Entrevistado
no programa Roda Viva, Sergio Moro foi questionado novamente sobre a hipótese
de disputar a Presidência da República. "Não tenho esse tipo de
ambição", declarou, engatando o mesmo blábláblá que repete sempre que a
pergunta ressurge. "Importante para mim é fazer um bom trabalho como
ministro." Uma das entrevistadoras aplicou em Moro algo parecido com um
xeque-mate: Assinaria um documento dizendo que não será candidato? E Moro:
"Não faz o menor sentido assinar um documento desses, porque muitas
pessoas assinaram esses documentos e depois rasgaram." [fica claro, até para petista, que a repórter fez uma provocação sem sentido ao ministro, que de forma educada rechaçou a inteligente pergunta.
Além de ser a assinatura aposta no documento citado na pergunta uma demonstração de falta de noção, bom senso, tem o fato de nenhuma autoridade ser obrigada a qualquer documento abrindo mão de um direito legítimo, cabe enfatizar que tal documento, se assinado, poderia ser rasgado a qualquer momento.
Muitas vezes se avalia a inteligência do entrevista pela forma como consegue responder a perguntas sem noção que alguns repórteres fazer.]
Quer
dizer: ainda subordinado a Jair Bolsonaro, Moro procurou não parecer o que é,
para não passar para o chefe a impressão de que é o que parece. Exorcizou a
ideia de documentar sua hipotética desambição política porque não lhe interessa
excluir do baralho a essa altura a alternativa de ser e parecer. Recordou-se a
Moro que sua popularidade é maior que a do chefe. Já foi picado pela mosca da
política?, quis saber a repórter. O ministro encostou o lero-lero de praxe num
brocardo latino que, noutros tempos, costumava ser mencionado nas cerimônias de
coroação dos papas, para realçar que a pompa e o poder são coisas efêmeras:
"Sic transit gloria mundi" (a glória do mundo é passageira).
A entrevista incluiu trechos embaraçosas. O embaraço foi maior pelas
perguntas que o ex-juiz da Lava Jato teve que ouvir do que pelas respostas que
o ministro da Justiça não conseguiu oferecer. A certa altura, uma repórter
avisou: "Eu queria falar de corrupção." Nesse ponto, Moro foi
confrontado com declarações que fizera na fase de transição do governo, antes
de tomar posse. Afirmara que ministro do novo governo que sofresse denúncia
consistente de corrupção deveria ser afastado. [sendo a denúncia contra integrante da equipe do presidente ou seus filhos, sempre a imprensa vai considerar consistente.] Disse que não seria necessário
esperar pelo julgamento. A repórter preparou o bote: O ministro do Turismo,
Marcelo Álvaro Antônio, foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo
Ministério Público por falsidade ideológica, associação criminosa e apropriação
indébita de recursos do fundo eleitoral. Foi à jugular: O ministro do Turismo
deve ser afastado? Moro escorregou como peixe ensaboado: "Isso ilustra o
fato de que a Polícia Federal tem atuado com absoluta autonomia e
liberdade." Tentou mudar de assunto: "O que coloquei para a PF quando
assumi foi que nós precisávamos continuar fazendo o trabalho contra a
corrupção, mas precisava também focar na criminalidade organizada." A
repórter tentou retomar o fio da meada: "Então, quando a Polícia Federal
indicia um ministro..." Morou atalhou-a: "Está fazendo o trabalho
dela.
Cabe à Justiça fazer a avaliação dela e ao presidente fazer a sua
avaliação”.
Esse Moro do Roda Viva soou como um sub-Moro se comparado com o
personagem da entrevista do final de 2018, que inspirou as indagações. Nela,
após aceitar o convite de Bolsonaro para trocar 22 anos de magistratura por uma
poltrona na Esplanada, o ex-juiz da Lava jato dissera coisas assim: "Eu
não assumiria um papel de ministro da Justiça com o risco de comprometer a
minha biografia, o meu histórico." Ou assim: "Eu defendo que, em caso
de corrupção, se analisem as provas e se faça um juízo de consistência, porque
também existem acusações infundadas, pessoas têm direito de defesa. Mas é
possível analisar desde logo a robustez das provas e emitir um juízo de valor.
Não é preciso esperar as cortes de Justiça proferirem o julgamento." Hoje,
Moro submete sua biografia ao convívio diário com um presidente que mantém em
sua equipe não um, mas meia dúzia de ministros encrencados com a lei. Pior:
encosta seu histórico de ex-juiz implacável num chefe cujo filho mais velho,
Flávio Bolsonaro, é acossado por suspeitas de peculato e lavagem de dinheiro. [as suspeitas contra Flávio Bolsonaro, originárias em movimentações atípicas na conta corrente de um ex-assessor, até hoje não encontraram nada que tenha modificado o inicio: movimentações atípicas - que não caracterizam necessariamente ilegalidades - e suspeitas provenientes de vazamentos ilegais, criminosos, sendo tal tipificação ignorada.]
Num
cenário assim, tão enodoado, Moro teria de fazer hora extra para manter em pé o
compromisso de "analisar a robustez das provas e emitir um juízo de valor"
sobre os suspeitos que surgissem ao seu redor. Autoconvertido em engolidor de
sapos, Moro acumula um passivo que o condena a participar da disputa
presidencial de 2022. Falta definir apenas em que condições. Ausente, Moro
apanhará indefeso. Candidatando-se, poderá pelo menos se defender. Daí, talvez,
a aversão à ideia de assinar com três anos de antecedência um documento
excluindo-se do processo eleitoral. [conforme foi dito pelo ministro - final terceiro parágrafo do POST - a avaliação é da competência da Justiça e do presidente.
A 'entrevista armadilha', gerou críticas ao ministro pelo fato de se manter leal ao presidente da República.
Hierarquia e Disciplina são pilares da carreira militar, mas, também estão presentes nas atividades civis - ainda que de forma mais branda.
Um ministro de Estado, ou qualquer autoridade do Poder Executivo - de modo especial as demissíveis ad nutum - não podem criticar o presidente da República, principalmente em sua ausência.
Se criticarem estão sujeitas à demissão sumária e ainda estar cometendo um ato deplorável - se um ministro de Estado quer criticar o presidente da República, apresente as críticas em privado, e se após apresentá-las, ainda persistir o desejo das críticas, peça demissão, e então estará livre para fazer até comícios.]
Josias de Souza, jornalista - Blog do Josias - UOL
Moro diz que não
assinaria documento excluindo-se da disputa presidencial ... - Veja mais
em
https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2020/01/21/moro-diz-que-nao-assinaria-documento-excluindo-se-da-disputa-presidencial.htm?cmpid=copiaecola
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