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quarta-feira, 19 de julho de 2023

A diplomacia das ideias mortas - J. R.Guzzo

Revista Oeste

Lula não tem 'política externa'; tem uma agenda de turismo para encher o álbum de fotos da mulher e fugir dos problemas que nem ele nem o seu governo têm a menor ideia de como resolver



Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, embarcando para Letícia, na fronteira entre Brasil e Colômbia | Foto: Cláudio Kbene/PR

Não há em cartaz no planeta, neste momento, nenhuma exibição mais rasa de subdesenvolvimento, de palhaçada típica do pobre diabo que quer entrar de penetra na festa e de cafajestismo em estado bruto do que o programa de volta ao mundo que Lula e a mulher fazem há seis meses. Desde que pegaram a chave do Tesouro Nacional para sair por aí detonando o dinheiro do pagador de impostos brasileiro, sem controle de ninguém, não pararam mais. 
É um dos sonhos de consumo mais recorrentes do brega-padrão: viajar pelo mundo “sem pagar um tostão”, com hospedagem em hotéis que cobram diária de R$ 40 mil e jato pessoal equipado com dormitório exclusivo para o casal — ou na base do “vamo gastá, que o governo paga tudo”
Quem paga é você, claro, mas eles estão pouco se lixando para você. 
O que querem é a viagem de paxá, carregando junto, e por conta do Erário, um cardume gigante de bajuladores-raiz e de jornalistas extasiados com a visão divina do presidente.  
Acham, ou fazem de conta que acham, que estão realizando algo importantíssimo para a geopolítica mundial. 
São apenas um bando de suburbanos deslumbrados com mais uma “viagem grátis”
Vão a Paris, Londres ou Roma para ficar falando entre si em português e torrando dinheiro que não é deles. É cômico. Também é uma lástima.

Lula e o cardume descrevem o que estão fazendo como diplomacia e, pior ainda, como “diplomacia de Terceiro Mundo”, para mostrar aos países ricos (e brancos, e imperialistas, e etc. e tal) que os pobres, unidos, jamais serão vencidos. 
Lula exibe-se como líder mundial e acha que estão lhe devendo há muito tempo o Prêmio Nobel da Paz embora nunca tenha tido capacidade, estatura ou o mínimo de competência para pacificar uma briga de botequim. A Rede Globo e o resto da mídia de “consórcio” e de opinião única descrevem essa comédia como “intensa atividade internacional”. 
 
Alguns, mais agitados, discutem com caras sérias e palavras difíceis, em suas mesas-redondas depois do horário nobre, o que imaginam ser a “política externa” de Lula. A sua “estratégia” seria essa. As suas “opções” seriam aquelas. A sua “leitura” da situação internacional seria sabe-se lá o que, e assim por diante. Lula não tem “política externa”; tem uma agenda de turismo para encher o álbum de fotos da mulher e fugir dos problemas que nem ele nem o seu governo têm a menor ideia de como resolver. Tornou-se, com suas viagens, um exportador de ignorância — apenas isso.

Se Lula fala sem parar dos “pobres”, e que precisa de mais impostos para socorrer os “pobres”, então por que não dá para os pobres as fortunas que gasta nessas viagens todas?

A ciranda alucinada de Lula já foi para Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Portugal, Espanha, China, Abu Dhabi, Japão, Itália (para tirar foto com o Papa), França e Colômbia e está de viagem marcada para a Bélgica é, mais do que tudo, uma coisa ridícula.  
Nenhum outro chefe de Estado do mundo faz algo parecido — não faz hoje e nem fez nunca. Ele, Janja e a mídia não percebem, mas o presidente que se acredita uma nova voz no cenário internacional está apenas fazendo papel de bobo, ou de figura exótica de Terceiro Mundo como foi um dia o Xá da Pérsia, ou como são hoje esses ditadorezinhos africanos que pousam nos aeroportos da Europa com o peito carregado de medalhas, agendas sem um único minuto de trabalho real e comitivas tamanho XXXXX-L. Desfilam diante da guarda. Vão a banquetes. (O presidente do Brasil, inclusive, reclama da comida que lhe deram nos palácios do Quirinale e do Élysée, em Roma e Paris. Quer se fazer de “homem simples”, que gosta de “um arrozinho com feijão”; consegue apenas ser mal-educado.) Gastam como xeiques das Arábias. 
 
Perturbam o trânsito. É um alívio quando vão embora. Lula, no fundo, é apenas um deles
As coisas sérias que os estrangeiros têm para tratar com o Brasil são conversadas em outros lugares, em outras ocasiões e com outras pessoas. Do presidente brasileiro, o que fica é a imagem do subdesenvolvimento arrogante, burro, perdulário e sem noção — como ocupar 57 quartos de um dos hotéis mais caros de Londres para ir à coroação do rei. 
Por que raios seria preciso levar essa multidão para assistir a uma cerimônia?
 Assinaram algum tratado? 
Discutiram exportações ou problemas de legislação internacional? Não. Só passearam e gastaram dinheiro público como em Portugal, onde conseguiram montar (e pagar) uma comitiva oficial de 22 carros para levar Lula daqui até ali.
 
Os países ricos que recebem Lula tomam nota dessas coisas; a principal sensação que têm é de desprezo. Dão os sorrisos, fazem os rapapés e tiram as fotos que o protocolo diplomático exige. Nas conversas que têm entre si registram o despropósito ofensivo que é torrar, em viagens patéticas, milhões de dólares de um país pobre. 
Será que está sobrando dinheiro no Brasil? 
Se Lula fala sem parar dos “pobres”, e que precisa de mais impostos para socorrer os “pobres”, então por que não dá para os pobres as fortunas que gasta nessas viagens todas? 
 
Ele conseguiria citar uma viagem indispensável, só uma, entre todas as que fez, ou que fosse necessária, ou que tivesse servido para alguma coisa de útil? É claro que não.  
Há, também, a desmoralização do Brasil no exterior. 
Estrangeiro se dá conta, na hora, do desperdício deslumbrado de chefete de país pobre — acha um insulto ver um presidente como Lula, que diz haver “33 milhões” de pessoas passando fome no Brasil, passear e gastar como um sultão nas suas capitais. 
Os jornalistas se esforçam para demonstrar que Lula está se “projetando no Exterior”, ou “ocupando espaços para o Brasil” e influindo em assuntos sérios. Falam de “influência”, de “alianças”, de “eixos” e repetem bobagens que ouvem, sem entender direito, no Itamaraty. Não é nada disso. 
É apenas mais uma farsa, como a picanha geral, o Ministério do Namoro e outros truques de quem não sabe e não quer governar.

