Um fala em “acordo de leniência partidário”; outro, em delação premiada. Os chefões do PT têm com o que se preocupar
Huuummm…
Parece que
José Dirceu e João Vaccari Neto não estão mais dispostos a matar a bola
no peito… Explica-se: nos dois casos, isso pode significar passar
praticamente o resto da vida na cadeia. O que fazer, então?
A VEJA desta
semana informa que Vaccari estaria pensando, sim, em fazer delação
premiada. Pois é… Se isso acontecer, devasta o PT. Por outro lado,
petistas que andaram falando com o homem dão a entender que ele poderia
optar, assim, por um troço controlado, que atingiria também o atual
governo. De que modo? Comprometendo a chapa que elegeu Dilma-Temer com
recursos ilegais.
Pois é… Os
petistas até podem sonhar com isso, mas não parece que possa dar certo. A
que me refiro? Uma delação só pode ser premiada se o sujeito contar o
que sabe, não o que interessa a seu grupo político, não é mesmo? Ou será que o
Ministério Público Federal permitiria que Vaccari, mesmo na cadeia,
depois de todos os crimes que cometeu, continuasse a ser um operador
político, selecionando os alvos que interessa a seu grupo?
Ou por
outra: é razoável supor que ele pudesse escolher quem manda e quem não
manda para a guilhotina? Ora, isso não seria delação premiada, mas
tramoia política. Mas por que não conta tudo de vez? Consta que teme por sua vida. Acha que seria assassinado.
Dirceu
Mais engenhosa é uma ideia que vem do
planeta José Dirceu — e creio que verdadeira porque Roberto Podval, seu
advogado, em conversa com a Folha, deixa claro que algo semelhante está
em cogitação. Em que
consistira? Uma espécie de acordo de leniência partidário. O PT e os
demais partidos que cometeram lambanças assumiriam as suas culpas, e
isso resultaria em benefícios também para os que estão presos.
Engenhoso,
sim, mas não vejo como possa dar certo. Nada impede, claro, que um
partido admita seus crimes. Mas como isso poderia beneficiar seus
representantes? Não há lei para tanto. Mais: ficaria difícil não
entender que todos estariam se unindo numa espécie de “encontro de
versões” — ou, para fazer uma graça, numa espécie de delação
cartelizada. Parece-me que as duas notícias dão conta de que Dirceu e
Vaccari podem estar começando a ficar cansados e estão enviando recados à
cúpula partidária.
VEJA informa
que Vaccari se sente abandonado pelo partido e por seus dirigentes. No
caso se Dirceu, já não se trata de questão subjetiva: foi abandonado
mesmo. Petistas de alto coturno sugerem que ele se enroscou porque atuou
em seu próprio benefício, não do partido. Gilberto Carvalho já deu a
entender isso em entrevista. Por outro
lado, é evidente que ninguém, como o Zé, guarda os arcanos da legenda.
Uma coisa é o homem se imaginar dotado da têmpera dos heróis, puxando
uma cana brava e sabendo que há uma longa trajetória pela frente. Outra,
distinta, é estar com 70 anos, condenado a mais de 23 de prisão.
Acredito que, nesse caso, todos os absolutos começam a se tornar
relativos.
A proposta de um acordo de leniência partidário parece soar como um convite para que a cúpula do PT se mexa. Dirceu e
Vaccari não são bobos. Sentiram o cheiro que emana do partido. Lula já
botou a tropa para lutar por 2018, não quer nem ouvir falar em novas
eleições, sabe que Dilma não volta (e reza para não voltar) e precisa se
livrar do peso dos que caíram em desgraça.
Certamente não é essa a velhice que Vaccari e Dirceu programaram para si mesmos.
Os dois começaram a fraquejar. O PT treme na cúpula.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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