No apagar das luzes do governo Temer, ANS editou normas que podem dobrar o gasto mensal dos segurados
Enquanto
a plateia se distrai com a Copa do Mundo, os planos de saúde gritam gol. Os
empresários do setor não foram à Rússia, mas receberam uma bola açucarada da
ANS. No apagar das luzes do governo Temer, a agência editou normas que podem
dobrar o gasto mensal dos segurados. As
mudanças foram publicadas ontem no “Diário Oficial”. Com a canetada, os planos
ganharam aval para tomar mais dinheiro dos clientes. Quem ficar doente poderá
ser obrigado a pagar 40% do valor dos procedimentos médicos. Além da
mensalidade e dos remédios, é claro.
“Essas regras são tão abusivas que dá vontade
de chorar”, desabafa Ligia Bahia, professora da UFRJ e doutora em Saúde Pública
pela Fiocruz. “A agência reguladora deveria garantir que quem está doente seja
atendido. O que estão fazendo é o contrário, e sem base legal”, afirma.A ANS alega que protegeu os segurados ao estabelecer que a regra não valerá para tratamentos crônicos, como quimioterapia e hemodiálise. É uma meia verdade. Um doente com câncer não pagará a mais pela químio, mas poderá ser sobretaxado a cada vez que precisar de exames, fisioterapia ou apoio nutricional. O mês da Copa tem sido lucrativo para os planos de saúde. No dia 5, o Senado aprovou a indicação de Rogério Scarabel Barbosa para o cargo de diretor da ANS. Ele era advogado de seguradoras antes de ganhar uma vaga na agência que deveria fiscalizá-las. O senador Randolfe Rodrigues comparou a nomeação à escolha de uma raposa para cuidar do galinheiro. [hora desse senador, que sempre tem se destacado pelo nulidade de seu mandato - sem um único projeto de lei, de sua autoria, ter sido aprovado; o que não é surpresa, já que não apresentou nenhum que sequer mereça o nome - começar a usar seu mandato de senador para combater a absurda decisão da ANS (o Brasil já não tem Saúde Pública e agora com a transformação da ANS em "raposa para tomar conta do galinheiro" vão acabar com os planos de saúde) revogando as normas absurdas baixadas pela agência, a demissão do recém empossado diretor e restabelecer um equilíbrio entre as necessidades dos filiados aos planos e as necessidades dos mesmos.]
Na semana seguinte, a mesma ANS autorizou um reajuste de 10% nos planos individuais, uma goleada sobre a inflação oficial de 2,76%. O aumento chegou a ser barrado na Justiça. [Mas] O desembargador Neilton dos Santos cassou a liminar na última sexta-feira, dia de Brasil x Costa Rica. Em 2017, deputados ligados aos planos de saúde tentaram mudar a legislação para aumentar os lucros das empresas. As entidades de defesa do consumidor reagiram, e a proposta não chegou a ser votada.
Com o pacote de ontem, o governo encontrou um atalho para presentear as seguradoras sem depender da Câmara. Por mais que o lobby dos planos seja forte, os parlamentares ainda precisam do voto dos pacientes para se reeleger. Não é o caso do presidente da República.
Bernardo Mello Franco - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário