Mesmo com a economia fluminense ainda deprimida, a Alerj, com a omissão de Pezão, aumenta piso salarial do estado mais que o mínimo, e coloca empregos em risco
Dificuldades
econômicas e fiscais, como quaisquer outras, pressionam governantes a se
posicionar em busca de saídas para a crise, sempre preocupados com o bem comum.
Mas se preferirem as falsas soluções demagógicas, elas podem render aplausos e
votos a curto prazo, porém não solucionam o problema e ainda agravam a própria
crise. É o que
acaba de fazer a Assembleia Legislativa (Alerj), ao elevar de maneira
inconsequente o salário mínimo regional fluminense, decisão não vetada pelo
governador Luiz Fernando Pezão, com o argumento frágil de que a rediscussão da
matéria atrasaria a revisão deste piso.
Mais um erro crasso do Palácio
Guanabara, entre tantos nos últimos anos. A
discrepância do reajuste em 5% do piso regional em relação ao aumento de 1,81%
do próprio salário mínimo nacional chama a atenção. A estranheza cresce diante
da péssima situação fiscal e econômica do Rio de Janeiro, que desaconselha
qualquer reajuste deste piso. Ora, o
Rio está sob regime de emergência, tendo assinado acordo com a União para
receber ajuda do Tesouro, a fim de colocar em dia várias despesas, a começar
pela folha de salários e de benefícios previdenciários, além dos fornecedores
do estado.
A debacle
fluminense reflete a crise nacional, que tem graves repercussões locais, mas
também erros sérios cometidos pelo grupo político de Pezão — com o
ex-governador Sérgio Cabral à frente, preso com outros parceiros por corrupção
—, quando começou a governar o estado. Não fosse
suficiente o roubo do dinheiro do contribuinte, aproveitaram a bonança das
altas cotações do petróleo, que inflaram bastante o volume dos royalties, e
engessaram muitos recursos em aumentos salariais e benefícios, principalmente
em favor de castas dos servidores (juízes, procuradores etc.).
A impropriedade
da elevação do piso — seis faixas, de R$ 1.193,36 a R$ 3.044,78 — está na
fragilidade das contas públicas e também da economia do estado como um todo.
Um dado
esclarecedor: em janeiro, a economia brasileira, em recuperação, gerou 77.800
postos formais no mercado de trabalho, enquanto o Rio fechou 9.800 vagas. A
taxa de desemprego no estado, no último trimestre do ano passado, foi de 15,1%,
enquanto o índice nacional estava em 11,8%. Ou seja, a inadequação do reajuste
do piso salarial no estado é absoluta.
A
proposta do governo era de um aumento de 2,52%, já excessivo, e que foi
ampliado, de maneira irresponsável pelos deputados, para 5%, sem o veto de
Pezão. A medida atinge 2 milhões de trabalhadores. Alguns perderão o emprego
formal, devido ao aumento de custo para o empregador, sem condições de
repassá-lo ao consumidor em um mercado ainda deprimido. Este é o resultado da
ação eleitoreira da Alerj, com a conivência, por omissão, do governador.
Editorial - O Globo
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