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segunda-feira, 11 de junho de 2018

Juiz é filmado ao atirar em apartamento de vizinho em Copacabana



Incidente ocorreu em prédio de luxo da Avenida Atlântica, no início de maio



O osteopata Pedro Augusto Guerra fica ofegante ao se lembrar de um tiro que, por pouco, não o atingiu na cabeça. E se mostra indignado ao contar que, segundo ele, o disparo foi feito pelo juiz Jorge Jansen Counago Novelle, da 15ª Vara Cível do Rio, dentro de um condomínio de frente para o mar na Avenida Atlântica, em Copacabana. O ataque, ocorrido por volta das 4h do feriado de 1º de maio, foi registrado com a câmera de um celular. A motivação ainda é desconhecida.

O vídeo mostra o instante em que o tiro é disparado, após uma discussão entre o osteopata e o juiz. O caso só não terminou em tragédia porque a bala desviou na grade de uma janela, abrindo, em seguida, um buraco na parede do edifício.  Os dois eram vizinhos. O juiz ainda mora no condomínio; já o osteopata saiu do prédio. Pedro alugava um imóvel de cerca de 400 metros quadrados, um andar abaixo da casa de Novelle.

Pelo vão interno de circulação de ar do edifício, um podia ver parte do apartamento do outro. E foi nesse espaço que ocorreu o incidente, filmado pelo osteopata. Na gravação, enquanto Pedro apoia o celular no parapeito de uma janela, escuta-se um grito que seria do juiz: “Bandido!”. Depois, o magistrado aparece na imagem, na área de serviço de seu apartamento, e faz acusações contra o osteopata. “Tu é safado. Pedro safado!”, diz ele.
Logo em seguida, Novelle sai, e ressurge 12 segundos depois. “Tu vai me filmar? Tá me ameaçando?”, questiona o juiz, que aponta uma arma para a janela de Pedro. “Então, tome bala”, avisa ele ao atirar. O osteopata afirma que estava com a cabeça para fora da janela enquanto filmava. Após o disparo, o celular continuou apoiado no parapeito, mas Pedro caiu no chão.  — Achei que o tiro tinha me acertado. Por sorte, a bala bateu na grade da janela. Fui atingido apenas por um estilhaço na cabeça, que sangrou um pouco. Mas fiquei meio perturbado, zonzo — relata Pedro.

Novelle, por sua vez, não quis se manifestar. Na última sexta-feira pela manhã, uma equipe do GLOBO o procurou em seu apartamento. Pelo telefone da portaria do prédio, ele disse que só se pronunciaria em juízo. Ex-defensor público, Novelle é juiz há quase 20 anos e está de licença médica do Tribunal de Justiça do Rio. Antes de assumir a 15ª Vara Cível da capital, passou por comarcas como as de Nova Friburgo e São Gonçalo. Em março deste ano, foi dele a decisão que deu prazo de 24 horas ao Facebook para retirar do ar as fake news a respeito da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada alguns dias antes com o motorista Anderson Gomes.



Pedro, que é de São Paulo, mudou-se para o Rio em 2014. Estava morando há aproximadamente um ano e meio no condomínio da Avenida Atlântica, período no qual, segundo ele, quase não trocou palavras com o juiz:  — Ele era muito educado quando nos cruzávamos. Nunca tivemos atrito.  No entanto, o osteopata conta que, uma semana antes do ataque, foi acordado, de madrugada, por gritos de Novelle. Os xingamentos, daquela vez, seriam dirigidos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-governador Sérgio Cabral, ambos presos. Pedro diz que, no feriado de 1º de maio, ouviu xingamentos por quase duas horas. Antes de fazer o vídeo do disparo, ele gravou áudios que, afirma, são do magistrado.

Em um dos trechos, ouve-se uma ameaça: “Suba um andar para ver o que você vai levar na cabeça ou no peito”. O osteopata diz que tomou a decisão de gravar um vídeo depois que o juiz ameaçou duas amigas que o visitavam.  Após o disparo, a Polícia Militar foi chamada. E houve mais confusão, aponta a ocorrência registrada na 14ª DP (Leblon). “Os policiais perceberam que Jorge Jansen Counago Novelle aparentava estar embriagado, tendo, em determinado momento, percebido que ele portava um revólver. (...) Ao perceber que os policiais militares tinham a arma em seu poder, Jorge Jansen Counago Novelle se descontrolou e passou a tentar reaver a arma de fogo, motivo pelo qual foi contido pelos policiais militares envolvidos”, diz o boletim da delegacia.

Ainda de acordo com o documento, enquanto esperavam o juiz trocar de roupa para ir à 14ª DP, os policiais chamaram o osteopata, para que acompanhasse o registro da ocorrência. Pedro, no entanto, teria se negado, justificando que iria à delegacia por meios próprios. E Novelle, por sua vez, “não mais saiu de seu apartamento”, relata o boletim. No dia seguinte, Pedro e seu advogado, Celso Pazos Mareque, foram à 14ª DP, onde descobriram que o caso já tinha sido remetido à Presidência do Tribunal de Justiça do Rio, onde é mantido sob sigilo. — Solicitamos ao Ministério Público estadual que o caso seja considerado tentativa de homicídio em vez de disparo de arma de fogo, como foi registrado. Nossa petição defende ainda que o vídeo e os áudios sejam incluídos no processo — diz Mareque.

Segundo pessoas ligadas ao juiz, ele teria se irritado porque Pedro estaria sublocando o apartamento. O osteopata alega poucas vezes recebeu visitantes no imóvel, e que nunca discutiu com Novelle por isso.

 
 


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