Ainda não caiu, para Lula, a Rede Globo e a esquerda brasileira, uma ficha elementar: o valor de mercado da Apple, divulgado outro dia, é 50% superior ao PIB inteirinho do Brasil.                                              São US$ 3 trilhões para eles, ante US$ 2 trilhões para nós. Que tal?    É o tipo de coisa que faz qualquer um baixar o facho. Não se trata de achar que o Brasil é uma mixaria, porque o Brasil não é uma mixaria. Trata-se apenas de ter um pouco de consciência do tamanho real do país — o Brasil é o que as realidades mostram, e não o que Lula quer. 

O presidente e o seu sistema não têm ideia disso. Puseram na cabeça que os “países ricos” estão preocupadíssimos com a influência decisiva do Brasil no mundo e no resto do sistema solar — e acham que podem mudar os destinos da humanidade, que irá para onde Lula for. É a fórmula ideal para dividir a política externa brasileira de hoje em dois pedaços, e apenas dois: o inútil e o nocivo. 

No pedaço inútil estão tolices de 24 quilates, como o “Parlamento Amazônico”, que Lula acaba de propor na Colômbia, a “moeda comum” do Mercosul, a “parceria” em inteligência artificial com Abu Dhabi (não com os Estados Unidos; com Abu Dhabi) ou a troca de “tecnologia” com a Venezuela — e daí para baixo. No pedaço nocivo não é mais, apenas, o embusteiro falando de coisas que não entende. Aí já é a ação direta contra os interesses concretos do Brasil e dos brasileiros.

O veneno básico está na procura permanente, há seis meses, de um conflito com os Estados Unidos, com os países europeus e com o “imperialismo” mundial, em obediência às doutrinas que encantam o governo Lula. O plano-mestre, nessa toada, é ser amigo político da Rússia, da China e, como regra geral, de qualquer ditadura que se declare vítima do sistema capitalista. Tem sido um desastre, é claro. O grande momento, nesse “alinhamento” com a Rússia, foi a declaração de que a Ucrânia é responsável pela invasão do seu próprio território. Conseguiu, de imediato, ofender diretamente aliados vitais do Brasil; não ganhou nada em troca. Para a “política externa” de Lula, a Europa e os Estados Unidos são culpados por “fragilizarem” a Rússia. O que significa isso? É óbvio que europeus e norte-americanos querem dar apoio à Ucrânia contra a Rússia; estão, a propósito, fazendo há mais de um ano um boicote econômico aberto contra os russos. 
 
 O que Lula propõe: que o Brasil boicote, em represália, os Estados Unidos e a União Europeia? A diplomacia brasileira permite que navios de guerra do Irã, que tanto americanos como europeus declararam oficialmente uma nação terrorista, ancorem no Porto do Rio de Janeiro. Recebe no território nacional, com todas as honras, o ditador da Venezuela — que está com a cabeça a prêmio pelo Departamento de Estado americano, a US$ 15 milhões, por tráfico internacional de drogas. O Exército Brasileiro faz “manobras conjuntas” com a Nicarágua. 
O governo gosta da “Palestina” e dos seus terroristas. 
Não gosta de Israel, que é a única democracia da região. Em suma: é alguma coisa contra o “Ocidente”? Então o Brasil é a favor.

Não pode haver nada mais nocivo aos interesses brasileiros, ao mesmo tempo, do que a insistência de Lula em dar dinheiro para as economias mais fracassadas do mundo — lugares como Venezuela, Cuba ou Argentina. Para Lula, a culpa da ruína econômica da Venezuela não é da ditadura de Chávez e de Maduro — é dos Estados Unidos, que não compram os produtos venezuelanos. Não faz sentido. 
Para começar: que produtos? A Venezuela não produz nem um prego. Não tem papel higiênico. Não tem nada para vender. É um Saara econômico. Para concluir: a ditadura da Venezuela passa o tempo todo fazendo declarações de guerra aos Estados Unidos. 
Por que raios os Estados Unidos deveriam ajudar a Venezuela? 
 
É a mesma coisa com Cuba. A miséria cubana, segundo Lula, não foi provocada pelo regime comunista; na sua opinião, Cuba seria “uma Holanda” se não fosse pela falta de colaboração dos norte-americanos. Lula quer ajudar também a Argentina — o maior caloteiro da economia mundial. Pede “compreensão” dos credores etc. É claro que ninguém no exterior dá a menor atenção ao que ele diz. Nem o Banco do Brics, onde arrumou emprego para Dilma Rousseff; chinês empresta, mas quer receber o dinheiro de volta, e a Argentina não paga ninguém. Mas aqui no Brasil ele tem acesso aos recursos da população. Vai fazer o que puder para arrancar dinheiro do BNDES, e de outros caixas, para doar à Argentina, Venezuela e quem mais se apresentar como país “progressista”.

Nada disso vai melhorar o Brasil em absolutamente nada — e, no fundo, a “política externa de Lula” talvez nem seja mesmo de Lula. Pelo cheiro da brilhantina, é coisa do companheiro que ocupa, no mundo dos fatos, o cargo de ministro das Relações Estrangeiras. Não é o funcionário que dá expediente no Itamaraty. É o assessor externo Celso Amorim. Lula, basicamente, repete o que ouve de Amorim; é ele quem realmente está por trás do que Lula fica falando por aí, e da estratégia diplomática genial que os dois pensam estar executando. A cabeça de Amorim está congelada num momento qualquer entre 1955 e 1960; ele continua a pensar, hoje, como se pensava durante a guerra fria entre a Rússia e os Estados Unidos. Não parece ter notado que a Rússia perdeu essa guerra, nem que houve algumas mudanças tecnológicas de lá para cá, todas elas geradas pelos norte-americanos. 
 
