Em 1977 um general restabeleceu o poder republicano
da Presidência. Em 2017, Temer, um civil, piscou
No
próximo dia 12, completam-se 40 anos da manhã em que o presidente Ernesto
Geisel convocou ao Palácio do Planalto o então ministro do Exército, general
Sylvio Frota, e demitiu-o. Encerrava-se assim um período de 23 anos pontilhado
por lances de anarquia militar. Geisel restabeleceu o poder do presidente da
República sobre os generais. [só que o Geisel que demitiu o ministro do Exército, general-de-exército Sylvio Couto Coelho da Frota , não foi um Geisel qualquer e sim o também general-de exército Ernesto Geisel e que usou de um estratagema para conseguir o apoio de todo o alto Comando do Exército e assim nomear o general-de-exército Fernando Belfort Bethlem, ministro do Exército.
Fosse Geisel um civil teria caído naquele 12 de outubro e Sylvio Frota se tornado presidente.]
Fosse Geisel um civil teria caído naquele 12 de outubro e Sylvio Frota se tornado presidente.]
Durante 40 anos, com uns poucos solavancos, essa
ordem foi respeitada. Coube a Michel Temer o papel trágico (e algo ridículo) de
presidir o ressurgimento de surtos de anarquia militar. O
pronunciamento do general Antonio Mourão e a forma como ele foi absorvido pelo
governo expuseram um renascimento da desordem. Há dois anos, durante o governo
de Dilma Rousseff, o mesmo general falou de política e perdeu o Comando Sul, a
mais poderosa guarnição do país. Dilma agiu, Temer piscou. Mourão passou
incólume e recebeu até um elogio pessoal de seu comandante.
Na
bagunça da finada ditadura atropelaram-se as Constituições de 1946 e a de 1967,
patrocinada pelo próprio regime. Levantes (ou boatos de levantes) serviram para
emparedar dois presidentes (Castello Branco e Costa e Silva). Impediu-se a
posse do vice-presidente Pedro Aleixo, substituindo-o por um general, Emílio
Médici — escolhido num processo caótico. Um ex-ministro da Marinha foi
publicamente condenado ao silêncio. O ministro Lyra Tavares, do Exército, foi
desafiado e ultrapassado por generais indisciplinados.
Depois da
demissão de Frota, para desencanto de Geisel, a anarquia reapareceu, impondo-se
ao general João Figueiredo com o atentado do Riocentro e a impunidade que
avacalhou seu governo. [o próprio autor da matéria ora comentada, Elio Gaspari, reconhece que a anarquia militar reapareceu após a demissão de Frota e ao longo do governo Figueiredo - o pior presidente do Governo Militar.]
(A
tortura e o extermínio de guerrilheiros que se entregaram à tropa do Exército
nas matas do Araguaia, bem como a censura, não podem ser considerados
manifestações da anarquia, pois eram uma política de Estado, coisa muito pior.)[sempre conveniente lembrar que não houve tortura durante o Governo Militar e sim ações enérgicas por parte dos militares, em defesa da SEGURANÇA NACIONAL, condição essencial à manutenção da
SOBERANIA do BRASIL e nestas ações estavam incluídos interrogatórios enérgicos, que são confundidos com tortura.]
SOBERANIA do BRASIL e nestas ações estavam incluídos interrogatórios enérgicos, que são confundidos com tortura.]
As viúvas
da velha ditadura e as ilustres vivandeiras que hoje rondam os bivaques dos
granadeiros, fingem que o regime de 1964 foi um período de ordem e progresso.
Foi uma bagunça. Seus anos de crescimento econômico desembocaram na falência do
país e numa inflação de 223%.
A
palestra do general durou uma hora e está na rede. É uma salada de intenções,
preconceitos demofóbicos, cenários apocalípticos e pelo menos uma insinuação de
mau gosto. Respondendo a uma pergunta, Mourão resumiu-se:
“Ou as
instituições solucionam o problema político pela ação do Judiciário, retirando
da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós
teremos que impor isso.” (...) “Essa imposição não será fácil. Ela trará
problemas, podem ter certeza disso.”
O general
disse que não se conhece a receita dessa imposição. Nas suas palavras, “a forma
do bolo”.
Conhece-se
o gosto do doce: fecha-se o Congresso, rasga-se a Constituição e entrega-se o
governo a um fantoche togado ou a um general. Não será fácil, diria também o
general Augusto Pinochet.
Ao contrário
do que aconteceu com a quartelada de 1955, o caminho do vapt vupt não está
disponível. A “imposição” vindoura traria uma ditadura, como as de 1937 e 1964.
Com ela, viria a anarquia militar de 1965, 1968, 1969 e a que se armava em
outubro de 1977, quando o general Geisel sacou primeiro. Temer e sua equipe
civil e militar preferiram piscar.
Fonte: Elio Gaspari, jornalista
Fonte: Elio Gaspari, jornalista
Elio
Gaspari é jornalista
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