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sábado, 31 de dezembro de 2022

A mentira da mudança do clima - J. R. Guzzo

Revista Oeste

Para não ser “cancelado”, proibido de expor as suas ideias ou simplesmente manter o seu emprego, o cientista do século 21 tem de obedecer cegamente à religião da “ciência progressista” 

 Rua coberta de neve, em Buffalo, Nova Iorque, durante a tempestade Elliot, a pior nevasca da história da comunidade, em 24/12/2022 | Foto: Wikimedia Commons

 Rua coberta de neve, em Buffalo, Nova Iorque, durante a tempestade Elliot, a pior nevasca da história da comunidade, em 24/12/2022 | Foto: Wikimedia Commons 

Ano após ano, área após área, a ciência mundial tem estado sob ataque — o mais destrutivo desde a escuridão que a Igreja Católica, até o século 17, impôs ao pensamento humano. Era proibido, então, fazer a mais modesta indagação científica, ou simplesmente utilizar a razão para investigar questões básicas da vida. O cidadão era queimado na fogueira dos padres e dos bispos por tentar investigar, por exemplo, as causas físicas de uma doença, ou o movimento na Terra em volta do sol; era pecado mortal, como heresia, servir-se do livre pensar e do livre arbítrio para chegar a qualquer conclusão sobre questões do espírito ou fatos materiais. Ao fazer essas coisas, a pessoa estava desafiando o Plano Geral de Deus, que obviamente queria manter em segredo, ou sem explicação, tudo aquilo que o homem não entendia — não cabia ao homem, em nenhuma hipótese, presumir que seria capaz de descobrir aquilo que Deus, em sua sabedoria infinita, tinha decidido que não deveria ser descoberto. [FATO: o que DEUS não quer que seja descoberto, não quer que seja alterado, simplesmente NÃO É DESCOBERTO OU ALTERADO.] Hoje, quatro séculos depois, volta-se ao tempo de Galileu Galilei — obrigado, para escapar da pena de morte imposta pela Igreja, a dizer que a Terra não se movia. 

Para não ser “cancelado”, proibido de expor as suas ideias ou simplesmente manter o seu emprego na universidade, nos centros de pesquisa e nas repartições burocráticas do Estado, o cientista do século 21 tem de obedecer cegamente à religião da “ciência progressista”, socialmente responsável e destinada a construir um mundo “sustentável”.

Esta religião e este mundo são os de Bill Gates e de seus parceiros bilionários que a cada ano fazem discursos em Davos — e ao mesmo tempo de todos aqueles que, de alguma forma ou por algum tipo de descompensação, sonham confusamente com o fim do capitalismo e a sua substituição por algo que não sabem o que é, mas têm certeza de que é “melhor”. 
Têm vidas, comportamentos e patrimônios opostos uns dos outros; um militante ecológico padrão, um professorzinho de universidade que dá entrevistas na mídia como “especialista” ou um paxá do Vale do Silício que faz doações de US$ 100 milhões para salvar a humanidade, têm tão pouco a ver entre si que poderiam viver em planetas diferentes. 
 
Mas, no geral e no fundo, acabam querendo a mesma coisa: o fim do progresso econômico. O mundo, para eles, tem de parar onde está; quem tem US$ 100 bilhões, é claro, continua com os seus 100 bi, e você continua com os trocadinhos que tem no bolso.  
Não se pode mexer em um átomo da Amazônia, da África, da Groenlândia ou, na verdade, de qualquer ponto do mundo, habitado ou não. 
É proibido crescer. É proibido mudar. É proibido usar o solo para produzir alimento, ou para extrair recursos indispensáveis à vida humana. 
É proibido consumir energia. É proibido nascer mais gente — e os que já nasceram, e vivem na pobreza, não podem querer melhorar de vida. 
O problema insuportável, para a nova ciência dessa gente, é o que ela mesma, talvez sem perceber, chama de “humanos”. São esses desgraçados que atrapalham o bem-estar das árvores, dos bichos e das pedras. Interferem na natureza, que deveriam apenas contemplar. Consomem água, oxigênio e espaço. Precisam comer, precisam usar algum tipo de tecido para se vestir, precisam morar em casas melhores que cavernas. 
Gastam, no maior horror dos horrores, combustívelé um crime, realmente, contra quem viaja de jatinho, desliza pelo mar em iates de 150 pés e anda de bicicleta de dez marchas, nos momentos em que não está em seus SUVs de R$ 1 milhão.  
Um mundo sem “humanos”, em suma, seria o ideal.
A ciência diante da qual se ajoelham hoje bilionários, devotos amadores do meio ambiente e devotos profissionais que ganham a vida em universidades, centros de pesquisa, empresas “sustentáveis” e “agências reguladoras” é, acima de tudo, totalitária. Ela decreta, em seus comitês, burocracias e igrejinhas, que alguma coisa é assim ou assado; a partir daí, obrigatoriamente, essa coisa tem de ser assim ou assado. 
Foi eliminada, simplesmente, a pergunta mais fundamental da ciência, desde que o homem adquiriu a capacidade de utilizar o seu cérebro para pensar: “O que é isso?” Ou, de outra forma: “Por que isso é assim?” 
Não se pode mais dizer: “Não tenho certeza de que tal coisa é assim. Gostaria de observar os fatos objetivamente, mas de outro ponto de vista, e verificar se chego a alguma conclusão diferente da que é aceita neste momento”. Ou seja: estão banidas a dúvida, a curiosidade, a investigação física, a discussão livre, a troca de ideias e os demais princípios fundamentais que fizeram a ciência evoluir da descoberta da roda até o que ela é hoje. Em vez de verdade científica o que se tem agora é fé — e, pior que isso, a obrigação de ter fé. 
 
