Senadores
ficaram indignados com a “batida” da Polícia Federal em um dos
apartamentos funcionais da Casa, ocupado pela colega Gleisi Hoffmann, em
operação para busca e apreensão de provas para instruir o inquérito
contra o marido da senadora, ex-ministro Paulo Bernardo, preso
preventivamente sob a acusação de crime de corrupção.
Os
senadores, no entanto, não pareceram se espantar nem a eles acometeu
sentimento de indignação diante do motivo da investigação: o desvio de
R$ 100 milhões das operações de crédito consignado, no Ministério do
Planejamento, entre 2010 e 2015. Segundo os investigadores, parte do
dinheiro teria ido para Paulo Bernardo (titular da pasta no governo Luiz
Inácio da Silva) e parceiros do esquema, parte destinada aos cofres do
PT sob a gerência do notório João Vaccari Neto. Esse o real
desvio de foco que o cinismo de uns e a apressada simplificação da
realidade de outros apontam como a motivação e/ou consequência da
Operação Custo Brasil – cria da Lava Jato – do Ministério Público de São
Paulo. Segundo versão corrente, a prisão de Paulo Bernardo teria o
condão de “desviar o foco” do noticiário político policial do PMDB para o
PT levando “alívio” ao Palácio do Planalto.
Se não é má-fé é
autoengano. Mais de dois anos depois de iniciada, a Lava Jato e seus
desdobramentos chegam aos políticos com uma força que ultrapassa a
tarefa levada a cabo em Curitiba. Evidente que a prisão de um
graúdo é um baque para o PT. Mas é só mais um. Outros piores vieram e
alguns piores ainda virão para se somar ao passivo do partido, cujo
acerto de contas se dá agora na Justiça e, logo mais, dar-se-á nas
urnas.
Essa é a fatura a ser paga pelos petistas. O que não
significa que a cobrança às contas em aberto de outros grupos políticos
desapareça no turbilhão da galeria como se fosse possível contabilizar o
prejuízo alheio como benefício. Polícia Federal, procuradores e juízes
empenhados em esmiuçar o funcionamento do aparelho corrupto de Estado já
mostraram que não fazem cerimônia ideológico/partidária.
O PMDB
safou-se por ora de ver alguns de seus ilustres na prisão. Mas os
inquéritos, os processos, as denúncias e os fatos (tanto passados quanto
ainda a serem comprovados) estão em andamento e, como vemos dia sim
outro também, os personagens se revezam no infortunado destaque à medida
que avançam as investigações. Portanto, o coadjuvante de hoje pode ser o
protagonista de amanhã. E vice-versa. De onde não há que se
falar em “desvio de foco por motivação política”. Se tentativa de mudar
de conversa há – e claramente há –, parte de suas excelências cuja
unidade de discursos ultimamente (desde o pedido de prisão para Romero
Jucá, José Sarney e Renan Calheiros feito pela Procuradoria-Geral e
negado pelo Supremo Tribunal Federal) está acima das diferenças
partidárias.
A ordem da estação é a crítica à condução das
investigações. Nisso estão unidos petistas, tucanos (à exceção do
senador Aloysio Nunes Ferreira), pemedebistas e todo “arco da sociedade”
parlamentar. No pedido de prisão para os colegas mais do que
encrencados, protestou-se que Rodrigo Janot havia “extrapolado”. Agora,
na visão dos senadores, quem extrapolou foi o juiz que ordenou a busca e
apreensão relativa a Paulo Bernardo, que não tem foro especial, porque
teria “violado” a sacrossanta residência da senadora casada com o
investigado.
A súbita e fraterna união teve efeito apaziguador
até na Comissão Especial do impeachment, onde o espírito de corpo achou
por bem não tocar no assunto e arquivar temporariamente os embates.
Qualificou-se de “silêncio respeitoso”. Em contraponto,
estabeleceu-se um absolutamente desrespeitoso silêncio em relação ao
desvio de dinheiro do crédito consignado, certamente a título de pedágio
por uma das grandes obras sociais do PT.
Fonte: Dora Kramer - O Estado de S. Paulo
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