Continua festejando o lançamento do Sputnik, torcendo contra os “trustes internacionais” e dizendo que a Rússia comunista pode até ter umas falhas aqui ou ali, mas precisa ter o apoio de todos para nos salvar dos horrores do capitalismo. Parecem ser fruto do seu sistema cerebral ideias tais quais a eliminação do dólar como meio de pagamento das transações do comércio mundial — e tantos outros dos momentos-chave da diplomacia de Lula. O resultado é que o Brasil não tem mais quem defenda os interesses nacionais no exterior. A diplomacia brasileira se transformou num serviço de apoio a ideias mortas.

Leia também “Amorim é o passarinho de Lula”
 
 
Coluna J. R. Guzzo - colunista - Revista Oeste
 

sábado, 31 de dezembro de 2022

A mentira da mudança do clima - J. R. Guzzo

Revista Oeste

Para não ser “cancelado”, proibido de expor as suas ideias ou simplesmente manter o seu emprego, o cientista do século 21 tem de obedecer cegamente à religião da “ciência progressista” 

 Rua coberta de neve, em Buffalo, Nova Iorque, durante a tempestade Elliot, a pior nevasca da história da comunidade, em 24/12/2022 | Foto: Wikimedia Commons

 Rua coberta de neve, em Buffalo, Nova Iorque, durante a tempestade Elliot, a pior nevasca da história da comunidade, em 24/12/2022 | Foto: Wikimedia Commons 

Ano após ano, área após área, a ciência mundial tem estado sob ataque — o mais destrutivo desde a escuridão que a Igreja Católica, até o século 17, impôs ao pensamento humano. Era proibido, então, fazer a mais modesta indagação científica, ou simplesmente utilizar a razão para investigar questões básicas da vida. O cidadão era queimado na fogueira dos padres e dos bispos por tentar investigar, por exemplo, as causas físicas de uma doença, ou o movimento na Terra em volta do sol; era pecado mortal, como heresia, servir-se do livre pensar e do livre arbítrio para chegar a qualquer conclusão sobre questões do espírito ou fatos materiais. Ao fazer essas coisas, a pessoa estava desafiando o Plano Geral de Deus, que obviamente queria manter em segredo, ou sem explicação, tudo aquilo que o homem não entendia — não cabia ao homem, em nenhuma hipótese, presumir que seria capaz de descobrir aquilo que Deus, em sua sabedoria infinita, tinha decidido que não deveria ser descoberto. [FATO: o que DEUS não quer que seja descoberto, não quer que seja alterado, simplesmente NÃO É DESCOBERTO OU ALTERADO.] Hoje, quatro séculos depois, volta-se ao tempo de Galileu Galilei — obrigado, para escapar da pena de morte imposta pela Igreja, a dizer que a Terra não se movia. 

Para não ser “cancelado”, proibido de expor as suas ideias ou simplesmente manter o seu emprego na universidade, nos centros de pesquisa e nas repartições burocráticas do Estado, o cientista do século 21 tem de obedecer cegamente à religião da “ciência progressista”, socialmente responsável e destinada a construir um mundo “sustentável”.

Esta religião e este mundo são os de Bill Gates e de seus parceiros bilionários que a cada ano fazem discursos em Davos — e ao mesmo tempo de todos aqueles que, de alguma forma ou por algum tipo de descompensação, sonham confusamente com o fim do capitalismo e a sua substituição por algo que não sabem o que é, mas têm certeza de que é “melhor”. 
Têm vidas, comportamentos e patrimônios opostos uns dos outros; um militante ecológico padrão, um professorzinho de universidade que dá entrevistas na mídia como “especialista” ou um paxá do Vale do Silício que faz doações de US$ 100 milhões para salvar a humanidade, têm tão pouco a ver entre si que poderiam viver em planetas diferentes. 
 
Mas, no geral e no fundo, acabam querendo a mesma coisa: o fim do progresso econômico. O mundo, para eles, tem de parar onde está; quem tem US$ 100 bilhões, é claro, continua com os seus 100 bi, e você continua com os trocadinhos que tem no bolso.  
Não se pode mexer em um átomo da Amazônia, da África, da Groenlândia ou, na verdade, de qualquer ponto do mundo, habitado ou não. 
É proibido crescer. É proibido mudar. É proibido usar o solo para produzir alimento, ou para extrair recursos indispensáveis à vida humana. 
É proibido consumir energia. É proibido nascer mais gente — e os que já nasceram, e vivem na pobreza, não podem querer melhorar de vida. 
O problema insuportável, para a nova ciência dessa gente, é o que ela mesma, talvez sem perceber, chama de “humanos”. São esses desgraçados que atrapalham o bem-estar das árvores, dos bichos e das pedras. Interferem na natureza, que deveriam apenas contemplar. Consomem água, oxigênio e espaço. Precisam comer, precisam usar algum tipo de tecido para se vestir, precisam morar em casas melhores que cavernas. 
Gastam, no maior horror dos horrores, combustívelé um crime, realmente, contra quem viaja de jatinho, desliza pelo mar em iates de 150 pés e anda de bicicleta de dez marchas, nos momentos em que não está em seus SUVs de R$ 1 milhão.  
Um mundo sem “humanos”, em suma, seria o ideal.
A ciência diante da qual se ajoelham hoje bilionários, devotos amadores do meio ambiente e devotos profissionais que ganham a vida em universidades, centros de pesquisa, empresas “sustentáveis” e “agências reguladoras” é, acima de tudo, totalitária. Ela decreta, em seus comitês, burocracias e igrejinhas, que alguma coisa é assim ou assado; a partir daí, obrigatoriamente, essa coisa tem de ser assim ou assado. 
Foi eliminada, simplesmente, a pergunta mais fundamental da ciência, desde que o homem adquiriu a capacidade de utilizar o seu cérebro para pensar: “O que é isso?” Ou, de outra forma: “Por que isso é assim?” 
Não se pode mais dizer: “Não tenho certeza de que tal coisa é assim. Gostaria de observar os fatos objetivamente, mas de outro ponto de vista, e verificar se chego a alguma conclusão diferente da que é aceita neste momento”. Ou seja: estão banidas a dúvida, a curiosidade, a investigação física, a discussão livre, a troca de ideias e os demais princípios fundamentais que fizeram a ciência evoluir da descoberta da roda até o que ela é hoje. Em vez de verdade científica o que se tem agora é fé — e, pior que isso, a obrigação de ter fé. 
 
