A burrice tem a 'vantagem' de 'explicar' o mundo
‘Como
podem 60 milhões de pessoas serem tão estúpidas?” Essa foi a manchete
de capa do jornal inglês “The Guardian”, quando Bush foi reeleito. E
hoje? 52 milhões de imbecis jogaram fora a Grã-Bretanha por ignorância e
velhice (a maioria era de velhos burros). Como sentenciou a “The
Economist”, “foi um gesto de automutilação”, impensado, preconceituoso.
Vocês
viram aquele sósia do Trump, o Boris Johnson, ex-prefeito de Londres?
Pois é; na última hora ele traiu o babaca do Cameron, que convocou
aquele plebiscito desnecessário e imprudente, e liderou o “leave”. Esse
Boris é um rato igual ao Trump: o mesmo cabelinho louro, mesmas fuças
boçais, mesmas frases agressivas e populistas para o povo entender, ou
melhor, “não entender” a complexa situação econômica e política de hoje.
O Reino Unido tem uma eterna saudade do império que se estendeu ao
mundo todo. Ainda se sentem donos de um passado glorioso. Usando essa
estupidez, Boris arrasou o Reino Unido.
O triunfo
da barbárie, da estupidez está no mundo todo. A Síria agoniza nas mãos
daquele assassino Assad, que destrói o próprio país, envia milhões de
desgraçados para a Europa e não pode ser destruído porque o outro
assassino Putin não deixa. Esse outro canalha tem bomba atômica e se
vale disso. Pode?
O Oriente Médio se estraçalhou, a
“primavera” virou inferno e todo o horror dessa zona geral migra para o
Ocidente, aumentando a bagunça institucional da crise agora acirrada
por aquele Trump inglês. E, por outro lado, já
imaginaram aquele Trump americano, um doente mental sem escrúpulos, com
os dedos nos botões de guerra nuclear? Espero que não seja eleito, mas
sua presença já mostra que a democracia pode ser um perigo quando cai
nas mãos da ditadura da chamada “maioria silenciosa” (Tocqueville). A
única coisa boa dessa repulsiva figura é mostrar a verdadeira cara do
partido Republicano, aquele antro de fundamentalistas, o EI da América.
Esse
plebiscito inglês foi o primeiro sinal. Com o mundo tão
incompreensível, a tendência das pessoas mais burras é se isolar, ter a
nostalgia de um passado que pensam que era bom, com ódio e rancor contra
a “lenta” democracia. A imediata atitude é o nacionalismo como o
envoltório de um narcisismo boçal, a recusa à convivência com
contrários. Os estúpidos amam o autoritarismo. Por isso, hoje pululam
ditadores, desde o ratinho atômico da Coreia do Norte até os Maduros e
aquela fascista Le Pen.
Como é o “design” da
estupidez? A estupidez, antes de tudo, é uma couraça. A estupidez é um
mecanismo de defesa. É o bloqueio de qualquer dúvida de fora para
dentro, é o ódio a qualquer luz que possa clarear as deliciosas trevas
onde vivem. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez ele disse em Yale:
“Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos
USA”. E aí, invadiu o Iraque e escangalhou o Ocidente.
Mesmo
inconscientemente, aqui e lá fora, sociedades estão famintas por
tiranias rápidas. A democracia decepciona as massas porque é muito
complexa para ser entendida. O homem comum de hoje não entende mais
nada. Assim, adotam apelos populistas, invenção de “inimigos” do povo,
divisão entre “bons” e “maus”
E aqui, como se comporta a estupidez?
Bem,
estamos saindo, se Deus quiser, da maior onda de estupidez justificada
teoricamente, desde Cabral. A pretensa “esquerda” que se apossou do país
há doze anos fez tudo ao contrário do que deveria. Por quê? Porque são
incompetentes? Sim, claro que são; mas a razão é mais estúpida ainda.
Fizeram tudo ao contrário, pois acham que o certo está no oposto. Já
disse e repito (gostei da frase) que, para o comuna típico, o óbvio é
“de direita”.
Os estúpidos são militantes, têm fé
em si mesmos e têm a ousadia que os inteligentes não têm. Mas, o sujeito
também pode ser culto e burro. Quantos filósofos sabem tudo de Hegel ou
Espinoza e são bestas quadradas? Seu mundo tem três ou quatro verdades
que eles chupam como picolés. Nosso futuro era determinado pelos burros
da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos.
Esses
gênios, em seus latifúndios teóricos, trouxeram-nos a suprema estupidez
regressista, um desejo de voltar para a taba, para o casebre com
farinha, paçoca e violinha. Assim, teríamos um país solidário,
simplesinho — um doce rebanho político que deteria a marcha das coisas
do mundo, do mercado voraz, das pestes e, claro, dos “canalhas”
neoliberais. Aqui, também assistimos à vitória da
testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata; traz
angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desorganiza; burrice
consola. A burrice é a ignorância com fome de sentido, é a utopia de
cabeça para baixo, o culto populista da marcha a ré.
Em
nossa cultura, achamos que há algo de sagrado na ignorância dos pobres,
uma “sabedoria” que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo.
Só os pobres de espírito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na
base do populismo brasileiro uma crença lusitana, contrarreformista, de
que a pobreza é a moradia da verdade. Aqui e no
planeta, o que está rolando hoje é um irracionalismo automutilador, uma
estupidez desorientada, a ilógica como lógica. Crescem em toda parte
ideologias nacionalistas, sempre pautadas pela exclusão do outro, sejam
imigrantes famintos, sejam muçulmanos pacíficos, sejam os inimigos do
PT.
A burrice tem a “vantagem” de “explicar” o
mundo. Não querem frescuras complexas, sutis, situações políticas
democráticas. Preferem a estupidez como solução. O diabo é que a
estupidez no poder chama-se “fascismo”.
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