Ciência não é mais o resultado do estudo sistemático das estruturas do mundo material, através da observação, das experiências e de testes capazes de comprovar com fatos concretos as deduções obtidas. Ciência é aquilo que os cientistas, pesquisadores e agentes do Estado, com o apoio da mídia, dizem que é ciência. No tempo da treva, quando isso ou aquilo parecia incompreensível, a Igreja dizia: “Deus quis assim. Não tente entender. É pecado entender.” Hoje está voltando a ser exatamente a mesma coisa. “Os estudos científicos dizem que é assim”, afirmam os mandarins da ciência. “Não tente entender. É negacionismo entender.”

Estão banidas a dúvida, a curiosidade, a investigação física, a discussão livre, a troca de ideias e os demais princípios fundamentais que fizeram a ciência evoluir da descoberta da roda até o que ela é hoje

Em nenhuma área do conhecimento essa degeneração da ciência é tão agressiva como nas questões ligadas ao meio ambiente — e especialmente, neste momento, a tudo aquilo que se entende como “mudanças do clima”. O fundamento principal do colapso da ciência verdadeira em favor da crença climática é a ideia absurda segundo a qual o homem pode “combater” a “mudança do clima”como se a Era do Gelo, o Dilúvio Universal e a separação dos continentes tivessem dependido do comportamento humano. Isso, sim, era mudança climática para ser levada a sério — não os 40 graus de calor em Copacabana no meio do mês de janeiro. Mas hoje é tudo culpa do clima. O “aquecimento global”, mesmo quando as pessoas estão morrendo de medo de passar frio neste inverno na Europa, por escassez de calefação, é culpado pelo sol, a chuva, a seca, a enchente — e também por terremoto, maremoto, vulcão, maré alta, maré baixa, a barragem de Sobradinho, o urso polar que não encontra comida, o aumento de mortos na escalada do Everest. 

Cobra-se dos políticos: “O que o seu programa prevê para deter a mudança do clima”? É uma coisa que não acaba mais. Criaram, até mesmo, a “ciência” da “climatologia” — e isso simplesmente não existe. O cidadão que se apresenta como “climatologista” é, com toda a probabilidade e salvando-se notáveis exceções, um farsante. Tudo o que ele sabe, ou finge saber, está plenamente compreendido em outras disciplinas científicas; para que, agora, essa “climatologia”? Mas a mídia publica, dia e noite, entrevistas assustadoras com os “climatologistas”. Fazem seminários, presidem webinários e aparecem na entrega do Oscar. Qualquer coisa que digam é aceita com a certeza com que se recebe o cálculo da área do triângulo. O resultado é o avanço da ignorância autoritária, do charlatanismo escrito em inglês e da superstição fantasiada de pesquisa de Harvard.

O fato objetivo, comprovado pela aplicação honesta dos procedimentos científicos fundamentais, é que não existe no mundo a “emergência climática” — isso mesmo, não existe, muito pura e muito simplesmente. Não se trata de uma opinião de jornalista ignorante. É a conclusão de um estudo liderado pelo Prêmio Nobel norueguês Ivar Giaever, assinado por mais de 1.100 cientistas de todo o mundo, inclusive 14 brasileiros, e divulgado em julho deste ano.  

A “Declaração do Clima Mundial”, como se apresenta o documento, diz que a ideia predominante segundo a qual a atividade humana causa modificações no clima é uma ficção política. O clima da Terra, diz o estudo, vem variando desde que o planeta existe. No presente momento, em particular, a situação real é exatamente oposta ao quadro de calamidade apresentado pela lavagem cerebral da mídia, da elite econômica e da ciência “politicamente correta”: de 1850 para cá, o mundo se aqueceu significativamente menos do que as previsões feitas em cima de modelos baseados na influência humana sobre o ambiente.  

O estudo observa que os “modelos climáticos” usados para demonstrar a ação destrutiva do homem sobre “o clima” não são nem sequer remotamente plausíveis como ferramentas de pesquisa; enquanto não forem substituídos pela aplicação da ciência empírica, baseada na observação da realidade, só podem gerar conclusões falsas. Os 1.100 cientistas declaram, enfim, que não há nenhuma evidência estatística de que o “aquecimento global” está tornando mais graves, ou mais frequentes, os furacões, enchentes, secas e outros fenômenos naturais — e afirmam que o “perigo” do carbono na atmosfera é um fetiche. “Nós nos colocamos francamente contra a política de carbono zero para 2050”, afirmam eles. O estudo, naturalmente, foi boicotado pela imprensa mundial e pela ditadura que controla a produção científica de hoje.

