O RESGATE DO BRASIL – ÉTICA E MORAL, PILARES BÁSICOS DA SOCIEDADE NACIONAL
A
família, célula básica da sociedade, está harmonicamente estruturada
quando amor e respeito presidem as relações entre seus integrantes. Há
papéis claramente definidos para cada um dos seus membros, que devem ser
cumpridos com afeto e responsabilidade, visando o bem comum desse
núcleo social único e o desenvolvimento de cada um dos seus indivíduos.
É
no seio da família que as crianças vêm ao mundo, abrem os olhos para o
ambiente exterior que as cerca e envolve para o resto da vida, ensaiam
os primeiros passos e os primeiros relacionamentos interpessoais, têm a
primeira escola, informal, que as prepara para a grande aventura do
existir. E ali, também, que tomam contacto com o que é certo e errado,
são orientadas sobre o bem e o mal, pela ação cuidadosa e presente dos
pais, os primeiros educadores.
A
mãe, normalmente, tem papel preponderante na formação afetiva, por sua
proximidade mais íntima desde o processo de gestação. Já ao pai,
corresponde representar o princípio da autoridade, a estar presente até o
fim da vida de cada pessoa. A forma como o filho se relaciona com o pai
e com sua autoridade marcará o modo pelo qual se relacionará com
qualquer forma de autoridade no futuro.
Desde
a quadra tão importante da infância, e por toda a
adolescência/juventude, os pais verdadeiramente amorosos, responsáveis e
interessados na felicidade dos filhos, impõem limites aos
comportamento deles e ao seu natural impulso de tudo querer fazer e de
tudo possuir para si. É esse o verdadeiro preparo para a vida, pois nem
sempre tudo será alegria, vitória, sucesso, sonhos realizados. Dores,
tristezas, frustrações, derrotas fazem parte do existir e é preciso
estar preparados, prontos a enfrentá-las, assimilá-las e partir com
fibra para outros desafios…
A
Nação é a família grandemente ampliada, repercutindo nela diretamente a
formação advinda do núcleo social básico. No Brasil, ademais, a
influência espiritual e ético-moral dominante é a da Igreja cristã. Não
por acaso, despertamos para o mundo civilizado com as caravelas que
traziam a Cruz de Cristo em seus panos, chamamo-nos primeiro de Ilha de
Vera Cruz e depois Terra de Santa Cruz, e nossos ancestrais europeus
eram os incomparáveis navegantes portugueses, que, com muita bravura e
coragem, na maior epopéia da humanidade, lançaram-se ao desconhecido do
Mar-Oceano, para dilatar a Fé e o Império, estendendo as fronteiras do
mundo civilizado para todos os continentes…
Depois,
ao longo da nossa bela História, somando-se à nossa herança
luso-ameríndia, vieram ter conosco grandes contingentes de povos de
muitas origens e religiões, uns como escravos, outros em busca de
oportunidades e de abrigo e que fizeram da Terra dadivosa do Brasil seu
novo lar. Integraram-se a nós, contribuíram com seu trabalho para a
grandeza da Pátria e trouxeram para nós o enriquecimento dos seus usos,
costumes e crenças. E assim fomos formando exemplar e abençoada Nação
multirracial e multirreligiosa, unida pela fé no trabalho enobrecedor,
na solidariedade e no respeito pelo semelhante, promovedores da paz, e
na busca incessante pelo Bem Comum, sob as bênçãos de Deus com variados
nomes, de acordo com o fervor de cada um. Desse modo, surgiu para o
mundo “o País do Futuro”, a “Terra da Esperança”, a “Pátria do
Evangelho”, nosso único e amado Brasil! Os brasileiros éramos felizes e
críamos piamente no grande destino que nos estava reservado.
Tive
a maravilhosa experiência de, como Guarda-Marinha., no verdor dos vinte
anos de idade, viajar pelo mundo na inolvidável Viagem de Instrução de
1957, a bordo do saudoso NE “Duque de Caxias”. Estando na Europa, em
contacto primeiro com o berço da civilização como a entendemos e com
tantos países mais ricos e adiantados, sentia orgulho enorme do nosso
País e do papel preponderante que estava fadado a desempenhar no mundo,
mercê do gigantismo de sua base territorial, das suas incalculáveis
riquezas naturais e do dinamismo, da boa índole do seu povo.
