O mercado de trabalho piorou mais
rápido e mais intensamente do que o governo previa.
Para tentar reduzir a intensidade das demissões, o governo anunciou nesta
segunda-feira o Programa de Proteção ao Emprego, que
usará recursos do FAT para bancar 15% do salário do trabalhador. O governo está aumentando os gastos do FAT, que já está
fechando no vermelho e recebendo aportes do Tesouro.
Essas despesas não estavam
previstas no Orçamento e tornam ainda mais difícil o cumprimento do superávit primário este
ano e no próximo. Outra contradição é o governo ter recentemente adiado o
pagamento do abono salarial - benefício
para quem ganha até dois salários mínimos - para pagar parte dos salários de trabalhadores
qualificados, que serão os mais beneficiados.
O governo alega que, com a medida, conseguirá evitar um rombo ainda maior do
FAT, que aconteceria com o aumento do pagamento de
seguro-desemprego e saques do FGTS. Ou seja, acredita que vai gastar um
pouco mais agora, mas evitará uma despesa ainda maior em um contexto de
deterioração do mercado de trabalho nos próximos meses. Não é essa a avaliação
dos especialistas. O economista Mansueto Almeida diz que as medidas juntas vão dando sinais de improviso, diante de uma deterioração muito forte do
mercado de trabalho. - No início do ano,
havia estimativas de bancos de perda de 200 mil empregos formais. Hoje,
já há contas chegando a 950 mil. Acho que só
falta ao governo anunciar que não vai cumprir a meta de superávit primário este
ano. Porque com mais anúncio de gastos, está cada vez mais difícil chegar à
meta. A previsão de receitas era de aumento de 5% este ano, e estamos com queda
de 3% - disse Mansueto.
O economista
lembra que esse é um tipo de medida que funciona para crises de curta duração,
conjunturais, o que não parece ser o caso de alguns setores, como o
automobilístico. - Se a crise for breve,
você corta o programa assim que a economia se recuperar. Mas se a recessão for
longa, fica mais difícil manter o gasto ou ter que cortar o programa antes da
recuperação. Olhando esses anúncios juntos, fica-se com a sensação de
improviso.
Por mais
meritório que seja a intenção do governo ter um programa que proteja o emprego
no atual conjuntura, o fato é que isso é mais um programa que ampara apenas o
mercado formal. É, portanto, parcial. Quase
30% dos trabalhadores brasileiros estão na informalidade.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão
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