Uma das características fundamentais da dificuldade dos tribunais
para deferir os recursos de Lula é ter que ler as várias petições da
defesa e chegar à conclusão de que os advogados do ex-presidente petista
já não têm muito a dizer em favor do seu cliente. A escassez de
argumentos leva à criatividade processual. Numa de suas inovações, os
defensores de Lula tentaram saltar instâncias. Protocolaram no Supremo
um recurso que dependia do aval do TRF-4 para tramitar. Não colou.
A
Segunda Turma do Supremo já havia marcado para terça-feira (26) o
julgamento de um recurso extraordinário que pedia a libertação de Lula.
Os advogados queriam suspender os efeitos da condenação que resultou na
inelegibilidade do preso. Desejavam que, além de ganhar a liberdade,
Lula pudesse participar da campanha presidencial até que o mérito do seu
recurso fosse julgado pelo Supremo. O problema é que esse tipo de
recurso teria de ser analisado previamente pelo TRF-4, o tribunal que
confirmou a condenação que Sergio Moro impusera a Lula no caso do
tríplex. A defesa tomou o atalho de Brasília sob a alegação de que o
tribunal de segunda instância demorava a encaminhar o recurso à Suprema
Corte.
Os companheiros estavam esperançosos, pois a Segunda Turma
do Supremo absolvera há três dias a presidente do PT, Gleisi Hoffmann,
numa das ações movidas contra ela por corrupção e lavagem de dinheiro.
Mas a vice-presidente do TRF-4, desembargadora Maria de Fátima Freitas
Labarrère, jogou jurisprudência dentro do chope do petismo. Em
despacho divulgado no final da tarde desta sexta-feira, a magistrada
decidiu que um dos recursos protocolados pela defesa de Lula deveria
seguir para o Superior Tribunal de Justiça, onde são julgadas as
encrencas infra-constitucionais. Envolve uma questão relacionada ao
valor da indenização a ser paga por Lula à Petrobras. Mas a
desembargadora brecou o recurso que os advogados endereçavam ao Supremo.
Sustentou que não há pendências constitucionais a serem julgadas.
Diante
da novidade, o ministro Edson Fachin, relator da causa no Supremo,
cancelou o julgamento que estava marcado para terça-feira. “A
modificação do panorama processual interfere no espectro processual
objeto de exame deste STF”, anotou Fachin. “Diante do exposto (…), julgo
prejudicada esta petição. Retire-se de pauta.” Presidente da Segunda
Turma, o ministro Ricardo Lewandowski já excluiu a matéria da pauta.
Os
advogados de Lula informam que recorrerão contra as duas decisões, a de
Maria Labarrère e a de Fachin. Antes, a defesa terá de se entender
consigo mesma. As bancas de Brasília e de São Paulo batem cabeça.
Em memorial entregue aos ministros do Supremno, o doutor Sepúlveda
Pertence pedira a conversão do encarceramento de Lula em prisão
domiciliar. Seu colega Cristiano Zanin divulgara nota para informar que
não interessa a Lula senão a liberdade plena.
Vai ficando claro que a defesa de Lula ama a confusão. E é plenamente correspondida.
Blog do Josias de Souza
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sábado, 23 de junho de 2018
Defesa de Lula ama confusão. E é correspondida
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