Gente ligada aos alvos da Lava Jato já proclama que Moro "perseguia Lula". Quem prendeu o chefão foi o TRF-4, mas não faz mal: o pau é nele
Para Bolsonaro, foi ótimo: Sergio Moro é um homem respeitado, de alto nível, e agrega prestígio a ele — que, embora eleito com esplêndida votação, ainda enfrenta problemas de credibilidade, e bem nos setores em que Moro é totalmente aceito. Para o futuro Governo Bolsonaro, Moro é muito bom: estudioso, eficiente, habituado a trabalhar com a Polícia Federal. E, chefiando um superministério, tem tudo para estender a Lava Jato a setores que nunca pôde investigar. Outra vantagem: com Moro ministro, morrem os pesadelos de caça às bruxas (que já incluíram em listas de comunistas a ser boicotados o jornalista Reinaldo Azevedo e até, creia!, Delfim Netto).
Mas, para Sérgio Moro, a coisa não é tão boa. Gente ligada aos alvos da Lava Jato já proclama que ele “perseguia Lula” para evitar que derrotasse Bolsonaro; quer acusá-lo naquele tal conselho da ONU de usar a toga com fins partidários; e o responsabiliza por, em duas ocasiões — a liberação da delação premiada de Palocci, dias antes da eleição, e a famosa gravação de Lula com Dilma, aquela do Bessias, em que ficava claro que seria nomeado ministro para ter foro privilegiado — antes do impeachment, para favorecer Bolsonaro. Quem prendeu Lula foi o TRF-4, mas não faz mal: o pau é nele. Acusa-se também Moro de ter dito que jamais entraria na política. Isso ele disse — mas acha que, como Adib Jatene, é um ministro técnico que não vai disputar votos, ou mudou de ideia. Quem jamais nunca mudou de ideia?
Estranho vingador
Há também quem acuse Moro de mover uma cruzada contra Lula. Mas é
esquisito: dentro de dez dias, Lula deve ser ouvido no processo sobre o
sítio de Atibaia. Um vingador perderia a chance de condenar seu alvo
mais uma vez? Ao aceitar o convite do presidente eleito, deixa de ser
juiz. E o caso fica com uma juíza substituta, até que o novo titular
seja escolhido.
Sem choradeira
Ao deixar a magistratura para ser ministro, Moro não viola lei nenhuma.
Retrato futuro
O perfil do Governo Bolsonaro já começa a ser traçado: três ministros
fortes, Sergio Moro (Justiça), Paulo Guedes (Economia) e general
Augusto Heleno, que comandou as tropas brasileiras no Haiti (Defesa). Os
três controlam totalmente a área e escolhem os auxiliares que quiserem,
sem que ninguém, nem Bolsonaro, se intrometa. Os três são competentes — mas nenhum jamais negociou com políticos profissionais tipo Renan Calheiros.
Prioridades
Outros setores que estão na agenda presidencial: a defesa da
propriedade privada, de crítica ao avanço dos costumes, apoio aos
inovadores e empreendedores, força ao agronegócio e à exploração
(responsável, dizem) das riquezas naturais. Para a Agricultura, estão em
pauta duas mulheres notáveis: a senadora Ana Amélia (PP), vice de
Alckmin, e a deputada Tereza Cristina (DEM), presidente da Frente
Parlamentar da Agropecuária.
Adeus
O Ministério do Trabalho, há anos sem função, deve ser extinto ou
reduzido a secretaria, subordinada a Guedes. Para, como hoje, exercer só
o trabalho de informar uma vez por mês o número de empregos com
carteira assinada, ao custo de R$ 2 bilhões por ano, virar secretaria é
bom demais.
Sem fantasia
É normal que o mercado tenha recebido bem a derrota do PT. É
previsível que a escolha de Paulo Guedes, com bom trânsito na área da
economia, estimule estudos sobre investimentos. Mas as notícias que
surgem nas redes sociais, sobre bilhões de dólares que virão para o país
graças à eleição de Bolsonaro, não são bem assim. Os investimentos
foram mesmo anunciados, mas já estavam na pauta ou virão (se vierem) bem
mais tarde. Ninguém decide em poucos dias investir milhões de dólares,
por mais que goste de Bolsonaro ou tenha apreciado sua vitória. Dilma
também escolheu um ministro com prestígio no mercado e os dólares não
vieram.
A literata
Dilma, depois de se mudar para Minas acreditando que seria facilmente
eleita para o Senado, resolveu ficar no Rio Grande do Sul. Seu plano
atual, diz O Globo, é escrever um livro de memórias. Este prestativo colunista sugere um título para o livro de memórias de Dilma: Vaga Lembrança.
Los Hermanos
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que é preciso dar novo impulso à ALBA —
Aliança Bolivariana dos Povos da Nossa América, organização regional
fundada por Fidel Castro e Hugo Chávez. Quais são as nações que
funcionarão como contraponto à derrota do PT no Brasil?Por ordem alfabética: Antígua y Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Granada, Nicarágua, San Cristóbal y Nevis, Santa Lucia, San Vicente y Granadinas, Suriname, Venezuela. Ah, agora vai. Es nosotros en la fita!
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
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