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sábado, 25 de janeiro de 2020

Um governo flertando com o nazismo - IstoÉ - Brasil

Apesar da demissão de Roberto Alvim por causa da imitação de Joseph Goebbels, Jair Bolsonaro é tolerante com ideias de extrema-direita e estimula a guerra cultural

O discurso nazista do ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que serviu para tirá-lo do cargo na semana passada, mostrou, novamente, que as ideias de extrema-direita circulam com liberdade no governo, e reforçam, de tempos em tempos, suas intenções autoritárias. Parafrasear Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, foi só mais uma contribuição nefasta para o esforço doutrinador que o presidente Jair Bolsonaro está levando a cabo no seu mandato. Como sempre acontece em governos com tentação extremista, é pela área cultural e pela educação que se faz o jogo ideológico mais pesado.

 SEMELHANÇA A ordem e a disciplina impostas por Hitler para controlar os alemães sempre pareceram exemplares para Bolsonaro (Crédito: AFP/Hulton Deutsch)

[apontando o óbvio: um Governo conservador e de extrema-direita, por razões óbvias tem que possuir e defender ideias conservadores e de extrema-direita e ser visceralmente contra o maldito politicamente correto, ideias da extrema esquerda, o que inclui, sem limitar, o comunismo.

A cultura no Brasil está doente - uma cultura que tenta se afirmar com imundícies tipo 'queer museu', que entre outras bizarrices cultua a zoofilia,  inserir em revistas HQ INFANTO JUVENIL homens se beijando na boca, expelindo produções culturais ofendendo JESUS CRISTO, buscando destruir a FAMÍLIA, SÓ TEM UM DIAGNÓSTICO: está doente e só uma cirurgia profunda, removendo todos os tumores, é que poderá voltar a ser sadia.
Mais um exemplo: passo a passo, estão difundindo a necessidade de censurar WAGNER.]
Apesar de Bolsonaro ter decidido, afinal, demitir Alvim, ele não demonstrou, a princípio, uma rejeição contundente à sua fala e chegou a dizer para interlocutores mais próximos que todo o barulho criado em torno do assunto era “coisa da esquerda”. Só depois de perceber a reação de repulsa nas mídias sociais e, em especial, da comunidade judaica e de receber um telefonema do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que é judeu, ele tomou sua decisão. A verdade é que se as propostas apresentadas pelo ex-secretário, com fundo musical de Richard Wagner, tivessem sido transmitidas de forma mais palatável e sem a teatralização nazista, elas não estariam tão distantes do que o núcleo mais duro e sectário do Planalto pensa. A ordem e a disciplina impostas por Hitler para controlar a população alemã, com o apoio do trabalho de comunicação de Goebbels, sempre pareceram exemplares para Bolsonaro.

No seu afã de doutrinação ideológica, Bolsonaro chegou ao absurdo de dizer que o nazismo era um “movimento de esquerda”
A tese apresentada por Alvim de que a cultura brasileira está doente e precisa ser “purificada” de ideias libertárias e pluralistas faz eco com a obsessão de Hitler contra a “arte degenerada”, que, na mente do ditador, se confundia com a modernidade e com a invenção. O mesmo vale para a projeção do ex-secretário para a arte brasileira da próxima década, que será “heróica e nacional”. Para Bolsonaro e alguns de seus ministros, é isso, justamente, que a arte precisa ser para ajudar na criação de uma mentalidade conservadora ajustada aos novos tempos. 

O governo dá sucessivas demonstrações de que pretende fazer uma revolução cultural ao estilo da extrema-direita para impor um pensamento que se oponha ao multiculturalismo e ao politicamente correto. Os soldados do bolsonarismo, tendo à frente os filhos 02 e 03 do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro (que defende, inclusive, a reedição do AI-5 e volta da ditadura), costumam chamar esse processo de “guerra cultural”. É dela que surgirá o “homem de bem” brasileiro, que emerge nas entranhas do sistema político para se tornar um protonazista empedernido, que recusa o pensamento crítico e despreza a criatividade e a inteligência, a não ser quando são usadas a favor do regime.

