Por qualquer ângulo que se analise a situação, é inviável ela continuar sob controle total do Estado
A virtual
impossibilidade de o controle da Eletrobras vir a ser vendido em Bolsa no
governo Temer, como previsto, será uma vitória comemorada pelas forças
políticas contrárias à privatização. É grande a resistência do fisiologismo
pluripartidário no Congresso à perda do controle do sistema Eletrobras, uma
fonte inesgotável de negociatas envolvendo políticos e de emprego para
apaniguados. Tucanos e petistas, neste aspecto, ficam lado a lado na defesa da
estatal. Mas isso
não resolve o problema de uma empresa em decadência, incapaz de arcar com os
pesados investimentos exigidos pelo setor elétrico. Se não for feita a
privatização, mais uma vez, a população pagará um preço na forma de apagões e
desemprego, a ser causado pela insegurança energética.
Um golpe
certeiro na empresa foi desferido, por ironia, pela estatizante Dilma Rousseff,
que, inspirada no dirigismo intervencionista, baixou a medida provisória 579,
em 2012, para, de forma populista, cortar em 20% a tarifa de energia e, com
isso, turbinar a campanha à reeleição de 2014. A nova
política não deu certo e, segundo o atual presidente da empresa, Wilson
Ferreira Junior, em artigo no GLOBO, as receitas da estatal caíram, e seus
custos subiram 65%. Também como subproduto do intervencionismo do governo
Dilma, a estatal foi forçada a entrar de sócia minoritária em projetos de
grandes hidrelétricas. E assim, segundo Ferreira Junior, entre 2011 e 2016 a
estatal arcou com um prejuízo de R$ 31 bilhões.
Um sério
problema é que o Plano Decenal 2026, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
projeta um consumo que requer da empresa investimentos anuais de R$ 14 bilhões,
para ela apenas manter sua participação de 49% no mercado, e contribuir para
que o país atenda à expansão da demanda. Deste investimento, a União terá de
contribuir com R$ 8,4 bilhões anuais. Sem a
estatal se capitalizar no mercado, diluindo a participação da União de 60% para
40% a 50%, não há como ela executar os investimentos, porque o Tesouro continua
a acumular elevados déficits na faixa de R$ 150 bilhões. A ideologia estatista,
portanto, não tem sustentação nos números da vida real.
Uma carga
muito pesada que a empresa carrega são distribuidoras regionais, especialmente
usadas pelo fisiologismo político. O plano de privatização do controle da
Eletrobras prevê a venda dessas empresas, cujos prejuízos são insustentáveis. É
claro que parte importante da resistência política à operação vem dos grupos que
usam as companhias para fins nada republicanos. A ideia é
vender as empresas de Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima, Alagoas e Piauí. Menos
pela receita da privatização e mais para livrar a Eletrobras da sangria
financeira. Mesmo que a estatal tenha de gastar R$ 16 bilhões para se desfazer
delas e assumir dívidas de R$ 8 bilhões. As cifras
indicam o tamanho dos prejuízos da Eletrobras se continuar estatal e com as
distribuidoras.
Editorial - O Globo
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