É natural que seja assim. A “climatologia” e os “climatologistas” prosperam através das turbinas de um lobby que envolve, quando se soma tudo, literalmente trilhões de dólares. A “mudança de clima” fornece milhares de empregos, na maioria bem pagos, diretorias, consultorias, presença em conselhos de multinacionais, verbas bilionárias nas universidades e nos centros de pesquisa, circulação para a mídia, viagens, conferências de cúpula em Sharm el-Sheikh, ou coisa que o valha, e todo o tipo de boca-livre. A conversa ali, em boa parte do tempo, é sobre verbas, subsídios e caça às fortunas das fundações pró-virtude, ao dinheiro de governos de países ricos e ao caixa das organizações internacionais. Cada projeto é um negócio. 
Uma expedição ao Polo Norte, por exemplo, com um navio-base, centenas de participantes e frota de apoio, com toneladas em mantimentos e brinquedos tecnológicos de última geração, é um prêmio de mega sena. 
 
Ficam nisso meses inteiros, com salários altos e todas as despesas pagas; o grande objetivo é chegar a conclusões que levem os patrocinadores a pagar a expedição do ano seguinte. Ficam medindo a temperatura do gelo, ou coisas assim, e sempre constatam que a situação é “crítica”, a ameaça é “grave” e o prosseguimento das pesquisas (”temos de entender melhor o que está acontecendo”) é “indispensável”. Pode ser a última chance de “salvar o planeta”. É “urgente”. As fundações, as empresas e os políticos soltam o dinheiro. No fim de todas as contas, o que se pode verificar de mais concreto é que os grandes beneficiários da climatologia, até agora, tem sido os climatologistas.

A essência vital da “ciência climática”, e de muito do que se pode observar na filosofia ambiental ou ecológica, é a sua feroz hostilidade ao ser humano e sobretudo o ser humano pobre, a quem se nega cada vez mais o direito de viver, pois suas vidas incomodam a “natureza” muito mais que as vidas dos ricos. Já se ouviu, em Manhattan, uma intelectual desesperadamente fiel à correção de sua consciência e às suas obrigações perante o planeta, propor a evacuação dos atuais 20 milhões de habitantes da Amazônia para “salvar a floresta”. Heimmmmm? Como assim, “evacuação”? Para onde?  
Só se faz evacuação de populações inteiras em ditaduras alucinadas; é coisa de Stalin, Pol Pot, Mao Tse-tung e outros assassinos patológicos. Mas aqui nós estamos falando em “Amazônia”; as classes que ganham para cima de US$ 1 milhão por ano, moram em guetos milionários e trabalham na Disney, ficam cegas e começam a dizer coisas deste tipo
 
É a mesma atitude dos NatGeo, Animal Planet e outros canais de entretenimento que funcionam hoje em dia como polícia ecológica. Num documentário recente feito por um deles, o apresentador relatou a tragédia de uma tribo miserável da África: um leão tinha comido uma criança, e ele estava entrevistando o pai. Ao fim da história, o sujeito diz que era necessário achar uma solução para o problema — o problema do leão. Era inadmissível, concluiu, que a tribo continuasse a causar stress nos leões, “ocupar” o “seu território” e interferir no “equilíbrio ambiental” e nas suas fontes de alimentação. Ficamos assim, então. Um leão que for visto andando pelo centro de Londres, digamos, onde poderia comer um editor do The Economist ou algo assim, vai ser morto a tiros de fuzil pela SWAT. Um leão na África não pode ser tocado vai comer uns pretos nessa ou naquela aldeia, mas e daí? Problema deles, que ficam interferindo com a vida pessoal dos leões.

A falsa ciência, naturalmente, não tem se mostrado capaz de paralisar o mundo. A ciência de verdade continua a ser utilizada para fazer aviões da Boeing, usinas que produzem energia elétrica e cirurgias de cérebro.   A água, mesmo nos estudos científicos de Oxford ou de Princeton, continua a ferver aos 100 graus centígrados e o ângulo reto permanece com os 90 graus que sempre teve. O homem, afinal, tem de viver — e os cientistas do clima também. 
Mas a catástrofe que a falsa ciência tem trazido para o conhecimento humano vai cobrar um preço cada vez mais alto — e quem vai pagar são os que mais precisam do progresso.

Leia também J.R. Guzzo - Colunista - Revista Oeste

 

 

domingo, 13 de março de 2022

Uma tragédia anunciada - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Em apenas 14 meses, a esquerda norte-americana conseguiu o que queria. Como tudo em que mete a mão, o caos

Em 20 de janeiro de 2021, Joe Biden tomou posse na Casa Branca como 46º presidente dos Estados Unidos. Mas não foi apenas o ex-vice de Barack Obama que passou a segurar as rédeas da nação mais poderosa no mundo (até quando, não sabemos…) naquele dia
A esquerda radical norte-americana, representada pelo atual Partido Democrata, também conseguiu o controle da maioria nas duas Casas legislativas do Congresso norte-americano. Joe Biden foi empacotado com o verniz da normalidade democrata moderada dos anos 1990 para, na verdade, forçar uma agenda da extrema esquerda. Para isso, foi preciso um esforço conjunto para empurrar para fora do caminho a reeleição do 45º presidente, Donald Trump, o malvadão do século que mexeu com uma geração hedonista e incapaz de enxergar ações e políticas, apenas sentimentos.
O presidente Joe Biden, a vice Kamala Harris e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos | Foto: Wikimedia Commons
O presidente Joe Biden, a vice Kamala Harris e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos -  Foto: Wikimedia Commons [trio mais conhecido no submundo da INcompetência como Trio Parada Dura.]