Pouco
depois, veio a segunda e mal sucedida tentativa de domínio comunista
sobre nós, reeditando a traiçoeira Intentona de 1935, eliminada pela
Revolução Restauradora de 1964, quando, uma vez mais, as Forças Armadas
ouviram os clamores do povo e cumpriram seu dever de salvar a Pátria
ameaçada. Seguiram-se anos de paz, ordem e progresso, em que o Brasil
ascendeu da condição de quadragésima-oitava economia do mundo para a de
oitava. Havia planejamento estratégico rigoroso, de acordo com o
ensinado pela Escola Superior de Guerra, competência, moralidade e ética
presidindo a administração pública, e criteriosa, eficaz, eficiente e
honesta aplicação dos recursos oriundos dos impostos pagos pelos
brasileiros. O País desenvolveu-se em todas as expresões do Poder
Nacional, em todos os setores e em todas as regiões. A segurança era
garantida e o Brasil fazia-se respeitar e era respeitado em todos os
foros do mundo: ninguém tinha a audácia de querer interferir em nossa
soberania ou tentar dizer-nos o que fazer! O critério básico dos
sucessivos governos chefiados por militares era de conquistar e manter
os Objetivos Nacionais, na busca concreta da realização do Bem Comum!
No
início da década dos 1980, o celebrado autor americano Ray Cline, em
seu livro de ampla repercussão, “ The Balance of World Power”,
comparando o Brasil e os Estados Unidos da América de então, atribuiu
pesos iguais aos potenciais em todas as Expressões do Poder Nacional e
às Estratégias Nacionais respectivas de ambos os países, mas afirmava
que a vontade nacional brasileira de realizar seu projeto era superior à
americana do norte.
Eram os anos do governo militar em Brasília e da
tíbia administração Jimmy Carter em Washington…. Assim, acredito que,
entre todas as Expressões do Poder, a Política, a Econômica, a Militar, a
Psicossocial e a Tecnológica, a mais importante e base de tudo é a
Psicossocial. É dela que derivam o moral, a moral, a vontade nacionais
de realizar, progredir, ousar, lutar… De que adianta uma Força Armada
poderosa, avançada em termos materiais e técnico-científicos, se
composta de homens desfibrados, desmoralizados, medrosos e covardes? Ao
contrário, uma força menor, mais fraca, mas composta de guerreiros
bravos e corajosos está no caminho da vitória! A História é plena de
exemplos frisantes, inclusive nas guerras mais recentes, para não falar
em Maratona…
Em
meados da década de 1950, porém, apareceu na realidade brasileira um
novo fator de modificação de comportamentos e valores, em massa: era a
televisão que surgia! Se utilizada para o bem e como instrumento de
educação e de difusão de cultura, tem valor e alcance positivos
extraordinários, mas se usada para a propaganda do mal, seus efeitos são
catastróficos. Foi o que logo passou a acontecer, por motivaçãoes
iniciais basicamente de lucro, de pecúnia. Principalmente as novelas
demolidoras dos bons hábitos e costumes, mas também a ampla difusão
sensacionalista de crimes nos noticiários e a exibição em qualquer
horário de filmes em que imperavam a violência, na desatinada briga por
audiência e “pontos do ibope” em que se lançaram emissoras e redes, os
maus exemplos e o incentivo de ações desagregadoras e condenáveis
passaram a ser crescentemente mortais para as famílias, a base ética e
moral da sociedade, atingindo indiscriminadamente as crianças, vítimas
indefesas da “babá eletrônica”, os jovens e as pessoas adultas mais
simples e iletradas, que dedicavam grande parte dos dias à admiração
passiva, castradora da imaginação criativa da telinha…
Enquanto
isso, prosseguia a guerra psicológica pela conquista das mentes por
parte do movimento comunista, em todas as manifestações e linhas de que
se constituía. Agora, de forma deliberada e subordinada a fins
ideológicos, redações, equipes de reportagem, movimentos artísticos e
culturais, etc, foram crescentemente infiltrados por seus agentes e
seguidores, para desmoralizar os valores e a educação “burguesas”,
difundir maus hábitos, costumes e perversões, para que passassem a ser
considerados “normais”, debochar da virtude, criar falsos heróis e
antivalores que passassem a ser moda, perseguir e desmoralizar os que
não seguiam sua cartilha. Desse modo, progressivamente se foi estiolando
o tecido social, para mais facilmente ser dominada a Nação, pelo
enfraquecimento do seu estofo ético e moral e sua capacidade de
indignar-se e reagir ao mal, no caminho programado da revolução.
