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quarta-feira, 20 de novembro de 2019

E assim (não) vai a AL - Carlos Alberto Sardenberg

Depois de anos na fila, a esquerda ganhou no México com Andrés Manuel Lopez Obrador Amlo, como se apresenta – e que prometeu crescimento anual de 4%, simplesmente o “dobro do período liberal”. Passado um ano de governo, o crescimento do PIB se arrasta perto de zero, com baixa perspectiva de aceleração.

Pode-se dizer que um ano é muito pouco e que o mundo todo está desacelerado. Verdades, mas ocorre que Amlo não apresentou nada de novo, nenhuma virada. Cortou mordomias e salários de funcionários, inclusive dele próprio, cancelou obras que achou muito caras, sem qualquer base em números, e tocou o barco. Cancelou leilões de petróleo, mas a melhor esperança de algum crescimento de base está justamente na maturação dos investimentos em campos leiloados no governo anterior.
Nada na corrupção, e especialmente nada no combate ao narcotráfico, que se tornou ainda maior e mais violento.

Já no Uruguai, pode acontecer o contrário. A Esquerdista Frente Ampla, no governo nos últimos 15 anos, está perto de perder as eleições de 24 próximo. O candidato de centro-direita, Luis Lacalle Pou, lidera as pesquisas de segundo turno.  O problema da Frente é também o baixo crescimento. Como toda América Latina, o Uruguai pegou o boom das commodities, chegou a ter uma expansão de 8% do PIB em 2010. Acabada a festa, desacelerou forte e neste ano está crescendo menos de 1%. Tem um baita déficit nas contas públicas.

Na Argentina, outra inversão. Depois de apenas quatro anos de centro-direita liberal, volta o peronismo, protagonista de um dos maiores desastres econômicos de todos os tempos. Conseguiu empobrecer um país que estava entre os mais ricos do mundo no século passado.
Na Bolívia, também passado o boom das commodities, o país desacelerou, vai devagar, o que retirou a popularidade e a força política de Evo Morales.
No Chile, ao contrário, é um governo de centro-direita que está em apuros. Mas é preciso notar a população contesta uma política econômica que era quase uma unanimidade. Depois de Pinochet, direita e esquerda alternaram-se no poder e o país manteve o mesmo curso – por sinal bem sucedido.

Números: iniciada a década de 90, a Venezuela tinha um Pib per capita, no método de Paridade de Poder de Compra, de US$ 8.500; Brasil, 7.500; e Chile, 7.000. Fechadas as contas de 2018, o Chile apresentava PIB per capita de quase rico, US$ 26 mil, expansão de quase quatro vezes; o Brasil tinha US$ 16,1 mil (dobrando em relação em 90) e a Venezuela mal alcançava os US$ 11 mil. De certo modo, a bronca dos chilenos é de uma classe média que, passado o boom das commodities, sente os efeitos da desaceleração do crescimento e da renda. O país vai melhor que a média latino-americana – expansão anual em torno de 2% – mas não resolveu a questão clássica da região: desigualdade.

O que FHC disse uma vez a respeito do Brasil, se aplica ao Chile de hoje: não é um país pobre, mas tem muitos pobres. Quem visita a AL regularmente percebe que há muitas coisas melhores no Chile: economia mais eficiente, alguma inovação, organização, menos corrupção, democracia eleitoral mais consistente. Mas, tudo considerado, falta o que falta a toda América Latina: um capitalismo dinâmico, com um setor privado gerador de riqueza para a maioria da população, indústrias de ponta, inovadoras, máquinas exportadoras de bens de alto valor agregado, escolas de primeira. E um setor público muito ativo para remover as falhas de mercado e promover distribuição de renda via impostos, ricos pagando mais, todos recebendo mais serviços.

Falta o que um estudo do FMI chamou de Política de Tecnologia e Inovação, que arranca o país e o coloca no grupo de alta renda, de modo permanente. Exemplos ao longo dos séculos: Estados Unidos, Alemanha, Japão, Hong Kong, Cingapura e Coréia do Sul, o campeão mais recente.
A AL continua apresentando níveis de crescimento sempre inferiores ao dos asiáticos, não produziu nenhum verdadeiro milagre econômico. Nem conseguiu se livrar do capitalismo de amigos, aquele dos empresários amigos do governo. A Lava Jato pegou esse pessoal em toda a AL, mas parece que se está perdendo embalo até nisso.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Transcrito em 20 novembro 2019 

 

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