As promessas de Jair Bolsonaro durante solenidade na Academia Militar das Agulhas Negras vão na contramão dos estudos realizados pela equipe econômica, que pretende manter a lei do teto de gastos. MP que prevê reestruturação não foi votada
Durante a solenidade de formatura de cadetes da Academia Militar
das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), ontem, o presidente eleito,
Jair Bolsonaro (PSL), anunciou que considera a possibilidade de não
estabelecer um teto de gastos para as Forças Armadas em seu governo e
aumentar os salários dos militares. “Nosso contingente é pequeno, mas
sabemos das dificuldades que a nação atravessa. O que nós devemos é dar
um salário compatível para com eles, botar em votação a medida
provisória 2215; não foi votada ainda, isso é uma excrescência, é um
descaso para com as Forças Armadas”, disse. Além do soldo, os militares
recebem adicionais por habilitação, moradia em regiões inóspitas e
desgastes físicos e gratificações por tempo de permanência extra na
ativa, além de representação para comandos.
Durante
a solenidade, 427 cadetes receberam a graduação de bacharel em ciências
militares e a espada de oficial do Exército, depois de quatro anos de
estudos. Bolsonaro estudou na Aman entre 1974 e 1977, sendo companheiro
de turma do futuro comandante do Exército, general Edson Leal Pujol.
Também participou da mesma equipe de pentatlo militar do futuro ministro
da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Cercou-se de militares
no governo, entre os quais o almirante de esquadra Bento Costa Lima
Leite de Albuquerque Júnior, recém-anunciado ministro de Minas e
Energia; e os generais Augusto Heleno (GSI) e Fernando Azevedo e Silva
(Defesa), além do tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Pontes (Ciência e
Tecnologia).
As declarações de
Bolsonaro vão na contramão dos estudos realizados pela equipe econômica,
que trabalha com a hipótese de aprovar uma Emenda Constitucional para
desvincular as despesas obrigatórias das receitas da União e, assim,
salvar a lei do teto de gastos, cuja revogação teria péssima repercussão
no mercado financeiro. Outra medida em estudos é o desatrelamento de
aposentadorias e pensões do aumento do salário-mínimo. Essas propostas,
porém, enfrentarão resistência no Congresso.
Com
tantos militares mandando no governo, a pressão para melhorar os
salários e aumentar os investimentos nos programas de modernização das
Forças Armadas também se intensificou. Os principais projetos em
andamento são: submarino nuclear (Prosub), programa nuclear (reator
atômico) e sistema de monitoramento de Amazônia Azul (SisGAAz), da
Marinha; Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron),
nova família de blindados Guarani e o supercomputador do Sistema de
Defesa Cibernética, do Exército; e o avião cargueiro cargueiro KC-390,
aviões de caças Gripen NG e mísseis ar-ar de 5a. geração (A-Darten).
Questionado
sobre o nome do novo ministro do Meio Ambiente, Bolsonaro não abriu o
jogo, disse que todos os nomes em análise são bons, mas ainda não fez a
escolha. Criticou a atuação do Ibama: “Não haverá mais aquela briga do
Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente. Eu quero defender, sou
defensor do meio ambiente, mas não dessa forma xiita como acontece,
não”. Entretanto, admitiu que foi multado por crime ambiental em 2012,
no valor de R$ 10 mil: “Vou pagar essa multa? Vou. Mas eu sou uma prova
viva do descaso, da parcialidade e do péssimo trabalho prestado por
alguns fiscais do Ibama e ICMBio. Isso vai acabar”, afirmou.
Bolsonaro
também falou sobre a nova política indigenista que pretende adotar: “Eu
quero o bem-estar do índio, eu quero integrar o índio à sociedade. O
nosso projeto para o índio é fazê-lo igual a nós. Eles têm as mesmas
necessidades de nós. Agora, não podemos admitir que, via Funai, o índio
não possa ter o tratamento adequado. O índio quer médico, quer dentista,
quer televisão, quer internet. Ele é igualzinho a nós”, concluiu. [essa igualdade pressupõe tratamento igualitário tanto nos direitos quando nos deveres.]
"O que devemos é dar um salário compatível para com eles (militares). A MP 2215 não foi votada ainda, isso é uma excrescência, é um descaso para com as Forças Armadas",
Jair Bolsonaro, presidente eleito
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