Durante quatro anos, de 2016 a 2020, vimos ações tirânicas, como perseguições e censura, que jamais poderíamos imaginar na América de hoje. Instituições financeiras e econômicas, culturais e de entretenimento e quase toda a mídia desempenharam vários papéis para ver o ex-presidente Donald Trump não apenas derrotado, mas também empurrado para dois processos de impeachment, para depois ser banido das redes sociais e descartado como persona non grata após o fatídico 6 de janeiro. 
Depois de meses de investigações sobre a invasão do Capitólio, nenhuma prova contra Donald Trump foi encontrada e qualquer participação do republicano no incidente foi descartada. Mesmo assim, até hoje há uma resiliência quase olímpica por parte dos democratas em associar a confusão na capital norte-americana ao ex-presidente.
 
Mas, em 20 de janeiro de 2021, não houve apenas uma troca de políticos de partidos distintos numa democracia saudável.  
Houve uma histeria quase bizarra por parte de acadêmicos renomados, grandes corporações, toda a casta de Hollywood, a mídia norte-americana, equipes esportivas profissionais, Wall Street, o Vale do Silício e um número inacreditável de jovens desmiolados que pedem a implementação do socialismo na América. Em comum? 
Todos se gabavam da derrota da “supremacia branca”, juraram que fizeram o que fizeram “para salvar a democracia”, e orgulhosos estavam em fazer parte de legiões de czares da “diversidade, equidade, inclusão e justiça social”. Ahh… a partir daquele momento, a teoria racial crítica seria incorporada para extirpar o racismo e a discriminação endêmicos. Como? Abraçando o racismo e a discriminação.

Os novos guerreiros da justiça social
Com a nova administração voltada apenas para o “bem comum” (não de todos), alguns tipos de crimes deveriam ser vistos principalmente como uma construção criada pela elite para proteger seus próprios privilégios patriarcais, suas prerrogativas opressoras e suas propriedades. Furtos em lojas, saques, baderna e bandidos nas ruas passaram a ser apenas parte da vida normal em uma cidade normal. Os novos guerreiros da justiça social também poderiam substituir a polícia, que passaria a não ter recursos nem investimentos (defund de police), porque são racistas. A maioria das políticas para abordagem policial, encarceramento ou prisão obrigatória deixaria de existir porque criminosos são “vítimas da sociedade”.

A partir de janeiro de 2021, as agendas verdes irreais dos ecochatos transformariam fundamentalmente os Estados Unidos, ao colocar um fim imediato nas “mudanças climáticas” provocadas pelo homem com o início do banimento definitivo dos combustíveis fósseis. Os amantes cegos da teoria monetária moderna nos asseguraram que imprimir dinheiro “espalharia a riqueza” e desvalorizaria as moedas de capitalistas indignos que tinham muito dinheiro. Afinal, para eles, imprimir mais dinheiro jogaria o dinheiro do rico nas mãos dos injustiçados. Inflação? Calma. Ela seria uma boa coisa à medida que aparecesse, um sinal de uma classe de consumidores robusta e recém-empoderada, a que há muito tempo é negada “equidade” pelos capitalistas egoístas.

A partir de janeiro de 2021, a fronteira seria aberta e permaneceria aberta para imigrantes ilegais. Chega de xenofobia. Chega de muros. Como cidadãos do mundo, a esquerda norte-americana acolheu 2 milhões de imigrantes que chegaram ilegalmente aos EUA sem nenhum documento ou comprovante de vacinas durante uma pandemia, enquanto membros das Forças Armadas norte-americanas foram ameaçados de expulsão se não tomassem a picada.

À medida que os radicais da extrema esquerda apavoravam toda uma nação e obrigavam os raros democratas moderados a se esconderem, toda a velha sabedoria sobre a natureza humana desapareceu. Esqueça a obviedade de que criminosos soltos prejudicam mais os pobres, e que a falta de polícia nas ruas é um pesadelo para as comunidades menos favorecidas. Descarte a ideia boba de Martin Luther King Jr. de que nosso caráter, não nossa cor, determina quem somos. E, por favor, ignore a ideia ultrapassada de que inflação corrói os salários da classe trabalhadora. Isso tudo é coisa de gente atrasada.

O retrato de um governo inepto
Mas o que está ruim sempre pode piorar. As cenas no Afeganistão, retrato de um inepto governo, visto poucas vezes dessa maneira na história norte-americana, trouxe à vida monstros maiores. Não podemos afirmar com absoluta certeza que esse pesadelo Ucrânia/Rússia não aconteceria se tivéssemos um presidente forte na Casa Branca, mas fato é que a fraqueza muitas vezes é um convite à agressão, como diria o próprio Ronald Reagan. 
E Biden não pôde escapar do fiasco no Afeganistão. Os militares afegãos treinados pelos norte-americanos nos últimos 20 anos, que sofreram milhares de baixas anteriores, evaporaram em poucas horas no cerco a Cabul, em agosto de 2021. 
O que o Afeganistão indica, no entanto, é que forças mais poderosas do que o Talibã, em lugares muito mais estratégicos, têm sinal verde para avançar, visto que a Casa Branca hoje é apenas uma administração ideológica, mas previsivelmente incompetente, com um Pentágono e comunidades de Inteligência politicamente armadas preocupados com a diversidade e políticas de gênero.

