Moradores da Cidade de Deus encontram corpos desaparecidos - Eles foram colocados pelos pais em uma praça próxima ao condomínio Itamar Franco, na comunidade do Karatê
Moradores da Cidade de Deus retiraram da mata sete corpos
de jovens da comunidade, na manhã deste domingo. Eles foram colocados
pelos pais em uma praça próxima ao condomínio Itamar Franco, na
localidade do Karatê. Familiares começaram a denunciar o sumiço das
pessoas no sábado após ação da policia militar no local. Na ocasião, um helicóptero caiu, resultando na morte de quatro PMs:
o major Rogério Melo Costa, o terceiro-sargento Rogério Félix Rainha; o
capitão William de Freitas Schorcht e o subtenente Camilo Barbosa de
Carvalho.
Não se sabe ainda se
os crimes ocorreram antes ou depois de a aeronave despencar. O secretário de
Segurança, Roberto Sá, garantiu que os homicídios já estão sendo
investigados: — Essas mortes não vão ficar sem resposta.
Após o acidente, o Bope iniciou uma operação na comunidade. Até o
momento, foram detidas três pessoas e houve apreensão de armas e drogas.
Em sua conta no Twitter, o presidente Michel Temer lamentou, a morte
dos policiais.
"Lamentável a morte dos 4 PMs que cumpriam o seu dever
durante operação no Rio de Janeiro. A minha solidariedade aos familiares
e amigos. Reitero minha confiança e apoio ao trabalho das forças
policiais, sempre comprometidas no combate ao crime", escreveu Temer, em
seu perfil no Twitter.
Neste domingo, comboios militares
cercaram a área, bloqueando acessos e revistando carros e os poucos moradores
que se arriscaram a deixar a Cidade de Deus. Do lado de fora, eram raros os que
passavam pela Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, fechada nos dois
sentidos. Já nos fundos da favela — junto ao valão que um dia foi o Rio Arroio
Fundo — moradores brigavam com policiais pelo direito de entrar na mata do
Karatê para procurar seus filhos. Só conseguiram por volta de 9h30m, quando
repórteres chegaram ao local. Aos poucos, grupos foram voltando com os corpos dos
sete homens jovens, com sinais de tiros e facadas, que foram enfileirados e
cobertos por lençóis na principal praça do Karatê. — Foram cem pessoas lá pegar os corpos. Eles estavam
deitados de costas. Meu filho tinha as mãos na cabeça. A maioria tinha tiros nas
costas e na cabeça. Eles foram executados e a perícia vai mostrar — acusou o
pastor Leonardo Martins da Silva, pai de Leonardo da Silva Junior, de 22
anos.
A mãe de Marlon César, de 23 anos, contou que muitos moradores foram surpreendidos com confrontos. — As pessoas foram pegas de surpresa. Foi um desespero. Eu
não consegui ter contato com meu filho. Ele pode estar na mata, mas os
policiais não nos deixam entrar para procurar. Isto é desumano.
Moradores também acompanharam o início da perícia a cargo da Divisão de
Homicídios, que investigará as mortes. Alguns acusavam policiais que invadiram a
favela após a queda da aeronave. — Eles eram envolvidos (com o tráfico), mas se renderam. Isso é execução,
não? — questionava um parente de Leonardo Camilo, de 29 anos, também encontrado
morto. — Depois que o helicóptero caiu foi um terror. Eles entraram e deram
muito tiro. Foi vingança.
Em entrevista à “Rádio CBN", Raíssa da Silva Monteiro, de 20 anos, também
afirmou que seu irmão desapareceu na noite de sábado: — Ele ligou pra minha mãe às 18h35m e disse que não conseguia falar. Não
consigo mais notícia, a gente quer entrar no mato, mas os policiais estão dando
tiro para cima da gente.
O morador Thiago Oliveira acompanhou a busca pelos corpos. Ele é amigo de um dos pais das vítimas. — Os corpos estão com ferimentos de facas, como se tivessem
sido torturados. Parece que encapuzaram as vítimas e começaram a atirar.
É ódio gerado por ódio, uma crueldade — afirma Thiago, que também diz
que circula a informação na comunidade sobre a morte de uma criança de
quatro anos, por bala perdida.
Antes dos corpos serem encontrados, um vídeo divulgado nas
redes sociais mostrava uma mãe, desesperada, tentando achar o filho. A
polícia estava impedindo o acesso de pessoas à mata, onde as vítimas
foram encontradas. — Vou procurar meu filho agora! Meu filho está dentro do mato, morto! O sangue é meu! Eu sou mãe! — gritava.
Em nota, a Polícia Civil informou que um procedimento foi
instaurado na Delegacia de Homicídios para apurar as mortes das sete
pessoas. Segundo o comunicado, "segue em andamento um amplo trabalho de
investigação visando apurar detalhadamente as circunstâncias do
ocorrido".
Neste sábado, a queda de um helicóptero da Polícia Militar que
participava de uma operação na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de
Janeiro, provocou a morte de quatro policiais e iniciou uma onda de
pânico entre moradores. Logo após a tragédia, começaram a circular pela
internet informações alarmantes - grande parte delas inverídicas - sobre
novos ataques ou mortes.
O clima na Cidade de Deus segue tenso após os tiroteios e operações policiais que culminaram com a queda de um helicóptero da Polícia Militar, com quatro militares mortos. A moradora Vivi Salles iria realizar um sarau comemorativo
de cinco anos do Poesia de Esquina, movimento criado por ela para reunir
poetas da Cidade de Cidade de Deus, ontem, mas teve que cancelar o
evento, por causa dos confrontos entre criminosos e policiais na região.
A poetiza, que tem 26 anos, disse que nunca havia presenciado tanto
tiroteio durante o dia. — Normalmente era só de madrugada, agora passou a ficar
normal ouvir tiros durante as manhãs. Ontem, eu achava que a situação ia
se estabilizar depois do meio-dia. Mas o tiroteio voltou com tudo à
tarde e perdurou até as 22h. Outro evento cultural além do meu também
teve que ser cancelado. Houve uma sequência de tiros muito grande na
tentativa de abater o helicóptero — afirmou Vivi.
OPERAÇÃO POR TEMPO INDETERMINADO
Desde
ontem, policiais de vários Batalhões realizam uma operação pente-fino
na comunidade. Por determinação da cúpula da segurança, a operação que
começou na manhã de sábado, após bandidos atirarem contra policiais da
UPP, continuará por tempo indeterminado. O
clima da comunidade é de apreensão. Pouco movimento nas ruas. O serviço
de mototáxi foi suspenso por determinação policial. Todos os carros que
entram ou deixam a Cidade de Deus passam por rigorosa revista.
Participam das operações policiais do Choque, do Bope, de Operações com
Cães, os batalhões de Jacarepaguá e da Barra, além de policiais de
várias UPPs.
Fonte: O Globo