Ciência não é mais o resultado do estudo sistemático das estruturas do mundo material, através da observação, das experiências e de testes capazes de comprovar com fatos concretos as deduções obtidas. Ciência é aquilo que os cientistas, pesquisadores e agentes do Estado, com o apoio da mídia, dizem que é ciência. No tempo da treva, quando isso ou aquilo parecia incompreensível, a Igreja dizia: “Deus quis assim. Não tente entender. É pecado entender.” Hoje está voltando a ser exatamente a mesma coisa. “Os estudos científicos dizem que é assim”, afirmam os mandarins da ciência. “Não tente entender. É negacionismo entender.”

Estão banidas a dúvida, a curiosidade, a investigação física, a discussão livre, a troca de ideias e os demais princípios fundamentais que fizeram a ciência evoluir da descoberta da roda até o que ela é hoje

Em nenhuma área do conhecimento essa degeneração da ciência é tão agressiva como nas questões ligadas ao meio ambiente — e especialmente, neste momento, a tudo aquilo que se entende como “mudanças do clima”. O fundamento principal do colapso da ciência verdadeira em favor da crença climática é a ideia absurda segundo a qual o homem pode “combater” a “mudança do clima”como se a Era do Gelo, o Dilúvio Universal e a separação dos continentes tivessem dependido do comportamento humano. Isso, sim, era mudança climática para ser levada a sério — não os 40 graus de calor em Copacabana no meio do mês de janeiro. Mas hoje é tudo culpa do clima. O “aquecimento global”, mesmo quando as pessoas estão morrendo de medo de passar frio neste inverno na Europa, por escassez de calefação, é culpado pelo sol, a chuva, a seca, a enchente — e também por terremoto, maremoto, vulcão, maré alta, maré baixa, a barragem de Sobradinho, o urso polar que não encontra comida, o aumento de mortos na escalada do Everest. 

Cobra-se dos políticos: “O que o seu programa prevê para deter a mudança do clima”? É uma coisa que não acaba mais. Criaram, até mesmo, a “ciência” da “climatologia” — e isso simplesmente não existe. O cidadão que se apresenta como “climatologista” é, com toda a probabilidade e salvando-se notáveis exceções, um farsante. Tudo o que ele sabe, ou finge saber, está plenamente compreendido em outras disciplinas científicas; para que, agora, essa “climatologia”? Mas a mídia publica, dia e noite, entrevistas assustadoras com os “climatologistas”. Fazem seminários, presidem webinários e aparecem na entrega do Oscar. Qualquer coisa que digam é aceita com a certeza com que se recebe o cálculo da área do triângulo. O resultado é o avanço da ignorância autoritária, do charlatanismo escrito em inglês e da superstição fantasiada de pesquisa de Harvard.

O fato objetivo, comprovado pela aplicação honesta dos procedimentos científicos fundamentais, é que não existe no mundo a “emergência climática” — isso mesmo, não existe, muito pura e muito simplesmente. Não se trata de uma opinião de jornalista ignorante. É a conclusão de um estudo liderado pelo Prêmio Nobel norueguês Ivar Giaever, assinado por mais de 1.100 cientistas de todo o mundo, inclusive 14 brasileiros, e divulgado em julho deste ano.  

A “Declaração do Clima Mundial”, como se apresenta o documento, diz que a ideia predominante segundo a qual a atividade humana causa modificações no clima é uma ficção política. O clima da Terra, diz o estudo, vem variando desde que o planeta existe. No presente momento, em particular, a situação real é exatamente oposta ao quadro de calamidade apresentado pela lavagem cerebral da mídia, da elite econômica e da ciência “politicamente correta”: de 1850 para cá, o mundo se aqueceu significativamente menos do que as previsões feitas em cima de modelos baseados na influência humana sobre o ambiente.  

O estudo observa que os “modelos climáticos” usados para demonstrar a ação destrutiva do homem sobre “o clima” não são nem sequer remotamente plausíveis como ferramentas de pesquisa; enquanto não forem substituídos pela aplicação da ciência empírica, baseada na observação da realidade, só podem gerar conclusões falsas. Os 1.100 cientistas declaram, enfim, que não há nenhuma evidência estatística de que o “aquecimento global” está tornando mais graves, ou mais frequentes, os furacões, enchentes, secas e outros fenômenos naturais — e afirmam que o “perigo” do carbono na atmosfera é um fetiche. “Nós nos colocamos francamente contra a política de carbono zero para 2050”, afirmam eles. O estudo, naturalmente, foi boicotado pela imprensa mundial e pela ditadura que controla a produção científica de hoje.

É natural que seja assim. A “climatologia” e os “climatologistas” prosperam através das turbinas de um lobby que envolve, quando se soma tudo, literalmente trilhões de dólares. A “mudança de clima” fornece milhares de empregos, na maioria bem pagos, diretorias, consultorias, presença em conselhos de multinacionais, verbas bilionárias nas universidades e nos centros de pesquisa, circulação para a mídia, viagens, conferências de cúpula em Sharm el-Sheikh, ou coisa que o valha, e todo o tipo de boca-livre. A conversa ali, em boa parte do tempo, é sobre verbas, subsídios e caça às fortunas das fundações pró-virtude, ao dinheiro de governos de países ricos e ao caixa das organizações internacionais. Cada projeto é um negócio. 
Uma expedição ao Polo Norte, por exemplo, com um navio-base, centenas de participantes e frota de apoio, com toneladas em mantimentos e brinquedos tecnológicos de última geração, é um prêmio de mega sena. 
 
Ficam nisso meses inteiros, com salários altos e todas as despesas pagas; o grande objetivo é chegar a conclusões que levem os patrocinadores a pagar a expedição do ano seguinte. Ficam medindo a temperatura do gelo, ou coisas assim, e sempre constatam que a situação é “crítica”, a ameaça é “grave” e o prosseguimento das pesquisas (”temos de entender melhor o que está acontecendo”) é “indispensável”. Pode ser a última chance de “salvar o planeta”. É “urgente”. As fundações, as empresas e os políticos soltam o dinheiro. No fim de todas as contas, o que se pode verificar de mais concreto é que os grandes beneficiários da climatologia, até agora, tem sido os climatologistas.

