A esquerda, quando
confrontada com os fatos, com a lógica ou com a verdade, costuma recorrer a uma arma na qual é
mestra, a invectiva e o insulto pessoal que, nos últimos tempos, no Brasil,
ganhou uma nova forma: a cusparada!
Entre esses insultos freqüentes, esvaziado de significado mas prenhe de rancor, está o de "fascista". Sim, se alguém tem convicções que não alinham com a cartilha do "politicamente correto" ou da militância engajada, será facilmente tachado de "fascista".
Entre esses insultos freqüentes, esvaziado de significado mas prenhe de rancor, está o de "fascista". Sim, se alguém tem convicções que não alinham com a cartilha do "politicamente correto" ou da militância engajada, será facilmente tachado de "fascista".
Insulto gratuito e desonesto
O insulto é gratuito, desonesto e visa tolher pela ofensa o debate que não se vence pela ideia. "Os fascistas do futuro se qualificarão a si mesmos de antifascistas!", teria dito o grande Churchill.
Afinal, o fascismo é mesmo tão oposto ao marxismo, o qual, nas suas diversas formas e mutações, povoa mentes e corações de esquerdistas, que usam o termo "fascista" como insulto fácil contra seus adversários?
Polêmica
Recentemente eclodiu em Portugal uma interessante polêmica nos meios jornalísticos a esse respeito.
José Rodrigues dos Santos, um destacado jornalista, autor de romances com grande tiragem, escreveu e comprovou em suas obras que o fascismo tem origens marxistas, o que, por contradizer ideias feitas, "parece ter incomodado algumas almas, incluindo políticos que, à falta de melhores argumentos, recorreram ao insulto baixo", nas palavras do próprio autor.
No jornal Público (25.05.2016), de Lisboa, Paulo Pena (*), tentou refutar a relação entre fascismo e marxismo, com falta de rigor, com imprecisões e inconsistências toscas.
José Rodrigues dos Santos respondeu nas mesmas páginas do jornal Público (29.05.2016), com um artigo intitulado "O fascismo tem origem no marxismo", onde expôs as ideias essenciais da viagem do marxismo até ao fascismo e desafiou: "Se acham que o fascismo não tem origens marxistas, façam o favor de desmentir as provas que apresento nos meus romances".
Também o Prof. André Azevedo Alves, no Observador (28.05.2016), desfez as inconsistências do artigo de Paulo Pena, traçando as semelhanças práticas e as ligações no plano da genealogia das ideias do fascismo e do marxismo. Escreveu ele: "A trajectória política de Mussolini não pode ser reduzida a um mero caso de “transição abrupta entre ideologias adversárias”. Mussolini, figura de proa do socialismo italiano, foi um marxista ortodoxo que admirava incondicionalmente Marx e o tinha como uma referência absoluta no campo doutrinal. (...) Não é por isso de estranhar que o fascismo partilhe vários traços ideológicos centrais com o marxismo: o colectivismo, a oposição ao liberalismo e – talvez mais importante no plano da acção política – a rejeição do pluralismo e a apologia da violência revolucionária".
O insulto é gratuito, desonesto e visa tolher pela ofensa o debate que não se vence pela ideia. "Os fascistas do futuro se qualificarão a si mesmos de antifascistas!", teria dito o grande Churchill.
Afinal, o fascismo é mesmo tão oposto ao marxismo, o qual, nas suas diversas formas e mutações, povoa mentes e corações de esquerdistas, que usam o termo "fascista" como insulto fácil contra seus adversários?
Polêmica
Recentemente eclodiu em Portugal uma interessante polêmica nos meios jornalísticos a esse respeito.
José Rodrigues dos Santos, um destacado jornalista, autor de romances com grande tiragem, escreveu e comprovou em suas obras que o fascismo tem origens marxistas, o que, por contradizer ideias feitas, "parece ter incomodado algumas almas, incluindo políticos que, à falta de melhores argumentos, recorreram ao insulto baixo", nas palavras do próprio autor.
No jornal Público (25.05.2016), de Lisboa, Paulo Pena (*), tentou refutar a relação entre fascismo e marxismo, com falta de rigor, com imprecisões e inconsistências toscas.
José Rodrigues dos Santos respondeu nas mesmas páginas do jornal Público (29.05.2016), com um artigo intitulado "O fascismo tem origem no marxismo", onde expôs as ideias essenciais da viagem do marxismo até ao fascismo e desafiou: "Se acham que o fascismo não tem origens marxistas, façam o favor de desmentir as provas que apresento nos meus romances".
