Família de criança que desmaiou de fome, mora em imóvel
de 46m², oito pessoas, que convivem com a falta de comida
Há 13 anos, ela* saiu da cidade de Iguatu, no Ceará, para tentar
uma vida melhor na capital do país. Chegou com a primeira filha ainda na
barriga e com a expectativa de começar uma nova história na cidade
grande. Mas nada aconteceu como a jovem imaginava. Hoje, aos 29 anos,
tem sete filhos. Apesar da pobreza e das dificuldades, nunca pensou que
uma de suas crianças desmaiaria de fome. O caso que ocorreu semana
passada e chocou o Distrito Federal mostrou uma realidade dramática na
cidade que tem a maior renda per capita do país. [convenhamos que a situação da Janaína, e especialmente das crianças é lamentável e alguma coisa tem que ser feita;
mas, convenhamos que ela foi irresponsável ao considerar gerar filhos como algo sem importância e sem consequência;
e, antes de que a corja pró aborto pegue o gancho da extrema necessidade a que as crianças estão sendo submetidas para defender o assassinato de seres humanos inocentes e indefesos, deve ser lembrado que existe inúmeras formas de se ter prazer transando sem engravidar, portanto, sem necessidade do assassinato covarde e hediondo.
Engravidou tem que criar o filho. Aborto JAMAIS.]
Janaína recebeu o Correio
no apartamento onde mora há um ano, no Paranoá Parque. O local tem 46
metros quadrados, mas é onde tem tentado traçar um novo destino com a
família desde que saiu de uma invasão no Setor Noroeste. As paredes
coloridas são prova disso — ela comprou a tinta e pintou do jeito que
queria. Com tamanha simpatia, tenta deixar todos da maneira mais
confortável possível em uma cama que fica na sala. Logo no início da
conversa, expõe o que tem vivenciado nos últimos dias. “Só eu e Deus
sabemos o momento que estou passando, é muito ataque, muito
preconceito”, contou.
Com certo incômodo, ela
lembra o motivo pelo qual tem recebido tantas condenações. Na última
segunda-feira, saiu pela manhã para acompanhar um irmão doente até o
INSS. Os filhos haviam comido angu de leite logo cedo, mas pediu para
que a filha de 13 anos fizesse o almoço. “Dizem que não tinha comida,
mas ela fez arroz e feijão para os mais novos antes de irem para escola,
eles que não quiseram. Havia o que comer, só não tinha carne”,
descreveu. Mas ela confessa que, como o ônibus que leva os meninos à
escola passa cedo demais, na maioria das vezes, não dá tempo de fazer a
refeição.
Desde o dia do desmaio, o filho que
passou mal está na casa do pai. Voltou até a residência da mãe apenas
para pegar os pertences. “Eu creio que ele vai voltar. Não é de hoje que
eu venho nessa batalha com todos os meus filhos e nunca os abandonei.
O pai pediu para ficar com ele, mas nunca fui mãe de abrir mão da
guarda dos meninos. Passo pelo que passo, mas é com eles”, declarou, com
lágrimas nos olhos e voz embargada. “Está sendo muito difícil depois de
tudo não ter meu filho perto de mim. Se não fosse isso, ele estaria
aqui comigo.”
Apesar do triste episódio com a
criança, ela tem esperança de que o caso chame a atenção das autoridades
para a extrema pobreza de algumas famílias da capital. Sonha com creche
para os filhos e com um emprego. “É difícil, mas talvez isso tenha
acontecido para mudar minha história. Eu não aguentava mais sofrer
dentro deste apartamento. Eu sou o pai e a mãe deles”, expôs. O maior
sonho da desempregada é uma simples rotina de muita gente. “Quero ter
uma boa alimentação todos os dias, para mim e para meus filhos. Também
quero minha casinha arrumada, com camas, por exemplo”.
Umas
das principais dificuldades para encontrar emprego é a falta de creches
para o filho de 3 anos. “Eu não sou a única culpada, tem o governo
também. Eles simplesmente soltaram a gente aqui igual bicho. Eu agradeço
muito a Deus pela oportunidade de morar aqui, mas não temos nada
perto”, criticou. No último sábado, o governador Rodrigo Rollemberg
anunciou que o GDF vai alugar um espaço para abrigar salas de aulas para
as crianças do bairro. Hoje, elas têm que fazer um percurso de 30km de
ônibus, até a Escola Classe 8, do Cruzeiro.
Para
o doutorando de ciência política da Universidade de Brasília (UnB)
Eduardo Chaves, a situação mostra que há uma necessidade urgente em se
debater as demandas sociais das regiões do Distrito Federal. Para ele,
cada local tem um problema estrutural diferente, que deve ser estudado
para uma melhor política pública direcionada aos moradores. “A gente
precisa entender que as responsabilidades são maiores do que falar que a
família deu ou não deu conta. Muita gente passa por situação
semelhante”, diz. Outro problema, para Chaves, é que, com a falta de
investimentos no Entorno, a área central não consegue atender toda a
demanda, e fica saturada. “Atender a criança não é só levá-la para a
escola. Precisa de transporte, por exemplo, para que ela chegue rápido.
Então, tem que pensar em uma política de transporte, alimentação e
habitação”, afirmou.
De acordo com Chaves, o
Paranoá Parque não foi pensado estruturalmente para abrigar crianças, e
isso pode refletir nos problemas da região — onde não há creches,
escolas ou acesso fácil à mobilidade que possa transferir os alunos para
outra localidade. Na opinião do pesquisador, as crianças têm sido
historicamente ignoradas no DF. “Parece que só as políticas de educação e
saúde que são importantes para elas, mas estamos vendo que também há
outros direitos, como andar pelas ruas do DF, acessibilidade e
segurança”.
*Nome omitido, para proteger a identidade da criança
Quer ajudar?
Quem quiser ajudar a família com doações ou cestas básicas pode entrar em contato pelo telefone 9.9516-6456
Correio Braziliense