A essência vital da “ciência climática”, e de muito do que se pode observar na filosofia ambiental ou ecológica, é a sua feroz hostilidade ao ser humano e sobretudo o ser humano pobre, a quem se nega cada vez mais o direito de viver, pois suas vidas incomodam a “natureza” muito mais que as vidas dos ricos. Já se ouviu, em Manhattan, uma intelectual desesperadamente fiel à correção de sua consciência e às suas obrigações perante o planeta, propor a evacuação dos atuais 20 milhões de habitantes da Amazônia para “salvar a floresta”. Heimmmmm? Como assim, “evacuação”? Para onde?  
Só se faz evacuação de populações inteiras em ditaduras alucinadas; é coisa de Stalin, Pol Pot, Mao Tse-tung e outros assassinos patológicos. Mas aqui nós estamos falando em “Amazônia”; as classes que ganham para cima de US$ 1 milhão por ano, moram em guetos milionários e trabalham na Disney, ficam cegas e começam a dizer coisas deste tipo
 
É a mesma atitude dos NatGeo, Animal Planet e outros canais de entretenimento que funcionam hoje em dia como polícia ecológica. Num documentário recente feito por um deles, o apresentador relatou a tragédia de uma tribo miserável da África: um leão tinha comido uma criança, e ele estava entrevistando o pai. Ao fim da história, o sujeito diz que era necessário achar uma solução para o problema — o problema do leão. Era inadmissível, concluiu, que a tribo continuasse a causar stress nos leões, “ocupar” o “seu território” e interferir no “equilíbrio ambiental” e nas suas fontes de alimentação. Ficamos assim, então. Um leão que for visto andando pelo centro de Londres, digamos, onde poderia comer um editor do The Economist ou algo assim, vai ser morto a tiros de fuzil pela SWAT. Um leão na África não pode ser tocado vai comer uns pretos nessa ou naquela aldeia, mas e daí? Problema deles, que ficam interferindo com a vida pessoal dos leões.

A falsa ciência, naturalmente, não tem se mostrado capaz de paralisar o mundo. A ciência de verdade continua a ser utilizada para fazer aviões da Boeing, usinas que produzem energia elétrica e cirurgias de cérebro.   A água, mesmo nos estudos científicos de Oxford ou de Princeton, continua a ferver aos 100 graus centígrados e o ângulo reto permanece com os 90 graus que sempre teve. O homem, afinal, tem de viver — e os cientistas do clima também. 
Mas a catástrofe que a falsa ciência tem trazido para o conhecimento humano vai cobrar um preço cada vez mais alto — e quem vai pagar são os que mais precisam do progresso.

Leia também J.R. Guzzo - Colunista - Revista Oeste

 

 

sábado, 8 de outubro de 2022

Ditadura em construção - J. R. Guzzo

Revista Oeste
 
O último surto de violência do STF-TSE foi rasgar da forma mais primitiva que se possa imaginar a Constituição: censuraram, sem o mínimo apoio em qualquer tipo de lei, o diário Gazeta do Povo
 
O Brasil caminha para o segundo turno das eleições, aquele que vai decidir quem será o presidente do país nos próximos quatro anos, sob o controle de uma ditadura. 
É algo inédito na história nacional — uma ditadura exercida não por um ditador com o apoio do Exército, mas pelo Supremo Tribunal Federal, o TSE, sua principal ferramenta nesta eleição, e os fungos que se espalham à sua volta nos palácios de paxá onde se hospedam os “tribunais superiores” de Brasília.
 
 
 O jornal <i> Gazeta do Povo </i> também foi vítima da censura do TSE | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução
 
O jornal Gazeta do Povo também foi vítima da censura do TSE | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução 

 O fato de não ter existido uma coisa dessas até agora, naturalmente, não muda em nada sua essência de tumor maligno; é ditadura nova, mas destrói a democracia como qualquer ditadura velha. 
STF e TSE fazem hoje o que bem entendem com o cidadão brasileiro, sem controle de ninguém — e isso inclui acima de tudo, neste momento, colocar Lula de novo na presidência da República. Está valendo qualquer coisa, aí. 
Os atuais proprietários da cúpula do Poder Judiciário decidiram que Lula tem de ser declarado vencedor da eleição do dia 30 de outubro, de qualquer jeito. 
É a única conclusão que aceitam para as atividades de militância política que têm exercido nos últimos anos. Os ministros e as forças que giram em volta deles, na verdade, vêm dando o seu golpe de estado desde 2018 — quando decidiram não aceitar a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais e passaram a destruir as leis para expulsar o seu inimigo da política brasileira. Chegaram, agora, ao momento decisivo do seu projeto.
O ditador Daniel Ortega e Lula | Foto: Reprodução
O último surto de violência da ditadura STF-TSE foi rasgar da forma mais primitiva que se possa imaginar a Constituição Federal do Brasil: censuraram, sem a mínima tentativa de disfarçar o que estavam fazendo, e sem o mínimo apoio em qualquer tipo de lei, o diário Gazeta do Povo, que circula há mais de 100 anos e comete o crime, hoje, de ser um veículo independente, afastado da esquerda, do “consórcio nacional de veículos” e dos seus sonhos de impor ao Brasil a imprensa de um jornal só. A Gazeta publicou no Twitter, como haviam feito outras postagens, notícias sobre a expulsão da rede CNN da Nicarágua, e registrou as maciças ações de repressão feitas pela ditadura local contra a religião e os religiosos. Lula não gostou: vive há anos uma paixão tórrida com o ditador Daniel Ortega, e ficou com medo de que a tirania do companheiro pudesse lhe tirar algum voto no segundo turno, este mesmo que ele diz que já ganhou. 
Não gostou e correu ao TSE para pedir censura contra a Gazeta do Povo — alguém poderia achar que ele, sendo um admirador tão declarado do ditador, seja também um admirador dos atos da sua ditadura. 
Foi atendido na hora, é claro, como em tudo o que exige dos ministros do alto judiciário. Tem sido assim desde o primeiro dia da campanha eleitoral; Lula manda, o TSE obedece. Vai ser assim até o último. Isso é democracia ou é ditadura?