Também o Prof. André Azevedo Alves, no Observador (28.05.2016), desfez as inconsistências do artigo de Paulo Pena, traçando as semelhanças práticas e as ligações no plano da genealogia das ideias do fascismo e do marxismo. Escreveu ele: "A trajectória política de Mussolini não pode ser reduzida a um mero caso de “transição abrupta entre ideologias adversárias”. Mussolini, figura de proa do socialismo italiano, foi um marxista ortodoxo que admirava incondicionalmente Marx e o tinha como uma referência absoluta no campo doutrinal. (...) Não é por isso de estranhar que o fascismo partilhe vários traços ideológicos centrais com o marxismo: o colectivismo, a oposição ao liberalismo e – talvez mais importante no plano da acção política – a rejeição do pluralismo e a apologia da violência revolucionária".
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Origens marxistas do fascismo
Pelo interesse do tema, partilho com os leitores do Radar da Mídia a íntegra do artigo e José Rodrigues dos Santos:
A minha afirmação de que o fascismo tem origens marxistas parece ter incomodado algumas almas, incluindo políticos que, à falta de melhores argumentos, recorreram ao insulto baixo. Nada de surpreendente, até porque reconheço que a afirmação contradiz ideias feitas e por isso precisa de ser fundamentada – o que é feito ao pormenor em As Flores de Lótus e em O Pavilhão Púrpura. Para quem preferir ficar-se pela rama, deixo aqui as ideias essenciais da viagem do marxismo até ao fascismo.
Pelo interesse do tema, partilho com os leitores do Radar da Mídia a íntegra do artigo e José Rodrigues dos Santos:
A minha afirmação de que o fascismo tem origens marxistas parece ter incomodado algumas almas, incluindo políticos que, à falta de melhores argumentos, recorreram ao insulto baixo. Nada de surpreendente, até porque reconheço que a afirmação contradiz ideias feitas e por isso precisa de ser fundamentada – o que é feito ao pormenor em As Flores de Lótus e em O Pavilhão Púrpura. Para quem preferir ficar-se pela rama, deixo aqui as ideias essenciais da viagem do marxismo até ao fascismo.
O
marxismo surgiu num contexto de cientifismo. Newton tinha descoberto as leis da
física e Darwin as da seleção natural. Indo no encalço desses dois vultos, e
também de Hegel, Marx e Engels anunciaram que haviam descoberto as leis da
história. Tal como as leis da física e da biologia, ambos concluíram que as
leis da história eram deterministas e independentes da vontade humana.
E
que leis eram essas? Eram as do determinismo histórico, estudadas pela sua nova
ciência, o socialismo científico (tão científico, na sua opinião, quanto a
física de Newton e a biologia de Darwin). A ideia era simples: ao feudalismo
sucede-se o capitalismo, cujas contradições levarão inevitavelmente os
proletários à revolução que conduzirá ao comunismo. Nesta visão a história é
teleológica e determinista. Não é preciso ninguém fazer nada, pois a revolução
do proletariado é inevitável.
Os
anos passaram e não ocorreu nenhuma revolução, o que contradizia a teoria
marxista. Como explicar isto? Surgiram duas teses revisionistas. A primeira, do
marxista alemão Bernstein, foi a de que afinal o capitalismo não ia acabar, o operariado
até estava a melhorar o seu nível de vida e o socialismo podia perfeitamente
adaptar-se ao capitalismo. Esta corrente cresceu no SPD alemão e acabou na
social-democracia como a conhecemos hoje em dia.
A
segunda tese teve origem no marxista francês Georges Sorel. Numa obra
tremendamente influente, Refléxions sur la violence, Sorel concluiu que a
revolução não era inevitável nem seria espontânea. Teria de ser provocada.
Como? Usando uma elite para guiar o proletariado e recorrendo à violência. Seria
a violência que desencadearia a revolução.
Foi
o marxismo soreliano que conduziu ao bolchevismo e ao fascismo. Lenine leu
Sorel e apropriou-se dos conceitos revisionistas da elite, a famosa
“vanguarda”, e do uso da violência. O mesmo Sorel foi lido com atenção em
Itália, em particular pelos sindicalistas revolucionários, marxistas que
adotaram a greve e a violência como formas de desencadear a revolução. Em
paralelo, um marxista austríaco, Otto Bauer, notou que no Império
Austro-Húngaro os operários húngaros mostravam sentimentos de solidariedade
mais fortes para com os burgueses húngaros do que para com os operários
austríacos. Embora o marxismo fosse uma corrente internacionalista, Bauer
buscou legitimidade nalgumas afirmações nacionalistas de Marx e Engels para
lançar uma nova ideia revisionista. Concluiu ele que o comportamento dos
operários húngaros mostrava que o sentimento de nação era afinal mais poderoso
do que o sentimento de classe. O nacionalismo era revolucionário, argumentou,
pois galvanizaria o proletariado para a revolução.