Doutrinação ideológica
 No afã de doutrinação ideológica direitista de Bolsonaro, se chegou ao absurdo de dizer que o nazismo era um “movimento de esquerda”. Foi isso, por exemplo, que declarou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em uma entrevista concedida, em março do ano passado, no canal do YouTube do grupo Brasil Paralelo, que promove o pensamento de Carvalho. Perguntado sobre a comparação entre o nacionalismo defendido por ele e o promovido no passado pelos regimes totalitários da Alemanha, da Itália e da Rússia, Araújo afirmou que “o sentimento nacional teria sido distorcido por grupos que o utilizaram para chegar ao poder”. “Uma coisa que eu falo muito é dessa tendência da esquerda de pegar uma coisa boa, sequestrar, perverter e transformar numa coisa ruim. É mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Isso tem a ver com o que eu digo que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda”, disse. Alguns dias depois, em visita ao Centro Mundial de Memória do Holocausto, em Israel, Bolsonaro foi na mesma linha que seu ministro e afirmou “não ter dúvidas de que o nazismo era um regime de esquerda”. Foi desmentido no mesmo dia por representantes do Memorial do Holocausto. A tese, que procura livrar a extrema-direita de sua orientação criminosa, é considerada descabida e desonesta por acadêmicos e historiadores de todas as vertentes.

O combate implacável ao esquerdismo e ao socialismo é o ponto crucial da guinada extremista que o governo pretende dar. Fazendo a população crer que há uma ameaça comunista no Brasil, Bolsonaro procura se posicionar de maneira mais confortável no outro extremo do espectro político e justificar seu ideário radical. O problema (para ele) é que o ambiente cultural brasileiro é democrático e não há qualquer indício de que a produção artística tenha um apelo comunista ou esteja orientada para a conquista do poder. Por isso volta-se sempre à fantasia do chamado marxismo cultural, que o astrólogo Olavo de Carvalho, ideólogo do governo, inspirado pela extrema-direita americana, vê como uma grande conspiração para disseminar o socialismo pelo mundo. Carvalho, por sinal, abandonou o pupilo Alvim e declarou, num primeiro momento, no seu Twitter @OlavoOpressor, que ele “não parecia estar bem da cabeça”. 

Depois embalou numa interpretação conspiratória dos fatos para livrar o governo Bolsonaro e Alvim da pecha de nazista. “Chamar o Alvim de nazista é ser caixa de ressonância da esquerda mais canalha. O Alvim é trouxa — repito —, mas de nazista ele não tem nada. Se tivesse, estaria no PT, declarou no domingo 19. “Comunistas fazem truquinhos sujos para dar ao presidente Bolsonaro uma aparência de nazista, mas nazistas são eles. Até o Parlamento Europeu já se tocou. Enquanto isso, o lindinho Luciano Huck escolhe o homem do PC do B para seu vice. Isso já diz tudo”. Para Carvalho, “ou o Alvim pirou ou algum assessor petista enxertou a frase do Goebbels no discurso dele para assassinar sua reputação”.


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Máquina de guerra
A atriz Regina Duarte ainda não aceitou o convite do presidente Bolsonaro para substituir Roberto Alvim, dizendo que antes irá “fazer um teste” à frente da Secretaria Especial de Cultura, com um orçamento de R$ 2 bilhões em 2020. “Quero que seja uma gestão para pacificar a relação da classe com o governo”, afirmou. “Sou apoiadora deste governo desde sempre e pertenço à classe artística desde os 14 anos”. Porém, apesar do entusiasmo de Regina e de sua intenção conciliadora, seu nome não é bem visto pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro e pelo astrólogo Olavo de Carvalho. Para eles, a secretaria exige uma ação de enfrentamento permanente e a atriz é considerada moderada demais para tocar a máquina de guerra cultural do governo. O presidente viajou quinta-feira 23 para a Índia e na volta deverá oficializar a nomeação da atriz para o cargo.

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