Em entrevista coletiva, o deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciou o seu rompimento pessoal com o governo.
Afirmou que, nem por isso, deixará de tomar decisões imparciais na presidência
da Câmara. Cunha acusa o Planalto de estar por trás da nova versão apresentada
por Julio Camargo, da Toyo Setal, que, em novo depoimento ao juiz Sergio Moro,
afirmou lhe ter pagado U$ 5 milhões em propina. Em depoimentos anteriores,
Camargo havia negado o pagamento. Segundo o deputado, a nova versão decorre da
pressão feita por Rodrigo Janot, procurador-geral da República, que estaria
agindo sob o comando do Planalto. Se é sob o comando, não sei. Que age de
acordo com o gosto, ah, isso sim!
O PMDB emitiu uma nota curta a
respeito, objetiva a mais não poder:
“A manifestação de hoje do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB. Entretanto, a Presidência do PMDB esclarece que toda e qualquer decisão partidária só pode ser tomada após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional.”
“A manifestação de hoje do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB. Entretanto, a Presidência do PMDB esclarece que toda e qualquer decisão partidária só pode ser tomada após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional.”
Na entrevista, Cunha deixou claro que não está
cobrando posição nenhuma do partido agora, mas que, no congresso da legenda,
que ocorrerá em setembro, vai defender o rompimento oficial da sigla com o
governo, mesmo o vice pertencendo ao PMDB. Ele lembrou, de forma apropriada,
que Michel Temer é “indemissível”. Bem, é mesmo. Temer também foi eleito,
embora muita gente se esqueça disso.
Há uma questão que segue sem resposta. Por que
Rodrigo Janot não pediu até agora nem mesmo abertura de inquérito contra Lula e
Dilma — ele pode pedir, sim, abertura de inquérito contra a presidente. Ora,
tenham a santa paciência! Há algo de errado quando uma operação como essa tem
como alvos principais Eduardo Cunha e Renan Calheiros. É a dupla que comanda a
Petrobras há 13 anos? O presidente da Câmara, claro, citou essa estranheza.
Embora Cunha não tenha acusado Sergio Moro de
conluio com o governo, sobrou uma crítica justa ao juiz: “Ele violou o
procedimento de foro privilegiado. O juiz acha que o Supremo se mudou para
Curitiba”. E violou mesmo.
Moro já ouviu dois depoimentos, em inquéritos que
integram a Operação Lava Jato, em que os principais alvos são Renan Calheiros,
acusado por Paulo Roberto Costa, na segunda, e o próprio Cunha, acusado por
Julio Camargo, nesta quinta. A desculpa heterodoxa é que, nesses dois casos,
tanto um como outro não falavam no âmbito da delação premiada. É evidente que
se trata de uma forma sub-reptícia de desrespeitar a Constituição.
Não sei se Cunha é culpado ou inocente — alguns
coleguinhas meus, pelo visto, já sabem ser ele culpado, dada a forma como o
tratam. Quem o acusa agora já disse o contrário antes. O que sei, e isto é
inegável, é que, de fato, na prática, a Procuradoria-Geral da República ainda
não pediu abertura de inquérito para investigar Dilma, Aloizio Mercadante,
Edinho Silva ou Lula. Nesse caso, aquele procedimento aberto pelo Ministério
Público do Distrito Federal é só uma lateralidade em relação à questão
principal.
O presidente da Câmara faz bem em reagir. Dez entre
dez jornalistas sabem que os governistas viviam anunciando para breve o fim de
Cunha. Sei não… Parece que se está diante do começo de uma coisa nova.
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