A memória da destruição do patrimônio público na Eletrobras vai à queima de inverno. Sem culpados reconhecidos. Por cinquenta mil reais
Depois da
Copa vai ter empresa estatal à venda por apenas R$ 50 mil. É valor igual ao de
um carro zero ou de 110 cestas básicas de alimentos no mercado carioca. A queima
de inverno está marcada para a manhã de quinta-feira, 26 de julho, em São
Paulo. O governo vai leiloar seis distribuidoras de energia que atendem ao
Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia e Roraima.
Elas são
responsáveis por 29% do abastecimento nacional de eletricidade. Atendem 13
milhões de pessoas numa área onde caberiam o Peru, a Colômbia e o Equador.
Integram a galáxia de 178 subsidiárias da estatal Eletrobras, cujos dívidas ultrapassam
R$ 30 bilhões. Estão há
mais de duas décadas na vitrine do programa de privatizações. Desta vez, porém,
a liquidação é para valer — anuncia-se em Brasília. Se não houver interessados
em pagar 52 salários mínimos por cada uma das seis distribuidoras, elas serão
liquidadas. Literalmente. E as concessões serão vendidas ainda neste ano. Essas
estatais perdem cerca de R$ 1 milhão por dia, à média de R$ 690 por minuto.
Para vendê-las a preço simbólico (R$ 50 mil cada), o Tesouro Nacional precisou
deglutir R$ 11,2 bilhões em dívidas. Há outros R$ 8 bilhões pendentes.
Mantê-las
funcionando tem custado R$ 7,4 milhões por dia, durante os últimos 18 meses. Ou
seja, recebem R$ 5,1 mil por minuto para se manter de portas abertas no negócio
de eletricidade em seis estados do Norte e do Nordeste. Elas
abrigam 11 mil empregados e são pródigas em remunerações. Pagam prêmios por
produtividade — participação nos lucros —, embora registrem perdas crescentes
há mais de uma década. Na
distribuidora alagoana, a folha salarial consome 65% do custo operacional,
segundo Eletrobras, BNDES, TCU e CGU. Ela atravessou os últimos cinco anos
gastando mais com prêmios sobre lucros inexistentes do que investindo em linhas
e subestações para distribuição de energia. Instaladas
nas regiões mais pobres do país, essas seis subsidiárias da Eletrobras cobram
dos seus clientes tarifas 9% acima da média nacional. E prestam um péssimo
serviço de abastecimento, segundo a Aneel, agência setorial. No Amazonas, por
exemplo, só três em cada dez áreas de consumo não convivem com apagões.
O
curto-circuito financeiro foi precipitado pelo governo Dilma Rousseff, cujo
projeto para um capitalismo de estado sob hegemonia do PT incluiu corte de 20%
nas tarifas, combinado com a imposição de investimentos de R$ 60 bilhões à
Eletrobras. O legado está aí, no prejuízo socializado via preço da
eletricidade, hoje um dos mais altos do planeta.Por trás
desse quadro há um histórico de manipulações do setor de energia, na qual se
misturam interesses de partidos (MDB, PT, PSDB, PCdoB, PR e PP, entre outros),
de corporações associadas à CUT e à Força Sindical, e de grupos de consumidores
e fornecedores privilegiados na política regional. Energia
virou mercadoria em balcões políticos. Projetos como o da usina de Belo Monte,
no Pará, multiplicaram propinas no PT e no MDB. Por razões semelhantes, no
Amazonas, Acre, Alagoas, Piauí, Rondônia e Roraima, estatais não cobram, nem
recebem, por um de cada quatro quilowatts que distribuem. A memória dessa
destruição do patrimônio público vai à queima de inverno. Sem culpados
reconhecidos. Por R$ 50 mil.
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