O doleiro Alberto Youssef em maio de 2014, quando encontrou uma escuta
escondida no teto de sua cela na carceragem da PF em Curitiba: sabotagem
ou negligência?(Reprodução/VEJA)
É também a última esperança de proteger a identidade dos
mentores e principais beneficiários do esquema que usou o dinheiro dos
brasileiros para enriquecer e comprar o poder. Até hoje o Supremo
Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça rejeitaram todas as
incursões nessa direção. Na semana passada, o empresário Ricardo Pessoa,
apontado como o chefe do clube das empreiteiras envolvidas, assinou um
acordo de delação premiada, confessou sua participação no crime e se
comprometeu a contar o que sabe - e o que ele sabe implica no caso o
ex-presidente Lula, a campanha da presidente Dilma e alguns de seus
principais assessores. A colaboração de Pessoa levará os policiais e os
procuradores à derradeira fase da investigação, ao iluminar o caminho
completo trilhado pelo dinheiro roubado e permitir que se rastreie com
precisão a cadeia de comando. De onde menos se esperaria, surge agora
uma incursão que pretende pôr tudo isso a perder.Com o conhecimento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o comando da Polícia Federal em Brasília está investigando sigilosamente os delegados e agentes envolvidos na Operação Lava-Jato. VEJA teve acesso a uma sindicância aberta pela Corregedoria da PF e conversou com policiais que acompanham e participam da apuração.
É preocupante. Segundo os corregedores, o procedimento foi instaurado para apurar "ilegalidades" praticadas pelos colegas do Paraná, onde estão centralizadas as investigações do escândalo da Petrobras. Que "ilegalidades" seriam essas? Os federais de Brasília acusam os paranaenses de instalar escutas para captar clandestinamente conversas de presos e dos próprios policiais. Uma dessas escutas foi descoberta na cela do doleiro Alberto Youssef, uma das principais testemunhas do esquema de corrupção.
Em maio do ano passado, o doleiro encontrou um transmissor de voz escondido sobre o forro do teto de sua cela. Os corregedores acusam os delegados da Lava-Jato de ter colocado o aparelho para obter provas por meio de métodos ilegais. Parece grave - e é -, principalmente pelo que aparenta estar na gênese da investigação. "Isso vai provocar a anulação de toda a Operação Lava-Jato", diz, sob a condição de anonimato, um delegado de Brasília que participa da apuração. "A situação vai ficar feia. Vai aparecer mais coisa", advertiu. Essa entrevista foi feita na última quarta-feira à tarde.
Em privado, delegados próximos da cúpula da Polícia Federal admitem que o objetivo da "operação paralela" é carimbar a Lava-Jato com suspeitas de irregularidades - o que, fatalmente, abriria caminho para questionamentos judiciais sobre a operação e poderia resultar, em última análise, em sua anulação. Para o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, ainda que se comprove a suspeita de que teria havido interceptação ilegal na Lava-Jato, isso não seria suficiente para desqualificar toda a operação. "Se essa prova paralela não representa o início da investigação, então ela é declarada nula, sem prejudicar as demais provas", diz o ex-ministro. Para o delegado Jorge Pontes, ex-diretor da Interpol, o jogo está claro: "A minha suspeita é que haja um grupo de pessoas já cooptadas para tentar minar e comprometer a Operação Lava-Jato. Neste momento em que a sociedade brasileira tem uma expectativa histórica de o país deixar de ser vítima de corrupção institucionalizada, isso aí é uma tentativa da corrupção institucionalizada de criar no seio da polícia uma contenda que tem a intenção de jogar alguma dúvida sobre essa investigação".
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