Militares avaliam que falas do ministro Jungmann prejudicaram investigações - Avaliação é de que verborragia de Jungmann prejudicou investigações
[Militares dão cala boca em Jungmann;
pergunta que não quer calar: como andam as investigações sobre a morte do garoto Marcos Vinicius - citando uma morte entre milhares que não são investigadas;
uma vida humana tem o mesmo valor de outra - são todos seres humanos e esta paridade é mais que suficiente para impedir que a investigação de uma morte prevaleça sobre investigação de outra, quanto mais de milhares.]
O
interventor federal na segurança pública do Rio, general Walter Braga Netto,
acertou com o presidente Michel Temer uma espécie de ordem do silêncio em
relação às investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco
(PSOL-RJ), diante da interpretação de que a verborragia do ministro da
Segurança Pública, Raul Jungmann, prejudicou as investigações. A reportagem do
GLOBO apurou a informação com integrantes do alto comando das Forças Armadas.
Jungmann
era ministro da Defesa quando a intervenção federal no Rio foi decretada por
Temer, em fevereiro deste ano. Dez dias depois, o ministro foi deslocado para
uma nova pasta criada pelo presidente, de Segurança Pública. A Defesa cuida dos
assuntos relacionados às três Forças Armadas. O Ministério da Segurança Pública
passou a abrigar políticas de segurança e a ascendência sobre a Polícia Federal
(PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), por exemplo. O comando
da intervenção federal está nas mãos de generais do Exército. Braga Netto é o
interventor e se reporta diretamente a Temer, conforme definido no decreto da
intervenção. Ele nomeou o general Richard Nunes no cargo de secretário de
Segurança Pública do Rio.
As
constantes falas de Jungmann sobre o caso Marielle, especialmente as afirmações
sobre o afunilamento das investigações, que evidenciariam o envolvimento de
integrantes de milícias no assassinato, incomodaram tanto o interventor federal
quanto o secretário de Segurança Pública. A insatisfação dos dois foi
exteriorizada a integrantes do comando das Forças e também dentro do Palácio do
Planalto.
Em maio,
Braga Netto esteve em Brasília e, numa reunião com Temer, da qual também
participou Jungmann, acertou a lei do silêncio sobre o andamento das investigações.
Desde então, o ministro da Segurança Pública e o próprio interventor federal
têm evitado dar declarações a respeito do andamento das investigações. Marielle
foi morta a tiros, dentro de um carro, no centro do Rio, na noite de 14 de
março. Já são 113 dias sem uma solução do caso e sem uma satisfação concreta
sobre as descobertas das investigações até agora. O motorista da vereadora,
Anderson Gomes, também foi assassinado a tiros.
Mesmo sem
ter relação direta com a intervenção federal no Rio, Jungmann assumiu para si
uma função de porta-voz sobre assuntos relacionados à atuação dos militares,
com declarações à imprensa sobre o caso Marielle, por exemplo. Em abril e maio,
o ministro deu várias declarações em que relacionou o assassinato à atuação de
milicianos no Rio. No dia 10 de maio, ele chegou a dizer que a investigação do
assassinato "está chegando na sua etapa final". Quase dois meses já
se passaram desde então. Jungmann
é do PPS de Pernambuco. Foi deputado federal e ministro no governo de Fernando
Henrique Cardoso. Quando passou a integrar o governo Temer, era apenas suplente
de deputado.
Depois de
o silêncio ter sido acertado entre interventor e presidente, o ministro da
Segurança Pública tem evitado falar sobre as investigações do assassinato de
Marielle. Para uma entrevista coletiva na tarde da última terça-feira, em que
se apresentou um balanço sobre a atuação do novo ministério, Jungmann foi
disposto a não falar nada a respeito, com a justificativa de que está
"avesso" ao assunto e que o tema cabe à "linha de frente"
da intervenção.
Em um
evento no Rio, ontem, o ministro se deparou com gritos de "Marielle
presente" e com algumas vaias. Jungmann respondeu: — Sempre
sou muito cobrado sobre a violência, sobre Marielle, sobre diversas coisas, mas
estamos aqui justamente para celebrar a vida, a arte e a criação. Eu estou aqui
para lembrar que a ponte entre nós todos é a cultura. Essa é a melhor política
de segurança que existe, não é com fuzis e armas. Não adianta pensar que vamos
resolver tudo só pelo lado da repressão — disse, num evento de lançamento de um
programa de capacitação na área cultural.
A
assessoria de imprensa do ministro afirmou ao GLOBO que não houve acerto por
silêncio em relação ao andamento das investigações do caso Marielle, mas sim a
interpretação pelo gabinete do interventor federal de que o sigilo é
fundamental para a solução do caso, até por estar nas mãos da Polícia Civil do
Rio. Ainda conforme a assessoria do ministro, militares têm dificuldade de
comunicação com a mídia e, por essa razão, Jungmann assumiu essa interlocução
para um esclarecimento à sociedade. Além
disso, ele era ministro da Defesa no momento da decretação da intervenção e tem
conhecimento sobre a iniciativa, segundo a assessoria. O ministro deixou de
falar a respeito da investigação sobre o assassinato de Marielle porque ainda
não há resultados da apuração, que é complexa e depende de árdua coleta de
provas, disse a assessoria de imprensa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário