no entender dela, a bandeira do Brasil era propaganda política de “um dos lados” e por isso deveria ficar proibida no período eleitoral. Ela falou “um dos lados”, presumindo, naturalmente, a existência de dois lados: Bolsonaro contra o antibolsonarismo, seja ele o petista ou a terceira via. Bolsonaro está sempre com o verde e amarelo; o PT, com o tradicional vermelho. Dos candidatos mais badalados pela imprensa, Ciro Gomes tem usado azul e verde; Simone Tebet ainda não parece ter consolidado nenhuma identidade visual, mas ter apostado no azul e amarelo. É possível que a concorrência de Bolsonaro esteja cônscia de que as cores nacionais são uma coisa bem vista pelo grosso do eleitorado e, ao mesmo tempo, esteja vinculada a um candidato
Assim, pegam uma cor menos usada por ele – o azul – e juntam-no a uma das outras cores da bandeira. 
Quem tentou romper esse monopólio foi Moro, em seu fugacíssimo ensaio de candidatura presidencial. 
Essa tentativa foi acompanhada pelo propósito de substituir Bolsonaro na qualidade de liderança antissistema e antipetista.

No mais, quanto ao histórico da politização do verde-e-amarelo, ocorrem-me duas coisas dignas de serem lembradas. A primeira é que o uso político do verde-e-amarelo neste século provavelmente surgiu nos protestos iniciados em 2013. Estes começaram dizendo que “não é só por 20 centavos”, houve o “Não vai ter Copa” etc., mas o antipetismo o engrossou e nunca mais saiu das ruas. 

Para se distinguirem dos manifestantes de vermelho, os antipetistas foram às ruas com a camisa canarinho da seleção. Ora, a seleção de futebol no Brasil é um símbolo nacional. Essa identificação entre o nacionalismo e o antipetismo foi notada pela esquerda e, em princípio, lastimada. Influencers liberais de modess ou esquerdistas passaram a botar bandeirinhas do Brasil no Twitter a fim de desfazer esse mal-entendido.

Mas não creio que tenha colado. Afinal, a grita contra a juíza do Rio Grande do Sul veio justamente do “outro lado”.  
Parece que os primeiros manifestantes antipetistas enxergavam no petismo uma força alienígena à ideia de uma nação brasileira, e que os atuais manifestantes bolsonaristas enxergam em Bolsonaro uma resposta nacionalista a uma ameaça antinacional.

Creio que o público está correto ao intuir uma polarização entre o nacionalismo brasileiro e uma ideologia antinacional. Querem ver só?

As bandeiras de Orgulho
Pouco antes de a juíza gaúcha decidir que a bandeira nacional é propaganda eleitoral, o Supremo (Tribunal Federal) iluminara o seu prédio com as cores do arco-íris, em homenagem ao Orgulho Gay. Foi uma ação bem leve, comparada à do Tribunal Regional do Trabalho do Pará, que hasteou, junto às bandeiras do Brasil e do Pará, uma versão atualizada da bandeira do Orgulho Gay, que inclui um triângulo com as cores branca, rosa bebê, azul bebê, marrom e preto.

Segundo a Wikipédia, o nome da bandeira é “Progressive Pride”, ou Orgulho Progressista. As cores branca, rosa e azul são para incluir a bandeira trans; o marrom e o preto, para incluir as “pessoas de cor”. Mas calma, que tem mais. 

Saindo do Pará para Londres, há uma bandeira mais atualizada ainda: a “Intersex Inclusive Progressive Pride Flag”, algo como “Bandeira do Orgulho Progressista que Inclui Intersexo”. Intersexo é o novo nome de hermafrodita. Em inglês, não se diz mais “Gay Pride” (Orgulho Gay); agora é só Pride (“Orgulho”) e subentende-se a sopa de letras da vez, em vez de “gay”. De todo modo, Jordan Peterson foi na mosca e apontou que agora passou-se a celebrar o Orgulho, aquilo que até ontem, e por dois milênios, se considerava pecado capital.
A bolinha representaria os hermafroditas. A bandeira pode sofrer infinitas atualizações, à medida que se incluam anões, baixinhos, celíacos…

A Progressive Pride é de 2018, criada por certo Daniel Quasar. A sua versão ainda mais inclusiva é de 2021, criada por certo Valentino Vechietti. Essa pessoa conta à BBC que ficou muito orgulhosa quando as autoridades lhe pediram para usar a bandeira na decoração da rua.  
A imagem das ruas de Londres cobertas pela novíssima bandeira chegaram a mim por meio do youtuber britânico Paul Joseph Watson e do apresentador Matt Walsh. Neste vídeo percebemos ainda que as bandeiras do Orgulho no centro de Londres em substituição da bandeira da Grã-Bretanha. O youtuber nos conta ainda que as bandeiras do Orgulho vêm sendo hasteadas em prédios públicos britânicos.

Ao que parece, o Pará não está tão longe da Inglaterra. Nem o Rio Grande do Sul.
Veja Também:

    Por que não exploraram a ideologia do médico preso por estupro?
    Que os petistas vão à pauta que pariram

E se considerassem propaganda eleitoral essa bandeira?            Quando o STF tuitou as cores do arco-íris, não faltou quem apontasse 
a parcialidade da Corte.

