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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Em livro, Villas Bôas revela que postagens polêmicas na véspera de julgamento de Lula foram escritas com Alto Comando do Exército - O Globo

Pedro Capetti

No Twitter, general fez repúdio à impunidade, um dia antes de o STF julgar se o ex-presidente podia ser preso após ter sido condenado em 2ª instância

O general Eduardo Villas-Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Arquivo O Globo
O general Eduardo Villas-Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Arquivo O Globo
Comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, o general Eduardo Villas Bôas revelou que postagens polêmicas feitas no Twitter na véspera do julgamento, em 2018,  pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de  habeas corpus do ex-presidente Lula para recorrer da condenação em liberdade, em 2018, foram articuladas e “rascunhadas” em conjunto com o Alto Comando da instituição.
[o essencial é que a mensagem, o 'alerta', foi entendido e contou com o aval de todo o Alto Comando do Exército Brasileiro.]

As declarações fazem parte do livro “General Villas Bôas: conversa com o comandante", recém-lançado pela Editora FGV, a partir de depoimentos concedidos pelo general ao longo de cinco dias entre agosto e setembro de 2019. A entrevista, com mais de 13 horas de duração, foi comandada pelo professor e pesquisador Celso de Castro. Vítima de uma rara doença neuromotora de caráter degenerativo, [Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)] Villas Bôas hoje respira com ajuda de aparelho e se locomove em cadeira de rodas.

Na véspera do julgamento, Villas Bôas afirmou, no Twitter, que a instituição "julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade". E que o Exército também defende o "respeito à Constituição, à paz social e à Democracia", e que a instituição "se mantém atenta às suas missões institucionais". Na época, a postagem foi interpretada, principalmente no PT, como uma pressão sobre o STF.

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No livro, o militar narra que o texto foi redigido por várias mãos na alta cúpula do Exército.  "O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte  da expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente, até por volta das 20 horas, momento que liberei para o CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição", descreveu Villas Bôas.

A postagem gerou reação na época. Sem citar diretamente Villas Bôas, o então ministro do STF Celso de Mello disse que um comentário realizado por "altíssima fonte" foi "claramente infringente do princípio da separação de Poderes" e alertou contra "práticas estranhas e lesivas à ortodoxia constitucional".

O general afirma que o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, não foram avisados da postagem, assim como os chefes da Marinha e da Aeronáutica. Mesmo não sendo alertados, o texto do post não foi rechaçado por Jungmann e Etchegoyen, após a publicação.

Durante a entrevista, o general afirma que duas motivações moveram o Alto Comando do Exército a adotar a ofensiva. Uma delas foi o aumento das demandas por uma intervenção militar em encontros com empresários e pessoas da sociedade civil. Apesar de classificar estes que clamavam por uma ruptura em outra parte do livro como “tresloucados”, ele afirma que agiu daquela forma para conter uma possível convulsão social.

"Externamente, nos preocupavam as consequências do extravasamento da indignação que tomava conta da população. Tínhamos aferição decorrente do aumento das demandas por uma intervenção militar. Era muito mais prudente preveni-la do que, depois, sermos empregados para contê-la. Internamente, agimos em razão da porosidade do nosso público interno, todo ele imerso na sociedade. Portanto, compartilhavam de ansiedade semelhante", descreve.

No livro, o militar voltou a classificar o episódio como "oportuno". "Tratava-se de um alerta, muito antes que uma ameaça", narra em trecho da entrevista. A mesma opinião já havia sido manifestada pelo general em entrevista ao GLOBO, na série "Décadas de Ruptura".

A postura de Villas Bôas nas redes sociais converge com um projeto pessoal empregado por ele naquela oportunidade para que o "Exército voltasse a ser ouvido com naturalidade". Com isso, os militares falariam mais com a imprensa, ocupando os espaços de debate. Vários deles, como Villas Bôas, foram para o Twitter. Outros atuavam nos bastidores na tentativa de influenciar a narrativa política.

Ao longo da última década, o general Rêgo Barros, então chefe do Centro de Comunicação do Exército, foi responsável por comandar todo o planejamento para discutir estratégias e atitudes de comunicação, cuja agenda envolvia reuniões diárias.

Bolsonaro rompeu com politicamente correto
Em outro trecho, ao falar sobre o governo Bolsonaro, Villas Bôas refuta a ideia de que o presidente representa a volta dos militares ao poder, mesmo havendo recorde de militares em cargos de primeiro e segundo escalão. Para o general, "Bolsonaro deu ênfase ao combate ao politicamente correto, do qual a população estava cansada.”

Segundo o general, a esquerda aderiu ao "politicamente correto" com "pautas esvaziadas desde a queda do comunismo", a partir da oposição de classes. Isso faz, na avaliação do militar, que haja dificuldade de enxergar a realidade, sem se importar com os resultados produzidos  Para ele, isso mostra que a sociedade está "carente de valores universais, que igualem as pessoas pela condição humana, acima da classificação aleatória que se lhes atribui."

"Quanto maior a ênfase, por exemplo, nas teorias de gênero, maior a homofobia; quanto mais igualdade de gêneros, mais cresce o feminicídio; quanto mais se combate a discriminação racial, mais ela se intensifica; quanto maior o ambientalismo, mais se agride o meio ambiente; e quanto mais forte o indigenismo, pior se tornam as condições de vidas de nossos índios", relatou na entrevista.

Questionado sobre a conversa entre ele e o presidente, quando este disse que o general era um dos responsáveis pela sua chegada ao Palácio do  Planalto, disse que a conversa “morrerá” entre eles e que “não foi um tema de caráter conspiratório”.

No livro, ao mesmo tempo em que rechaça a sua proximidade com a política, assim como a do Exército, o militar relata encontros com o ex-presidente Michel Temer para discutir uma reação do Exército à possibilidade de impeachment e também com os presidenciáveis de 2018 para debater “projeto nacional”.

Sobre o governo Dilma, o general afirma que havia um distanciamento da cúpula militar com o Planalto, diferentemente da relação nos dois mandatos do ex-presidente Lula. Diz que os indícios de corrupção, a evolução negativa da economia e os moldes da Comissão da Verdade despertaram "um sentimento de traição em relação ao governo". "Foi uma facada nas costas, mesmo considerando que foi decorrência de antigos compromissos assumidos pela presidente Dilma", relata o general, para quem a comissão foi vista como "revanchismo". 

Brasil - Jornal O Globo


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