O Rio pede socorro. Vivendo um colapso financeiro sem precedentes
decretou estado de calamidade pública às vésperas da Olimpíada. Foi a
alternativa que restou para angariar dinheiro extra da União. Recebeu
assim quase R$ 3 bilhões em aporte destinado a despesas emergenciais. É
um pingo d’água para saciar a sede de recursos. A decretação de
“calamidade” pegou o mundo de surpresa. Literalmente. Todos já estavam
com os olhos voltados para lá diante da iminência dos Jogos. Ninguém
esperava tamanha penúria. Só mesmo os cidadãos que já sofriam ali os
reflexos desse quadro de escassez. A medida extrema de calamidade
normalmente só é aplicada em casos de desastres naturais de grandes
proporções, geralmente imprevisíveis. Na visão de especialistas, não
cabia tal classificação e, por isso mesmo, o decreto carregaria um vício
de inconstitucionalidade.
Foi usado, acreditam, para driblar a Lei de
Responsabilidade Fiscal que não permite transferências de verbas para
estados inadimplentes. A hecatombe orçamentária da Cidade Maravilhosa
vinha sendo construída há algum tempo – daí a contestação. Ela alcançou
as raias do insustentável. Hospitais e escolas foram parando ou
simplesmente fecharam as portas. Salários entraram em modo de atraso
constante. No quesito segurança, todo trabalho de UPPs e rastreamento de
quadrilhas do tráfico havia voltado à estaca zero. O drama culminou com
a invasão de bandidos armados a uma unidade de saúde para liberar o
chefe de uma facção. Com mortes e terror generalizado o episódio
retratou a extensão da crise e do descontrole do Estado para zelar por
direitos elementares de sua população. O pedido de basta e os protestos
estavam estampados pelas ruas e esquinas. A carência de serviços
fundamentais em contrapartida aos tributos cobrados virou uma balança de
pesos desproporcionais. Não tinha como a situação não desaguar numa
pororoca de insolvência.
As margens apertadas de manobra dão conta da
velocidade com que avançaram as dificuldades do Rio. Hoje há um notório
inchamento da estrutura e de funcionários. Quadro que foi se agravando
com o passar dos anos. Como se chegou até aqui? A unanimidade dos
críticos apontam o festival de isenções fiscais, que contemplou até
boates e cabeleireiros, como parte do problema. Teria colaborado também o
mergulho abissal do preço do petróleo, que afetou significativamente as
receitas com royalties. E como cereja do bolo, o demasiado aumento da
folha de pagamentos, que subiu ao ritmo de 7% anuais, acima da inflação.
No cenário em vigor, as generosas aposentadorias e o calote de dívidas
com prestadores de serviço evidenciam a urgente necessidade de reformas
administrativas.
É o único caminho para frear o processo em curso. Algo
que já devia ter acontecido. Para o bem geral da Nação, e existe
consenso nesse sentido, o Rio vai precisar de ajuda para sair do buraco.
O Governo Federal se prestou a dar uma mão. O presidente Michel Temer,
diante da perspectiva de humilhação global do País, apontou que esse é
um caso especial. Em questão de horas despachou a proposta de liberação
de verba. A ajuda excepcional também foi complementada por uma espécie
de moratória branda de suas dívidas até o final do ano – medida que
contemplou a totalidade de estados da Federação. Temporariamente veio um
alívio. Faltam ainda mudanças estruturais para que a sede olímpica
brasileira não seja apenas uma paisagem de cartões postais, com muitos
podres escondidos por trás do marketing.
Fonte: Editorial - Isto É - Carlos José Marques
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