Não vou ser repetitiva aqui sobre as catastróficas políticas de Joe Biden, domésticas e internacionais, em apenas 14 meses. Há mais de um ano venho escrevendo aqui em Oeste sobre não apenas o que leio, pesquiso e estudo, mas o que testemunho in loco: os resultados das irresponsáveis políticas da esquerda radical norte-americana que são capazes de arruinar um Estado lindo e rico como a Califórnia, onde resido.

E o que os eleitores democratas descobriram após 14 meses de Biden e Harris, além da incompetência na área da segurança doméstica e internacional? Que eles desprezam a inflação tanto quanto a recessão, e temem que agora possam obter ambas. As pessoas querem gasolina mais barata, não mais cara. Elas preferem a autossuficiência energética norte-americana, e não ter de implorar a países como Venezuela e Irã para bombear mais petróleo quando a independência foi atingida nos anos anteriores.

Os democratas podem sofrer perdas históricas nas eleições de midterms em novembro.  
Esse desastre para o partido acontecerá não apenas por causa do desastre no Afeganistão, da invasão da Ucrânia pelo presidente russo, Vladimir Putin, da destruição da fronteira sul, da confusão da cadeia de suprimentos ou de seu apoio à demagoga agenda racial e de gênero. 
 A bala de prata que pode ceifar a maioria democrata em ambas as Casas legislativas e causar o aniquilamento político em novembro tem um nome odiado pelos norte-americanos, e com razão: a inflação descontrolada.

Os “novos direitos de redistribuição”
Joe Biden insiste em dizer que os preços ao consumidor estão subindo “apenas” a uma taxa anual de 7,9%, como se o maior aumento em 40 anos não fosse tão ruim assim. No entanto, a classe média sabe que a inflação é muito pior quando se trata das coisas da vida: comprar uma casa, carro, gasolina, carne, grãos, madeira ou materiais de construção. A inflação é um destruidor de oportunidades iguais de sonhos. Ela mina ricos e pobres, democratas e republicanos, conservadores e liberais (EUA). Ela une todas as tribos e ideologias contra aqueles que são nomeados como os que teriam dado à luz o polvo monstruoso cheio de tentáculos e que espreme tudo e todos. A inflação é onipresente, onipotente e humilhante. Destrói a dignidade pessoal. Ao contrário da estúpida teoria racial crítica ou das abjetas políticas de gênero, ela não pode ser evitada por um dia sequer. Você não pode ignorá-la como se faz com a irresponsável bagunça no Afeganistão ou na agora inexistente fronteira sul. A inflação ataca a todos, 24 horas por dia, sete dias por semana, em 360 graus. Sem piedade ou lente racial ou ideológica.

Biden reduziu os Estados Unidos a um mendigo de energia implorando aos sauditas e russos que bombeassem mais petróleo

Acima de pontos econômicos negativos que uma inflação sem controle pode trazer, há a esfera filosófica de uma nação que tem em sua genética a cooperação humana. A inflação como a atual nos EUA é vista como uma mina perigosa para uma sociedade civil e ordenada, desencadeando um egoísmo “cada um por si”. Os norte-americanos sabem que essa inflação é autoinduzida, não um produto de uma guerra no exterior, um terremoto ou o esgotamento dos depósitos de gás e petróleo. Biden ignorou a onda natural de compras inflacionárias de consumidores que foram desacorrentados dos lockdowns por quase dois anos sem poder gastar. Em vez disso, ele incentivou a saciar essa enorme demanda imprimindo trilhões de dólares em dinheiro falso para todos os tipos de “novos direitos de redistribuição”, projetos “verdes” irreais e programas de congressistas de estimação preocupados com uma agenda desconectada da realidade.

O governo Biden corroeu a ética do trabalho norte-americano. Isso é grave e os norte-americanos sabem disso. Manteve altas as taxas de trabalhadores fora dos postos de trabalho com cheques federais para que ficassem em casa. Cortou sem o menor debate a produção de gás e petróleo cancelando arrendamentos federais, campos petrolíferos e oleodutos, enquanto pressionava os bancos a não liberar capital para o fracking. Em apenas um ano, Biden reduziu os Estados Unidos de maior produtor de gás e petróleo da história da civilização a um mendigo de energia implorando aos sauditas e russos que bombeassem mais petróleo porque os Estados Unidos precisam, embora não extraiam para si mesmos de suas fontes.

Os norte-americanos sabem que o polvo da inflação não nasceu voluntariamente. A única dúvida é se essa administração desencadeou esse cenário por incompetência; se tudo é uma ideia neossocialista: corroer o valor da moeda para aqueles que têm dinheiro, enquanto distribuem capital para quem não tem; ou se Biden foi iludido pela “teoria monetária moderna” maluca, o ouro dos tolos que afirmam que imprimir dinheiro garante prosperidade.

Bem, então, o que as pessoas estão concluindo 14 meses depois que a esquerda radical norte-americana promoveu uma agenda de bondades para realizar seus desejos? As pesquisas revelam que os eleitores não gostam de fronteiras abertas, principalmente os latinos que estão legalmente no país. Está claro como a luz do dia que eles desaprovam a imigração ilegal tanto quanto apoiam os imigrantes legais; que os norte-americanos estão preocupados com o aumento dos índices criminais e com o aumento da circulação de drogas; e que eles não querem mais saber da palhaçada segregacionista de agendas raciais e de gênero.