Uma coisa é certa: depois que começa um processo de destruição das liberdades, as tiranias nunca devolvem o que tiraram

É da essência das ditaduras fazer coisas exatamente como essa; ao mesmo tempo em que agridem grosseiramente as leis, colocam de pé, peça por peça, um absurdo em estado puro: proibiram a Gazeta do Povo de divulgar fatos absolutamente públicos, no mundo inteiro, e já apresentados em toda a mídia mundial.  
Como transformar em coisa secreta algo que milhões de pessoas já estão sabendo? É como Dilma com a sua pasta de dente — depois que saiu do tubo, não há como pôr de novo para dentro. 
Nada mais natural, nesta mesma falsificação desesperada das realidades, do que o delírio judicial de negar o encanto mútuo Lula-Ortega.  
O ministro que obedeceu à ordem de Lula, neste caso da Nicarágua, sustentou que a publicação das informações e opiniões censuradas podia dar a impressão — imaginem só, “dar a impressão” que Lula apoiaria o ditador; isso seria “inverídico”. Como assim — “inverídico”?  
Há vídeos gravados com os elogios de Lula a Ortega. 
O PT soltou, até mesmo, uma nota oficial de apoio ao tirano e à sua tirania. O que mais o TSE e os seus ministros querem? 
O fato é que Lula dá as ordens, com uma arrogância que o regime militar nunca chegou a ter, e o TSE obedece — o resto é pura invenção.

É preciso um esforço sobrenatural para se ter confiança na limpeza de uma eleição feita desse jeitoe, de qualquer modo, como se podem esperar eleições democráticas numa ditadura? 
O STF, a esquerda e o vasto consórcio que vai da mídia aos empreiteiros de obras e aos banqueiros socialistas montaram um embuste para retomar o poder que haviam perdido. 
Começaram, desde a eleição de 2018, a dizer que Bolsonaro iria “destruir a democracia”; para salvar o Brasil deste horror, então, os ministros do STF passaram a violar de forma sistemática as leis, para perseguir o governo e seus adeptos, e a dar cada vez mais poderes a si próprios. Disso resultou a ditadura que temos hoje aí. Ainda não tem tudo aquilo que uma ditadura precisa, como nas Nicaráguas e Cubas que as supremas cortes colocaram sob sua proteção por determinação de Lula. Mas uma coisa é certa: depois que começa um processo de destruição das liberdades, as tiranias nunca devolvem o que tiraram — ao contrário, vão tirando cada vez mais. 
 
Lula, mesmo sem ter o seu precioso “controle social sobre os meios de comunicação”, já pratica a censura agora; proíbe notícias sobre a Nicarágua e é obedecido no ato. 
E depois que for presidente — por acaso vai de parar de censurar? 
Vai ouvir democraticamente as críticas e as informações que o desagradam? 
E os seus parceiros dos tribunais superiores? 
Eles violam a lei e a Constituição agora. Vão parar de fazer isso depois do dia 30 de outubro? 
Todos aí — Lula, STF e quem mais está do seu lado — se convenceram, da maneira mais conveniente para eles todos, que para salvar a democracia é preciso destruir a democracia todos os dias
É uma fraude, mas está dando certo — parar por que, então?
A ditadura pode não estar completa, mas já tem o seu currículo de obras. Fazem censura, como no caso da Gazeta do Povo. Pressionam, exatamente pelos mesmos motivos, o programa Os Pingos nos Is, da Rádio Jovem Pan
Mandam a polícia às 6 horas da manhã invadir residências e escritórios de cidadãos cujo delito foi conversar entre si num grupo particular de WhatsApp. 
“Desmonetizam” quem apoia o governo nas redes sociais, ou fala mal do complexo Lula-PT. Prendem pessoas que não têm ninguém a quem recorrer — só ao próprio STF, o que transforma os seus direitos numa piada. 
Bloqueiam contas no banco para punir gente de “direita” — ser de “direita” passou, na prática do STF, a configurar infração penal.  
Prendeu durante nove meses um deputado federal em pleno exercício do mandato — por delito de opinião, o que é proibido de forma absoluta na lei, sem que ele tivesse cometido crime inafiançável e sem que fosse preso em flagrante na prática deste crime. 
 
Foi um triplo zero em matéria de legalidade. A ditadura do judiciário, a propósito, ignora até hoje o perdão legal que o deputado recebeu do presidente da Repúblicaproibiu a sua candidatura nessas eleições, é claro, e o impede de exercer os seus direitos de cidadão. Por que não poderia acontecer de novo, no minuto que Alexandre Moraes ou outro resolva? 
Ele tem a polícia debaixo das suas ordens diretas; num país em que as forças armadas têm armas, mas não têm autoridade para fazer nada, é mais do que suficiente para qualquer violência.

No Brasil fica na cadeia quem os ministros STF querem, e por quanto tempo quiserem

Fala-se muito, desde o dia da eleição, em crescimento do número de adeptos do presidente Bolsonaro no Senado — e a ”nova situação” que isso poderia trazer para o STF. 
Mas o que vale na vida real o mandato de um senador, ou de qualquer parlamentar eleito pela população brasileira? Não vale nada. 
 Alexandre Moraes, ou algum barroso, fachin, etc. que anda por aí pode mandar a Polícia Federal prender qualquer senador, e na hora que lhe der na telha. A PF vai obedecer hoje ela não cumpre mais as leis do país, cumpre apenas as ordens de Moraes, como numa capatazia de senzala
O presidente do Senado vai perguntar se o Supremo quer mais alguma coisa; querendo é só pedir, Excelência
O infeliz do senador pode ficar trancado numa cela por quanto tempo o STF quiser — até o resto da vida, em tese, pois a vítima não poderá recorrer à justiça para fazer valer seus direitos. 
Só pode recorrer a quem ordenou a sua prisão. 
 
