Evento
organizado por Kátia Abreu contou com a presença de um Renan descontraído após
delação de Sérgio Machado
Longe do terremoto político provocado pela
divulgação da delação do
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), entrou pela madrugada desta quinta-feira na animada festa
junina organizada pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Perto
da mesa de senadores da base e oposição comandada por Renan, o deputado Tiririca (PR-SP) tentava
esquentar a pista de dança cantando forró e uma fogueira aquecia os convidados.
Mas o que deve ter ardido para valer foi a orelha do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, nome repetido à exaustão pelo peemedebista, alvo de
um pedido de prisão da PGR negado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Teori Zavascki.
A maior
parte do tempo, entre um gole e outro de uísque, Renan riu e contou piadas
incluindo as dificuldades que vem enfrentando ao longo dos últimos anos. Mas
volta e meia o assunto mirava Janot, que nesta guerra declarada, agora terá um
dos vários Renan já chegou na festa mostrando no celular, nas rodas de
conversa, uma notícia com declarações de Janot que dizia: “Mais de 20 políticos citados: Manter sigilo de delação de Machado
geraria crise entre Poderes”. Inconformado, Renan dizia que os vazamentos
foram permitidos “de forma covarde”
comprometendo os citados sem “comprovar a
materialidade” das acusações. — Essa
notícia comprova que Janot está estimulando os vazamentos. Isso é uma
irresponsabilidade. E como pede a prisão com base em flagrante armado, sem
comprovação de materialidade e gravação de um chefe de poder com foro? Grampo
de quem tem foro só é legal com autorização da Justiça. A gravação foi feita
pelo Sérgio Machado para tentar dar materialidade às delações. Mas não existe
materialidade. Isso é um absurdo ! — protestou Renan, nas conversas com os
senadores.
‘EU
NÃO!, O SARNEY’
A
senadora Kátia Abreu também criticou os pedidos de prisão e ambos concordaram
que Janot “é fraco” e faz peças “sem consistência” que estão sendo
derrubadas por Teori. — Quando o Janot
pediu as prisões ele colocou a corda no pescoço dele — comentou a senadora
Kátia Abreu. — E colocou lá no pedido que
nós formávamos uma organização criminosa! — disse Renan
— E você era o chefe da
organização criminosa — seguiu Kátia Abreu. — Eu não! O
chefe era o Sarney. Logo o Sarney, que já está fora de tudo? — explicou
Renan. Vez por outra Renan fazia uma
menção sobre a divulgação da delação de Sérgio Machado envolvendo o pagamento
de propina para a cúpula do PMDB na última década. Contou que o senador Roberto
Requião (PMDB-PR) o procurou para comentar as notícias, preocupado. — Você viu o teor da delação do Sérgio
Machado? — perguntou Requião. — Não
vi, estou aqui enrolado com essas coisas do Senado — respondeu Renan. — Pois é. Você acredita que ele me citou? —
completou Requião.
‘O
CHEFE’ SARNEY REVOLTADO
Antes de
seguirem para a festa de Kátia Abreu, Renan, o líder do PMDB Eunício Oliveira
(CE) e o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) passaram na casa de Sarney para
acalmá-lo sobre as revelações da delação de Sérgio Machado. Sarney estaria inconformado com o parecer
em que Janot o coloca como chefe de organização criminosa.
Desafeto
de Renan, o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também volta
e meia tinha seu nome citado, mas para o senador sempre ressaltar que não tem
relações com o colega de partido. — Não
sei nada de Cunha, não estou acompanhando o seu caso lá na Câmara. O Eduardo
não é meu malvado preferido — brincava sobre o apelido de Cunha.
Presentes
à festa de Kátia, os senadores que integram a tropa de choque da presidente
Dilma Rousseff na comissão do impeachment pediram a intervenção de Renan para
acalmar a tropa de choque governista, principalmente os senadores Ricardo
Ferraço (PSDB-ES) e Waldemir Moka (PMDB-MS) apontados como os mais brigões. — O que está acontecendo com o Moka? Renan,
você tem que arrumar uma namorada para ele. Está muito nervoso — sugeriu a
senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). —Eu
não!! Não arrumo nem pra mim. Pede pro Eunício arrumar, ele que é candidato a
presidente do Senado — respondeu Renan.
