Sob pressão, Moro comemora a ação impecável da PF na prisão de mafiosos italianos
Depois de anos de estranhamento, Brasil e Itália retomam as relações a
todo vapor, principalmente no combate ao crime organizado, e comemoraram
ontem o sucesso da operação da Polícia Federal que prendeu em São Paulo
dois importantes líderes mafiosos, Nicola e Patrick Assisi, pai e
filho, os “fantasmas da Calábria”. [destacando o óbvio: estranhamento ocorrido durante a gestão lulopetista - afinal, criminosos se protegem mutuamente.]
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o diretor-geral da PF, Maurício
Valeixo, comemoraram a operação impecável, o desfecho e a sinalização
para brasileiros e para o mundo: “O Brasil não deve ser refúgio para
criminosos”, declarou Moro. “O Brasil não é paraíso de mafioso”, disse
Valeixo, sem precisar lembrar dos filmes estrangeiros em que o bandido,
de camisa florida, foge, feliz, para o Brasil. Moro e Valeixo se reuniram com o procurador Antimáfia e Antiterrorismo
da Itália, Federico Cafiero, que gravou vídeo recheado de elogios à PF
brasileira. Bem... o fato de ser bem às vésperas da votação da reforma
da Previdência no plenário da Câmara deve ser mera coincidência.
Policiais da PF, da PRF, da Polícia Legislativa e da Polícia Civil
pressionam o Congresso por uma aposentadoria camarada, equiparada à dos
militares.
Sob pressão, por conta dos [supostos] diálogos com procuradores divulgados pelo
site The Intercept Brasil, Moro estava todo saltitante ontem (na medida
em que o contido Moro consegue ser saltitante), talvez por, enfim,
inverter a pauta. Segundo ele, Nicola Assisi é “um dos maiores
traficantes de cocaína do mundo” e a operação da PF foi impecável,
merece todos os elogios. Valeixo endossa: “Foram meses de trabalho, de levantamento, apuração,
checagem”, contou, particularmente satisfeito porque seus agentes
conseguiram driblar o sofisticado sistema de segurança dos dois
mafiosos, surpreendê-los e prendê-los sem que tivessem tempo de correr
para o esconderijo do apartamento. E sem troca de tiros, mortos e
feridos. Os alvos ocupavam três apartamentos duplex, com câmeras de monitoramento
de última geração, e mantinham em casa um velho hábito de mafiosos na
Itália: um cômodo com paredes reforçadas, antirruído e dissimuladas
atrás de armários. Tinham, também, em torno de R$ 1 milhão, em dólares,
euros e reais; 4 kg de cocaína pura e armas. Mas nada disso foi
suficiente para escaparem da PF, que atuou em conjunto com a
inteligência italiana.
Ao mover mundos e fundos para manter o terrorista Cesare Battisti no
Brasil, contra a opinião de juristas e de pareceres do Ministério da
Justiça e do Itamaraty, os governos do PT geraram irritação não apenas
no governo e nas instituições italianas, mas também da própria opinião
pública do país, sempre tão simpática ao Brasil e aos brasileiros. Os
ventos mudaram, Battisti foi cumprir pena no país dele e os acordos e
ações de cooperação deslancharam. Vale dizer que, sem uma ampla e intensa rede de cooperação mundo afora, a
PF e o Ministério Público jamais teriam conseguido ir tão longe na Lava
Jato, rastreando contas, depósitos, desvios. Foi graças à troca de
informações com EUA e países da Europa, da Ásia, do Caribe e da América
do Sul que a operação reconstituiu, por exemplo, todo o complexo e
tortuoso caminho dos reais, dólares e euros da Odebrecht.
Quanto mais globalizado o mundo, mais difícil fica para doleiros e
mafiosos. Nicola Assisi, foragido desde 2014, passou por Portugal e
Argentina antes de se instalar no Brasil. Sua extradição já está
assinada. A Itália e o combate ao crime transnacional agradecem. Sob o olhar preocupado das nações democráticas, pelas manifestações
sobre meio ambiente, armas, radares, trabalho infantil, o Brasil ganha
enfim boas manchetes na Itália. Não passou a mão na cabeça de criminoso,
nem foi só para inglês ver.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
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