No final, não importa se Biden foi iludido, é apenas mais uma criatura do establishment norte-americano ou se é diabólico como a espinha dorsal do atual Partido Democrata. Em apenas 14 meses, a esquerda conseguiu o que queria. Como tudo em que mete a mão, o caos. E as pessoas não estão apenas cansadas do que estão vendo, mas enojadas. Os norte-americanos estão apavorados que a esquerda não esteja apenas falhando, mas também destruindo o país com eles junto.

A história nos deixa adágios para a crescente raiva do povo norte-americano contra a esquerda arrogante, vil, tirânica e perigosa. O ditado norte-americano diz: What comes around, goes around, ou, no bom português, “Você colhe o que planta”.

Como diria um republicano a um brasileiro perto de eleições: Hey, Brazil, are you watching this?”

Leia também “Os negros e o Partido Republicano”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 26 de outubro de 2021

O fervor autoritário dos antibolsonaristas - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Bolsonaro desperta paixão em alguns seguidores mais fanáticos, e ódio na maioria de seus opositores. Ambos os sentimentos espantam a razão. Quem realmente considera o presidente um mito se torna incapaz de enxergar seus defeitos. Mas quem dorme e acorda obcecado em atacá-lo só consegue ver defeitos, e de forma bastante exagerada.

O presidente diz muita bobagem mesmo, e entra em polêmicas desnecessárias. Mas a reação do outro lado é bem desproporcional, e trai um fervor autoritário de quem se diz democrata e liberal
 Aqueles que acusam o risco fascista no atual governo são os primeiros a passar pano para medidas realmente fascistoides.

O recente caso em que Bolsonaro leu uma reportagem em sua live e foi suspenso da rede social por isso demonstra bem o ponto. Nessa pandemia, as máscaras desses autoritários caíram uma a uma. Em busca de pretextos, querem porque querem derrubar o presidente, e não se importam mais com os meios utilizados. Levam a sério até essa CPI circense e soviética, relatada por Renan Calheiros e presidida por Omar Aziz! [chega a ser hilariante atribuir ao comentário do presidente Bolsonaro um risco à democracia.]  "Tem gente confundindo liberdade de expressão com liberdade para cometer crimes. Uma coisa não tem nada a ver com a outra", escreveu André Rizek. Esse tipo de mentalidade tem sido a predominante na oposição.

É preciso apontar quais são os crimes, pois espalhar Fake News ou crime de opinião não existem em nosso Código Penal. Isso sem falar da temeridade de delegar ao estado, ou a três bilionários excêntricos do Vale do Silício, o poder absoluto de definir o que é verdade e o que é mentira. Estão monopolizando a fala em nome da ciência, e isso é assustador. Acreditam que hoje isso serve para calar os "negacionistas", ignorando que amanhã poderá servir contra qualquer um.

Não custa lembrar que hoje serão julgadas as ações no TSE sobre o tal "disparo em massa" com Fake News denunciado pelo PT, que teria acontecido na campanha de 2018 de Bolsonaro. Leandro Ruschel comentou: "Hoje serão julgadas duas ações no TSE, referentes à acusação da chapa Bolsonaro/Mourão ter sido beneficiada pelo disparo em massa de fake news, supostamente bancada por empresários. O MP já pediu arquivamento por falta de provas. Quem criou essa fake news será punido?"

A oposição inverte tudo!
A esquerda acusa o outro do que faz. O PT recebeu dinheiro da ditadura chavista, segundo ex-chefe de inteligência do ditador Chavez, e tem um exército de militantes a soldo da quadrilha. Do outro lado, um deputado e o povo, nada mais. Chamam de robôs os milhões que foram às ruas no dia 7 de setembro?! O engajamento nas redes sociais é orgânico, mas são todos "gado" sob o comando do Carluxo?!

Vocês nem devem lembrar mais quem é Merval Pereira, mas ele afirma em sua coluna de hoje no Globo que "não há dúvidas de que Bolsonaro é o pior presidente que já tivemos, pelo conjunto negativo da obra. O mais perigoso também. Precisava ser impedido de continuar no governo". [Merval, apesar de imortal tem que cumprir pauta.] Merval usa Sarney como um ícone da liturgia do cargo. Lula e Dilma acabaram de sair do governo, só para lembrar. Mas Bolsonaro é a grande ameaça!

É esse "mindset" que tem justificado uma postura tão bizarra, autoritária e golpista por parte dos que se dizem liberais, tolerantes e democratas. A turma resolveu que Bolsonaro é o maior risco fascista da história, e não importam os fatos. Para impedir esse destino, vale tudo. É por isso que se Bolsonaro ler uma chamada de uma revista em sua live, isso basta para que uma legião saia em defesa da censura, de seu banimento eterno das redes sociais, e de preferência de sua prisão e envio a um Gulag na Sibéria, até voltar reeducado, elogiando o Partido Comunista Chinês. Haja amor pela liberdade nessa patota!!!

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 17 de agosto de 2019

O efeito Hong Kong - Nas entrelinhas

“A redução do crescimento chinês, agravada pela guerra comercial com os Estados Unidos, é a principal ameaça à economia brasileira”

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China começa a ganhar uma nova dimensão política por causa de Hong Kong, a ex-colônia britânica incorporada ao território chinês , que mantém um status diferenciado em relação ao regime comunista vigente desde 1949 no continente. A situação é muito diferente da de 1997, quando a ilha passou do domínio do Reino Unido ao chinês, mas a região administrativa especial continua sendo um importante centro financeiro da economia asiática, do qual a China não pode abrir mão como segunda potência comercial do planeta. Por isso, as sucessivas manifestações de protesto contra o governo local, nomeado por Pequim, que pleiteiam mais autonomia e eleições livres, são uma ameaça ao regime.