Que tal? É verdade que prisão de senador é coisa que não aconteceu até hoje. Não aconteceu porque não foi preciso.  
O Senado, o único poder da República que pode tomar medidas para deter o STF, vive de quatro diante dos ministros, que julgam as causas dos escritórios de advocacia ligados aos senadores, sem falar dos enroscos de muitos deles com o Código Penal. Esperar o que disso aí?  
Nem um abaixo-assinado com 3 milhões de assinaturas pedindo o julgamento de ministros do STF por violação das leis foi aceito pelo presidente do Senado: o que mais seria preciso, para mostrar a vontade da população nesse caso? 
Quem decide se os pedidos são examinados ou não é o presidente do Senado, e o cidadão que está atualmente nesta cadeira é possivelmente o senador mais obediente do mundo
trata os membros do STF não como pares de um outro poder, mas como senhores a quem deve vassalagem. 
Ele é um beneficiário direto da ditadura do Judiciário. Por que iria mudar?[Foi quando lembraram de Pacheco e seu “imenso  talento”: não criar problemas para ninguém. CONFIRA]
O centro da infecção está intacto, e, como em geral acontece nestes casos, a infecção se espalha pelo organismo todo; é difícil haver ditadura de um lado e democracia de outro. 
O ex-presidente de um partido político de direita, para acrescentar um último exemplo, está preso, em prisão domiciliar. 
Não existe a mais remota indicação de que possa sair de lá um dia, porque Moraes não quer que ele saia, os outros ministros vão atrás, e acabou a conversa. 
Em democracia de verdade cadeia é só para quem está condenado legalmente ou aguardando o julgamento, que tem de ser feito dentro de prazos fixados em lei; no Brasil fica na cadeia quem os ministros STF querem, e por quanto tempo quiserem. Dizem que “não é assim”. Mentira; é exatamente assim. 
Também dizem que estão salvando a democracia com censura à imprensa, polícia na casa das pessoas às 6 da manhã e a autoridade eleitoral posta a serviço de um dos candidatos. 
É golpe, apenas isso — um golpe que está a caminho de sua conclusão.

Leia também “À sombra da corrupção sem limites”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 1 de março de 2021

Brasil não precisa da Petrobras, e é mentira que a estatal seja ‘estratégica’ para o país - JR Guzzo

A mera existência da empresa e das outras estatais comprova que o Brasil Velho está cada vez mais forte

De duas uma: ou o presidente da Petrobras, que acaba de ser posto no olho da rua, era bom ou era ruim.  
Se era bom, por que foi demitido? Se era ruim, o que estava fazendo lá até agora?  
Todos os que têm posições definitivas sobre este assunto, e que amaldiçoam qualquer ponto de vista diferente do seu, ficam convidados a oferecer alguma outra alternativa; estarão perdendo o seu tempo, pois não existe uma outra alternativa. Esse último desastre, mais um na longa folha corrida da maior empresa estatal brasileira, é apenas a comprovação mais recente de que nosso símbolo augusto da pátria e ente sagrado da “soberania nacional”, além de outras bobagens da mesma família, está organizado de forma a viver perpetuamente numa situação de jogo dos sete erros. Tudo ali só pode dar errado, mais cedo ou mais tarde, porque a natureza da Petrobras torna impossível que alguma coisa dê certo.

A empresa, ao lado de todas as suas irmãs estatais, é um dos alicerces mais delirantes do Brasil Velho — e esse é um Brasil que está condenado a fracassar. É o Brasil do “Estado”, que não muda nunca e prejudica a todos, salvo as minorias: impede a liberdade econômica, bloqueia a real criação e distribuição de riqueza e mantém a população brasileira no seu estado permanente de servidão aos que são donos da máquina do Estado

O salseiro da vez, como uma criança de dez anos de idade seria capaz de entender, aconteceu porque o preço da gasolina, e sobretudo do óleo diesel, vem subindo, os caminhoneiros estão agitados e ninguém no governo sabe ao certo o que fazer a respeito — ou, se alguém sabe, não está dizendo para ninguém. 
Diminuir os impostos de 45% que o cidadão paga a cada litro que compra na bomba? Nem pensar. Governos têm horror a mexer naqueles impostos dos quais as pessoas não podem fugir, como gasolina, luz e telefone — a não ser, é claro, se a mexida for para cima. 
De outro jeito, como é que se vai pagar a lagosta dos ministros do Supremo, a aposentadoria dos almirantes de esquadra e o auxílio-creche dos procuradores de Justiça? Então: se a coisa fica ruim, e quem está nos galhos de cima precisa dar a impressão de que está fazendo “alguma coisa”, a saída é jogar a culpa na Petrobras e demitir o presidente da empresa — sem tocar nem de leve, é claro, no monopólio funesto que ela tem no universo dos combustíveis.
No caso, e como sempre acontece, arrumaram em cinco minutos uma variada lista de crimes cometidos pelo presidente da vez. 
De uma hora para outra, descobriram que o homem ganhava R$ 50 mil por semana; foi o próprio presidente da República, escandalizado, quem revelou essa aberração ao público pagante. Por que raios, então, o governo ficou dois anos inteiros pagando estes salários de paxá — só agora começaram a achar caro? O demitido, segundo se soube na mesma ocasião, estava há 11 meses sem comparecer ao local de trabalho, escondido da Covid. De novo: por que não foi mandado embora antes? Não é possível um sujeito ficar trancado em casa fazendo home office e levarem 11 meses para saber disso. Revelou-se, também, que há uma “caixa preta” na Petrobras, e que a empresa está forrada de desocupados que ganharam seus empregos durante o reinado de Lula-Dilma. É mesmo? Não digam — quem poderia imaginar uma coisa dessas, não é?

O governo, afinal, está aí há mais de dois anos; por que deixaram as coisas assim durante esse tempo todo? O presidente da República disse que só soube do desastre há “algumas semanas”. Se não soube antes é porque não quis saber — como é que um cidadão ocupa a presidência da maior empresa estatal do Brasil sem que o responsável por sua nomeação saiba quanto ele ganha, ou se vai todo dia ao serviço? Se este é o grau de informação que o presidente Jair Bolsonaro tem sobre o seu próprio governo, a troca na Petrobras não vai adiantar nada; é possível, pelo ritmo dessa balada, que daqui a dois anos o público seja presenteado com a informação de que tudo continua errado. A propósito: o general que foi para o lugar do presidente demitido vai ganhar menos do que ele estava ganhando?