Eis
que, no quadro que se foi formando a partir de 1990, as forças
desagregadoras empalmaram o favor da maioria do povo pela intensa
propaganda em que são mestras, baseada em promessas falsas e num mundo
virtual, sem qualquer relação com a verdade dos fatos, e chegaram ao
governo da Republica em 2002, ali permanecendo até agora, sempre pelo
voto, e buscando o poder total e permanente. Pelas diabólicas urdiduras
ensinada por Antonio Gramsci, continua a pleno vapor, e com grande
sucesso, o processo de destruir tudo de bom que logramos construir em
nossa História, para subverter a ordem democrática estabelecida e erigir
uma outra, totalitária, tirânica, de esquerda extremada em seu lugar.
O
governo se omite propositadamente do seu papel de ser bom exemplo e
indutor de hábitos e procedimentos virtuosos por parte da população.
Muito ao revés, voltando ao exemplo inicial da família, que precisa do
bom exemplo e da boa atuação dos pais para manter-se íntegra, por sermos
conduzidos por um sistema que falseia a verdade, manipula estatísticas e
versões fantasiosas de fatos correntes em benefício de seu projeto de
poder, atenta contra a austeridade e o pudor no uso dos impostos
sofridamente pagos pela população, seguidamente se vê envolvido em
gravíssimos escândalos referentes ao desvio/mau uso dos bens e recursos
públicos e mesmo no campo do comportamento pessoal dos integrantes
escorrega em pesados deslizes, padecemos de grave crise ética, que se
espalha como praga maldita pelos mais variados segmentos sociais.
Nosso
querido País está mergulhado em verdadeiro atoleiro moral, em vias de
chegar à decadência sem jamais haver atingido o apogeu. Se os patriotas,
as pessoas de bem, as elites responsáveis pela condução do povo
continuarem passivas, inertes, apenas assistindo o encaminhamento
nacional para o trágico destino que se delineia, serão malditas,
julgadas pelo crime de lesa–Pátria pelos tempos afora, e responsáveis
pelo infortúnio de filhos, netos, descendentes de todas as futuras
gerações. É mais que hora, pois, de empreendermos a reação que resgate o
Brasil para o caminho do grandioso destino sonhado pelos bravos
antepassados que nos permitiram ter, com seu sacrifício em sangue, suor,
lágrimas, trabalhos e sofrimentos, o portentoso patrimônio nacional de
que usufruímos até agora, mas que também está em perigo.
Pela
cuidadosa educação das gerações mais jovens, pelo nosso trabalho
honrado, pela luta permanente contra toda forma de mal e de extremismo,
pelo fortalecimento da Família, da Religião, do Patriotismo, de todas as
formas de Bem, da Paz, da Justiça, do Direito, da Liberdade e da
Democracia, haveremos sim de elevar os pilares da nacionalidade, a Ética
e a Moral, na Terra de Santa Cruz, ao nível desejado para realizar o
sonho do Grande Projeto Brasileiro!
Por: Sergio Tasso Vásquez de Aquino é V Alte, comandou a Força de Submarinos e foi Vice-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; é membro da Academia Brasileira de Defesa e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil
Revista Sociedade Militar — Texto publicado inicialmente no Site do Clube Militar.
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