Pequim procura mostrar ao mundo que a repressão aos jovens manifestantes, que há dois meses não saem das ruas, é “contida”, limitada às necessidades de funcionamento de vias e equipamentos públicos, como o Aeroporto de Hong Kong. Entretanto, ontem o governo concentrou tropas em Shenzhen, cidade próxima da fronteira com Hong Kong. Talvez o objetivo não seja empregá-las na ilha, mas evitar que outra onda de protestos surja na cidade que simboliza o Vale do Silício chinês, um legado de Deng Xiaoping, que a transformou na primeira zona econômica especial do país em 1980, ou seja, antes mesmo que Hong Kong voltasse ao controle chinês.
Destinada ao desenvolvimento industrial para atrair investimentos estrangeiros, Shenzhen saltou de 30 mil habitantes para 12 milhões de pessoas. Além de atrair empresas de todo o mundo, transformou-se num grande centro de inovação em hardware. Gigantes da economia chinesa nasceram e têm sede na cidade. Apenas Baidu, Tencent, Alibaba e Xiaomi (BATX) já valem mais de US$ 1 trilhão e lançaram mais de mil negócios em 20 setores nos últimos anos.

Essas empresas chinesas estão no centro da guerra comercial com os Estados Unidos, batem de frente com gigantes norte-americanas: Tencent versus Facebook, Alibaba versus Amazon, Baidu versus Google, Wiaomi versus Apple. Mas o nome da encrenca é a gigante Huawei, fundada em 1988 por Ren Zhengfei, cujas atividades principais são pesquisa e desenvolvimento, produção e o marketing de equipamentos de telecomunicações, e o fornecimento de serviços personalizados de rede a operadoras de telecomunicações. Essa gigante chinesa começou a se expandir a partir de Hong Kong, e hoje está em todo o mundo, inclusive no Brasil.


Guerra cambial
Após dois meses de protestos em Hong Kong, o presidente chinês Xi Jiping deu a entender que poderia empregar a força para restabelecer a ordem na ex-colônia britânica. Donald Trump se aproveita da situação e vincula um eventual acordo comercial com Pequim a uma resolução “humana” do conflito em Hong Kong. “Milhões de empregos estão sendo perdidos na China para países sem tarifas. Milhares de empresas estão indo embora. Com certeza, a China quer alcançar um acordo. Deixem que trabalhem humanamente com Hong Kong primeiro!”, disse no Twitter.

A inclusão da gigante de telecomunicações Huawei numa lista negra dos EUA aumenta importância estratégica de Hong Kong, onde o investimento direto chinês totaliza US$ 620 bilhões70% a mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) da ilha. Os depósitos de yuan em Hong Kong valem cerca de US$ 100 bilhões. A ilha é parte integrante da “Grande Baía”, que inclui ainda Macau (ex-colônia portuguesa) e as nove principais cidades da província de Guangdong, que somam 70 milhões de habitantes e um PIB de US$ 1,5 trilhão. A redução do ímpeto de crescimento chinês, agravada pela guerra comercial com os Estados Unidos, tem repercussão em todo o mundo.

Hoje, essa é a principal ameaça à retomada do crescimento brasileiro, mesmo com a aprovação da reforma da Previdência e outras medidas. A China é o nosso maior parceiro comercial; os Estados Unidos, o segundo. Em tese, o agronegócio brasileiro poderia vender mais para a China com a política de Trump, mas esse seria um ganho setorial, que pode não compensar as perdas gerais em consequência da dimensão cambial da disputa: os Estados Unidos aumentam a tributação dos produtos chineses, a China desvaloriza a sua moeda e, ao fazê-lo, desvaloriza também o real. Afora a questão puramente econômica, existe uma esquizofrenia política: embora a China seja o principal parceiro comercial do Brasil, Bolsonaro abomina o regime chinês e tem no presidente Trump seu aliado principal.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O sofá digital - O WhatsApp está certo?

O que é pior: liberdade sem segurança ou segurança sem liberdade? É a escolha do nosso tempo

Houve um tempo em que os telefones eram usados como uma ferramenta utilíssima pelos criminosos, e não havia possibilidade de as ligações serem grampeadas. Nem por isso se pensou em proibir o telefone. Nem por facilitar o planejamento e execução de assaltos a diligências o telégrafo foi proibido por algum juiz do Velho Oeste.  Os juízes de Teresina, de Lagarto e de Duque de Caxias tinham as melhores intenções, quebrar o sigilo de suspeitos de pedofilia e tráfico de drogas. Mas só conseguiram punir cem milhões de inocentes que precisam tocar suas vidas e seus negócios com um aplicativo simples e eficiente, em que podem se comunicar com segurança e privacidade — e de graça.