E apareceu também a resposta padrão progressista: ser favorável aos direitos dos gays é a única opção política legítima, seja à esquerda ou à direita. 
Trata-se de civilização ou barbárie, e só abomináveis bolsonaristas, ou evangélicos ignorantes, estariam do lado da barbárie.                         Na verdade, a civilização manda apenas que ninguém seja assassinado; a bandeira tradicional do Orgulho Gay traz demandas bem-sucedidas que nem sempre são aceitas por nichos religiosos.                                         Nos últimos séculos, a civilização sagrara a liberdade religiosa, e os cidadãos teriam o direito de viver no espaço laico com seus próprios valores, sem que tivessem direito de os impor às religiões.                Mas o Supremo fez uma lei aí que diz que a “homofobia” (que não tem um significado preciso) deve ser tratada como o racismo.
 
Ou seja: tendo em vista a laicidade do Estado, que implica a não intrusão sobre os credos religiosos, cabia mesmo ao STF se abster de manifestações durante a celebração do Orgulho Gay. 
Ainda assim, com certeza se pode dizer que a bandeira do arco-íris está desvinculada de um partido. 
Há gays assumidos votando em todo tipo de candidato, e a esquerda, durante a maior parte de sua história, condenou a homossexualidade como “vício burguês”.
 
Quanto à bandeira do Orgulho Progressista, a coisa muda de figura. Faz jus ao nome, pois é muito mais fácil alguém aderir a ela em função de política do que de orientação sexual. 
Nenhum gay ou lésbica contrário à ideologia de gênero ou ao racialismo vai aderir àquela bandeira (é evidente que tais gays e lésbicas existem. Abigail Shrier, em seu livro sobre a moda trans, já apontou que as lésbicas estão desaparecendo nas escolas:                      - as meninas mais masculinas ouvem que são um menino preso no corpo de uma menina. 
A ideologia de gênero merece ser chamada de homofóbica, pois castra homossexuais por não se enquadrarem no estereótipo do seu sexo). Por outro lado, qualquer progressista, a despeito de sua preferência sexual, dirá que tal bandeira equivale a civilização, e só bárbaros são contra.
 
Justamente por isso, podemos imaginar o que aconteceria se algum juiz eleitoral resolvesse proibir o uso de bandeiras LGBTQUIABO durante as eleições, alegando que são propaganda. O mundo viria abaixo. Transexuais cometeriam suicídio. Gays apanhariam na rua.             Seria a enésima evidência a corroborar as estatísticas do GGB segundo as quais o Brasil é o lugar do mundo que mais mata gays.                  Artistas fariam uma performance escatológica em prol dos LGBTQUIABO. Globais de meia idade mostrariam os seios siliconados em protesto contra o patriarcado. 
Alguém iria à ONU denunciar o Brasil. Randolfe iria ao Supremo entrar com uma ação. Em meio à patacoada generalizada, uma ameaça bem tangível aos opositores: ir para a cadeia por discurso de ódio ou sei lá o quê.

Sem escarcéu semelhante
Não é nada ousado, portanto, dizermos que é muitíssimo mais tranquilo atentar contra a bandeira nacional do que contra a bandeira progressista do momento. Só os feios, sujos e mal lavados – isto é, os que estão acostumados a serem serem xingados de bolsonaristas, fascistas ou extremistas – reclamaram da presepada da juíza. Embora tenham reclamado do suposto sequestro da bandeira pelos bolsonaristas, a turma do bem não fez nada contra a decisão da juíza.

Digamos então que na elite midiática e judicial já está consolidada a operação feita nas ruas de Londres, que consistiu na substituição da bandeira nacional pela progressista.  
O pavilhão nacional não goza mais de respeitabilidade. 
O pavilhão progressista, a seu turno, goza da proteção que um objeto sacro tem numa teocracia, e essa proteção é fruto do ativismo judicial de membros não-eleitos encastelados no Estado.
 
A bem da verdade, a imagem das ruas londrinas não deve ter circulado tanto pelo mundo porque causa muito incômodo a qualquer um que não tenha sido totalmente doutrinado pela nova religião secular. Aquelas bandeiras de simbologia críptica dispostas pelo Estado só têm, no Ocidente, um exemplo parecido: o do III Reich.                                      Nem a Itália fascista chegou a tanto; sua única mudança na bandeira italiana foi a retirada da coroa sobre o brasão que ficava na listra branca. Os nazistas, sim, substituíram o pavilhão nacional (amarelo, vermelho e preto) por uma bandeira toda nova (vermelha, branca e preta) com um símbolo que eles próprios inventaram e só eles próprios entendiam. 
E mesmo assim, a combinação de cores dos nazistas não foi uma invenção deles. 
A Alemanha alternava entre os dois padrões de cores, tendo a bandeira imediatamente anterior à de Weimar disposto das mesmas cores que os nazistas. Nem os nazistas ousaram tanto.
 
Ao menos os nazistas se empenhavam em ter o apoio do seu povo. Este novo sistema totalitário é novo. Está de costas para o povo e não lhe presta contas. Em vez disso, coage. 
Talvez o precedente histórico mais próximo desse procedimento seja o comunismo, que também desdenhava do povo e era internacionalista
Mas este sempre se baseou num Estado e num Executivo forte: justamente as duas coisas atacadas pelo progressismo, que pretende passar às ONGs as atribuições do Estado e a um Judiciário militante as dos outros poderes.
Que os petistas vão à pauta [puta = O puta fica por nossa conta.] que pariram. 

Bruna Frascolla é doutora em filosofia pela UFBa e autora de "As ideias e o terror" (República AF, 2020). Colabora com a Gazeta do Povo desde 2020.