O problema, na verdade, não é o presidente da Petrobras — o problema é a Petrobras. É possível que no passado tenha havido razões válidas para criar a empresa; é uma questão para os historiadores. O certo é que há muito tempo ela não deveria mais existir na sua forma atual de monopólio controlado pelo governo. “O perigo não é privatizar a Petrobras”, diz o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, um dos raríssimos políticos brasileiros de primeira linha que não vive de quatro diante da empresa. “O perigo é a Petrobras continuar sendo estatal”. De fato, muito pouca coisa que se diz em favor da companhia faz algum sentido lógico. A empresa não pertence “ao povo brasileiro”, como se diz há quase 70 anos; o povo brasileiro não passa nem pela catraca de entrada do saguão. Ela é propriedade exclusiva dos seus altos diretores, tanto mais exclusiva quanto mais altos eles são — e, ao mesmo tempo, dos funcionários e da politicalha que contamina a Petrobras desde o dia da sua fundação.

Dinheiro, então, podem esquecer. O cidadão brasileiro de carne e osso jamais viu um único centavo dos lucros da Petrobras desde 1953 até hoje — salvo, naturalmente, aqueles que puseram a mão no próprio bolso para comprar ações da companhia. Todo o dinheiro ganho pela Petrobras (R$ 7 bilhões em 2020, um dos piores da sua história) vai direto para o Tesouro Nacional, onde desaparece como se tivesse entrado no Triângulo das Bermudas — se o Estado vive dizendo que não tem dinheiro para comprar nem um pano de prato, para que servem, então, os tais “lucros”? Pior: com o seu monopólio de fato sobre o setor, os donos da Petrobras impedem a descoberta de mais petróleo dentro do Brasil, travam a criação de novos empregos, limitam a arrecadação de impostos e, no fim das contas, agem ativamente contra o progresso, a multiplicação de oportunidades e uma maior igualdade social. O governo que faça o serviço direito: ponha a gasolina a R$ 1 o litro logo de uma vez

É mentira — a sua mentira mais velha e mais repetida — que a Petrobras seja “estratégica” para o Brasil e que sua existência atenda ao “interesse nacional”; o país não precisa da Petrobras, ou de qualquer outra empresa estatal com atuação no mercado, para rigorosamente nada. Tudo o que elas fazem pode ser feito perfeitamente pelo capital privado — e sem ônus algum para o público. A Petrobras é estratégica, isso sim, para militantes de esquerda, generais do Exército e ministros do Supremo; é extremamente estratégica, com certeza, para os diretorzões que metem no bolso R$ 50 mil reais por semana, pagos integralmente pela população deste país. Como dito no início, a empresa dá errado em tudo, mas dá certíssimo para os que mandam nela.

No Brasil já houve, embora pouca gente ainda se lembre, monopólio de empresas estatais sobre a telefonia. Telefone? Era algo absolutamente estratégico para os interesses do Brasil; não podia ficar entregue a essa gente que só pensa em lucro. O único resultado prático é que ninguém tinha telefone. Hoje, depois da privatização, só de smartphones há mais de 230 milhões de aparelhos ativos; some-se a isso 180 milhões de computadores pessoais. A Petrobras é responsável pelo mesmo tipo de atraso — seu monopólio explícito, que proíbe as empresas privadas de explorarem qualquer área promissora, é um atraso de vida em estado puro. 
Qual empresa, nacional ou estrangeira, vai querer procurar petróleo em lugares onde não há petróleo? 
A Petrobras não tem dinheiro para fazer tudo sozinha nas áreas de exploração que oferecem melhores perspectivas de sucesso. E sem capital privado para investir, como o país poderia desenvolver novos campos e aumentar a produção nacional?
O monopólio estatal, além disso, falsifica os custos e os preços ao consumidor dos combustíveis. Isso também é considerado “estratégico”, pois os amigos da Petrobras, inocentes ou não, acham que o litro de gasolina é importante demais para ficar “por conta do mercado” — como ocorre com todas as demais mercadorias, da saca de cimento ao quilo de arroz. 
(Por alguma razão não divulgada, a religião estatista parece considerar que comida não é estratégico.) 
O governo do momento quer ter na mão a caneta que controla o preço do tanque de combustível? 
Quer salvar o povo? 
Então que faça o serviço direito: ponha a gasolina a R$ 1 o litro logo de uma vez e deixe que a Petrobras se exploda. Para isso, basta comprar as ações que estão com o público e arrumar um “fundo emergencial” para manter viva a empresa e os R$ 50 mil por semana dos gatos gordos, não é mesmo?
Quem diz Petrobras diz empresa estatal: todas as demais, sem nenhuma exceção, são igualmente inúteis e 100% nocivas à saúde do cidadão. 
O tão celebrado Banco do Brasil, por exemplo: num momento em que os bancos de todo o sistema solar, por uma questão essencial de sobrevivência, estão fechando agências e migrando para a prestação eletrônica dos seus serviços, o presidente da empresa pensou que o BB, também ele, deveria fazer alguma coisa. 
Pobre homem: o presidente da República já roncou o seu desagrado, tipo Petrobras, e se ele não quiser ir pelo mesmo caminho do colega, já pode ir mudando de ideia. Esperar o que, num país em que o governo, por meio do seu ministro de Transportes, se recusa a fechar a estatal do “Trem Bala”? 
O ministro diz que a empresa é “estratégica”um caso único no mundo, possivelmente, em que uma coisa que não existe, nem vai existir nunca, é considerada estratégica. [um comentário: no Brasil é possível - o Ministério da Saúde, tem sido compelido,  com frequência,  por decisão judicial, a apresentar um Plano de Vacinação,com cronograma e tudo o mais, sem conhecer com segurança, certeza a data da disponibilidade da vacina - que não depende do governo fixar datas;
- nos parece que o governador do Amazonas, ou foi o do Acre, recebeu determinação judicial para  dias adquirir em prazo exíguo,dias vacina contra a covid-19, para imunizar  os habitantes do estado. 
Esqueceram que a vacina não é fabricada pelo Brasil - a 'montada' no Brasil depende do IFA chinês - e as entregas dependem exclusivamente de empresas e governos estrangeiros = em sua maior parte da China, cujo governo ignorará, olimpicamente, qualquer mandado judicial, mesmo que emitido pelo STF,  para cumprir algum prazo.]

Eis aí o Brasil Velho, cada vez mais velho — e cada vez mais forte.

J.R. Guzzo, jornalista - Jovem Pan - Opinião