O que faz o sucesso do WhatsApp é justamente uma criptografia que não pode ser quebrada nem pela empresa que a criou, só quem recebe a mensagem pode decodificá-la. Isso protege os segredos e as operações das empresas da ação de concorrentes, protege a privacidade dos cidadãos contra a espionagem dos governos, como a NSA americana e todos os serviços secretos do mundo.  É um avanço para a liberdade individual e uma ameaça para a segurança coletiva. O que é pior: liberdade sem segurança ou segurança sem liberdade? A escolha é nossa, a marcha da tecnologia não para.

O ministro Lewandowski deu uma liminar para o aplicativo voltar ao ar em nome da liberdade de expressão, mas a questão é sobre o direito à privacidade. Ainda é grande a ignorância digital. David Cameron queria proibir no Reino Unido qualquer aplicativo que não pudesse ter seus códigos quebrados pelos serviços de segurança e foi ridicularizado.  Uma juíza brasileira quer obrigar o WhatsApp a desenvolver uma ferramenta que possa quebrar os seus códigos, sob pena de não poder funcionar no Brasilsó no resto do mundo. O Telegram e os outros aplicativos agradeceriam. Há muitos com servidores no exterior e fora do alcance da lei brasileira.

Como na clássica piada, tirar o WhatsApp do ar é como tirar o sofá da sala de todos os brasileiros porque alguns bandidos o usam para cometer suas traições contra a sociedade. Logo eles conseguirão outros sofás digitais.


Por: Nelson Motta - O Globo

A consequência de garantir a segurança do usuário é que criminosos podem escapar

Ao decidir suspender o WhatsApp na terça-feira, a juíza Daniela Barbosa Assunção de Souza não agiu como os magistrados que fizeram o mesmo antes dela. Não pediu, por exemplo, conversas passadas, que não são armazenadas. Pediu algo mais razoável: um grampo. Que a empresa Facebook, dona do WhatsApp, passasse a monitorar bate-papos entre criminosos específicos. A juíza da 2.ª Vara Criminal de Duque de Caxias (RJ) também reclamou, com razão, da arrogância de responder em inglês. Ainda mais quando o Facebook tem sede no Brasil.

Ainda assim, ao se negar a colaborar com a Justiça, o Facebook tem suas razões. Pode-se não concordar com elas. Mas é preciso ao menos compreendê-las. Há uma razão técnica. Desde abril deste ano, o WhatsApp usa encriptação ponto a ponto. A mensagem que digitamos é transformada em código antes de deixar nossos celulares. Só se torna palavras compreensíveis novamente quando chega ao aparelho do destinatário. Assim, quando a mensagem passa pelos servidores da empresa para ser redirecionada, ela é ilegível. Por este motivo, argumentam os engenheiros, um grampo é impossível.

Há duas razões para a encriptação ocorrer desta forma.  A primeira interessa a todo usuário. É para evitar hackers. O sinal enviado pelo celular sai do telefone pelo ar, passa por uma antena da operadora, por cabos e servidores da internet até chegar ao Facebook e, de lá, segue o mesmo caminho, cabos e servidores abaixo, antena, ar, aparelho do recipiente. Um bom hacker com os programas certos e um notebook poderia interceptar o sinal. Se o fizer, verá uma mensagem cheia de símbolos, letras e números que não fazem qualquer sentido.

Por causa da encriptação ponto a ponto, o WhatsApp é seguro o suficiente para que possamos enviar a senha bancária ou as fotos mais comprometedoras. Ou cometer crimes, claro. Aí há um dilema: segurança máxima para o usuário, segundo o Facebook, impossibilita grampos. Para que o sistema permitisse grampos, todos os usuários teriam de abrir mão de ter segurança.

Há um segundo motivo. O Facebook não quer colaborar com a Justiça. Não é só ele. A Apple não quer colaborar, o Google tampouco. É uma posição do Vale do Silício. O problema não é com a Justiça americana ou com a brasileira. Ou com a europeia. Os pedidos de juízes em países democráticos são quase sempre razoáveis. O problema, para empresas de comunicação global, é que elas estão em tudo quanto é tipo de país.

Basta imaginar a importância do uso de redes sociais no Egito, durante a Primavera Árabe. Ou no Irã, durante a Onda Verde de 2009. Milhares de manifestantes usaram as redes para planejar seus movimentos. Em ditaduras, pedidos formais da Justiça nem sempre ocorrem por motivos razoáveis. Pessoas são presas porque não gostam do governo, porque o criticam, porque planejam protestar contra. São presas, são torturadas, são até executadas.

Este é um dilema sério. Estes aplicativos têm atuação global. A consequência de garantir a segurança do usuário e a proteção de dissidentes é que criminosos podem escapar. A Apple já se recusou a ajudar o FBI a abrir um iPhone de um terrorista. Ali poderia haver informação capaz de salvar novas vidas. (O FBI, com o auxílio de uma empresa israelense, conseguiu abri-lo. Mas foi difícil e demorou.)

É daqueles dilemas nos quais não há meio-termo. É um ou outro. Não há resposta certa. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, informou que os terroristas amadores presos na quinta se comunicavam por sistemas “como o WhatsApp”. Não está claro, ainda, se a Polícia Federal conseguiu quebrar a encriptação do aplicativo. Se conseguiu, talvez com a ajuda de serviços secretos estrangeiros, não foi fácil.  Pode-se discordar do Facebook e do resto do Vale do Silício. Mas entre a segurança de seus usuários e os pedidos do Estado, eles fizeram uma escolha.


 Por: Pedro Doria - Estadão