Esta
ideia entrou em Itália pela pena de um marxista italiano de origem alemã,
Roberto Michels, e influenciou os sindicalistas revolucionários italianos.
Estes, contudo, enfrentaram a ortodoxia dos restantes marxistas, incluindo
Benito Mussolini, o diretor do órgão oficial do partido socialista italiano, o
Avanti!
Acontece
que em 1911 ocorreu um acontecimento que iria abalar as convicções ortodoxas de
Mussolini: a guerra ítalo-otomana pela Tripolitania. Mussolini opôs-se a essa
guerra, mas ficou atónito com a reacção do proletariado italiano, que exultava
com as vitórias de Itália. Michels e os sindicalistas tinham razão!, concluiu
Mussolini. As pessoas estão afinal mais dispostas a morrer pela sua pátria do
que pela sua classe.
Quando
a Grande Guerra começou, em 1914, ocorreu uma cisão no movimento socialista. A
Segunda Internacional tinha determinado que os operários dos diferentes países
não entrariam em guerra uns contra os outros, mas na hora da verdade os
socialistas alemães, franceses e britânicos apoiaram a guerra. Apenas os
bolcheviques russos e os socialistas italianos se opuseram.
O
problema é que nem todos os socialistas italianos estavam de acordo. Os
sindicalistas revolucionários queriam a entrada de Itália na guerra porque
achavam que ela seria o forno onde se forjaria o sentimento nacional dos
italianos, cujo país era novo e buscava ainda a sua identidade, e que seria o
sentimento de nação que uniria o proletariado italiano e desencadearia a
revolução. Ou seja, a guerra derrubaria o capitalismo.
Mussolini
começou por manter a linha do partido e opôs-se à entrada de Itália na guerra,
mas depressa deu razão aos sindicalistas e defendeu que os socialistas
italianos deveriam seguir o exemplo dos socialistas alemães, franceses e
britânicos e apoiar a guerra. Esta mudança de posição valeu-lhe a expulsão do
partido.
Os
sindicalistas revolucionários italianos, incluindo Mussolini, fizeram então a
guerra – uma posição perfeitamente em linha com a de outros marxistas europeus,
incluindo os do SPD alemão. Quando o conflito terminou, os sindicalistas
marxistas italianos pró-guerra regressaram a casa mas foram antagonizados pelos
marxistas italianos anti-guerra. Em conflito com estes, os marxistas pró-guerra
fundaram o movimento fascista, com reivindicações como o salário mínimo, o
horário laboral de oito horas, o direito de voto para as mulheres, a
participação dos trabalhadores na gestão das fábricas, a reforma aos 55 anos e
a confiscação dos bens das congregações religiosas. Serei só eu a notar que
estas reivindicações fascistas têm origem marxista?
O
seu pensamento foi entretanto evoluindo. Recorde-se que Marx e Engels
consideravam que o capitalismo era uma fase necessária e imprescindível da
história humana e que sem capitalismo nunca haveria comunismo. Os bolcheviques
renegaram esta parte do marxismo quando preconizaram que na Rússia era possível
passar diretamente de uma sociedade feudal para o comunismo, mas neste ponto os
fascistas mantiveram-se marxistas ortodoxos ao aceitar que o capitalismo teria
mesmo de ser temporariamente cultivado em Itália.
Noutros
pontos os fascistas desviaram-se da ortodoxia marxista. Por exemplo,
aproximaram-se do revisionismo bolchevista quando abraçaram a ideia soreliana
da violência provocada por uma vanguarda e afastaram-se do marxismo e do
bolchevismo quando aderiram à ideia baueriana de que o sentimento de nação era
para o proletariado mais galvanizador do que o sentimento de classe. Isto
levou-os a dizer que a luta de classes não se aplicava a Itália porque esta era
já uma nação proletária explorada pelas nações capitalistas. A luta de classes
apenas iria dividir a nação proletária, pelo que em vez de conflitualidade
deveria haver cooperação entre classes. O chamado corporativismo.