Ele
prometeu, entretanto, divulgar uma nota hoje alertando o consultor do Senado, Diego Prandino Alves, coordenador da
comissão pericial, a agir com isenção e imparcialidade na perícia requerida
pela defesa de Dilma. Ontem a comissão rejeitou a impugnação da indicação
de Prandino, acusado por José Eduardo Cardozo de ter engajamento político
contra Dilma e movimentos de esquerda, em suas publicações no Facebook.
Aproveitando
a deixa, a senadora Kátia Abreu tentou demover Renan da
intenção de lançar hoje às 11 horas o livro sobre a votação no Senado que
aprovou o afastamento de Dilma, intitulado “As 20
horas da História”, contando
minuto a minuto a sessão que entrou pela madrugada. — Essa é a pior hora para você lançar esse livro. Você não pode fazer
isso agora antes da votação do impeachment. Estará cravando que Dilma já está
condenada. Só falta ter na capa uma forca com a cabecinha dela pendurada. Por
favor, desmarque esse lançamento — apelou Kátia Abreu.
— Não! Cada página desse livro foi editada
pessoalmente por mim para mostrar minha isenção como presidente do Senado. O
Janot vive querendo me afastar então eu tenho que lançar logo esse livro. Eu
gosto muito da Dilma. Vou levar o livro para ela de presente — brincou
Renan. — E ela vai tacar na sua cabeça — respondeu Kátia Abreu.
VOVÔ
GOLPISTA?
Ele também contou histórias do neto Renzo, de nove
anos, que ele
cria desde bem cedo e que, segundo ele, é o único membro da família que produz
matérias positivas na imprensa, lembrando matéria do GLOBO
sobre sua presença na festa de posse no Senado. Durante um encontro com Dilma,
Renan contou que o menino o colocou em uma saia-justa: — Meu avô, é verdade que você é golpista?
Na mesa
que tinha Eunício Oliveira (PMDB-CE), Kátia, os senadores Lindbergh Farias
(PT-RJ), Lúcia Vânia (PSB-GO), Eduardo Braga (PMDB-AM), e Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM), Renan desmentiu notícias de que estaria
brigado com o presidente interino Michel Temer. Contou que no encontro
que tiveram nesta terça-feira, Temer pediu e ele irá retomar a tramitação da
chamada “Agenda Brasil”. Hoje vai
trocar os membros da comissão e nomear um novo relator, já que Blairo Maggi
(PP-MT) foi para o Ministério da Agricultura e alguns senadores que participam
da comissão do impeachment ficariam impedidos por causa das sessões
intermináveis.
Outro indicativo da reaproximação
com o governo Temer é que o
ministro das Relações Exteriores, José Serra, iria indicar o secretário-geral
da Mesa do Senado, Luiz Fernando Bandeira de Mello, como embaixador do Brasil
na Bélgica. Bandeira é o braço-direito de Renan na Mesa.
A
parte amena das conversas girou sobre as festas com mulheres espetaculares que
o senador Zezé Perrela (PTB-MG)
costuma fazer em Brasília. Numa dessas, em que Renan foi homenageado, ele
contou que saiu logo para evitar problemas. —
Vou embora porque eu não aguento outra CPI — contou Renan aos senadores, em
referência ao rumoroso caso de Mônica Veloso, com quem teve uma filha e
enfrentou pedido de cassação e investigação no STF sobre uso de uma empreiteira
para pagar despesas da mulher.
Tendo
como homenageado especial o ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da
União (TCU) José Jorge, a festa de Kátia
Abreu pretende continuar a tradição do pernambucano que nos últimos 30 anos
reuniu políticos de todas as tendências em festas de São João na capital.
Fonte: O Globo
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