Disputa pela Presidência da Casa se inicia com pulverização de candidaturas, sem grandes apostas, mas com risco de deixar feridos no fim da batalha.
Núcleo mais próximo de Jair Bolsonaro defende neutralidade para reforçar governabilidade com o vencedor
A corrida pela Presidência da Câmara dos Deputados está aberta e
sem favoritos. Não há união em torno de um único pré-candidato entre os
diferentes espectros políticos. Sem aglutinação de forças e com
diferentes candidaturas correndo soltas, o cenário atual aponta para uma
disputa feroz e que pode deixar feridas abertas, mesmo com as apostas
da turma mais experiente no atual presidente da Casa, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). No Centrão, Maia enfrenta a
concorrência dos deputados Capitão Augusto (PR-SP) e João Campos
(PRB-GO). A renovação da Câmara para a próxima legislatura na esteira do
discurso de segurança pública e valores conservadores do presidente
eleito, Jair Bolsonaro (PSL), os estimula a manter a pré-candidatura na
corrida. Quem também se posiciona na disputa é o vice-presidente da
Casa, Fábio Ramalho (MDB-MG).
A briga entre os
parlamentares ligados aos partidos mais ao centro promete encontrar a
concorrência da direita, representada pelo partido de Bolsonaro. O
deputado eleito Júnior Bozzella (PSL-SP) se lançou ao pleito. “Vamos nos
tornar a maior bancada da Câmara em alguns meses e temos que ter
protagonismo nesse processo. A renovação na Câmara é uma resposta
significativa para nós”, sustentou. O martelo não foi batido e a
pré-candidatura de Bozzella ainda será discutida pela legenda. O
deputado eleito mostra confiança de ter apoio do presidente do PSL,
Luciano Bivar (PE), mas não há consenso. A ala mais fiel a Bolsonaro,
capitaneada pela deputada eleita Joice Hasselmann (SP), prega a
neutralidade na disputa. “Tenho conversado com todos os partidos de
‘bem’ e nossa ideia é costurar blocos com outros partidos”, afirmou a
parlamentar.
A intenção de Bolsonaro é não
interferir na Presidência da Câmara almejando a governabilidade na Casa.
Há um temor de que o lançamento de uma candidatura própria possa
enfurecer aliados e comprometer a aprovação de projetos de interesse do
governo eleito. O aceno de neutralidade é bem-visto por Maia. Nos
corredores do Parlamento, as apostas mais conservadoras apontam para a
vitória dele na disputa por ter espaço para aglutinar com a esquerda,
ter o poder da caneta e ser um porto seguro para os indecisos.
Mas
um apoio mais enfático do PSL pode levá-lo a ser o “trator” que a
cúpula política do presidente eleito tanto deseja, admite o deputado
Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos responsáveis pela coordenação da
pré-candidatura de Maia. “Se tiver a neutralidade do governo, já é uma
brilhante sinalização. Mas é o que tenho falado a alguns da bancada do
PSL: ‘Se vocês o apoiarem, ele não vai precisar deixar recibo na mão da
esquerda’”, afirmou.
O perfil de Maia não é de
‘tratorar’ dentro da Casa. Mas o apoio do PSL pode, na costura política,
evitar que ele precise do voto da esquerda e, assim, se torne o
presidente da Câmara que possa encaminhar os projetos que Bolsonaro
quer. “Aí, apesar de não ser o perfil dele, ele pode ser o trator que
eles sempre falam que precisa ser”, alertou Sóstenes. Durante a semana,
Maia sugeriu a necessidade de uma reforma no regimento interno da Casa
para restringir os “kits obstrução”. A
coordenação de Maia trabalha com a meta de fechar com pelo menos entre
quatro a cinco partidos além do DEM. O presidente da Casa, Sóstenes e
outros coordenadores mantêm conversas com o PSDB, PP, PV, Solidariedade,
PSD, PTB e o próprio PRB, de João Campos. “Se fecharmos com cinco, ele
se garante no segundo turno. Se ele chegar lá, é uma eleição
praticamente ganha, seja com quem for”, ponderou Sóstenes.
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