O
seu pensamento continuou a evoluir, sobretudo em consequência do Bienio Rosso,
altura em que os comunistas italianos lançaram uma campanha de ocupação
selvagem de fábricas e de propriedades rurais. Estes eventos levaram os
fascistas a afastarem-se mais do marxismo, pois entendiam que estas ações
enfraqueciam a nação, que designavam de “classe das classes”, ao ponto de
começarem a proclamar-se anti-marxistas. Convém no entanto recordar que
Mussolini esclareceu que o fascismo objetava ao marxismo não por este ser
socialista, mas por ser anti-nacional.
Tudo
isto está explicado, com muito mais pormenor, em As Flores de Lótus e O
Pavilhão Púrpura, e curiosamente nada disto foi desmentido por ninguém. Os meus
críticos limitaram-se a constatar que os fascistas se descreviam como
anti-marxistas – e assim foi a partir de certo ponto. Mas isso nada me desmente
porque nunca disse que os fascistas, na sua fase já amadurecida, eram
marxistas. O que eu disse, e repito, é que o fascismo é um movimento de origem
marxista – o que é verdade.
Se
acham que o fascismo não tem origens marxistas, façam o favor de desmentir as
provas que apresento nos dois romances. E, já agora, aproveitem também para
desmentir que o fascismo alemão se designava nacional-socialismo. Como acham
que a palavra socialismo foi ali parar? Por acaso?"
(*) Quem se interessar pelo
que escreveu Paulo Pena, leia aqui.*
O abraço da contracultura
Foram
vivos e acalorados os debates sobre a extinção ou
continuidade do Ministério da Cultura, com uma certa "tropa de
choque" do mundo artístico (minoritária e bem tratada com verbas públicas), fazendo terrorismo publicitário, devidamente apoiada
pelo jornalismo "a
soldo", como se alguma catástrofe inexorável se tivesse abatido
sobre o País.
A ideia de uma cultura promovida ou
tutelada por Ministério é bem controversa, como se a cultura verdadeira pudesse nascer de
mecanismos estatistas e não fosse a elaboração paulatina do organismo vivo da
sociedade.
Cultura e aprimoramento
Podem encontrar-se para Cultura inúmeros sentidos e significados, mas há sempre um elemento básico e comum: a ideia do aprimoramento do espírito humano. Ideia que pressupõe que todo o homem tem em seu espírito qualidades susceptíveis de desenvolvimento e defeitos passíveis de correção. Só a contra-cultura parece buscar a inversão da ordem natural e o conseqüente aviltamento do ser humano como um todo.
Podem encontrar-se para Cultura inúmeros sentidos e significados, mas há sempre um elemento básico e comum: a ideia do aprimoramento do espírito humano. Ideia que pressupõe que todo o homem tem em seu espírito qualidades susceptíveis de desenvolvimento e defeitos passíveis de correção. Só a contra-cultura parece buscar a inversão da ordem natural e o conseqüente aviltamento do ser humano como um todo.
É
por isso que alguns - que agora estrebucham, ao ver ameaçados suas benesses
estatais - reduziram a arte, e a mais amplamente a cultura, a um
mecanismo de difusão de uma ideologia que desconstrói valores, subverte
conceitos e tenta ser o esteio estético de um enredo
sócio-político justiceiro (ricos
contra pobres, negros contra brancos, etc.), em nome do qual tudo está
justificado.
Lula e a contracultura
Lula é o símbolo e o herói máximo dessa narrativa: humilde, amigo dos pobres, contra as elites e o colonialismo centenário, a ele tudo é permitido; até mesmo se os fatos mais incontestes, se as investigações policiais e as sentenças judiciais mais claras apontarem para o fato de ser ele o "capo" de uma imensa organização criminosa, que corrompeu a política, afundou a economia, desmoralizou as instituições, humilhou a diplomacia, subverteu a educação, alimentou a discórdia e que não recuou diante de nenhum tipo de crime, para assegurar um projeto de poder cada vez mais autoritário!
O
abraço de Chico Buarque
(aliás, um representante dessas tão
odiadas elites!) e Lula é o símbolo
infame dessa cumplicidade contracultural.Lula é o símbolo e o herói máximo dessa narrativa: humilde, amigo dos pobres, contra as elites e o colonialismo centenário, a ele tudo é permitido; até mesmo se os fatos mais incontestes, se as investigações policiais e as sentenças judiciais mais claras apontarem para o fato de ser ele o "capo" de uma imensa organização criminosa, que corrompeu a política, afundou a economia, desmoralizou as instituições, humilhou a diplomacia, subverteu a educação, alimentou a discórdia e que não recuou diante de nenhum tipo de crime, para assegurar um projeto de poder cada vez mais autoritário!
Por: José Carlos Sepúlveda da Fonseca
http://radardamidia.blogspot.com
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