Quem diria, a mãe do PACo,
a gerentona que tudo acompanha, que de tudo sabe, e dá socos na mesa
quando desagradada, não passa de uma rainha da Inglaterra, que nada sabe
do que acontece em seu redor, de quase nenhum poder de decisão. Pelo
menos, é o que querem que a opinião pública acredite desta vez, quando
estão em julgamento atos do primeiro governo Dilma considerados ilegais
pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
O mesmo já acontecera na
Petrobras, quando ela alegou que, como presidente do Conselho de
Administração da estatal, fora induzida ao erro pelo então diretor
Nestor Cerveró, que teria apresentado um relatório "técnico e
juridicamente falho" para aprovar a compra da refinaria de Pasadena, nos
Estados Unidos. A imagem da grande administradora, e ao mesmo
tempo "mãe dos pobres", foi criada pelo marqueteiro João Santana
especialmente para Lula lançá-la candidata à sua sucessão em 2010. Ele
é defensor da tese de que existe um "espaço imaginário de uma rainha"
no inconsciente coletivo brasileiro, "uma imensa cadeira vazia" na nossa
mitologia política e sentimental, que chama metaforicamente "de cadeira
da rainha", e que poderia ser ocupada por Dilma. Santana dizia na
ocasião que nem mesmo a princesa Isabel preenchera esse lugar
inteiramente.
São inúmeros os relatos sobre quão centralizadora é
a presidente Dilma, e de seus modos, rudes muitas vezes, em reuniões
setoriais em que se desagradava de alguma apresentação. Assim como são
vários os relatos de ministros e autoridades em geral que teriam saído
chorando de seu gabinete depois de destratados por ela. Há
relatos que podem ser exagerados, de palavras de baixo calão ditas no
calor de uma discussão, mas são muitos. Enfim, a única coisa que não
existia até agora era a descrição de uma presidente que não sabe o que
seus assessores mais próximos estão fazendo.
Quando, ainda no
primeiro mandato, pensava-se num substituto para o então ministro da
Fazenda Guido Mantega, lá vinha a explicação para sua inamovibilidade: a
presidente não encontraria nenhum outro que cumprisse fielmente o que
queria. Na verdade, a ministra da Fazenda era a própria Dilma.
Pois agora, que as chamadas "pedaladas fiscais" e outras
irresponsabilidades com o Orçamento público estão sendo contestadas pelo
TCU, que exigiu explicações em 30 dias da própria presidente Dilma,
surge a explicação de que toda a responsabilidade tem que ser jogada
sobre o ex-secretário de Tesouro Arno Augustin.
Reportagem do
jornal "Valor Econômico" revelou a existência de uma nota técnica
assinada por Arno em 30 de dezembro de 2014, último dia útil do ano, em
que o então secretário diz ser dele a responsabilidade por fazer a
liberação e a transferência de recursos pelo Tesouro.
Na nota
técnica, redigida pela Coordenação Geral de Programação Financeira
(Cofin) e pela Subsecretaria de Política Fiscal ( Supof ), Arno reitera
que "cumpre à Supof e à Cofin procederem na operacionalização da
liberação/ transferência desses recursos, posteriormente à autorização
de liberação pelo secretário do Tesouro Nacional".
Ora parece
"inviável", como gosta de afirmar o juiz Sérgio Moro, que a presidente
Dilma não soubesse que seu subordinado estava cometendo atos ilegais.
Economista, centralizadora, a presidente Dilma não seria digna da fama
que tem se deixasse que assessores tomassem decisões que ela teria que
assinar. Justamente por isso, como salienta o ministro Augusto Nardes do
TCU, não tem a menor importância a justificativa de Arno Augustin, pois
a palavra final será sempre da presidente.
Muitas das questões
que estão sendo contestadas pelo TCU dizem respeito a programação
financeira e contingenciamento, de competência privativa da presidente
da República. Portanto, chega a ser ridícula essa tentativa de
transformar a rainha imaginada pelo marqueteiro João Santana na rainha
da Inglaterra, sem poder de comando no governo.
Fonte: O Globo - Coluna do Merval Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário